sábado, 28 de agosto de 2010

"DECRETEI !..."

É mais um sábado.
Ando a dormir mal e estou agora a tomar o pequeno almoço. É meio dia e meia, estou no café "dos velhos", como eu costumo dizer, como se o Escudeiro, agora encerrado para férias, não estivesse ainda mais "tumba" que este!
Este, é mais um lugar de poiso de "aves de arribação", e depois, de "habitués", tipo D. Madalena, que é utente diariamente, quando as primeiras chuvas ou frios a desalojam da minha praceta.
Não faz realmente bem à cabeça este ambiente, eu acho...e dou por mim, que já não estou boa, a ouvir falar de desgraças, ao lado, por trás...na mesa da frente....
A Lena um destes dias dizia-me : " Tu, por amor de Deus, não me pares muito por aqui!!...."
As hipóteses diferentes são muitas, mas a vontade não ajuda; podia, por exemplo, ir até junto do rio e tomar por lá o pequeno almoço. Mas não, o imobilismo habitual e derrotista invade-me, e não me mexo....
Os fins de semana são terríficos....continuam a ser terríficos. É um vazio e um buraco assustador cá dentro.

Daqui a uns tempos, não muitos...faço anos.
E meditava eu, um destes dias, em como "voou" o tempo, do ano passado para este ano.
Este ano vou arranjar um esquema alternativo, para "saltar" o dia no calendário. Não há quem aguente os telefonemas, os parabéns, as palavras que me vão marcar a data....
Não, não quero fazer anos! Não quero mais dias e semanas e meses a escoarem-se por cima de mim e a arrastarem-me, violentando-me, numa espécie de vórtice ou tsunami...Chega!

Não tenho inimigos, ou pelo menos acho que os não tenho. Não considero ninguém como tal....mas tenho um, monstruoso e inultrapassável....o TEMPO...que é carrasco e que passa, passa e passa e é intolerante e insensível ao sentir de cada um...

Este ano não faço anos...aliás...não vou fazer nunca mais....DECRETEI!
Vou sumir do mapa nesse dia, para infantilmente o esquecer!...

E pensar que quando somos jovens adoramos fazer anos! É uma emoção a chegada do dia, é uma eternidade até que ele chegue e uma ilusão sobre o que será a vida, fazendo mais e mais aniversários, com tanta estrada a percorrer....
A entrada na adolescência, o sentir-se adulto, as conquistas, a liberdade e independência que pensamos sempre que se alcançam (quando afinal sempre somos escravizados por algo na vida), os sonhos que temos ( e parece que não há tempo que chegue para lhes dar vazão), as metas e as conquistas que vamos alcançando, as realizações obtidas....

E mesmo quando começam os primeiros "invernos" na vida, a força que sentimos em nós, para os atravessar, mais ou menos incólumes....
Ainda nada é tempestade, deserto, impossibilidade!
Olhamos em frente, e o caminho ainda é tão longo para percorrer, que estamos seguros que mais cedo ou mais tarde atingiremos o desiderato de ser felizes...
Não demos ainda as primeiras "cambalhotas" da vida, e acreditamos sermos eternos vencedores,  que  temos forças para sermos eternos lutadores, e não sucumbiremos nunca!...

Que ilusão, meu Deus!

Se nós pudéssemos espreitar por uma "frestazinha" lá atrás, o que realmente é a realidade??!!
Se nós pudéssemos aos vinte ou trinta anos não ter a ingenuidade que lhes é inerente, e perceber que é mesmo verdade, o que, os que estão "quilómetros" à frente, nos dizem e sempre achamos uma chatice e um pessimismo incomodativos??!!

Mas não...e de repente, um dia "acordamos"....; perdemos então a inocência!
Instalou-se a "invernia" à séria, nas nossas vidas. O caminho encolhe a esta velocidade assombrosa, e começa a "escurecer" muito mais cedo; o ar desabrido começa a invadir-nos, e é quando os olhos já capitulam, que afinal passamos ironicamente a "ver melhor", a "ver tudo"...a ver que o "tudo" é já tão "pouco"!....

Por isso , decidi : não faço mais anos!!! Queiram ou não!!!...

Anamar

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"MAIS DO MESMO..."


Começo a cair na realidade...
Chegada de férias, como sabem há poucos dias, não pelo facto de serem férias, porque "férias" tive eu, forçadas o ano inteiro, mas porque o "mundo" onde estive foi outro, me parecia que "tudo" tinha ficado da porta para fora, no "quintal"...

