domingo, 31 de outubro de 2010

"CHUVA"

Adorei o dia de hoje, o de ontem o de antes de ontem. E espantosamente foram três dias em que estive doente, nauseada, cheia de dores de cabeça, com o corpo moído, e a ameaça de uma coisa entre gripe ou fígado que me fez passar os três dias a chá e tostas, pouco mais.

Passei as tardes debaixo do edredon, com saco de água quente aos pés, porque o frio também me atormentava, com a persiana a meia vidraça, com um cinzento uniforme e plúmbeo por todo o firmamento, com as bátegas fortíssimas de água a fustigarem a janela. Daqui da cama só vejo a minha gaivota, que adivinhando a borrasca que se adensou, faz voos rasantes cada vez mais próximos da minha janela, com as asas bem esticadas, desafiando a chuva que cai....
Parece que o S. Pedro resolveu despejar as piscinas lá de cima...

E que reconfortante é estar assim em casa, quando o dia nos despede lá de fora, no quentinho da cama, com a Rita que não me deixou um só minuto, ora se aninhando no exterior da roupa, ora entrando mesmo, e enroscando-se também dentro dos lençóis (como ela agora está sozinha, é um forrobodó.....nunca o Óscar teve ordem de cometer tais despautérios!....)

Claro que hoje já me sinto outra, e percebi que é de facto necessário haver tempestade para o Homem valorizar o sol e o céu azul, é necessário haver escuridão para que se abençoe a luz, haver doença para se valorizar a saúde, haver sofrimento para a felicidade saber a felicidade mesmo.
No fundo, estamos mal até que estejamos pior, e depois da pior invernia, pode ser que o sol finalmente comece a olhar cá para baixo e a achar que talvez convenha aparecer.

Dentro de uma semana, vou deixar por uns dias, espero, de vos contar as minhas "estórias" que de relevante pouco ou nada têm.
Vou ver se descubro um local na Terra que não tenha todos os dias do calendário. Vou passear, vou apanhar sol, vou desfrutar da turquesa do mar, mesclado com o azul do céu, ver o colorido das flores, usufruir da sombra dos coqueiros, ouvir as pessoas, ver como são e no que acreditam, e contar-lhes como é a minha gente, dançar os seus ritmos e tirar muitas, muitas fotografias, aliás como sempre.....
Agora é segredo.....mas depois eu conto tudo, ok????

Mas até lá, ainda por aqui passarei, creio...
hoje vou terminar este post, como em tempos terminava todos eles num outro espaço que "alugara" por aí : "Sejam felizes....se souberem!....

Anamar

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"A ESTRELINHA VERDE"

Conta a lenda que um dia todas as estrelas do firmamento, reuniram e pediram a Deus, se as deixava virem viver para a Terra, por esta estar muito às escuras....O Criador concordou, e elas desceram como pequenos fogachos luminosos, para dar luz na escuridão.
Contra o previsto, passado algum tempo, todas voltaram para o céu, e quando inquiridas pelo Senhor, responderam não terem conseguido suportar tudo de ignóbil, de miséria, dor, sofrimento, a que haviam assistido.
Deus condescendeu, e lembrou-lhes que a Terra é lugar de passagem, de purgatório, de melhoramento, à custa da expurgação, da penitência, da miséria...
Contaram-se então todas as estrelas, e verificou-se que faltava uma....a estrelinha verde, a estrela da Esperança, que quisera ficar para habitar o coração do ser humano.
Por isso, de então para cá, só há uma coisa que o ser humano tem e Deus não tem.....a Esperança, já que Deus é detentor das certezas, e o Homem precisa dela em cada dia da sua vida....

Pois é! Comovente, não???....

Desde manhã que penso nesta lenda, porque há longa invernia que a estrelinha verde do meu coração estava apagada....mas acho que finalmente acordou, espreguiçou-se, tirou as ramelas dos olhos e decidiu que o meu coração precisava finalmente iluminar-se, cansado de tanta escuridão!

