domingo, 30 de maio de 2010

"CONVERSANDO COMIGO MESMA"



"Até amanhã"...
e arrastando os pés, o homem saiu. Tinha estado a tomar café e a ler o jornal da casa, que se aprestou a deixar depois, à saída, para outro utente usar....
Saiu como digo, arrastando os pés... os seus mais de oitenta a isso o obrigavam. Esteve sentado numa mesa atrás daquela onde me sentei e deixou o jornal a uma senhora na mesa depois da minha.
Nessa mesa estava a tomar café e a ler, uma mulher, muito modestamente vestida, cabelo sem cabeleireiro por perto (via-se), na casa dos cinquenta anos, talvez. Fazia intervalos frequentes na leitura, algo desatenta, portanto, como que em "viagem", regressando depois...como quem tem todo o tempo do mundo. Olhava para longe como quem olha...mas não vê...

É sábado, não disse. O Escudeiro, hoje, excepcionalmente fechou, e estou a tomar o pequeno almoço, naquele a que eu chamo "o café dos velhos".
É um café muito antigo e carismático cá da terra, por acaso ao contrário do Escudeiro, com muito mais luz (valha-nos isso), frequentado por pessoas da faixa etária sénior e "extra-sénior"...
Os pigarros ouvem-se constantemente, as conversas entre mesas (sim, porque os clientes são sempre os mesmos), andam  à roda das doenças, inevitavelmente, e as despedidas fazem-se "até amanhã"...

Eu, que ao acordar, quando ainda estamos naquele dorme acorda, faço sempre o balanço do dia que me espera, pensei: "que dia é hoje? Sábado...", e sábado é o primeiro de dois dias absolutamente terríficos, neste momento, para mim, que formam o fim de semana, e o fim de semana para mim, é devastador!
Se nos outros dias da semana, tenho sempre algo a fazer ou a tratar, aos fins de semana, que se "cheira" no ar a ociosidade de quem trabalha toda a semana, é um vazio e uma angústia a amarinharem por mim, porque me pergunto a mim mesma: " vou fazer o quê?  e de facto, não consigo (e não sei como fazê-lo), arranjar eventos, pessoas libertas ou que alinhem comigo.... fica aquela coisa das horas a passarem, o sol a cumprir a sua obrigação (que é caminhar até se pôr), e depois, bem, e depois é uma noite mais para dormir... ainda há tão pouco me levantei...

Lá vem a D. Madalena essa já conhecem)....ainda a não vejo e já lhe ouvi a inconfundível voz, lá para a entrada do café.
Obviamente só podia ser utente deste café, claro. Quase tem lugar cativo...
Encontrou logo um "amigo", um compincha que dialogava com ela, com uma bonomia, como se a D.Madalena, por ser atoleimada, fosse uma criança....

Tive o azar de que se sentaram na mesa atrás de mim, que entretanto vagou...
Claro que a minha concentração foi "p'ro espaço"!!!!!
Porque a D.Madalena quando vem, é p'ra ficar, e o dia está completamente cinzento, com uma aragem desagradável, não há sol e portanto os bancos da minha praceta não "convidam" ninguém... Assim, dos seus dois  poisos possíveis, este, é o viável para a D.Madalena no dia de hoje.

Vamos agora ver este filme ao contrário, que será o que muita gente dirá: "coitadinha, está deprimida porque não tem programa para o fim de semana, porque está só, angustiada, porque não tem ninguém afectivamente próximo a quem se ligue!!!...
Não deve ter os problemas económicos que arrasam as famílias deste país...não deve ter que aproveitar o fim de semana para fazer os trabalhos que a maioria das mães de família e donas de casa têm, porque durante a semana correm para os empregos, não deve ter que minimamente analisar o andamento escolar dos filhos, porque também é quando têm tempo para isso....não deve ter que ir correndo para as grandes superfícies abastecer-se, por ser mais barato!
Se está no café, não está no hospital,  portanto deve ter por certo, saúde razoável que lhe permita essa disposição, e certamente algum dinheiro para gastar...."

Na realidade tudo isto é verdade, e eu devia ser tão agradecida seja lá a quem for, porque, no fundo, os reais e sérios problemas da vida  das pessoas, aqueles que, por desespero levam tantos ao suicídio, levam tantos jovens a deixar os estudos prematuramente, para entrar no mercado de trabalho, levam tantas vidas familiares a desmembrarem-se, levam tantos doentes de carácter urgente a morrer pela impossibilidade de recorrer à saúde privada, marginalizam e atiram para caminhos de desgraça, pessoas  na desesperança da sobrevivência... esses problemas eu tive a sorte de de facto não viver..

E sinto, sinto que devo agradecer por poder ir ao café ( mesmo "dos velhos"), acordar para um sábado (mesmo cinzento),tentar achar que o vazio que está cá dentro e origina o vazio exterior terá que ser preenchido de alguma forma, e que eu não posso sossobrar, e não posso toda a vida dar-me o luxo de pagar semanalmente oitenta euros a uma psicoterapeuta (que  efectivamente é extraordinariamente fundamental e devia ser acessível a qualquer pessoa ) e mais oitenta euros de quando em quando ao psiquiatra, para me entupir de químicos, que tornam mais azul o esmaecido do meu céu...

