segunda-feira, 29 de março de 2010

"QUE ALTAS, QUE BAIXAS...."



"Que altas, que baixas, em Abril calham as Páscoas...."

Sempre ouvi este ditado popular, da boca da minha mãe. Este ano, felizmente, ainda voltei a ouvi-lo, de viva voz...
Haverá tempo em que será a memória do coração que mo lembrará....a este e muitos outros. É assim que se cria a memória colectiva, que é um património de um povo, penso...

Estou há quatro meses em casa, com uma depressão, isto, para explicar da irregularidade da minha vinda aqui.
Passei a saturar-me das coisas que mais gostava, quando trabalhava...e o PC foi uma delas. O sono, a falta de disposição, a saturação, têm-me impedido até de respirar o oxigénio de que dependo...escrever!

Bom, entretanto a  Primavera está aí, meio encolhidita, sem a pujança que todos ansiamos.
A fazer jus ao companheiro, de má memória que nos deixou, deverá ser para valer, e breve breve, tudo quanto é borboto rebentará, tudo quanto é botão dará flores e flores, o tempo amainará e, dizem, o ser humano também começará a senti-la germinar dentro de si...

A minha gaivota é que, sem borrascas no mar, não recuará a terra, e duvido que venha por aqui ver a minha presença, trazer-me os seus sonhos longos de asas estendidas, porque não terá como planar, haverá muito peixe bem à beirinha da praia, e no próximo Inverno, logo virá por aqui, ver se eu ainda aqui moro...

Faz exactamente um ano, no dia de hoje, eu estava bem longe, no Gerês, numa daquelas fugazinhas que dificilmente repetirei....respirando aquele outro mundo, vivendo aqueles outros dias, aqueles cheiros, aquelas cores, aquela natureza "à borla"...e recordo que tudo estava já muito florido...inclusive a minha alma!!!

Este ano, por dentro e por fora, estou tal como a minha saúde, e este fim de tarde, chuvosa, desabrida, desconfortável!!!

Lembrei agora...será que o alecrim da minha infância com que se atapetava o tempo, naquela vilória do Alentejo, lá do fundo, já floresceu?
Será que a glicicínia e a flor da Páscoa, imaculada, que rodeava festivamente o andor da "Senhora de ao pé da Cruz" já floresceu?
E olhem que eu sou agnóstica....mas na minha tenra, muito tenra infância, fui, de asinhas, coroinha, descalça e com um cestinho de pétalas nas mãos, ao lado da "Senhora"....a quem eu se calhar, ainda atribuia todos os poderes de, pela vida fora, me vir a tornar, senão total, imensamente feliz!!!....

Anamar

terça-feira, 23 de março de 2010

"É-SE FELIZ SEM SABER!..."





E o Ray era rei do maior reinado que há....a Terra....Era rei do nada e do tudo, naquele rio Martha Brea....
Na sua jangada, orientada e movida com um longo bastão, tinha a Terra por sua conta....
Não se colhe nada que a Terra dê....a Terra quando quer, devolve ao homem o fruto maduro, a raiz pronta a comer...
O Homem tem água, tem aquelas águas mansas navegáveis, tem o trauteio da sua melopeia lenta, tem o marulhar do caudal que se deixa navegar para cima, para baixo, tem as sombras, tem os verdes, as cores dum matiz, que nenhum pincel ninguém nunca soube pintar...tem o canto, o pipilar, o grito que corta o espaço e o silêncio depois...

O Ray tem os seus trajes andrajosos que me me atreveria a dizer que são sempre os mesmos, tem o cabelo enrolado na cabeça como "rasta" que é, dizem os colegas "hierárquicos", que tem um cabelo que arrasta no chão....e fala muito pouco, quase nada....

Que inveja!.... a civilização "incivilizada" "faz" poucos seres tão livres, como o "rasta" Ray da Jamaica...



Vem ver! Como é possível, este por de sol, estes laranjas, esta brisa que convida a desbravar....e a floresta virgem com os cheiros doces e frutados, de tudo o que por lá exista...e não sabemos o que é!...
Os hibiscos, os coralillos mexicanos, as buganvílias, outros e os mesmos verdes....outra e a mesma Terra....o mar rebentando ténue, nos rochedos da beira....

