sexta-feira, 7 de março de 2014

" ÀS MINHAS TRÊS GERAÇÕES DE MULHERES "



Amanhã, celebra-se mais um Dia Internacional da Mulher .
Mais uma efeméride "vendida", para obviamente vender ...

Não sei o que é ser mulher !
Sei que  há diferenças notórias, substanciais e visíveis, entre os géneros, ou pelo menos, entre  o  arquétipo de cada um dos géneros.
É teórico que o Homem seja tido como racional, mais distante, pragmático, na colocação prioritária dos seus interesses, centrado funcionalmente, emotivamente mais volúvel, já que o Homem é reconhecido como fundamentalmente "visual" ( como se diz ), nas suas relações afectivas ... e  a  Mulher, como "emocional" ... menos "cabeça" e mais "coração" !

A mulher de hoje, é multifuncional,  e penso que isto lhe foi determinado pela necessidade vital de se distribuir, com competência, e em simultâneo , por meios familiares, profissionais e sociais.
A mulher é sensitiva  ( não é em vão que se fala no seu sexto sentido ) .
É abnegada, esquece e limita-se a si mesma, em função da sua realidade envolvente, e dos que dela precisam, convive e é,  com frequência, sustentáculo de dificuldades sérias, na sua própria estrutura familiar.
E supera-se, funcionando como esteio,  dessa mesma célula, inventando e reinventando, um "modus vivendi", suportável.
Tende  a  ser  uma  boa  profissional,  de  excelência  às  vezes,  embora,  estou  certa,  nunca  a  família ( mormente os filhos ), seja preterida, em função da profissão.
Porque isso é biológico, e genético.
Como tal, a exigência que faz à sua pessoa, para cumprir esse desiderato, traduz-se num sacrifício, globalmente acrescido, e numa transcendência de si própria .

Quando ama, a mulher dá-se, rende-se, entrega-se com satisfação, e pode mesmo, apenas exigir o mínimo retorno.
E nada do que lhe é pedido, constitui uma carga ou uma impossibilidade.
A mulher chega a ter o mérito, de segurar um amor incondicional, por um homem que não lhe corresponde em idêntica proporção ...
Mas não desiste ... desdobra-se,  frustra-se com  frequência, dói-se, morre aos poucos ... mas  continua  lá ( quantas  vezes,  analisando-se  com  frieza ... estúpida  e  injustamente ... Esta a  única palavra que nos ocorre ... ) !

E chora ... A mulher chora muito ...
Mas chora no seu silêncio, no seu canto ... isola-se p'ra chorar.
Porque, muitas vezes, tira das lágrimas que lhe assomam, risos de fazer de conta ...
Colhe na ausência de esperança, uma poalha de luar, para seguir no seu caminho ...
Pinta na escuridão que desce, sírios estelares, que lhe iluminem o trilho a percorrer ...
Transforma os espinhos em tapetes mansos de musgos e erva verde, fofa e macia, para que, quem venha atrás, sinta o andar atapetado ...
Abre os braços, como asas protectoras, como ninho, onde os ventos de borrasca não derrubam os seus ...
Busca no desespero, força, mordendo os lábios até sangrarem,  ditando um compasso de espera  ao coração, para que ele adormeça e se aquiete ... até que a paz o invada !

É simultaneamente, uma fortaleza inexpugnável, e o aconchego duns braços, doce e macio, onde acolhe o Homem, enquanto filho, enquanto irmão, enquanto amante, e mesmo enquanto pai, velho e alquebrado, sendo  ombro e bengala ... ajudando-o  a transpor a derradeira  ponte da sua vida !

Sou charneira, entre três gerações de mulheres.
Atrás de mim, fica-me a minha mãe, que é tudo isto, foi tudo isto ... nos seus noventa e três anos de vida.
Geração forjada na dureza da terra que a viu nascer,  com  a  força e  a  perseverança, que  aquele  Alentejo  ( pouco generoso às vezes ), lhe conferiu !
Foi / é, uma combatente, uma resistente, uma sobrevivente ... uma Mulher !...

Depois de mim, tenho duas outras Mulheres, que na idade que já têm, ombreiam comigo, nos percalços, nas dificuldades, nas alegrias, nos momentos bons, mas também nos menos bons, desta nossa existência !
Já me couberam no cólo, já as guiei pelas mãos, com elas já ri...por elas, já chorei muito !
Continuarão comigo, se o Destino assim o quiser, até que sejam elas que chorem comigo, riam comigo, me alinhem os cabelos prateados dos tempos, me dêem as mãos, para que  um dia, em passo titubeante, eu possa ainda chegar à janela, eu possa ainda, perder-me a olhar o sol, descendo no ocaso !...

Mais  à  frente,  está  alguém,  que  nos  seus  nove  anos, começa  agora  a dar os  primeiros  "passos" ...
Alguém que vai saber, forçosamente, aos poucos e poucos, qual o seu real lugar no Mundo ...
Alguém que vai perceber em si, este privilégio não partilhado,  único,  insubstituível, incomparável, de dar a vida, e de dar a sua própria vida, junto ...
O privilégio de ter nascido Mulher !...
À Vitória,  particularmente,  eu  saúdo !  Que  ela  albergue  em  si,  sempre, um  coração  bem  feminino ! Que nele, ela encontre sempre, uma fonte de generosidade, de amor e transcendência !

Eu, bem ... Eu devo ser um misto destas raízes, um enxerto destes caules, a frutificação, do antes e do depois de mim,  nestas formas  imperfeitas, de se ser Mulher !...

Anamar

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