Tenho que festejar estar viva porque possivelmente estando viva, terei acesso a usufruir essa natureza gratuita que nos oferecem, na simplicidade e beleza de uma flor à beira da estrada, no som do mar e nos salpicos da espuma nos rochedos, no sol a deitar-se ou a espreguiçar-se, na chuva que me encharca e no calor abençoado do sol, que me seca a seguir, na melodia do canto dos pássaros, na melopeia do vento nas searas no meu Alentejo, na beleza esfuziante duma borboleta...tudo sem eu pedir, tudo sem eu eu sonhar, tudo sem eu merecer sequer...

Bem, a minha crónica de hoje é uma crónica de paz, porque, não me perguntem porquê, hoje sinto-me pacificada por dentro, como se uma turbulência destrutiva estivesse a deixar-me, para que eu tivesse direito finalmente ao sossego do sono da criança que ainda sou...

Amanhã não sei como será......mas pelo menos hoje, sinto-me assim, e amanhã é outro dia!...

Anamar

sexta-feira, 21 de maio de 2010

COISAS QUE "TALVEZ" SE EXPLIQUEM....OU NÃO....

Estranho!....
Hoje venho aqui falar de algo que não sei falar.
Acabo de chegar de uma igreja, onde acendi duas velas.... Mais estranho ainda, visto que sempre me conotei como uma agnóstica confessa. O meu pai, era o tal que dizia que se no leito da morte pedisse um padre, o ignorássemos....porque ele já tinha sim, morrido...

O que me levou então a tomar esta atitude aparentemente paradoxal, vista de fora? O que me levou a quebrar o meu racionalismo de posse da razão, e depois das velas acesas, com o olhar perdido....não sei, se calhar no infinito, guardar aquele recolhimento de não mais de dez minutos? O que me levou a procurar aquele local de silêncio e sombras ....e "conversar", conversar simplesmente, interiormente, não com Deus, não com os santos cujas imagens revestem os altares, não com a Virgem de Fátima, no seu mês de Maria???!!!!

Ontem fui à margem sul, onde já sobejamente referi, a minha mãe vive neste momento. Fui para a ver, fui para conversar um bocadinho, fui para lhe levar alguns dos miminhos que eu sei que ela gosta.
Regressei e obviamente, talvez três da tarde, tomei a ponte 25 de Abril, sob um calor abrasador.
Vinha devagar, o rádio baixo, como gosto, o vidro aberto, para refrescar um pouco.
O tabuleiro da ponte tinha aquele trânsito que lhe conhecemos, nunca pouco, e nunca muito lento.
Vinda da via verde, acessei àquela faixa reticulada da esquerda, comecei a fazer pisca para passar para a faixa do meio, de betão, cujo pavimento eu gosto mais...e assim que inicio a manobra, o carro entra-me numa derrapagem incontrolável, todo o meu lado foi "socado" contra o rail separador do tabuleiro, o meu airbag lateral rebentou, e como uma bailarina, numa dança louca e frenética (eu fiquei tão atónita que tirei os pés do acelerador e travão), rodopiou enquanto quis, até que, situando-de totalmente na faixa central, retomou o caminho a direito, como se nada tivesse acontecido.
Não houve quebra de vidros, os vidros e luzes funcionam normalmente, portas e fechaduras também....

Já há uns anos, experienciei (na altura não era eu a condutora), a sensação aflitiva e de total impotência de uma derrapagem, só que em estrada aberta, digamos assim. Desta vez, a pergunta que me faço, não é a da derrapagem propriamente dita, porque para isso há explicação científica que já darei  (porque pode até ser útil),....a pergunta que me faço, é, como é que no puzzle do trânsito que circulava....o pesadelo não foi mais longe, e eu não provoquei choque, ou choques em cadeia???!!!!
Eu "dancei" aleartoriamente entre os carros e não toquei nenhum!!...

A derrapagem em si, explica-se pela subida do ar quente do tabuleiro inferior, onde circula o próprio comboio. O ar quente ao subir diminui o atrito e portanto a aderência dos carros ao piso. No Inverno é o ferro da retícula que também impede uma maior aderência....

Retomo o início deste post; podem rir ou achar ridícula toda esta explanação; provavelmente vão achar que a sugestão, o choque ainda, a estupefacção e a consciencialização do que ali poderia ter ocorrido, me tolda o raciocínio, me tolhe a racionalidade ....me retira o discernimento....

Retomo o início deste post, em que me assumo como agnóstica confessa.
Tenho, contudo, sempre, dentro de mim, e é para ele que apelo, agradeço ou suplico....o meu pai, que me deixou há dezoito anos, e que, como uma espécie de guia ou bordão, se estivesse corporizado, de tudo faria, como sempre fez, para me proteger....