Vê! Que espectáculo! O frescor da tarde a chamar-nos para fora, a curiosidade de tudo ver antes que se quebrasse o sortilégio, a apelar-nos para dentro, a Gros e a Petit Piton, indemovíveies....anos e anos, séculos e séculos....milénios e milénios....e gerações a passar, e a mata a fazer-se, a crescer, indiferentes, os gigantes a contemplar os pigmeus...aos seus pés...
E a água , turquesa, ágata, translúcida....e os peixes, ali, ao alcance duma mão....

Vem ver!.... Amanhã, jé é outro dia, outras cores, outros plúmbeos, laranjas, azuis....porque nós também já não somos os mesmos....

Eu juro, que cheiro aqui e agora, tudo...que vejo aqui e agora, tudo, que oiço aqui e agora, tudo....meu Deus, não parar o tempo é um crime....deixar que a ampulheta continue, grão a grão a correr, um desatino...um atentado...uma provocação!....
Deus me valha...Deus me acuda....mas eu parei lá atrás....no tempo em que era feliz e não sabia!......

Anamar

segunda-feira, 22 de março de 2010

"SE EU FOSSE CRIANÇA..."

Se eu neste momento fosse criança, no mínimo que estaria era assim...
Chegada da rua, depois de toda uma tarde num consultório médico, com uma dor de cabeça daquelas de amarinhar paredes, pedindo a Deus e às almas uma caminha, um gato, um saco de água quente e silêncio...constato à entrada da porta, um mar de água, que já encharcava o tapete.
Abro a porta do contador, e cai de lá uma enxurrada, levando a suspeitar numa verdadeira hecatombe.
Fechei de imediato a torneira de segurança, mas a água persistiu e persiste em cair, depois, a corrida à lista telefónica para localizar um número operacional a esta hora, da CMA, dos SMAS, do raio que os parta....telefone p'ro piquete (que não responde), telefone para os serviços de roturas na via pública....como se isto fosse via pública (eu já estava por tudo...)... depois tem que se  abrir um roço,  é necessário um canalisador...mas ao abrir o roço como o tubo é de chumbo, pode fissurar e então espicha água por todo o lado....enfim....não vos canso mais....
Juro que vou dormir de braçadeiras, e se amanhã eu ainda estiver viva...ponham no jornal, porque neste pobre país, roturas, avarias e quejandos, só a horas normais de expediente!!!!
Por vias das dúvidas, tenha sempre consigo, um kit de bombeiragem, canalização, abertura de portas, iluminação, tipo petromax...e o que mais se lembrarem.

E nas vossas orações nocturnas, peçam ao anjinho de serviço, que tenha em conta que o céu não paga horas extraordinárias...

Anamar

segunda-feira, 15 de março de 2010

"E A GENTE A ENVELHECER...."

E a gente a envelhecer...
Quando a droga do comprimido de 15 mg, que devia render até de manhã, à uma hora, já não faz efeito...e a "outra", armada em mãe diz, com ar sabedor: "tomas primeiro   uma cápsula de 15mg e depois, se for preciso, tomas outra para repor os trinta que o médico prescrevera antes"....

E a gente a envelhecer... quando jurava que tinha posto à cabeceira, a cápsula sobressalente, para, se fosse o caso, não espantar o sono...e quando gastas todas as hipóteses a cápsula levou "chá de sumiço"....vai-se à cozinha buscar outra, e o sono que devia discretamente manter-se, já tinha ido p'ro espaço....a maldita aparece no tapete!
No tapete ela, porque o sono emigrou!!!!

E a gente a envelhecer...quando a a Cláudia telefona e diz: "Mãe, o António tem umas dúvidas para te por; e eu....pronto, estou f..... (não se pode dizer) e sai o pirralho e diz : "Vó, o petróleo é uma rocha líquida....certo?? Constituída por o quê??....
Vá lá dizer àquela meia leca de gente de 8 anos... o que são hidrocarbonetos???!!!! E gesso??? Gesso então....é tabu!!
Que vontade de assobiar para o alto, e fazer de conta que não se ouviu nada!!
nesta mania das interactividades, com pais e avós!!! A gente engolia e calava!!!!!