Esta sensação de liberdade, de libertação de peso no coração em quase todos os momentos, acompanhou-me de facto quase todos os dias, como vos contei, na Costa Rica.
Do rafting ao rappel, de cavalgada a floating, de cobra a macaco, de mar a céu, de calor irrespirável a chuva torrencial...de tudo experimentei, como quem procura como que "desintoxicar-se" à viva força, como quem precisa deixar pendurado num galho da mais alta árvore da selva, todas as perturbações que a preenchem e a destroem...

Mas acabou, claro, como tudo acaba....

Dirão: "olha-me esta...queria que o bem bom durasse o tempo todo!!"....
Não é o caso, juro-vos...só queria de facto voltar a ver o mundo com as cores que lhe são devidas, voltar a sentir-me um pouco solta, criança, inconsequente...sei lá,  mesmo por aqui, no meu "buraco", com a D. Madalena e o resto da comitiva no seu posto de todos os dias, nesta praceta descaracterizada ; reduzida às caras do costume, aos cafés do costume, confinada à casa, ao PC, às poucas compras no Super por baixo de mim, que faço diariamente (porque como não cozinho não preciso de grandes coisas...) ; confinada ao dormir, com a Rita aos pés, umas noites mais impaciente que outras (acho que não está bem e tem dores) e ao levantar a sacudir o "pó" do "sótão", a tomar o meu duche e a sentir-me gente (única fase do dia em que ainda sinto uma energia acrescida), como se ESTE, fosse o dia em que a minha vida iria mudar...; confinada a constatar que ando presa por "arames" e a fazer de conta que me aguento e que estou viva!

Lá irão dizer : "Puxa...lá voltamos ao mesmo...não há remédio para esta cabeça!" - e se calhar não há mesmo!

Poderia (e se calhar deveria?) não estar a escrever aqui nada disto, mas precisei aliviar um pouco a "tampa", e estou-me borrifando que daqui a pouco tenha a minha filha "à perna",  por causa deste texto!

É que, se também não escrevo, pouco sobra, fico sem o resto do ar que respiro, que já não vai sendo muito...portanto, como costumo dizer : "Pulem este post...quem sabe um dia destes a minha vida muda mesmo radicalmente, assim como se me saísse o euro-milhões na forma de brinde dos céus, embrulhado com laço de fita e tudo?!...

A coisa recomeça a ficar "preta", como "soi dizer-se"...o que significa que as coisas postiças nunca deram grande resultado; mais cedo ou mais tarde, o invólucro cai e lá ficam as misérias à mostra!
No meu caso, a força que parece que tinha, está a ir-se (certamente não era real), estou a sair da cena que montei, desasada, assim, sem palmas, com a sala vazia e a cortina a correr-se...

Desculpem...uma vez mais.
Começo, como diz a minha mãe (que tem quase 90 anos) de si própria, a ficar "farta de mim"!
Fazer o quê? Começo, ou recomeço a cansar-me de ser um foco de preocupações e mau estar para terceiros, e gostava de, repentinamente...."pufft"....sumir do mapa, desaparecer de circulação, esfumar-me no espaço!!...

Anamar

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

""PURA VIDA..."

                                                                                                                 E cheguei.... 



















Se eu quisesse descrever a Costa Rica, faria um borrão verde num papel, pintava azul de um lado e outro e uma doçura nos rostos, que só conheci nestes países atravessados pelos trópicos.

Os homens, então, são particularmente amáveis e doces, de uma doçura e sensualidade quase irresistíveis!
A alegria, a leveza de vida, a inconsequência que paira é igual aos ritmos musicais que os acompanham quase vinte e quatro horas por dia. Começam o dia cantando e terminam-no cantando também...é realmente "pura vida"....o lema perfeito desta terra, saudação permanente entre as pessoas...os TICOS, assim chamados por ancestralmente, na sua linguagem, usarem os diminutivos sempre terminados em "tico".

Os cheiros adocicados, eu já os conheço, são os de sempre, os tropicais, inigualáveis em qualquer lugar do mundo, as cores, de todos os câmbios e tonalidades, os gritos, trinados, assobios, chilreios de todos os pássaros, começam mal o dia começa também, e este, começa muito cedo.
Antes das cinco da manhã já o dia se inicia, com sol ou com chuva.
Este ano tenho os gritos dos "monos" (macacos), bem perto do hotel, que pelas quatro da manhã já urram a anunciar um novo dia. Hoje, estavam particularmente barulhentos...dizem que anunciam a chuva que chega, e que de facto tem sido torrencial....