Por isso, podem achar que tudo são coincidências ridículas....Para mim, ontem, às três horas, naquela ponte, a mão dele estava lá....e guiou aquele carro até porto seguro....

Anamar

domingo, 16 de maio de 2010

"A INGENUIDADE JÁ FOI...."





Realmente a "ingenuidade" já foi....

É domingo e o " calvário" dos fins de semana instalou-se efectivamente na minha vida....
Depois de ter ido ver os meus pilantrinhas, e explicar ( ? ) o Big Bang e a Teoria da Relatividade ao António, que mo solicitou...8 anos!....(como não dizer que a ingenuidade já foi)!....resolvi ir ao cinema, para ocupar mais uma tarde de doidos, com mais uma futebolada que "de certeza" livra o país da recessão.... (que pobreza! de terra que nós somos!....), e como estamos a entrar em mais uma época baixa de sétima arte, sem grande escolha, já que as férias, o sol, o calor e o mar, começam a deitar a cabeça de fora....fui ver um filme novela, de desfazer corações , um pouco pindérico no argumento de sentimentos irreais....adolescentes....

"A melodia do adeus", baseado em mais um romance do fabrico em série e tónica igual, de Nicholas Sparks, que talvez referenciem pelos primeiros romances que o lançaram,.... "As palavras que nunca te direi"e "O diário da nossa paixão"  foram livros que li com agrado.O primeiro, adaptado também ao cinema, não me defraudou....

Estive a ver agora na estante, e admito não ter contado correctamente, e detecto que "aguentei" ler oito volumes dum autor, que se tornou um ídolo dum público feminino, cujos livros, têm sempre a mesma matriz, que "pintam" a vida normalmente com a mesma paleta de cores, e cujo fim, já se identifica, ou adivinha, no pricípio...

E cansei....
Não comprei mais, não aguentei ler mais, achei que estava a desaprender sobre a vida real....ou então, essa vida real, já me endureceu de tal forma, que me tornei progressivamente mais exigente com os conteúdos.
É um autor que vende aos quilos, é um daqueles fenómenos um pouco inexplicáveis, tem o seu público fiel (preferencialmente feminino, e por isso se contariam pelos dedos os homens que estavam na sala) e deu direito a muitas, muitas lágrimas, ou fungadelas ao longo da exibição, por parte da assistência...

Não é por acaso que Nicholas Sparks entra na minha leitura de cabeceira.
Ele faz parte do longo deserto afectivo e dum período duro e inconsciente, de adormecimento e imaturidade da minha vida....Ele é por assim dizer "O simplesmente Maria", a "Crónica Feminina", "Os Caprichos" (lembram?), "A Escrava Isaura", "O pantanal"....onde eu me ia "abastecer" para continuar a acreditar que a vida é dos grandes amores....que é tudo sentido e verdadeiro o que nos contam, que tudo, mesmo depois do sofrimento, tem um final feliz à nossa espera....
Trinta e três anos de uma longa travessia sem oásis....
A escrita de Sparks é onírica, e o ser humano, (preferencialmente o profundamente emotivo, que é o feminino), precisa "agarrar-se"a realidades minimamente felizes, que não vive...

Por isso hoje, eu não diria, a "lamechice" do que estive a ver ( porque respeito o direito à opinião e ao gosto das pessoas), mas o conteúdo (vou dizer assim), conseguiu despoletar em mim uma raiva, um azedume, e até uma mágoa ainda, porque, não vou a Fátima a pé, mas cá no fundo continua a existir aquela luzinha um pouco crédula da adolescente que eu fui, apesar das "lambadas" que fui levando pelo caminho, e apesar de, quando racionalizo, saber que o que há para percorrer, já só é uma vereda com cardos e silvas....nem chega a ser uma estrada....

Anamar

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"A SUPER AVOZINHA..."




Não tenho por hábito, por muitas e variadas razões e convicções, expor na NET, aqui e noutros locais, fotos familiares ou pessoais.
Normalmente procuro aquilo que quero, em tantas hipóteses que a NET nos oferece, e sem que o objectivo seja plagiar (de forma nenhuma), completo ou ilustro o trabalho que quero fazer...
Também, refiro-me de alguma forma aos meus familiares mais chegados, porque fazem parte do meu quotidiano, quando, por esta ou outra razão , são motivo de referência.
Como sabem, este blogue é intimista, e como tal, ao escrevê-lo, sempre abstraio de tudo o que me rodeia;
Não é propriamente uma espécie de egocentrismo gratuito....até porque ninguém tem que "levar comigo"...é porque aqui, é mesmo o tal buraco do deserto, que se calhar todos precisaríamos ter, para gritar, rir, chorar....nós, e ele, o buraco....e ninguém a existir à nossa volta....