Ou então, tenho para mim, que o meu pai, que habita lá por cima uma estrela também (só não sei qual delas é, e ele ainda não me contou, quando antes de apagar a luz ao dormir, me despeço dele), achou que talvez já chegasse  de tanta desesperança, tanto cansaço, tanto desânimo, e me carregou no interruptor da minha estrelinha verde!!!!! Vá-se lá saber!!!

Sei que na minha caminhada de hoje, que agora é feita em parte pelo meio dum bosque frondoso, duma mata com passarinhos a pipilar, com a frescura e a multicor das árvores e arbustos, uns mais outonais que outros, distribuí sorrisos e bons-dias a todos quantos por mim passavam, a pé, em marcha, em corrida, em bicicleta....porque o bom-dia era mesmo um agradecimento pelo dia bom que se estava a viver...

Pensava eu : Lembram com certeza a história do Capuchinho Vermelho, do nosso imaginário infantil, quando o Capuchinho vai aos saltinhos, de flor em flor para levar uma braçada de flores silvestres à avozinha que está doente, e mais o bolo preparado pela mãe, no cestinho que leva no braço???
Pois assim parecia eu....não ia aos saltinhos, cantarolava para dentro, não tinha bolo, porque também já não tenho avozinha, não apanhava flores porque as não há nesta mata....mas ia, no meu passo acelerado da caminhada, sempre com a minha estrelinha verde, bem acesa, a iluminar-me o caminho, que é como quem diz....a inundar-me de luz o coração!!...

Anamar

domingo, 24 de outubro de 2010

"E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?..."

Faz hoje quarenta anos que me casei.
A primeira, a única, a última vez...
Era um sábado outonal, como hoje, de um sol fraco e pouco luminoso, como viria a ser a minha vida, afinal. Era um sábado do "Verão dos marmelos", como diz a minha mãe (depois vem o do S. Martinho, e depois, pronto, o Inverno fica à porta...)

O casamento era às 9,30 h da manhã, no Registo Civil de Oeiras, e até hoje, a sensação mais nítida que recordo, foi a do desconforto que senti (dorminhoca como eu era), de querer que me deixassem em paz, quando a minha mãe, às seis e pouco da manhã me foi acordar, quase me arrancando da cama, porque a cabeleireira vinha pentear-me, havia que vestir-me, havia que preparar coisas de última hora (sabem como é), os convidados (só família e a minha melhor amiga ao tempo), começariam a chegar, havia que recepcioná-los (porque afinal, depois o almoço ainda demoraria por certo), vinha também o fotógrafo...
Acho, que desde sempre, o entusiasmo que pairava, não era meu. Eu afinal tinha dezanove anos, se calhar, objectivamente rectroespectivando hoje, o que seria de esperar de uma criança metida a mulher??

Não vou entrar em pormenores...aliás, não quero entrar, porque fico nostálgica, interrogo-me e questiono-me sobre todo o meu percurso até hoje, passo a película mesmo sem querer, tendo a ponderar tudo e todos; não julgo, avalio, analiso-me e não vejo grande coisa que me aqueça o coração.
Esse casamento cessou há sete anos atrás; tardiamente, demasiado tardiamente, deixando obviamente, danos colaterais inultrapassáveis.
Lembro que foi  um casamento "morno", amorfo, cinzento, sem chama, sem paixão, desde sempre, mesmo desde o início, em que é espectável que a "fogueira" se acenda...

Talvez eu tenha sido a pessoa mais responsável por todo o insucesso de uma infelicidade acompanhada...
Eu era uma criança, filha única numa família de pais velhos, focalizados, obsessivamente focalizados em mim...e eu, tenho, como já perceberam, ânsia de liberdade, necessidade de asas...queria fazer-me ao mundo...aquela, foi a minha forma enviesada de o fazer...

Sempre vivi muito só, com a minha mãe, com uma ou duas amigas, tão crianças quanto eu. "Ninguém me obrigou" como a minha mãe costuma dizer...mas também ninguém me alertou ou falou comigo, como os pais de hoje se preocupam em saber dos sentires, dos estares, dos caminhos razoáveis ou não, a trilhar, por parte dos filhos...

