domingo, 26 de setembro de 2010

"ESTÓRIAS DE UM DOMINGO SEM HISTÓRIA...."

O domingo hoje começou às avessas.
Pretendia ir ver a minha mãe à margem sul, e portanto iria levantar-me um pouquinho mais cedo.
Foi uma noite de insónias....às seis da manhã estava eu aqui no computador a completar um post que escrevera ontem no meu blogue, e no qual entendi que deveria acrescentar mais um parágrafo...
já tinha tido um bom tempo sem dormir por volta das duas e meia, e depois às seis foi o descalabro ; escrevi, fui beber leite à cozinha, e claro... o sono foi para o espaço.
Moral da história : acordei agora, mais de onze da manhã, em sobressalto (coisa que eu detesto, porque como sempre acordo mal humorada, tem de ser devagarinho, assim como quem não dá por isso), e... já não fui ver a minha mãe hoje. Teve que ficar para amanhã....

Estou agora a tomar o pequeno almoço, e já pensei : agora vou para a caminhada, de castigo..."toma lá que já almoçaste"!!!!!......

Depois, não sei, não prevejo grande coisa para este domingo, já descaradamente outonal, embora nos queira enganar com um sol bem luminoso ainda....Em última análise vou até ao Colombo, naquele programa "aliciante", de terceira idade, de emparvecer naqueles cómodos sofás da praça das palmeiras, a contemplar os passantes...
Mas eu gosto!....Gosto de ver as pessoas, as suas reacções, a sua correria mesmo ao domingo, ou então...torná-las "transparentes", virar-me para dentro, e entregar-me apenas à "película" que me vai passando pela cabeça e pelo coração.
Depois regresso...daí a pouco o domingo termina, amanhã é outra vez domingo, e depois e depois...sempre domingo!

Eu bem arranjei uma agenda (nas agendas, supostamente marcam-se actividades a cumprir); a minha também tem actividades marcadas : anos da Fátinha, café com a Bia, cabelo, Verdizela, Telheiras...como vêem, o cardápio é longo e variado...

Tudo estranho um pouco, isto, embora não afirme que AINDA me não sabe bem este "dolce farniente", este excesso de horas para ter horas para fazer coisas sérias.
Mas qualquer dia, como a D.Madalena, vou ficando por aqui mesmo à espera de fazer as "tais" horas à séria, que felizmente não sabemos quantas e como são!

E entretanto lá fui p'ra caminhada, e todo o caminho, com os bofes à boca vou dizendo p'ra mim mesma : "É por uma boa causa!..." "É por uma boa causa!..."
Fui de novo só, ou melhor, fui eu acompanhada de tudo aquilo que vai transcorrendo imparável pela minha mente.
O itinerário passa pelas traseiras de uma casa onde a minha filha mais nova viveu, e parte dele, era o percurso que algumas, poucas vezes eu fazia, quando ela me pedia para lhe passear o Nico, por não o poder fazer.

O Nico, engraçado, acho que nunca vos falei do Nico. O Nico é o cão mais rafeiroso que se possa imaginar, que tem tanto de vira-lata como de "melga" de doçura e afecto. O Nico parece nunca parar de querer agradecer o que por ele fizeram...
Veio da rua (todos os animais que a minha filha arranja são abandonados à sorte), e é conhecido por meio mundo aqui onde vivemos, tantos os anos em que sobreviveu...e não viveu.
Quando penso nele, a imagem que imediatamente me ocorre e ocorrerá sempre, um dia, é a do seu rabinho, porque dum rabinho se trata o coto que lhe deixaram por malvadez, a abanar loucamente de alegria.
O Nico também não tem as pontas das orelhas, porque igualmente lhas mutilaram, foi atropelado e abandonado duas vezes, e as pessoas jogavam-lhe água oxigenada sobre um corpo que era uma chaga quase total, pela sarna que contraíra...

Constato que não tenho fotos do Nico, talvez porque agora vivamos mais longe um do outro, mas jamais esquecerei os seus olhos doces e vítreos das cataratas que quase lhe tiram já a visão; é um animal sem idade, doente apesar de tratado e acarinhado o melhor possível, com insuficiências cardiacas e renais....mas é um "guerreiro" e um "resistente", na Vida!