Bom, mas desta vez, eu trouxe aqui, pelo inusitado da coisa, uma foto pessoal mesmo, da minha mãe, a tal velhinha que contabiliza os tais 89 anos... (eu , não faço parte da história, apenas não tinha nenhuma foto onde ela estivesse só).
Já deixei ao longo deste blogue, aqui e ali, salpicos, do que é a personalidade da mulher com quem ainda hoje tenho a felicidade de repartir a minha vida, mas vou só acrescentar aqui e ali alguns pormenores, que mesmo conhecendo-a como conheço, me deixam o queixo cair...e levam a minha filha mais velha (o elemento que ela mais respeita na família....rsrsrs), a epitetá-la de "a super avozinha".... Senão, vejamos....

Eu casei muito novinha, dezanove anos (coisas das épocas), e o meu ex-marido, que na altura, já licenciado e a trabalhar, devido às vissicitudes da vida sempre viveu um pouco afastado dos próprios pais, foi, por assim dizer, "adoptado" por ela  (ainda éramos solteiros na altura), como o patinho feio, pretinho, no meio da ninhada amarelinha....

Foi, portanto ele, um filho,  e não o "tradicional" genro, (ele, aliás, trata-a ainda hoje,e apesar dos pesares, por "mãe"...),

Foram passando os anos, muitos, muitos anos...e o nosso divórcio aconteceu....

Tínhamos na altura uma vivenda, tradicionalmente de fins de semana, embora com todas as comodidades....
Implantada num jardim de mais de mil metros quadrados, vive rodeada de trepadeiras, relva, árvores e arbustos que florescem numa explosão de cores, espantosa. Tem uma piscina muito grande e tem sempre, como aqui já tenho dito a brincar....5x5 cm de terra onde a minha mãe, claro....tem que colocar uma sardinheira.

Eu acho que ela conversa com elas, enternece-se por cada botão, do borboto à flor aberta....enfim....

Isto para vos contar o quê?
Que, após a minha, felizmente já pacífica separação neste momento, com quem vos parece que a minha mãe decidiu ficar, para o melhor e para o pior, nesta vida?....
Pois é!  Deixou a sua casa fechada, onde muito pouco vem, "deixou" uma vida que seria certamente mais perto de mim, por ser na mesma localidade, e ficou com o "outro" filho, com as buganvíleas e as glicínias, com os noveleiros e as azáleas.......e claro.....com as suas sardinheiras!!!

Eu fico feliz por ela, pelo sol que ela apanha, pela alegria de se sentir útil e protectora (não esqueçam que ela é da época em que os filhos-homens eram imbecilizados pelas mães, no que toca aos trabalhos domésticos...), por cada ninho, cada melro, cada cuco que ela pode ouvir....e fico louca da vida quando me conta, pujante de energia : "Antes das seis e meia da manhã já estou na piscina" (onde molha as pernas até às coxas), fazendo aquilo a que ela chama de  hidro-ginástica para ajudar as articulações dos dois joelhos, que numa queda fracturou, já com oitenta e dois anos.
"Depois faço meia-hora de ginástica, aos ombros, aos braços, ao pescoço, e passo os rolamentos em madeira pelas costas, obrigando a coluna a ficar o mais direito que consegue, e os braços a irem para trás o que puderem...." Tomo então o meu duchinho quente, visto-me, e começo "a minha vida"!!!....Sim, porque eu quero cá estar com vocês ainda muito tempo!!!!....

Sempre conheci a minha mãe assim...."depressões"?...."papa-as" ao pequeno almoço....as suas rendinhas, os bordados quando ainda via bem, e o seu Sporting de que até a um treino assistiu e de cujos jogadores (no tempo do Augusto Inácio) tem autógrafos e dedicatórias carinhosas, e que agora grandes "dores de cabeça" lhe dá.....chegam-lhe para viver....

Agora digam-me: Com uma progenitora assim, com uma força destas, com uns genes que já não se fabricam....como é possível ter saído uma "pamonha" que nem eu???!!...

Anamar
                                 
                                

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"NADA SE PERDE....TUDO SE TRANSFORMA..."




Um domingo absolutamente atípico, um domingo, sem grandes excepções, ao que prevejo serão os meus domingos daqui para a frente...
Considero que entrei no cinzentismo da vida. O que é que eu hei-de fazer, senão andar rua abaixo, rua acima, com o risco mais que inerente, indesejável e nada oportuno, de gastar dinheiro, com as lojas a piscarem-me os olhinhos , depois de ter percorrido todos os meus contactos possíveis, do telemóvel e cada um já ter programa definido - senão, como dizia, percorrer as labirínticas ruas (p'ra mim são sempre labirínticas, a menos que ande de GPS na mão), de um Centro Comercial qualquer, de preferência um, que descobri,  pertíssimo aqui de casa, que estranhamente , ou não (...), eu não conhecia - o Oeiras Parque, aconchegante, espaçoso, pequeno, luminoso....Por que será que nunca foi incluído nas "rotas"?.... Já não interessa....

Enfim, eu até sei por que vim aqui...não foi numa súbita curiosidade de conhecer o Centro, eu, que nem aprecio particularmente estes espaços; vim, porque a minha vida, presa por arames, parece a de um zombie, mexido por cordelinhos, e o programa do dia, por cada dia que passa, depende sempre de tanta coisa....mas, espremido, não tem , de facto, nunca, luz...