Tenho dentro de mim, hoje, uma tristeza estranha; uma tristeza de perdedora, que dói, que me traz às lágrimas... afinal, eu não soube construir nada na minha vida, e à parte as minhas duas filhas (isso não se questiona, sequer), a  minha rota é de permanente colisão com a Vida.
O que se aproveita hoje na realidade?
Uma família esfrangalhada!! Uma família que duvido faça jus a esse nome!!

O que sobrou na verdade, foi uma profunda solidão;
solidão em mim, solidão e desacerto na vida da minha filha mais nova (que também não se encontra), e uma família talvez unida, da minha filha mais velha, que com três filhos, acabou construindo uma célula à parte, até talvez por defesa, por necessidade, ou porque foi a saída que lhe restou...
E desejo muito que ela, que luta sempre por uma ligação tradicional dos "sobrantes" (sem êxito, a maior parte das vezes), ela, que tentou arvorar-se em "matriarca" desta pseudo "coisa" que restou, pelo menos, no seu núcleo, a consiga manter...

Entretanto, aos "trancos e barrancos", como "soi dizer-se", vou manquejando vida fora, desacertando mais do que acertando, dando topadas que ferem, nas pedras desta estrada demasiado dura e cruel, e por cada ano que chega, acho que o "Verão dos marmelos" e depois o do "S.Martinho" vão acabando mais depressa, levando com eles o último sol, antes que o Inverno se instale, também cada vez mais cedo!!...

Anamar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"A VIDA ENTRE PARÊNTESIS"

Tenho a minha vida entre parêntesis...
Não são aqueles parêntesis que se abrem com o nascimento e se fecham com a morte. Esses, temos todos afinal, certos e seguros....e...."what you can't change, you must accept"...alguém disse....ou se não disse, digo eu agora....pronto!

Hoje, durante a caminhada, onde fui só, como acontece quase sempre agora, ia eu a pensar exactamente isso; parêntesis entre ritmos de vida profissionalmente falando, parêntesis entre um amor e outro (?), quem sabe, parêntesis entre um amor e muitos amores, parêntesis entre um amor e nada....parêntesis entre saúde e doença, cada vez mais plausível com o avanço dos anos...pendências económicas que nos deixam todos os dias na insegurança, que infelizmente quase todos sentimos e correspondem àquele espaçozinho entre os parêntesis...

Podem colocar-se entre eles as reticências, porque é exactamente o que esse espaço envolve... reticências, dúvidas, interregnos, pendências, é esse o termo que eu acho mais adequado. E para mim, não há pior que pendências, na vida.
Sempre gostei de arrumar o que quer que fosse, e arquivar, arrumar e arquivar, porque tudo o que está naquele "chove, não molha", à espera de... dá cabo de mim....e isso são os três pontinhos no intervalo dos parêntesis....

Na Matemática, existem os parêntesis rectos e os parêntesis curvos, devem lembrar-se.
A minha vida, acho que ainda está nos parêntesis rectos.
Só depois deles resolvidos, é que se passa para a operação seguinte, que é desembaraçar os curvos, e depois, na seguinte ainda, "limpá-los" finalmente e a equação simplificar-se!....

Pois bem, é exactamente isso a minha vida neste momento; uma nuvem que paira sobre a minha cabeça, e que oscila entre ser dissipada pela brisa que corre, ou "despencar" numa enchurrada de água...

Ontem falava com o sr. Alexandre, no Escudeiro, ao pequeno almoço, já não sei a propósito de quê, e lá veio a Vida e as suas estórias...
Dizia-lhe eu:" Felicidade é um conceito utópico....não existe, globalmente falando....Há pedaços de felicidade, e juntando todos, ainda não perdi a esperança de construir um castelo!"...
Ao que ele me respondeu: "Mas, nos intervalos desses pedaços, é que é uma "droga"!!!!!  Dói, dói horrores!"...