Era um cão castanho ; e digo era, porque à semelhança dos velhinhos, a idade embranqueceu o Nico...e quando o olho com muita tristeza, custa-me pensar que mais cedo ou mais tarde, é um possível canditato a mais uma "deserção" no nosso núcleo familiar, já tão pequeno!!...

Anamar

sábado, 25 de setembro de 2010

"A PASSAGEM"



Os animais morrem com os olhos abertos.
Creio que os humanos também....Isso disse-me o veterinário quando eu me despedia do Óscar, há um ano, e tinha urgência em lhe fechar as pálpebras...

Com as pessoas é igual, ao que parece. Felizmente não fui ainda confrontada com essa realidade. Mas logo alguém, por perto, lhe coloca a mão nas pálpebras e lhe cerra os olhos, antes que passe tempo demais....

A Lena hoje não foi à caminhada. Tanto melhor para ela.
A meio do percurso, como quem dorme a sesta, estava entre  sol e sombra, um gatito todo preto, com a ponta das quatro patas brancas.

Estaquei....estaria mesmo a dormir, como tanto gostam? Baixei-me e os seus olhos estavam entreabertos.
No corpo o sinal do rodado dum carro, embora parecesse incólume.
Perscrutei-lhe os batimentos cardíacos...não tinha. Estava absolutamente exangue, e no entanto, ainda morno, constatei.
Olhei-lhe a expressão inerte....
Por que será que temos tanta pressa em fechar os olhos aos mortos? -pensei
Será porque nos culpabilizamos inexplicável e psicologicamente,  por eles partirem, e nós ainda por cá ficarmos?
Será para, sobretudo no caso dos animais, indefesos, fiéis, dedicados, não ficarmos com a sua expressão de doçura mesmo nessa hora, gravada nos nossos corações?
Será para que os seus olhos, que nos suplicam ajuda, não fiquem incrédulos de os não salvarmos....e isso, nós não aguentamos??
Será que uma vez mais, não conseguimos sair de nós, e por cobardia, defesa, comodidade, evitamos confrontar-nos com a maior e mais certa realidade da Vida....a Morte?

Deveríamos deixar morrer os nossos entes queridos (pessoas ou animais), morrerem podendo, se o quisessem, a olhar para nós, talvez dessa forma, lhes amenizássemos a "passagem"!....

Anamar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"EXCLUSÃO SOCIAL"

Para se ser gato, p'ra se ser cão, p'ra se ser pessoa...é preciso ter sorte...

Li há poucos dias no jornal, que de dia para dia, aumenta o número de casos de pessoas "largadas" nos hospitais, cujos familiares "desapareceram" e as deixam, entregues ao seu destino....destino??... se é que ainda o têm!!
Só no Amadora-Sintra, neste momento, vai p'ra mais de quarenta, essas pessoas.
As moradas dadas na inscrição são falsas, não se responde a solicitações da assistência social, não se visitam...não se aparece.
Deitam-se no "velhão", pura e simplesmente...
Isto já p'ra não falar nos reclusos das suas próprias casas, degradadas, águas-furtadas, inacessíveis....sujeitos à boa vontade de vizinhos e conhecidos. Normalmente rodeados de fotografias de "outros" tempos de maior auspício, de "outros" familiares " não desaparecidos, de "outra" alegria....

A crise social, económica e afectiva piora tudo...mas a exclusão instala-se sobre tudo aquilo que é "peso" e incomoda...
A vida actual é de perda de valores, é de "plástico", é descartável, é de sobrevalorização do material, do ter em detrimento do ser....

Mas ainda que se presuma que quem tem maior tendência a tomar essas atitudes sejam pessoas de estratos mais desfavorecidos em termos de classe social, económica, cultural e afectiva até, que raio de sociedade é esta que permite que se deite a cabeça na almofada, de coração desanuviado, e se deixe a mãe, o pai, velho e incapaz, indefeso e sem capacidade reivindicativa de nada (nem sequer do seu "espaço" no núcleo familiar  que criou, por vezes a duras penas), entregue à solidão, ao abandono, à exclusão mais total que se possa conceber, que é a do descaso, do esquecimento, da ingratidão e da ausência de afecto?