E a gente a envelhecer, quando magistralmente, a outra acha que "o alemão" já tomou conta da família inteira, e a única que se safa é ela...claro!!
E diz... a avó com 89 já ultrapassou pais, irmãos....todos!
Tens que te ir mentalizando...... (mas aquilo sai tão pouco convincente, que se vê logo é que ela é que não quer pensar no assunto!!)

E morre o cão. E agora, mãe, é certo que a avó vai atrás! Nada disso...há que ocupá-la com naperons de cozinha linha 6...até p'ra empregada!!!

E a gente a envelhecer, quando a "desdentada" da família, acha a avó senil porque não articula um daqueles nomes horrorosos dos bonecos animados!!! Ainda se fosse a Branca de Neve, o Kalimero, o Tom e o Jerry....

E a gente a envelhecer quando vê aquele pinguço com cara de Robim dos Bosques...a repetir o que ouve e ninguém percebe nada....sempre a rir (do mal, o menos....)

E a gente a envelhecer quando injustamente dei em ter fome, são duas e meia da manhã....a Rita borrifa-se p'ra estas frescuras, quer lá saber que eu tenha outra insónia.......

Afinal, como se pode não envelhecer neste "esquema" maluco?????

Muito sã estou eu!!!

Anamar

domingo, 14 de março de 2010

"POR ESTAS E POR OUTRAS É QUE ADÃO COMEU ( OU MORDISCOU ?) A MAÇÃ...."

Fiz a maior burrice que se pode fazer: às 8 da noite pendia de sono sobre o teclado do PC e pensei..."não dá, não dou uma p'ra caixa...Que se lixe o jantar, mas como tenho medicamentos a tomar, uma fatia de bolo, um copo de leite substituem a refeição; a Rita, o saco de água quente e o mundo que desabe..."

Claro que nestas circunstâncias e com lençóis térmicos, em quaisquer 5 minutos e já estava do outro lado....
E assim foi, até que às famigeradas onze da noite, tinha a noite feita. Olho arregalado e vá de Morfex 30mg....quais 15 que o médico prescrevera!!!!
Aninhei-me, anichei-me o mais comodamente que pude, e dispus-me a contar carneiros, visto que nem vislumbre de sono. São estas lindas horas, (três e meia da manhã) já "encroquetei" na cama, dez vezes para a direita, outras dez p'ra esquerda e como....nada de sono.... pensei:"vou levantar-me e contar uma história" que estava mesmo aqui debaixo da língua...

Então é assim:
Pedro e Heloísa mantinham uma relação afectiva, com os seus altos e os seus baixos, como todas as relações afectivas. Durava há largos anos, mas tinha a pecularidade de Heloísa ser bem mais velha que Pedro. Ela já se habituara aos olhos gulosos dele, que do seu quintal, catrapiscava sempre a fruta do quintal alheio, naquela de "a galinha da minha vizinha..."

Tudo corria aparentemente duma forma calma, quando Pedro achou que já perdera muito tempo na vida, que já estava na gare daquela estação sempre a ver os comboios passar, passar, e não apanhar nenhum...enfim, os desígnios insondáveis da natureza humana.
Reencontra uma ex, temporária...qualquer coisa, amiga, lá de trás, a Alexandra e desencava-a para uma nova vida a dois.

Claro que Heloísa foi às urtigas e Pedro iniciou o maior "love" com Alexandra.
Apenas, os anos não trazem só rugas e cabelos brancos, e Heloísa arquitectou uma frente de combate.Vestiu-se "p'ra matar", de acordo com as circunstâncias, claro (que era um "departamento" a que Pedro sempre fora vulnerável, uma mulher discreta, bem vestida, com presença...)