Abrunhosa , no seu último single diz: "Dói....sei como dói andares ao sol por essa "rua"...."!
Na verdade, a "rua", por vezes, é longa e dura demais... as reticências que intercalamos entre os nossos parêntesis, às vezes são tão cansativas e desesperantes!...

Durante o caminho, passo perto da igreja de Queluz, onde hoje decorria a missa do meio dia; apercebi-me disso, pelo coro de vozes, em uníssono, nos cânticos litúrgicos que chegavam cá fora....e pensei: "Para estas pessoas, as reticências no meio dos parêntesis, devem ser as mãos de Deus.... do seu Deus....e vão vivendo!

Logo ao lado, o pavilhão gimnodesportivo dos bombeiros, onde decorria alguma competição ou campeonato.
Em uníssono, outra liturgia, em que as palavras não se distinguem, apenas a melopeia é igual em qualquer lugar do Mundo.
E pensei: "O que põem estes, no meio dos parêntesis, no lugar das reticências? Provavelmente o exorcismo dos cinzentismos das suas vidas, no rasgo da felicidade, se o seu clube alcançar a vitória"...

Parêntesis...parêntesis...parêntesis...até que o último, curvo, saia da equação....e esta se simplifique de vez...

Anamar

sábado, 16 de outubro de 2010

"JOGAR CONVERSA FORA"...

O Outono está de facto em plenitude.
Olhando à nossa volta, as "marcas" todas estão lá. É o sol, fraquinho, fraquinho, é o azul duvidoso do céu, que tanto está azul, como ameaça com a aproximação de nuvens "suspeitas", é o despir despudorado das árvores por aí espalhadas...são as "benditas" iluminações de Natal, imaginem, que a Cãmara de onde vivo  se apressou a instalar...

E nem a teimosia de alguns, que persistem em continuar com as mangas curtas das t-shirts de verão, demovem as estações a modificar o seu percurso. Ainda assim, lembro-me, lembrar-nos-emos por certo, muitos de nós, do inusitado desta roupa leve, quase em pleno Novembro, há uns anos atrás, consequência como se sabe, das alterações climatéricas...
E até os ditados populares, desconfio que começam a cair em desuso....
Se aqui estivesse a minha mãe diria, como diz, ano após ano: "Águas verdadeiras, as do S. Mateus são as primeiras..." e acho que até o S. Mateus se anda a baldar...Que é feito dessas "águas"?

Neste momento, estou a ficar de novo "outonal".
Arrebitei na eminência de um trabalho que me propuseram, que não só me iria complementar a redução sofrida no vencimento, como me iria ocupar o corpo e o espírito. Simplesmente essa proposta ter-se-à gorado, creio.
E tirando a caminhada diária, e as voltas que todos temos que dar no quotidiano da vida, não há muito a acrescentar.

Breve, breve Novembro chega, e para "desgraça" minha, traz com ele todos os dias do calendário.
Eu, nem me vou alongar com este assunto, porque as pessoas me acham tontinha, mas cada um sente o que sente, tem direito a sentir, ainda por cima....e este ano, vou dar uma de "excêntrica do euro-milhões"....
Não há telemóvel p'ra ninguém, não há conversa p'ra ninguém, vou estar numa espécie de retiro ou"aquário" emocional....é um direito que me assiste.
Não vale a pena gastarem saliva a explicarem-me e a tentarem convencer-me que é uma infantilidade....que o dia se mantém no calendário, nem que eu fuja para a China, que afinal em todos os dias se comemoram coisas boas e más, que é óptimo, porque é sinal que estamos vivos, que não resolvo nada de nada fugindo a nada....obviamente!
Que "sabe-se lá para o ano a avó ainda cá está!"..... 
Como vêem, eu tenho a lição toda estudada, mas também, teimosa como sou, vou fazer como eu quiser!!!!!