São pessoas como estas que abandonam os seus cães... ("familiares" e "briquedos" das criancinhas), nas auto-estradas, porque têm férias de que não prescindem, para serem obviamente atropelados de imediato, como sabemos, loucos que ficam de desespero, atrás do carro que os largou, não "acreditando" que os "seus", os tenham esquecido!...

São pessoas como estas que dormem o sono dos justos, à noite....sem necessitarem sequer de comprimidos!!!...

Anamar

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"E O TEMPO QUE VOA...."


Acho que o Outono está a instalar-se mais cedo...
Breve, as árvores vão desemaranhar a folhagem porque a deixam tombar pelas calçadas, pelos parques e alamedas, breve, as folhas resistentes irão amarelecer e ganhar aquelas cores que nunca canso de referir.
Os amarelos, os ocres, os laranjas, os castanhos, até os vermelhos preparam os nossos espíritos para a falta de calor que a temperatura do ar nos sonega...

Sei que os dias estão ainda bem ensolarados, mas o sol que brilha, já é um sol "postiço", que não tem a luz nem o calor dos meses anteriores.
As criancinhas retomaram as mochilas e rumam às escolas, as estradas enchem-se de carros de pais afobados, que antes do emprego as têm que deixar nos colégios....há uma azáfama latente, que não se vê claramente, mas que paira....

A D. Julieta e as suas companheiras de "sala", apertam-se apertadinhas, para caberem quatro, por banco da praceta, antes que a torneirinha do céu comece a jorrar água cá para baixo, e a escorrace para o único poiso alternativo, no seu caso....o "café dos velhos" de que também já vos falei.

O cheirinho às castanhas assadas não demorará a chegar, o que nos leva a pensar que ainda "ontem" vimos este "filme" e já estamos numa nova "reprise"...ou melhor, que o tempo efectivamente voa!!!....

Qualquer um destes dias, tenho a certeza, vou atravessar o jardim, onde só haverá pombos masoquistas à chuva, porque, estar, ninguém está....e quem passa, passa apressado, pelo desabrido do tempo....e a beleza de um jardim de inverno (porque a tem, e muita), advém do tapete das folhas de plátano que rodopiam, revestindo as alamedas....e pela solidão que o atravessa e que eu gosto, por ser introspectiva, melancólica, um pouquinho triste que nem eu...

Anamar

domingo, 19 de setembro de 2010

"O ANTÓNIO"

Impressiona-me a maturidade do António...

O António tem nove anos, está inserido num espaço familiar preocupado, culto, atento, exigente...frequenta um bom colégio e nós sabemos muito bem quanto isso é determinante na formação de uma criança.

Gosta de ler, é curioso, vive rodeado de jogos didácticos, vai ao cinema, tem acesso à Net, com o controle dos pais.
Tudo isso faz a diferença, e eu sei disso.
Mas, para lá de tudo isso, é uma criança, como dizia, com uma curiosidade nata e uma informação que eu considero invulgar para a sua idade.

Desde bébé que viaja várias vezes por ano para a Suiça, onde vive o pai, sozinho, entregue às tripulações de voo. É quase da "família" destas. Por isso, o António viaja com frequência no cockpit do avião, onde é "amigo", presumo, dos comandantes; fará toda a gama de perguntas, calculo, o que o leva a ter já um interesse pela pilotagem, que o faz dizer querer ser piloto, quando crescer.

Noutro dia telefonou-me e confrontou-me com uma questão da minha área: O diálogo foi curioso....Ele começou assim : "Vóvó, o petróleo é uma rocha líquida, certo? Só que eu queria saber de que é feita, e já agora, o giz também me interessa...."

De outra feita foi a mãe que me ligou e me disse : "Mãe, o António quer fazer-te uma pergunta".
Passou-lhe o telefone, e diz-me ele : "Vó, eu sei que o Einstein, desenvolveu, na Suiça, uma teoria, da relatividade, E= m c2....essas coisas que relacionam o tempo e o espaço....mas eu queria saber mais sobre isso, porque não percebo muito bem!"