E dirigiu-se a uma sala de espectáculos, para ver um filme estreante, com um, senão o melhor actor que Pedro apreciava. Era altamente provável o encontro a três.
E assim foi.
Heloísa pôs um ar distraído e distante, de quem vê montras num Centro Comercial, e de repente, como quem não quer a coisa, olha p'ro lado e diz: Olha que giro, há quanto tempo, Pedro! É a tua nova namorada?
Pedro apanhado de surpresa diz: "Sim, é a Alexandra e esta é"..... "a Isabel", respondeu rapidamente Heloísa. "Muito gosto"!
"Bem me tinha alguém dito, que acabaras aquela relação longa, com uma pessoa bem mais velha que tu.....Agora, para contrabalançar, arranjaste uma namorada que podia ser tua aluna....rsrsrs"
Vim ver este filme que estreou com aquele actor imperdível!... Vocês se calhar, também!"
Bem, tive muito gosto, não vos roubo mais tempo.
Eu, também terminei recentemente uma relação....que coincidência!...Então, namorem muito, e boa sorte! Eu costumo sempre dizer (dirigindo-se com um largo sorriso à Alexandra), que é preciso ter sorte com os homens...com uns, mais que com outros...rsrsrs"

E com o Pedro? -  perguntou a franganota. - o que me diz, Isabel, você que já o conhece bem???

Heloísa/Isabel fixou  Pedro bem nos olhos, intencionalmente, e dirigiu-se à Alexandra....."O Pedro? (como quem pára para se concentrar...)....o Pedro, será a sua sagacidade (duvido que soubesse o que era...), inteligência (outro calcanhar de Aquiles), e perspicácia, que lhe responderão a isso ao longo dos tempos!!...."

Pedro que já "os" estava a sentir entalados disse: "Então e com as mulheres, não é preciso ter sorte?... - perguntou com ar de quem diz : pago p'ra ver....

Heloísa/Isabel fez uma pausa estudada, e respondeu: "Com as mulheres.....é sobretudo preciso é... saber escolhê-las!!..."

O sorriso de Pedro ficou amarelo...e cá p'ra mim o pastelinho de feijão comido pouco antes, começava a entruviscar-se-lhe no estômago

E afastaram-se.
Heloísa não aguentaria muito mais tempo aquele skecht teatral....as lágrimas estavam já a rebentar....
A franganota sentia que havia ali qualquer coisa que não jogava....mas não percebia o quê, e limitou-se a dizer , só p'ra não ficar calada: "Simpática esta tua amiga!"....
Pedro estava calado, fechado, não podia "dar bandeira", mas só dizia p'ra dentro de si: "Filha da p.... ; agora é que eu percebo por que não se deve minimizar a inteligência das mulheres maduras!!..."

Não sei, mas acho que o filme não lhe assentou muito bem!....
E acho também que as mulheres são umas "cascavéis"!!!!!......  rsrsrs

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

Anamar

sexta-feira, 12 de março de 2010

"E DE REPENTE...A PAZ..."


"A tradição já não é o que era"....impingem-nos num anúncio televisivo....sim, não, talvez....
Como não há regra sem excepção, e como desde os meus seis aninhos me ensinaram....a Primavera está aí a despontar (oficialmente a 21 deste mês), e para 21 já falta tão pouco, que o sol veio só lembrar os desmemoriados e fazer acreditar os cépticos, que quer o homem acredite ou não...aí temos a renovação a operar-se bem frente aos nossos olhos, aos nossos narizes....às nossas mãos....

O sol irrompeu, não muito forte, como convinha, num céu todo ele azul límpido, a luz tornou as cores menos esbatidas, os olhos analisam a primeira promessa de borbotos em explosão.... e até os braços se preparam para carregar os primeiros ramos de giestas, de alecrim, de alfazema, de junquilhos, narcisos, ou mesmo de singela macela salpicada de onde em onde de papoilas envergonhadas...
Nos campos já se ouve o cuco, o melro de bico amarelo e a pôpa já carrega gravetos para o futuro ninho...

Ainda ontem houve cataclismos horrorosos cujo ónus muitos choram até hoje, e assim, como que num milagre, tudo acalmou, em tudo se fez paz, e a promessa de que sempre será assim, aí está...feita pela Natureza....que desta forma mostra a insignificância do ser humano face à sua pujança, face à sua real determinação...