Na 3ªfeira passada, movida por desígnios de injustiça, indignação, tristeza, de morte e raiva, eu estava no píncaro dos Himalaias...eu podia tudo, eu ia ser capaz de tudo...uma mulher nova tinha nascido!....
Na 4ªfeira, razão tinha o médico, quando com toda a objectividade me disse:" nem tenha ilusões que se iria aguentar, assim, num clique, sem fármacos....de uma assentada!..."
Não disse nada, mas pensei: "estes gajos (os psiquiatras), que mania têm de nos enfiar as "pílulas milagrosas" goelas abaixo (o meu cardápio conta, por exemplo com sete qualidades por dia)...enquanto podem!...Nem percebem que isto é como o tabaco...a gente consciencializa as coisas, faz a mentalização adequada, exercita o seu auto-domínio....e pronto....tem de ser dum dia p'ro outro!"....- isto era eu a pensar...

Quanta infantilidade!! Nessa mesma quarta feira, já eu era como um balão, com um furinho minúsculo, mas a perder ar...e fui perdendo, perdendo, perdendo...e hoje, domingo, nem preciso tirar a guita do pipo...simplesmente porque nada há já para sair...

Enquanto estava comodamente instalada numa poltrona do Centro, com os olhos no tudo e no nada, de repente, atravessou-me o espírito, a D. Ester.
A D.Ester era uma senhora que morou sempre na avenida onde eu e os meus pais vivíamos. Era uma senhora, na verdadeira acepção da palavra,  penso que até mais nova que a minha mãe, bem desempoeirada, vivia com o marido e lembro que um lindo gato, persa, branco, que desafiava as leis da gravidade constantemente, porque se pavoneava ao sol, no parapeito da janela, que, muito embora fosse um primeiro andar, me deixava com o coração nas nãos. A D.Ester, não tinha, portanto, filhos.

Inesperadamente, enviuvou, e esteve viúva, algum, não muito tempo. Recordo, e era bem pequena, (talvez 13, 14 anos), quando a D.Ester, senhora, como disse, respeitável, insuspeita de comportamento, foi sujeita, a todo o tipo de comentários, pelas mentes pequeninas, desdenhosas, sem a frontalidade e coragem (para a época) em que viveu, mentes maldosas que se realizam para, e pela infelicidade dos outros, porque pôs um anúncio de casamento num jornal, voltou a casar e foi bem feliz, com um companheiro um pouco mais novo, com quem viveu, até à morte deste, também.
Pouco depois, partia a D. Ester...

Hoje, eu percebo-a lindamente...pareço vê-la, à sacada, com o seu gato branco, à hora do regresso do trabalho do marido.
Era o tipo de pessoa que não viveria sem afecto, que precisava de amor para respirar, definharia na solidão...

Há seres assim, não conseguem secundarizar o amor, viver em desertos afectivos.
Não conseguem ver cor em nada, sozinhas....olham sempre, mas só vêem se forem quatro olhos a direccionarem-se no mesmo sentido; o valor e o valer a pena das coisas, só se justifica se partilhada, não têm maturidade nem autonomia afectiva....têm que ter luz no fundo do túnel que é, de facto, a vida.
Há pessoas que não vivem senão partilhadas, sem dar-se e receber, sem se dividirem....

Ao longo da vida ouvi a minha mãe dizer (e di-lo até hoje : "A vida tudo nos dá e tudo nos leva")....
Eu estou mais (e ensinei anos a fios aos meus alunos, o princípio do grande Lavoisier, da conservação no universo....)
Eu não acho que a vida tudo nos leve. O que nos dá, apenas transforma....e enquanto que à chegada, a "nossa arca dos sonhos" está repleta, e a das recordações, vazia....no fim da jornada, a dos sonhos esvazia como o meu balão furado, e a das recordações, tenho que me sentar em cima dela para a conseguir fechar...enquanto espero...

Estas "arcas" são a nossa vida...e nela, de facto, nada se cria, nada se perde...tudo se transforma!...

Anamar

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"HOMENS EM FUGA"

Por que será que o ser humano tende a repetir os registos e padrões comportamentais de vida, ainda que erráticos, mesmo que o perceba e o consciencialize, se sinta desconfortável com eles....parecendo nunca aprender nada, como tatuagens grudadas à pele para sempre???...

A Psicologia explica de certeza, os psicólogos, psiquiatras, psicanalistas devem conhecer e saber explicar estes meandros da alma, tão complexos...

Eu não fugi à regra...
Os homens que eu amei...os homens que me amaram (?), comportamentalmente têm de facto, todos,um padrão comum, um misto de prazer e sofrimento que parece ser o que eu busco, um masoquismo patológico centrado em mim...São todos eles, "homens em fuga"...