Fiquei literalmente "entalada", fulminada com aquela pergunta, largada de supetão e disse-lhe : "Olha, isso é muito complicado para a tua idade, mas a Vó vai ver se arranja qualquer coisa adequada aos anos que tu tens, que possa esclarecer-te melhor sobre esse assunto, ok?"

Pedi a ajuda de uma colega (preciosa, na altura)...e nos anos do António ofereci-lhe o livro "O tempo e o espaço do Tio Alberto", que sei que levou para férias para ler.
Por acaso estive com ele ontem, falámos de outras coisas, mas esqueci de lhe perguntar se já o tinha lido.

Mas ontem, uma vez mais me surpreendeu.
Eu estive de férias na Costa Rica, e o António já se tinha informado basicamente sobre algumas coisas do país.
Diz-me ele : " Vó, lá fala-se o espanhol, não é? Falavas espanhol? É um país muito pobre, verdade?"
E eu, lá lhe expliquei numa conversa que mais parecia de adultos, tudo o que auscultei da realidade do país. E disse-lhe: "Sabes que foi Cristóvão Colombo" que primeiro lá chegou....sabias?"
E diz-me ele : "Sim, , Cristóvão Colombo, ao serviço dos reis de Espanha. Sabes que pensam que ele era italiano?"

O António tem mais dois irmãos.
Frequentam já os três um óptimo colégio, como disse, e têm actividades extra-escolares. Inglês, Judo e Natação no caso dele, Ginástica, Inglês e Natação também, no caso da irmã do meio....
Os pais tentam, como podem, chegar economicamente a tudo isso...

Ele é o tal menino, que, quando lhe foi explicado que as despesas eram imensas, e não era oportuno na altura satisfazer-lhe uma dada solicitação, disse, com um ar sereno e sério : "Não faz mal ; Eu quando for grande e ganhar, posso ajudar nas despesas, está bem??""...

Posso, de facto, ser "suspeita", mas o António é já hoje, com nove anos, um menino lindo por dentro e por fora!!...

Anamar

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"STEP BY STEP...."

Todos os dias faço uma caminhada de vários quilómetros, não só na remota esperança de recuperar ou manter alguma juventude que tende a ir-se, como para me convencer de que faço alguma coisa útil por dia.

O percurso delineado, feito umas vezes sozinha, outras com a Lena, é longo e variado : tem descidas, tem zonas mais planas, tem zonas de sombra (uma bênção nestes dias que voltaram a aquecer), tem zonas de exposição implacável de sol. e tem subidas, verdadeiras "montanhas" para quem já vem esfalfado, de regresso a casa, para quem se sente totalmente empapado do suor e este lhe escorre do pescoço sei lá até onde...

Para mal dos meus pecados, a subida, e ensolarada ainda por cima, é no regresso, quando algum cansaço já se acumula, e é algo acentuada. Lógico que a faço com dificuldade, como Cristo a caminho do Calvário, imagino...respiro ofegante, coloco o corpo a 120º, para, deslocando o centro de gravidade, facilitar a escalada, e lá vou eu.
Quando vou com a Lena, sempre conversamos, rimos, sei lá...
Quando vou sozinha, vou entregue a mim própria e ao que me povoa, e dei por mim, num destes dias, a constatar o seguinte : (o que não deixa de ser curioso, tem um total fundamento de verdade, e me fez reflectir)
Se, no sopé da subida e ao longo desta, sempre for olhando para a frente, para o que me falta, para o que tenho que "penar"...o esforço redobra, acho que não conseguirei, suponho não ter mais forças....
Se começar a amarinhar, passo por passo, sem olhar em frente, mas sim para o chão, cada passo é uma conquista, e quando dou por mim, atingi o ponto máximo...a partir daí, eu considero a caminhada "no papo"!....

Relacionei isto, com a Vida, assim, de repente...e pensei : "esta caminhada é a vida, de facto....feita passo a passo, conquista por conquista, momento por momento, um dia de cada vez....
Para quê olhar para as dificuldades implacáveis que me esperam, com antecipação?
Para quê, sofrer a dobrar, cada passada que dou, sabendo que me faltam ainda tantas??!!...