Neste momento começo a ficar encasulada. A satisfação que tenho ao meter-me sob o édredon dentro de uns lençóis que eu, por gosto, ainda acho mais macios do que realmente são, é indescritível...
Parece ser a melhor hora do dia...parece um regresso ao útero materno, ou quando muito à toca ou covil do lobo.
É um local de protecção, porque, daí a pouco "apago-me"...e com esse apagão, lá se vão as mágoas, as preocupações, as inquietudes de mais um dia que se esgotou.
Ando a adormecer cedíssimo, o que seria óptimo, se representasse uma noite de sono apaziguador e continuado....
O pior é quando acordo, já sem sono, olho para o relógio e verifico que são por exemplo duas ou três da manhã....
Aí é que está tudo tramado, porque fico a "encroquetar" na cama duas ou três horas, até que o sono ou o cansaço se condoam de mim, e me repeguem nos braços...
Essas horas são absolutamente "lixadas"...toda a gente sabe disto, porque a solidão, o silêncio e o negrume da noite, agigantam nas nossas cabeças, o que às vezes nem a luz do sol dissipa....

Bom....isto hoje foi, como dizem os brasileiros um pouco "jogar conversa fora". Foi um mix de tudo e de nada....foi um deixar rolar!!!!....

Anamar

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"RETALHOS DA VIDA REAL"

Não foi por norma, hábito meu, abordar determinados temas de maior controvérsia ou melindre social.
O meu último post focava uma questão sobre a qual já tenho reflectido, e que afinal nada tem de transcendente, antes, é do domínio comum.

Hoje trago aqui um outro tema que de alguma forma também tem contundido comigo, sobre o qual tenho reflectido, no qual já "peguei" por vários ângulos, tentando encontrar alguma lógica ou aceitação para mais uma hipocrisia social, ou para o sofisma baseado nos valores, na moral e bons costumes.

Reparem que não vou aqui tomar partido vinculativo de nada nem de ninguém, até porque o caso e as pessoas envolvidas nele, me merecem ambas, consideração e até amizade.
Apenas pretendo colocar um dedo numa chaga aberta, mais frequente que o que se supõe, e que gostaria de poder entender neste século XXI, já começado há uns aninhos.

Um casal, com um casamento mais teórica do que realmente estável, um filho pré-adolescente, uma vida já um pouco desgastata e desencantatória.
Uma separação latente que acaba consumando-se, com toda a panóplia de sofrimentos, dores, dificuldades....tudo o que nós sabemos envolve um divórcio. O filho, "obviamente", de acordo com uma lógica estabelecida, entregue à mãe.

Até aqui, infelizmente mais um caso igual a tantos e tantos outros.
Um homem habituado ao tradicional "esquemazinho" cómodo, das pantufas, televisão e casa organizada, vê-se de repente com o Mundo a desabar-lhe em cima; é a gestão de um local para viver, é a gestão das tarefas tradicionais do dia a dia, é o sentir-se órfão de uma mãe que ainda tem, mas de uma mulher que já não....

Nesta altura, chegam sempre os "anjos da guarda", amigos, muitos deles já veteranos da liberdade e independência, bombeiros na salvação daquela situação...
Aquele homem tem que esquecer, partir para outra, reentrar, como há largos anos não fazia, na frequência da "night"....agora com o "glamour" vantajoso da maturidade, do charme que as têmporas esbranquiçadas lhe conferem, da experiência acumulada e aperfeiçoada ao longo dos anos da "prisão dourada"....
E depois, aquele homem, é um homem....e um homem precisa de sexo, precisa de mulheres....indistintamente, qualquer uma que o faça esquecer de preferência a análise séria, honesta e detalhada, da vida que se esfrangalhou...
Disso, os "amigos" encarregam-se....Mulheres soltas por aí e predadoras pelas mais variadas razões, é o que não falta, nos bares, discotecas....sei lá!   E esse indivíduo, "come" uma qualquer, mesmo que na manhã seguinte lhe não recorde o rosto....