Estou a escrever inundada deste sol meio envergonhado da tarde, a minha gaivota emigrou para o seu habitat natural, as areias que recebem o rendilhado da espuma mansa.
Imagino que o mar estará igualmente em paz consigo próprio, imagino os areais pejados de gaivotas recepcionando os barcos recém chegados da faina, e uma espécie de acalmia no coração vai tomando conta, de mansinho, de todo o nosso universo, e se calhar promessas nunca feitas, flutuam pelos ares fora, como dizendo ao ser humano que se pacifique porque inevitavelmente, cada dia é simplesmente uma conta do rosário que nos cabe desfiar até ao fim....

Não posso dizer que estou feliz, esperançada, ansiosa....Não espero nada em particular na minha vida, em mais uma Primavera que se avizinha....mas não posso negar que estes raios serenos de um sol que experimenta descer mansamente no infinito, de alguma forma apaziguaram o meu coração tão encapelado, a minha mente tão conturbada, o meu espírito que está exangue de sangrar...

Há uma espécie de promessa latente, não sei bem do quê....
O ser humano não a sabe ler...só a adivinha...
Os cheiros adocicados de tudo o que vai por aí "estourar", também se anunciam....e sempre irão fazer ver ao homem, que aproxima a sua paleta de cores, daquela que jamais alcançará....
Uma espécie de quietude, de serenidade, de silêncio interior remete cada um de nós, ao estado embrionário do ventre materno...não esquecendo nunca, que a Mãe, é a Natureza, que nos prodigalizará sempre aquilo que ela entender...

Anamar

quarta-feira, 10 de março de 2010

"A MOCHILINHA..."


Posted by Picasa
Hoje eu ganhei uma mala nova....A bem dizer, aquilo lá não é uma mala, é uma mochilita que me assenta lindamente às costas, e não tem marca, porque o valor daquela mochilita, não vem do Louis Vuiton, Valentino, Ana Salazar, etc

Encontrei-a meio aberta, num daqueles jardins de outono, de folhas amarelecidas, castanhas e vermelhas, que a  brisa faz rodopiar pelo chão.
Olhei-a por dentro e por fora. Por fora já estava meio estragadita, mas de dentro, começaram a espreitar, um polichinelo, um cavalinho de balancé, um arlequim, uma bruxinha de vassoura um "sempre em pé"....e eu perguntei-me a quem pertenceriam aqueles tesouros....

E pensei que aquela mochila, sem ser de "griffe " era mais valiosa que todas as que eu já usara....

Experimentei meter a mão e sabem o que de lá saíu? Um boneco de neve com nariz de cenoura, que o arrebitou ainda mais e disse : "Não queres brincar comigo??"
Eu fiquei baralhada de surpresa, e disse-lhe : "Mas não vês que eu já sou muito velha p'ra brincar com vocês?"
E ele, rápido na resposta, logo retorquiu : "Isso é que tu te enganas, porque nesta mochila não há idade limite p'ros sonhos....e tu podes sempre sonhar que és uma menina que vais a uma festa com estes amigos!!" Aqui há muita luz, muita paz, farandolas, músicas de roda....aí fora é que deve ser chato!"
"Mas vou contar-te um segredo : aqui, a gente todos os dias sonha um sonho novo; ao fim de semana ou em ocasiões especiais que é o caso de hoje, vestimo-nos de gente grande e vamos explorar tudo p'ra lá da mochilita....
Também podes ter os teus sonhos por aí.....tens é que saber fazer deles "sonhos de gente grande, a que se chama realidade" ....
Tens é que saber viver com o que carregas nas costas e com o que vês neste parque de folhas esmaecidas....
Tudo tem o seu tempo...é impossível ser criança outra vez....apenas não fiques eternamente criança!
Tens muito mais com que brincares, fora do escuro da nossa mochilinha, do que quando a carregavas nas costas, lembras??

"E agora, que sabes que entre o mundo do polichinelo e esse que está à espera que seja outra vez Primavera, vai apenas a distância desta mochila e da tua capacidade de crescer...agarra os dois e vive-os em paz.....ambos têm a cor dos nenúfares no lago....ambos têm a cor do arco-íris do céu e ambos te esperam, com o cheiro dos narcisos que qualquer dia vão desabrochar...

Anamar

segunda-feira, 8 de março de 2010

"ESTE COLOMBO É UM TRATADO..."