A  matriz original começa na figura parental do meu pai, cuja vida (como algumas vezes já aqui referi), era ser viajante de uma firma de ferragens. Foi o primeiro homem que me dava por felicidade, os escassos momentos que estava presente.
Era uma figura "incerta" na minha vida. Desde sempre, o vi sair para viagem às segundas feiras, e acho que desde muito tenra idade, devo ter interiorizado que sempre era incerto que ele voltasse.
Na minha cabecinha de menina, sempre, a figura do meu  pai, era uma figura de ausência, duvidosa, incerta, insegura, fugidia...
Já não referindo sequer, que toda a minha vida vivi a eminência da sua morte, dada a diferença abismal das nossas idades. Quando eu nasci, já o meu pai tinha quase cinquenta anos anos...e como tal, sempre me foi incutida a ideia de que não estaria cá para me ver crescer, tornar-me mulher, partir para a vida...como os pais "normais" das minhas amiguinhas...

Pela vida fora, até hoje, e agora já com  maturidade afectiva e emocional, pelo menos assim o deveria ser, os homens que mais amei e que mais me fizeram sofrer, são  homens agri-doces, com comportamentos emocionais exactamente em repetição deste registo.

Homens que podem ou não estar, que não é sequer seguro que estejam, homens em eminência de desaparecimento, que nunca me transmitiram segurança, paz, normalidade...
Homens que me dividem com outros afectos, que me dão, na generalidade migalhas, homens com um charme próprio (não intencional), mas que me provocam destruições irreversíveis sem recobro possível...

De uma forma subtilmente ilógica, ou para a qual não tenho qualquer formação científica esclarecedora...é como se a minha vida se desenvolvesse sobre a cratera de um vulcão....

Os outros, aqueles que me valorizam e entendem esta convulsão de sentires, com as minhas inseguranças, omissões, incompletudes...aqueles que estão sempre lá, prontos a "bombeirar" chamas avassaladoras, angústias e sofrimentos...esses, que me tornariam a vida tão mais simples e normal, não "mexem" com a minha adrenalina afectiva, não me motivam emocionalmente, tenho-os como "amigos", âncoras de vida, esteios de afecto, ombros de apoio...e nunca terão possibilidade de ser o "homem-carnal", o "homem-sanguíneo"...o "homem-amante", como se o sofrimento da dúvida, da incerteza, fosse um doentio auto-masoquismo ou flagelação, que me estimulasse e impelisse sempre para os mesmos abismos...

Realmente o ser humano, muitas vezes nem se merece, nem merece as "benesses" que tantas vezes a vida lhe faz desfilar ao alcance de um coração ávido, sedento e sofrido....e deixa voltar esquinas, a quem deveria ficar, e quer "morrer" por quem paira com indiferentismo, e nem reconhece os afectos que lhes são prodigalizados...

Anamar

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"QUEM ESPERA POR QUEM NÃO VEM, NUMA HORA ESPERA CEM..."




Segundo ela, quem for às Galinheiras, mesmo em frente ao Café Central, num rés do chão, cujo número não lembra já, numa casinha de janelas pejadas de flores, modestas que nem ela, cujos vasos se estendem pela calçada, junto à porta, não há quem não conheça a D. Joana...

A D.Joana regressou "à sua casinha", graças à intervenção da Assistência Social, embora não esteja curada, nem virá a estar seguramente nunca mais, com uma das pernas em permanente chaga aberta, não sei se de uma úlcera varicosa, mas que a limita na sua vida no dia a dia.

A D: Joana, quase "residente" do Hospital de Santa Maria, é uma velhinha, a "avó", como toda a gente carinhosamente, a trata  no hospital , é alentejana, de Flor da Rosa, quase sem rugas, nos seus 89 anos, com um ar de bonomia, apesar dos pesares, muito branquinha de pele, e uma bandolete inseparável, a dar-lhe um ar cuidado e limpinho, num cabelo duma alvura espantosa.
É de uma educação invulgar, sente-se sempre agradecida por tudo o que lhe fazem, evita o mais possível incomodar o pessoal e suporta as suas dores, como pode.

"Amanhã, a esta hora já estou na minha casinha"....rejubilava a D. Joana, repetindo esta frase mais de vinte vezes na véspera de ir...Nem queria acreditar...e a felicidade estampava-se-lhe no rosto...
"Como estarão as minhas florzinhas??!!...Se calhar tudo seco!" (esta última estadia no hospital durara dois meses e meio). "Tenho uma flor de noiva, a minha avenca, dois gladíolos, um, cor de rosa, e sardinheiras muito bonitas....Se calhar está tudo seco!" - dizia, desalentada, única nuvenzinha que lhe atravessava de quando em vez o olhar...

Aguardou, mais do que o previsível, a chegada do transporte hospitalar, com o seu robezinho rosa, o seu ar desempoeirado, o andarilho a postos....devido a burocracias de última hora, enquanto dizia : "Quem espera por quem não vem, numa hora espera cem!!..."

Todos quiseram despedir-se da D. Joana, que acenava, corredor fora, quando finalmente chegou a hora.

O hospital ficou mais pobre...a D. Joana mais rica, na sua casinha das Galinheiras, frente ao Café Central, com as suas flores, que mesmo as mais "doentes", reconhecerão certamente a dona, e irão florir pela alegria desta nova Primavera da vida da D. Joana...