A ex-mulher....para essa, os valores sociais, éticos, impostos pela religião moral católica como sabemos, tem um sacerdócio de vida a cumprir.
Tem que educar o melhor que souber e puder aquele filho, tentando poupá-lo o mais possível ao ruir da arquitectura familiar em que vivera (o que só por si a coarta na sua independência e liberdade), deve dar-lhe um exemplo intocável de boa mãe, guiando-o por caminhos que façam dele um bom estudante, um rapaz com princípios de vida de honradez, de luta, determinação, respeito por si e pelos seus semelhantes.
Se possível, aquela mulher deveria tornar-se um ser assexuado....

Mas estamos de facto no Século XXI, e também ela não quer renunciar a ter vida própria, nos anos que ainda tem pela frente.
Recupera gostos que tinha e havia abandonado, recupera amigos que deixara com o casamento, recupera a vontade de ir a um cinema, a um bar ou a uma discoteca.
Arranja-se se calhar com mais cuidado, porque tenta recuperar a auto confiança e a auto-estima que se haviam esbatido lá para trás....e como tem corpo e sangue a pulsar, não perde a esperança de viver, retalhos de felicidade, visto que a Felicidade que ela julgava existir, sabe ser utópica...

Como é que a sociedade a vê, a rotula, a aceita?....
Infelizmente, e sobretudo nos meios masculinos (por incrível que pareça), ela não é mais do que uma "gaja"....e normalmente aquela "gaja" até é uma puta!!!....

Bom....abstenho-me de comentar mais o que quer que seja....Não trouxe novidades a ninguém.....Talvez apenas, abanões de consciência!!

Anamar

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"A GRANDE SOLIDÃO..."



Já tenho lido com alguma frequência, que há homens que contratam o serviço de uma prostituta (acaba por tornar-se sempre a mesma), apenas para conversar com ela.
Não querem nenhuma prestação sexual, apenas buscam ouvidos, ombro, coração talvez, que os oiça, que lhes perceba o silêncio em que vivem mergulhados....a quem digam, como se não falassem com ninguém que pudesse apontar-lhes puritanamente um dedo social, a sua história...

Hoje, inesperadamente entendi-os.

Muitas pessoas têm uma dupla faceta ou personalidade nesta vida, como queiram.
Muitas pessoas são muitas vezes o que não são realmente. E quem com elas convive e lhes conhece por exemplo o seu lado lunar, apenas, não entende, quanta sensibilidade, fragilidade, convulsão de valores e sentimentos podem existir num lado solar daquela pessoa, que nunca haviam detectado existir...

A "máscara" socialmente aceite desses homens, por exemplo, precisa de quando em vez, cair, e, falando genuinamente para alguém que por vezes se transforma numa amiga, lhes alivia a alma, lhes apazigua o coração.

São normalmente pessoas votadas ao que eu chamo de "a grande solidão", por espartilhadas por uma gama de valores e princípios éticos, sociais e morais, quantas vezes hipócritas.
São pessoas que calam dentro de si o que contêm, até que não dê mais, e a máscara do sofrimento tenha que cair...

Anamar

domingo, 10 de outubro de 2010

"O EU INTERIOR..."

Tenho andado muito arredada da escrita.
Não tenho tido a concentração direccionada para aqui. Aliás, sinto-me um pouco dispersa, pensando em tudo e em nada, como se pressentisse que a minha vida vai dar uma volta. Uma volta qualquer...
Talvez seja algum renascimento da fase complicada que tenho vivido. Talvez seja o caracol a deitar os pauzinhos de fora, depois da "chuva" que caíu...
Sinto como que uma primavera antecipada, depois de um inverno rigoroso. Ando com aquele "frisson" que se tem, quando se inicia algo novo, se decora a divisão de uma casa, se começa um novo amor...
Não sei bem porquê este estado de espírito, das trevas p'ra luz....mas sinto-o...

Talvez um reencontro com o meu "eu" interior, com o meu equilíbrio, com o ponto central do meu "yang-yin"...
 Quero estar de bem com a vida, não posso estar permanentemente zangada com o mundo, e tenho que começar por algum lado, e esse lado está a ser a busca do meu equilíbrio pessoal, da paz do meu espírito...
Oxalá eu consiga levar esta nau a bom porto.