Cada vez mais, o meu registo emocional vai sendo este, motivado por muita coisa do que a vida me tem ensinado: sofrer por antecipação, nunca mais, apressar o que tem um um fim garantido, também não, dia após dia, sim, momento por momento sim, sorvendo-o tanto quanto puder por ser seguramente único (como se fosse o último...frase feita, mas eloquente...) viver o agora, porque o depois...jamais se saberá...

"Step by step"... Aprendendo com cada um, mesmo que a aprendizagem seja de sofrimento e dor, é de certeza, de aquisição de maturidade e crescimento interior, e valerá por certo, se mais não for, pelas memórias e conhecimento que nos deixa...

Anamar

domingo, 12 de setembro de 2010

"AUSÊNCIA PROLONGADA..."

Verifico que há uma semana aqui não venho....

Sinto que não tenho na realidade muito do que falar...nada de muito relevante ocorreu na minha vida, nestes dias que agora se assemelham, e que tenho que descodificar no calendário em qual estamos.
Ainda nada deliniei e nem sei como vou fazê-lo, para ganhar algum dinheiro extra, pois o meu móbil neste momento, é ter um mínimo de tranquilidade económica, face à redução do vencimento. e portanto estou um pouco numa de "standby" no rumo destes meus dias.

Tenho um grande objectivo, reforçado até pela viagem que fiz, e que é, conseguir juntar todas as economias possíveis que possa, e viajar...viajar o mais que puder....porque cada vez mais sinto que o património mundial, é algo inestimável, algo que é triste se não lhe pudermos aceder....

Não pensem que me motivam as grandes metrópoles...os lugares badalados de turismo massificado...
Não...motivam-me os locais em que se supõe estar num qualquer paraíso sonhado, motivam-me as pequenas e rústicas aldeias no interior duma Provença, duma Itália despretensiosa, de interior lindíssimo...motiva-me uma esplanada onde possa escrever ou ler na paz dum local quase ignorado!
Queria tornar o Mundo cada vez mais o meu "quintal"!....

Por outro lado sinto em mim já, capacidades que não sentia anteriormente, para poder estar só comigo mesma, capacidades de intimismo, de introspecção....
Não sei se este patamar corresponderá também a fruto de toda uma medicação que se arrasta há largos meses; o facto é que pareço "navegar" neste momento, num estranho mar "flat", estou um pouco "adormecida" em relação aos altos e baixos do dia a dia!

Ontem, fiz um programa que às vezes faço, e me faz sentir agradavelmente livre....
Levantei-me tarde, sem preocupação de horários, tomei o pequeno almoço, tarde e más horas, claro, fui até ao Colombo....almocei um gelado imenso....(a prevaricação dá-me gozo...)....e fui ao cinema ver um filme espectacular : "Entre irmãos"...

"Entre irmãos" é um filme sem nomes sonantes, mas duma profundidade atroz!
Aborda problemas reais e humanos, seguramente vividos por famílias, cujas vidas, de alguma forma, foram "atravessadas" pela guerra.
Foca os conflitos individuais e humanos de quem sofre sevícias, torturas, toda a espécie de barbárie animalesca que um conflito armado propicia, e depois foca os problemas psicológicos, pessoais e familiares, traumáticos de quem é vítima de tal experiência...

Fui, obviamente coagida a lembrar os nossos ex-combatentes do Ultramar, com tudo o que isso me traz à memória....

Brilhantemente o filme termina com uma frase absolutamente real e nos fará pensar :" Dizem que quem vê o fim da guerra, são os mortos....Eu não sei sequer se conseguirei continuar a viver!"....

Aconselho-vos vivamente a visionar a película....

E pronto....o meu fim de semana não teria muito mais a contar....mas valeu a pena!

Anamar

domingo, 5 de setembro de 2010

"MAIS ....OU MENOS....UM SÁBADO !"

Ontem fui ao cinema com uma amiga, que não encontrara ainda depois de férias.
Uma amiga daquelas que não são amigas, são irmãs ; faz parte do "baralho" das quatro que eu acho que muito mais que o epíteto de amigas, deveriam tê-lo de irmãs, de facto....irmãs de sangue, mesmo.