  Entrei no Colombo e pensei: aqui temos nós o itinerário privilegiado para pelo menos os próximos trinta anos, atendendo a que o meu pai faleceu aos noventa e a minha mãe, beira os oitenta e nove...

E então qual o maravilhoso, quanto emocionante programa de domingo ?

Após um pequeno almoço super tardio, nunca antes das 3h, graças ao sono e por sua vez graças à medicação, arranjei-me e passarei ainda a produzir-me melhor, assim  como quem vai de passeio importante, como quem vai a um encontro com amigos, assim como quem espera o príncipe encantado  ao virar da esquina, (porque nestas coisas nunca se sabe) e não como quem vai informalmente às compras...

Cheguei a Colombo, dia de jogo na Luz (portanto imaginem a frequência(?), dirigi-me às bilheteiras dos cinemas, e embora já tivesse jurado não voltar a ver filmes entre pipocas. coca-colas, gomas ou catinga, lá comprei um bilhete para um filme que me interessava, e como faltavam duas horas e meia para o dito, fui tomar assento na sala de visitas do Colombo.

De facto, este centro é um "tratado"...

Tive que esperar que ficasse livre uma "fauteil", o que não é nada fácil, muito menos hoje, e acomodei-me.
Troquei os óculos escuros que conseguiam tornar mais escura a claridade razoável ainda do dia, lá fora, e comecei a analisar quem dividia aquele espaço comigo...

Ao meu lado, uma senhora aí de setenta anos, sem revista, sem jornal nem nada, (porque há muito esse uso), de casaco comprido tipo rainha de Inglaterra, "camel", chapéu de abinhas reviradas, com o cabelo enrolado atrás, acompanhando-o, gola de pele, mala de mão em ouro velho, maquilhada cuidadosamente, via-se que era passante, mas figurante também..
Esteve todo o tempo que eu também estive, com um rosto fechado, que não demonstrava emoções... sem um sorriso, sem um esgar de nada. Não alterou a "pose", nem quando um "aluado" decidiu fotografar-se deitado no chão, ao comprido, situação, pelo menos inusitada!!

Há depois os "habitués" que dormem a sono solto, sem receio sequer de serem roubados. Babam-se, roncam, deixam descair as cabeças....enfim, eu sou muito mázinha!!...
Há aqueles de cuja turma eu passarei a fazer parte, que são os "voyeuristas"....gostam de olhar, mas também de ver...e hás os que se se despedem, como tendo certa a companhia semanal, quiçá diária ...

No Colombo tiram-se muitas fotografias. Os bandos de chinocas adoram por fundo, aquelas palmeiras imensas, e também há os papás babados com as criancinhas, para  quem serve qualquer fundo, desde que elas estejam lá...
Só falta ser servido um chazinho com bolos, como corolário daqueles auspiciosos fins de tarde....

Chegou a hora do filme, fui vê-lo, claro, depois jantei num dos muitos restaurantes que por lá grassam, paguei e vim para casa...

As lágrimas caíam-me em tal profusão cara abaixo, que nem vi uma cancela que existe agora na entrada da garagem onde guardo o carro.
O vigilante, que já me conhece há muitos anos, dizia-me:"tenha calma, não aconteceu felizmente nada aqui....mas já vinha a chorar, por isso não viu....foi alguma coisa grave, que lhe aconteceu?...."

Eu, agradeci e entrecortadamente disse-lhe; "sim....de facto muito grave!"....Não adiantava dizer-lhe mais nada, óbvio! E enquanto os soluços engolidos, daquela solidão que eu lá adivinhei,e carreguei comigo, faziam-me dizer :"eu não quero isto p'ra minha vida!...Isto, para mim, não dá!....

Tenhamos esperança,,,pode ser que eu não tenha a longevidade dos meus progenitores....

Anamar

quarta-feira, 3 de março de 2010

" A FORÇA DO ACREDITAR...."

Vi há escassos dias, um filme que tem à cabeça nomes insuspeitos e que são cartões de visita, para que eu aqui, humildemente, pouco tenha a acrescentar; Clint Eastood como realizador, Morgan Freeman e Matt Damon, como artistas principais.

O nome da película "Invictus", que eu teria trocado, na boa, pela "Força do acreditar" ....que me pareceria mais consentâneo pelo enredo....