Anamar

terça-feira, 4 de maio de 2010

"UM PEDAÇO DE VIDA...UM PEDAÇO DE PAPEL"



A casa estava na penumbra.
Ainda não tinha ligado as luzes eléctricas, estava deitada sobre a cama, de lado, voltada para a janela.
Esta, era um mero quadrado recortado na luz crepuscular do exterior, que àquela hora era de um azul-cinza tão pálido, mas tão pálido, que não sendo o fogacho alaranjado já pouco intenso lá bem no fundo, dir-se-ia que os deuses já tinham ido dormir....

Todos os objectos do interior e do exterior, o recorte do casario, eram só sombras chinesas, vultos, que mais se adivinhavam do que se viam....

Era uma hora muito estranha.
No céu já não havia pássaros, a aragem corria algo forte, para este Maio promissor de um Verão que se anunciava....
Era a hora das bruxas....da quietude, do silêncio, da letargia, do adormecimento da natureza...
Sempre se sentia cansada nesse espaço temporal de pausa, até que o céu ficava definitivamente escuro....Parecia que ocorria ali uma suspensão de vida durante algum tempo, uma época de pausa, de intimismo, um quebrar ou deixar pender os sonhos, as forças, os projectos, os planos, toda a energia que o sol radioso da manhã seguinte repunha, recuperava, regenerava....

Eram assim os dias, as semanas que se juntavam em meses, que perfaziam anos....que completavam vidas....

Abriu a janela e deixou que a aragem da noite lhe atravessasse o corpo semi-nu.....fez uma pausa, abriu a mão onde estava ainda bem preso aquele mail....e deixou-o ir, flutuando nos golpes da aragem nocturna....enquanto se dava conta que ao alcance do clique daquele "enviar", iam vogando ao acaso, seis anos da sua vida...

Pensou:"Irónico....nem sequer está por aqui a minha gaivota. Se estivesse, ela podia trazer-me o papel de volta, do éter, do silêncio...pensando que eu me descuidara e o deixara escapar, e dizendo-me -tem cuidado! seis anos da vida de alguém, assim, perdidos, é um crime. Vê se és prudente!!"

Não....na hora das bruxas já as gaivotas fecharam a pestana há muito....

Continuou nostálgica,,, e nem Vénus, o único astro "plantado" bem ali na sua frente, teve o condão de a fazer acreditar que há mais vida lá fora, que há mais esperança e futuro do que a sentença ditada naquele definitivo papel...

Anamar

domingo, 2 de maio de 2010

O TAL "JEITINHO" QUE SÓ MÃE INVENTA....




Nunca tinha estado hospitalizada, felizmente...

Nunca atravessei este deserto do que são dias intermináveis, a começar ainda não são sete da manhã e sem términus determinado...

Nunca experimentara a sensação claustrofóbica de não ter por perto os nossos pertences, o nosso televisor, o "chato" do nosso PC (que de repente passaria a ser um querido...), até a nossa caneca do leite.

Nunca passara antes pela "exaustão", de nada haver para fazer, excepto comer (que parece acontecer de hora a hora), mandar e receber telefonemas e mensagens...e dormir, dormir, dormir...já sem posição, com as "cruzes" em reclamação e os músculos das pernas a doer de não trabalharem decentemente há dias...sei lá...nunca atravessara de facto, o deserto...

As pessoas que tenho como conhecidos e amigos (meu Deus...como são tantos...nem eu fazia ideia, o que me traz uma felicidade sem tamanho) , fazem-se e desfazem-se em tempo, em engenho e em arte, para fazer deste local um verdadeiro SPA...mas um SPA à séria...
Já não falo das minhas filhas, claro, digamos que essas sempre terão alguma obrigação "institucional". ( Não gosto do termo "obrigação"...amor não é nem nunca foi obrigação...).
Elas inventam, elas desdobram-se, elas desmultiplicam-se, para que as lágrimas não molhem o rosto da menina mimada que eu sou...

De alguma forma, este aprendizado doído, tem muito de positivo, e tem-me também mostrado, como, de facto, o afecto entre as pessoas que se querem, vem à tona, mesmo que o mar esteja encapelado, ou melhor, sobretudo se o mar estiver encapelado...
tem-me mostrado como a dor, as horas de sofrimento, as incertezas, as desesperanças ou as pequenas alegrias, solidarizam indistintamente o ser humano....e sem darmos conta, todos em comunhão, todos iguais, damos por nós a falar de nós e dos nossos, a falar de tudo e a falar de nada...simplesmente porque somos GENTE...

É de facto uma experiência  que todos "deveriam" viver, pelo menos uma vez na vida.
Vejam que não falo no mau sentido, óbvio.
Esta colmeia ou polvo gigante, imparável, este "monstro", cidade em ponto pequeno, que nunca dorme, esta "solidão acompanhada" também, a dor, o medo que às vezes é pior que o sofrimento, a união ou fraternidade e solidariedade comoventes, que se criam nesta comunidade (porque afinal, o barco é de todos....) enriquece, porque igualiza, relembra valores  que às vezes, muitas,...chegamos a desacreditar ainda existam na sociedade injusta, desumanizada, egoista e tão sozinha como a que vivemos nestes tempos.