A nossa amizade remonta há mais de trinta anos, quando as nossas filhas ainda vestiam casaquinhos de Inverno azuis, quando eu, por necessidade tirei a carta de condução (porque a Escola de Alenquer, onde nos conhecemos, nos esperava diariamente).
Da nossa amizade, passou-se à amizade do "clã", dos maridos, dos filhos que foram crescendo em simultâneo, tendo as primeiras espinhas na cara ao mesmo tempo, os primeiro namorados também...
Muitas férias fizemos juntos, no Algarve, em casas alugadas em partilha, idas a Elvas, à matança do porco, e uns dias em Madrid também, para arejarmos, rirmos, brincarmos.
Acho que era um tempo mais ou menos "leve", mais ou menos despreocupado...hoje parece-me ter sido OUTRA vida.
A criançada ainda não dava muito que fazer, e éramos, realmente, cada vez mais cúmplices, e eram longas as caminhadas nos areais à beira-mar, nos "Três Irmãos", em Porto Covo, na "Luz", no "Alvor", onde eu fazia dela, o "padre" onde nunca fui ; e já então, objectiva, pragmática, de cabeça arrumada, ela me ajudava na clarificação de tanta coisa...

Depois, o destino foi carrasco, absolutamente carrasco.
O Zé "partiu"...sem avisar, num Fevereiro ensolarado, em vésperas de irmos de novo, os quatro, rumo a Espanha, numa fugazinha de fim de semana e férias de Carnaval.
Partiu e deixou-nos todos "órfãos"...não só a família...e tudo passou a ter outra "cara"....
Naquela casa, passou a faltar alguma coisa ; naquela casa, parte da "alma" desapareceu. Era duro, era violento frequentá-la, frequentar um sítio de tantas passagens de ano, de tantos aniversários, de tanta risada, de tanta comunhão...era duro!

Entretanto eu divorciei-me, os filhos cresceram e fizeram-se à vida, em caminhos não propriamente entrelaçados, espantosamente diversificados. Esses filhos já têm outros filhos, que não conhecem sequer os rostos uns dos outros!!!....

Ainda ontem, depois do cinema, entre duas tostas, umas bebidas a servir de jantar, e conversa que nunca se esgota, nós dizíamos : " Como a vida dá voltas sobre voltas, impensáveis, num lapso de tempo, que é infinitésimo afinal, comparado ao tempo universal!!
Se nos dissessem, se nos contassem lá atrás, se nos tivessem deixado espreitar por uma janelinha, que tudo isto, que tanta coisa, faria parte das nossas vidas...se calhar iríamos duvidar...."

E quando nos separámos, desejando sempre o próximo encontro (porque este sempre fica incompleto), no ar pairava uma nostalgia de qualquer coisa que não se explica, uma espécie de saudade de algo indefinido que ficou lá atrás...saudade, se calhar, daquilo que fomos, saudades da Vida...

Entretanto o filme que vimos, levezinho, ternurento, daqueles filmes que não nos acrescentam nada...apenas nos dispõem bem, não nos gastam os "neurónios" ainda saudáveis, são "cor de rosa" (como se a vida o fosse)....têm um "happy end", como conviria....

"Cartas para Julieta"...o amor reencontrado cinquenta anos depois....
Vanessa Redgrave, uma senhora distinta, como sempre...um amor guardado no coração e na alma (utopicamente, quase nos fazendo acreditar poder acontecer nos tempos que correm), e paisagens lindas duma Itália verde, de uma Verona, Siena, Livorno, absolutamente envolventes....e mais um sábado....ou menos um sábado na minha vida!!...

Anamar

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"PORQUÊ?...

Só queria ser igual à minha mãe...
Mas não, os genes dela não passaram seguramente para mim...

Como já aqui disse algumas vezes, é uma senhora de quase noventa anos, que vive sozinha, numa vivenda rodeada de relva, flores e árvores, com uma piscina...dantes, com o Gaspar.
Infelizmente o Gaspar, dia 10 de Janeiro deste ano, cometeu a "injustiça" de a deixar...e morreu antes dela, coisa que ela pediu que não viesse a acontecer nunca... Ficou, portanto, mais só.
Como a vivenda é na margem sul, e não exactamente à mão de semear, vou vê-la, não com a frequência, se calhar que podia e devia...mas é a vida...