Não há "stress", não há afobação, não há esgotamento; as pessoas têm o que a terra dá e o mar carrega, não vivem em função dos bens de consumo, não se preocupam com

os bens materiais...têm  uma natureza pródiga à sua volta, e água, muita água por todo o lado; Caribe de um lado, Pacífico do outro, e muita, muita fauna e flora, inestimáveis (5% da biodiversidade mundial).
Este país, tão pequeno no mapa é um verdadeiro "pulmão" do Mundo, e penso que, felizmente, ainda não está muito divulgado....
É um país sem exército constituído, é um país cuja prioridade dos seus habitantes, todos eles, com ou sem formação, é o desenvolvimento, numa aposta de preservação total da generosidade do pedaço do planeta que habitam.
Há uma consciencialização comovente, de todas as pessoas, desde o motorista da "pick-up" que te transporta, ao biólogo que se mudou definitivamente para lá para estudar "in loco" a flora e a fauna existentes, pois todos têm uma noção muito clara, dos atropelos irreversíveis que estão sendo feitos ao planeta!

A Costa Rica não tem máquina fotográfica ou câmara de filmar que a enquadre...ela apenas pode ser transportada nos nossos corações e nas nossas mentes, para o resto da Vida!!....

Anamar

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"TEARS IN LIFE"

 Hoje fui dar um beijo à minha mãe.

Vou-me ausentar por alguns dias, tentando carregar para longe do meu horizonte, toda a angústia e morte interior, que me assola há muito.
Como se levasse e pudesse deixar fardos ou cargas, pela simples ilusão de que não estou no mesmo sítio de sofrimento...
Como se o céu não fosse exactamente o mesmo, como se o sol também o não fosse, como se a lua, mesmo cheia, não "escutasse" lá, exactamente como cá, os meus murmúrios, não me embalasse e não me estendesse os braços para me secar lágrimas....
Quanta ilusão!....
O peso que transporto é tão grande, que nem sei se o avião vai chegar a bom porto!!

Bom, mas dizia eu que fui dar um beijo de despedida à minha mãe, porque, apesar de eu odiar todas as despedidas, sei que ela não pensa assim, e sempre diz a uma qualquer de nós : "Sim, porque isto, há viver e há morrer"!!....
Coitadinha da minha mãe que nem aos noventa anos conseguiu criar o seu próprio estatuto pessoal....e para ela, a vida....somos nós, do Frederico até mim...

Vinha a atravessar a ponte, e sempre me acompanho de música no carro, medianamente alta, o suficiente apenas para eu a ouvir, quando Eric Clapton lançou para o ar aquele maravilhoso, quanto arrepiante "Tears in Heaven".

Esse tema, por razões particulares, e por mais anos que vão passando, está ligado a um passado algo recente, está ligado a uma pessoa por quem tenho um carinho peculiar, mas que a vida se encarregou de desviar noutra rota, numa encruzilhada....

E porque os pensamentos, tal como as cerejas e tal como as conversas também são incontidos e indomáveis, fiquei a pensar como é frequente que na Vida, pelos mais variados motivos, as pessoas se "percam"....

A gente perde objectivamente pais, filhos quantas vezes, amigos, companheiros de jornadas tantas vezes longas, amores que se partilharam com a força duma chama que podíamos garantir jamais se extinguiria, vizinhos, pessoas de crcunstância no nosso relacionamento diário...

As pessoas "perdem-se"...perdem-se mesmo....e por vezes encontram-se em situações de doença, partida, dificuldade...
Quantas vezes sabemos de este ou aquele, que foi tão próximo nosso....e que partiu....partiu sem avisar (tinha que ter avisado todo o mundo que foi o seu...) !
E pior que isso, nesses momentos em que nos apoiamos uns nos outros, em que choramos juntos, em que atiramos a rosa branca sobre o esquife que desce, em que lembramos tudo o que já foi....prometemo-nos que dali para a frente irá ser diferente...tem que ser diferente...

E depois... a Vida, polvo de tentáculos gigantes...reduz todas as coisas ao que já eram...

"Tears in Heaven"  ou "Tears in Life"....não sei o que será mais real!!!

Um beijo para vocês todos.....espero voltar.....porque isto, como diria a minha mãe : "Há viver e morrer!"....

Fiquem bem!

Anamar