Ontem fui ao cinema. Fui ver um filme mal cotado pelos críticos, o que para mim lhe confere pontos, à partida;
Tinha SIMPLESMENTE dois actores de referência: Júlia Roberts, para mim indiscutível, e Xavier Barden, que já vira há anos atrás em "Mar adentro", e me marcara muitíssimo.

No seu global, é uma película soft, sem dúvida, rodada em locais espectaculares, com uma mensagem pouco inovadora no geral, mas aqui e ali, salpicada de enormes mensagens, em meio da pequena mensagem que "aparentemente" passa.

Lamento sempre a rapidez com que os planos se sobrepõem, nos filmes; não dão tempo para reflexão, interiorização, e desfrute das imagens simultâneamente, por vezes excepcionalmente belas, que até era o caso.
O filme, com um título meio estranho, e para mim, de mau gosto, "comer, orar e amar", foca exactamente o seu reencontro (depois de uma busca interior persistente), de uma mulher de sucesso, descrente, receosa, defendida do amor e da vida, que parte do zero, recusando uma vida que a insatisfaz e a incompleta...

Mas não é uma mulher qualquer, não é uma mulher acomodada, e luta e busca até ao fim do mundo (o filme termina na Indonésia, Bali) de valores espirituais em que acredita; procura ajuda, conhece pessoas e regista mensagens espantosas de uma civilização que nada tem a ver com aquela donde vem, a América,vazia, materialista, fundamentada em lobbies económicos e de consumo, corruptíveis.
É dito que a Indonésia é um apelo aos amantes de uma das formas de comunicação mais puras...o silêncio!

Aliás, tenho a sensação, que cada vez mais, a insatisfação dos princípios ocidentalistas, estão a aproximar as pessoas, de valores ancestrais autênticos, espiritualistas, despojados, vernáculos...

Lembro a minha ida à Tailândia, lembro a minha ida às Maldivas e sinto ainda hoje, sobretudo da Tailândia, tudo aquilo que arquivei no coração, na mente  e debaixo da pele...
Lembro com uma nitidez absoluta tudo o que lá inspirei e me preencheu a alma até hoje...
São locais de uma introspecção, de um silêncio, de um crescimento interior, de uma reflexão e meditação incríveis, que não há palavras que os descrevam...só vivendo-os lá mesmo...

Anamar

domingo, 3 de outubro de 2010

"AO GOTEJAR DA CHUVA NA VIDRAÇA"

 

Primeiro dia com "sabor" a Outono/Inverno, este ano.

Eu"julgava" que o sol nunca mais se ia embora, e sempre acreditava que os dias de sol quente e luminoso estariam "ad eternum"...
Mas não, hoje acordei desagradavelmente com um céu todo igual e todo cinzento, com chuva sistemática.
Desagradável, é injusto e inadequado, pois afinal é o terceiro dia do mês de Outubro, e isto, é efectivamente o que a mãe natureza prevê para esta altura...mas este convite ao recolhimento é de um doce/amargo, que pela surpresa me perturbou...

Lá dirão vocês, lá dirá a minha filha mais velha, o que raio tem o tempo de tão importante, para tanto mexer comigo?!...Não sei...não sei, mas tem.
Esta mudança de estação, que afinal como tudo, tem a sua beleza muito própria e que eu muito admiro, está envolta num casulo de nostalgia que me perturba. Ela convida à interioridade, ela faz sentir mais a solidão, ela é, pelo menos para mim, uma estação de balanço...

Pessoa, o mestre, como já nomeei tantas vezes, sabiamente proferiu aquela frase que coloquei num post há tempo e tempo, e que está inscrita na parede do restaurante em Geia : "Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol...ambos existem, cada um, como é!"...tinha mais uma vez toda a razão ao dizê-lo...

Geia...Geia exactamente num Outubro lá para trás...para trás do nevoeiro..
Porque entretanto, uma parede de nevoeiro se instalou...e pronto...não se dissipou nunca mais...