Temos uma empregada comum, há largos anos, que serve de "pombo correio" entre as duas, e que tem por ela um carinho muito especial, porque a tem como a avó que a criou, lá na Ucrânia tão distante.
Tem de facto um desvelo e preocupação com a minha mãe, inexcedíveis, que não são os bens materiais que pagam. Felizmente não vive longe dela, e é duma solicitude comovente.
Telefonicamente, contactamo-nos, obviamente mais que uma vez por dia.

Dantes, a minha mãe falava o dia inteiro com o Gaspar, que a entendia lindamente e lhe respondia ao "jeito dele"...tinham uma linguagem de cão, perfeitamente perceptível. Dele, tinha carinho, dele tinha companhia, dele tinha compreensão.
Quando por vezes chorava e se fechava no quarto, o Gaspar deitava-se à porta e gemia até que a dona de lá saísse, e olhava-a com um ar compassivo, triste e cúmplice, como que a querer dizer-lhe: "Que é feito da garra da minha dona??!!...Deixa-te disso!!!" - e lambia-lhe até as lágrimas, se teimosas, elas rolavam...

A minha mãe é de amores únicos. Depois do Gaspar não quer, nem é capaz de ter substitutos...

Hoje, acho que fala com as flores, porque conhece cada borboto que abriu e floriu, cada buganvília que se "queixa" da falta de sol, conhece o vento que abana os pinheiros e desfolha as árvores, e ciranda por ali todo o santo dia, nos mais de mil metros quadrados de casa.
Ela varre, ela lava, ela estende, ela rega diariamente as plantas onde a rega automática não chega, como se fossem bocas sequiosas, porque... "coitadinhas", o calor é muito, ouve os programas de rádio desportivos, porque o seu Sporting é sagrado, e todo o futebol faz parte do seu quotidiano, os telejornais, uma só novela, e nada mais...porque "a televisão só dá porcarias e desgraças"!!!!

Pelo calor ou pela chuva no Inverno, faz renda...catadupas de naperons para cozinhas inexistentes, porque a família já foi toda contemplada, e não há mais cozinhas que os comportem, com linha grossa (porque os olhos já não permitem mais), com as fotografias do "seu Gaspar" sempre junto dela, no sofá...

Levanta-se mal o dia espreita. Agora no Verão, às 6h da manhã está a pé (resquícios da vida no seu Alentejo distante, em casa dos pais), e depois de quase não parar todo o dia, antes das 9 está na cama...

Levanta-se, vai para a piscina, onde faz uma hidroginástica que inventou, para a ajudar na manutenção dos movimentos ( a minha mãe fracturou há talvez 5 ou 6 anos as duas pernas, com três fracturas, o que me adivinhava o fim...).
Depois, faz ginástica, aos braços e ombros, toma o seu duche quente e pronto, está pronta para mais um dia "de trabalho"....

A minha mãe tem uma disciplina, uma persuasão, uma força de vontade e um objectivo utópico e quase infantil....poder acompanhar o crescimento dos bisnetos...
Não quer morrer de forma nenhuma...eu acho mesmo que só irá, se a apanharem distraída!!!

Uma destas noites em que estava com insónia, pelas 4 h da manhã, levantou-se, olhou pelos vidros e viu um luar lindíssimo, de uma lua cheia que iluminava todo o jardim, e segundo ela, pensou : "o que vou eu fazer para a cama, se não tenho sono, e a lua está tão linda???!!!".....

Nessa noite, iniciou os "trabalhos" mais cedo....
Foi para a piscina, fez a ginástica, varreu todas as folhas tombadas durante a noite, como sempre, tomou o seu duche, e então.....o sol começava finalmente a acordar!!!...

Por que é que que eu não sou igual à minha mãe????!!!!

Anamar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"SÓ PARA ESPAIRECEREM !"

Hoje a inspiração está falha....então, deixemo-nos simplesmente extasiar com estes "mimos" da mãe Natureza, sempre pródiga, generosa, gratuita!!!!..... Valha-nos isso!



       Oportunamente, trarei mais "maravilhas" para vocês...

Anamar

"E MAIS DECRETO....."