Já tive a minha mãe internada mais do que uma vez nos hospitais, por razões várias. E diariamente a visitava o quanto podia, tentando suprir aquelas pequenas coisas que sempre fazem falta, pelo simples facto de não estarmos no nosso espaço, estarmos fragilizados e como que indefesos.....
Mas nunca pude imaginar o que traduz aquele olhar "comprido" que vai ficando, quando a hora é de regresso; quem esteve, parte para a vida cá fora, para a "liberdade", e quem fica, continua contando as horas, que descontam dias, que reduzem tempo, o tal tempo que levará teoricamente ao sanar das maleitas, ou, pelo menos, que nos devolva à nossa "normalidade".

Agora, a situação é inversa. Quem "encomprida" o olhar, sou eu, quem chega e parte a correr à custa da sua própria alimentação, do seu próprio bem estar, da sua vida, roubando tempo à hora de um almoço, que por isso não se faz, à custa de um esforço acrescido, são as minhas filhas, sobretudo a que também já tem lá em casa, três "utentes"hospitalares, de quando em quando...
Ela de facto faz de tudo, "entope-me" de felicidade traduzida nos miminhos, nas revistas de fofocas, tentando pensar em tudo o que possa aligeirar a nostalgia ou as lágrimas da tonta que sou....

Mas ela que me perdoe, e perdoa...porque conhece a avó que ainda tem (e que desta vez, pela primeira vez e desgosto seu, os 89 já não lhe permitem estar por perto). Se a minha mãe estivesse aqui, tenho a certeza, e não sei explicar o porquê deste meu "feeling", a corrente do afecto, o saber afectivo maduro e prático das coisas....aquele "jeitinho" que ela saberia dar,  (e que lá longe está dando em pensamento), um parecer querer  levar debaixo do braço as nossas pieguices reais ou não, do hospital para fora, aquela frase encorajadora real ou falsa, de estímulo, coragem, fortaleza, fé....esse "jeitinho" só mãe (algumas) sabe dar...

Anamar

"AS SUPER BACTÉRIAS..."- uma "estadia" na Dermatologia do HSM


"Elas aí vêm!!!....o exército das super-guerreiras, para mim, as "mulherzinhas verdes"...De elmo, viseira e capacete, ar ameaçador, eis o batalhão que se uniu e avança, pensando levar a melhor...Marcha unida, sorrateiramente...espreitando "portas e janelas" que incautamente tenham sido esquecidas abertas....
As "mulherzinhas verdes"...já sei por que acho que seriam verdes...se as visse, a elas....às bactérias!
É que hoje, nas "démarches" do banho diário, em cavaqueio com a utente que mal cabia na cabina ao lado, coitada (no mínimo 130 Kg), encetámos um diálogo... (sim, porque estas coisas custam sempre menos se formos criando uma boa vizinhança e afinal isto é uma família de gente que está toda num raio duma canoa furada...)

Contava-me ela, que se vira "grega" para exterminar uma que apanhara lá no serviço e certamente se encantou com uma das suas pernas gordinhas...
Era uma chaga, que instalada, não regredia por nada, aumentava sem parar e deitava um líquido verde, tipo "lata de tinta entornada"...

A partir de tal história macabra, meu Deus.... passei a "vê-las" por todos os cantos e recantos, buracos e buraquinhos, numa "orgia" delirante, tipo "glutões" (lembram-se?)...a "trincar-nos" pedacinho a pedacinho....claro que na minha mente, neste momento, só pode ser de atacantes verdes...

Guarda unida!!!!
Cornetas e cornetins, quais baratas em fuga à frente do Sheltox!!....

Caíu no chão??... Não toca!!.... Pés no chão??!! Oppss...nem pensar! Elas estão lá à espera do dedo mindinho...Passei a olhar de soslaio, desconfiada, tal como quando a "apocalíptica" Gripe A se avizinhava...
Já pensei em "escafandrizar-me" (já que tenho que estar mesmo por aqui), garrafa de oxigénio às costas, luvas e óculos espaciais, numa nobre missão de defesa contra as "mulherzinhas verdes"...

Para além disso, acho que vou andar pé ante pé, de lupa...e elementar....caçá-las aos quilos, exportá-las (pensei no Hugo Chavez....parece-vos bem?...), e com isso ajudaria o Sócrates a dizer que finalmente tinha salvo a economia do país...

NOTA : Nada disto tem intuito ofensivo, mas apenas humorístico....parece-me óbvio.De alguma forma, apesar de tudo, foram "medos" por mim vividos.
Longe de mim estar a ridicularizar ou a minorar o sofrimento humano.
Oxalá não apanhe, eu própria sem contar, alguma das renomadas bactérias hospitalares, nesta minha estadia forçada na Dermatologia do Hospital de Sta. Maria...

Anamar