segunda-feira, 16 de maio de 2016

" ILUSÃO "


Como estará agora o teu rosto ?
As linhas, as marcas, os sinais, vão-se perdendo no tempo.
Já as não sei !  Apenas guardo algum que outro pormenor ... que se tornou pormenor, no vórtice dos dias.
Os teus olhos ?
Sim, os teus olhos, eu sei exactamente que continuam verdes como maré de mar sem fundo.
E também sei que ao sorrirem, riem como olhos de menino  "levado", tenho a certeza ...
As tuas mãos ... ?
Vejo-as pousadas como pássaro no repouso da ramada.  Seguras.  Fortes.  Decididas.
Mas sei-as doces, irreverentes, curiosas ... quentes.
Mãos de embalo, de protecção, de norte ... de caminho ... Mãos sábias !...
O teu corpo ... ?
Esse está todo em mim.  Não tem erro !
Ficou-me tactuado, fielmente desenhado em decalque sob a minha pele.  Dentro do meu. Para sempre !  E um dia, juro, ainda vai comigo !
A tua voz ...?
Quando fecho os olhos consigo escutá-la, trazida pelo murmúrio do vento, que é meu amigo.
Sussurrante às vezes.  Imperativa, outras.  Sempre envolvente, na rouquidão com que, escutando-a, estremecia ...

Como estarás tu ... todo ?
Hoje, trucidado pela tempestade dos tempos que nunca se apieda do nosso desejo de imutabilidade ?
Quando a mudança é afinal a única garantia de tudo em que mergulhamos ...

Será que eu ainda conheço os teus caminhos ?  Será que ainda reconheceria o endereço do teu ser ?
Não, penso que já só existes na minha mente e no meu coração.
Aí existes sempre, todos os dias.
Fora deles, partiste há muito, levado pelas tempestades de Inverno que recolhem os limos dos rochedos, por cada recuo das marés.
Levado pelo sol vermelho que se põe p'ra lá dos continentes, p'ra lá dos oceanos, naqueles lugares que por instantes foram nossos.  Que sempre o serão !
Porque eles conhecem os nossos segredos, gravaram as palavras ditas, os risos soltos ... o amor que se fez  ...
Eles sabem-nos ... como ninguém !...

Visitas-me pelas madrugadas, quando os sonhos sabem que preciso.
Poisas-me na almofada, esgueiras o teu corpo junto ao meu, embalas-me o sono ...
Chegas a sorrir, com os olhos iluminando o caminho.  Com o abraço aberto.  Com o beijo pronto. Com o calor oferecido ...
Por instantes recuo no tempo e na vida, não querendo perder-te outra vez ...
Breve ilusão !

Partes ... sempre partes com o dealbar da madrugada.  Sempre te vais quando a última estrela se apaga no firmamento.  Quando a lua cheia deita para dormir outra vez, e quando eu acordo para a realidade que me sobrou ...
Sem espaço para ti !

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...
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