Começo a ficar preocupada com a preocupação ou efeito, que alguns dos meus posts causam a terceiros, nomeadamente a minha filha mais velha, que na sua boa intenção de me ver bem, começa a "bombardear-me" com tentativas de solução, pressionando-me e deixando-me ainda pior.
Eu sei que é tudo por uma boa causa, a de filhos ou amigos...sei que é na boa intenção de tentarem ajudar-me.
Mas o que é facto é que começo a sufocar-me aqui deste lado, em relação à escrita.

Este post, tenho-o escrito desde domingo...
Sei que nem aquece nem arrefece, é sempre a mesma merda...mas desculpem, por precisar de pôr cá fora o que me apetece pôr.
Essa, a função do meu blogue...não outra.
E se ele começa  a funcionar como "lápis azul"...então cerceia a minha liberdade de sentir e aliviar...
estive até hoje na dúvida se o colocava ou não no "ar", sopesando os "danos" colaterais. Mas bolas! Só queria que entendessem: será que eu sou tão anormal, que gosto de sofrer?
Pensem um pouco: quem mais que eu quereria ser feliz e estar bem? Quem mais que eu quereria encontrar um caminho de vida positivo, ver a vida de outra cor?
Não vêem que se o não faço, é porque não consigo? E não vêem o caudal de cansaço e tantas vezes de desistência que me assola?....
Eu sofro exactamente como aqui coloco....sinto exactamente como aqui escrevo, agarro-me a todas as bóias que me estendem, como um náufrago...mas sinto ser uma questão de resistência pessoal! Estou extenuada, bolas!!!!



Que inferno!

Ontem decretei que não fazia mais anos, e hoje decreto que não haja mais fins de semana!
Ontem foi sábado, hoje é domingo...entre um e outro, venha o diabo e escolha!!
Hoje é aquele dia famigerado, em que percorro a lista do TM e toda a gente está ocupada : a Manuela está na Escócia, o Manel foi para a Ericeira, o Pedro deve estar a banhos, a Bia nunca sei o que faz ao fim de semana, porque nunca se combinou nada, a Fatinha está no Algarve...a Lena, bem, a Lena tem a sua vida familiar que eu, de facto, não tenho o direito de devassar mais.
Aqui, a anormal sou mesmo eu...

Pensei que um sítio possível para estar em paz, fosse a esplanada que já tenho frequentado muito...o Belas Clube de Campo, com a vista a espraiar-se no horizonte até à ponte 25 de Abril, até aos campos de golfe, até aos lagos, ainda por cima com um ventinho super agradável a correr, na canícula deste domingo insuportável!...

Mas, azar dos azares; isto está cheio que nem um ovo...quer no interior, quer cá fora na esplanada. Claro que cada mesa tem três ou quatro pessoas, famílias que vieram aqui normalmente almoçar, criancinhas que naturalmente incomodam...ou incomodam-me a mim, que estou sem paciência e queria estar só.

Estou a apanhar com a conversa da mesa ao lado, em que se fala de decoração de casas XPTO, direito de partilhas pós-divórcios, de amor e ódio, da vida de terceiros....
Por aqui existem os Manéis, os Franciscos, os Zés Eduardos, as Marias, as Constanças....tudo muito "in", tudo muito "bem"....ou então, eu já estou tipo "avis rara" que não se enquadra em nada e me canso de tudo.
No fundo, se calhar, o que eu sinto é desdém ou inveja por não conseguir ser normal como os demais....
É a minha tradicional raiva da vida, é a acidez e mau estar a subir por mim acima...

Tenho que encarar que qualquer dia ninguém me atura, de tal modo estou acre, azeda, insuportável, provavelmente (como dizia ontem), absolutamente farta de mim própria, e sem conseguir sair disto...

O que é que posso fazer?? Não sei viver...não racionalizo...vivo vinte e quatro horas pendente de um emocional que está podre, e por isso estou a ficar "incuravelmente" ainda viva!...

Estou esgotada...hoje sinto-me absolutamente cansada, com uma angústia a amarinhar-me, e a puxar-me para casa...embora eu saiba que não é boa ideia.

Afinal, ainda nem 4 h são, e é domingo....

Anamar