O filme roda em torno do fim do Apartheid na África do Sul, indiciando a política seguida por Nelson Mandela, depois do vergonhoso cativeiro ,até 1990, e da sua consequente libertação depois de 27 anos de um regime racista levado às últimas consequências.

"Eu sou dono do meu destino, capitão da minha alma" frases ditas por Mandela sobre si mesmo, são slogans bem mais latos e abrangentes...
Clint Eastood nos seus quase oitenta anos, não perde a oportunidade para transmitir, que para qualquer causa, é a força do querer sobre um crer genuíno e unificador, que impulsionará o homem para metas quase impossíveis de atingir...

Alguém que parte, para o que quer que seja, com o estigma da derrota, da incredulidade, com uma auto-estima e valorização em dúvida....não chegará efectivamente lá!!...

Acreditar-se na força do timoneiro, criar uma vontade inabalável em torno de uma causa quase impossível, será seguramente o esteio, o farol, a tocha olímpica, que arregimentará à sua volta a força inquebrável, de um tsunami atingindo a praia!!!
A força do querer, unificadora de uma causa comum, move montanhas, estimula a confiança, é o real motor de arranque, em qualquer domínio da vida....

Isso é o que me falta a mim....e isso é o que torna esta película como uma mensagem invulnerável!!!....."Uma boa cabeça e um bom coração, fazem uma excelente combinação!...." - Nelson Mandela

Não deixem de ver....e depois, digam-me....Simplesmente EMPOLGANTE!....

Anamar
 

terça-feira, 2 de março de 2010

"ISTO DO SER E NÃO SER...."


Não sei muito bem explicar, estou triste como as nuvens carregadas com que o céu por aqui fechou....
A minha cabeça está muito entruviscada, que acho que foi uma palavra que eu inventei e que se calhar só na minha cabeça faz sentido....
Quando eu digo "entruviscada", é porque a coisa está preta....Explicando melhor...preciso urgentemente de escrever.... (tenho a água pelo gargalo) e nada de parir nada de nada...
Estou naquelas circunstâncias de que já vos tenho falado, de mais uma letra e entorna o caldo....

Antevejo muitas tardes como hoje, em que estou repleta, mas entupida....
A minha cabeça está p'ra montanha russa, tudo confuso, tudo "almareado" (esta não é invenção)....e pergunto-me: sobre que porra de assunto eu vou falar????

Dos antidepressivos, salto para os ansiolíticos, e volto aos antidepressivos....hoje estou tonta, azamboada (difícil esclarecer à minha filha mais velha, se menos tonta, se igualmente tonta....quantas vacilações no andar p'ra direita, contra quantas p'ra esquerda)....como se isto se medisse assim....

Dei a terceira queda, acho, apesar de tudo, felizmente cá em casa, senão o estrago seria seguramente maior, parece que estou sempre debaixo do efeito de uns "birinights"e lá me vou equilibrando no salto alto (sim porque não me presto a grandes interrogatórios)...O pior é quando tenho que me amparar a uma ombreira, a um corrimão....sei lá! E é aí que eu vejo, que mesmo dormindo muito, sobram horas e horas nestes dias que por acaso estão a ser "compinchas  à brava", com o que nos dão cá p'ra baixo!!!!

Isto é assim, eu incontestavelmente não estou lá muito sã.....mas depois vejo o mundo dos "mortais normais" e só encontro gente à beira dos Morfex, dos Bromalexes, dos Prozacs.....cada qual arrastando um alforge pior que o outro....e estou extenuada, desta oscilação entre o vazio de alma, quando aquela profusão de cápsulas, comprimidos, bolinhas de todas as cores, e outros que tais,  estão a actuar, e a dor que chega a ser física, da subida da ansiedade e da angústia....

E pronto, isto é uma pescadinha de rabo na boca, entre um mundo de lá (que não está tão longe como isso), e um mundo de cá, para o qual não estão "despertos" , mas caminham a passos largos rumo a um qualquer Inferno, aqui mesmo, pela Terra....É tudo uma questão de tempo e de resistência...

Perdoem esta visão apocalíptica ....mas a minha vida é exactamente assim...não inventei nada...juro!

Anamar