Chegámos aos dias adivinhados dos jardins sozinhos, dos bancos vazios, das árvores a "descabelarem-se", do rodopio das folhas dos plátanos pelas alamedas, do vento desabrido, já a virar chapéus de chuva, de pessoas  que correm a fugir ao pingo-pingo desta chuva miudinha e teimosa...
Mas também às manhãs de domingo na cama, sem horas, sob o edredon, a dividir carinhos, confidências, ansiedades....a ouvir apenas as gotas da chuva a bater no beiral da janela e a convidar a dormir, acordar, dormir de novo....ao som da mesma melopeia pacificadora que nos convida a ficar, ficar, ficar...quando se pode...

A minha crónica de hoje, parece uma página do boletim metereológico...mas não é.
Estou no café dos domingos, como sempre a tomar o pequeno almoço tardio, sem conseguir ou poder pôr no papel do tanto que me vai cá dentro, deste aperto-sufocação, que pelos vistos tem estado latente, como uma doença incubada, e hoje extravasou...porque as comportas desta barragem de sentimentos, que se calhar ando a reprimir, foram galgadas pela torrente, porque as muralhas se desfizeram como os castelinhos de areia feitos à beira-mar, quando aquela ondinha provocadora sobe, e deixa os meninos tristes...só porque hoje amanheceu cinzento, com chuva, silencioso, só...e a minha habitual incoerência tocou "a rebate"!!...

Anamar

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"SINAL DOS TEMPOS ! ..."


As pessoas não estão a investir no amor.

Verifico que as relações hoje em dia, são cada vez mais pontuais, efémeras, de momento, sem perspectivas de continuidade e se calhar, sem vontade mesmo dessa continuidade.
E este estado de coisas, desencantado, verifica-se em qualquer faixa etária.
Eu tenho uma filha com trinta e dois anos, que se pauta nesta base também, de sentimentos e vivências;
Tenho amigos da minha faixa etária com dois ou três insucessos sentimentais e afectivos, que por defesa, comodismo, descrédito. o que quer que seja, não arriscam nada mais, e preferem e dizem que querem viver sós, que estão bem sós, que não equacionam mais, outros esquemas de vida...

São pessoas com filhos já ausentes, tal como eu, que não querem limitações, justificações a dar, qualquer tipo que lhes "cheire" a pressão, ou que considerem como tal.

Fazem a vida como querem, rodeiam-se de amigos ou isolam-se, se é essa a sua vontade, agarram no carro e vão por aí, ou não, fazem amor menos vezes do que gostariam, mas "paciência", como dizem (tudo tem os seus custos....), e estão felizes ou aparentemente felizes, embora utopicamente defendam que o Homem é um animal gregário, e não existe para estar sozinho...

E este estado de coisas, partilha-se pelas mais diversas faixas etárias. A minha filha, teve desde sempre colegas e amigos, rapazes e raparigas, cujo percurso fui acompanhando ao longo das vidas.
Hoje, estão todos eles, logicamente na casa dos trinta anos e quase todos estão já, com dois ou três insucessos emocionais em cima, estão com separações, afastamentos, tristeza nas suas vidas.

Alguns têm filhos e optaram por viver para eles, ou limitados por eles (não sei como dizer), mas quase todos, no auge de uma juventude que deveria ser de alegria, descontracção e leveza de alma, a parecerem já "velhos", cansados no desencanto que carregam...

Assim sendo, e porque também vivem numa sociedade de competitividade feroz, agressividade e exigência profissional  desumanas,  fazem uma vida a trabalhar quase sem horários (muitos deles), e depois, têm os tais casos pontuais, que os deixam mais vazios afectivamente, porque de afectivo têm pouco, sendo meramente de realização física, quando são!...

E assim vão passando anos, e assim as pessoas vão ficando cada vez mais sós, vão perdendo o encanto e o acreditar, a frescura e o romantismo inerente a uma adolescência que desejaríamos todos, creio eu, se pudesse perpetuar no tempo, porque, de facto, o estado de paixão, ingenuidade, pureza e entrega incondicionais, são a maior "oferta" que poderíamos ter no tempo que por cá estamos....

Anamar