quinta-feira, 30 de março de 2017

" DANÇANDO NA CHUVA "





Sempre achei graça àquele pinheiro no recorte da paisagem lá longe, tendo por detrás apenas o céu, já que tudo o mais lhe fica aos pés.

Pinheiro, abeto ... araucária não me parece ser, continua garboso, ano após ano, absolutamente só, erguido a ventos e temporais.
Eu diria que ele se orgulha de por ali continuar feito um farol erecto, vigilante dos céus bem acima e observador da terra ... bem abaixo.

Deve ter muitas histórias para contar.  Afinal,  ele escuta a conversa dos melros e dos gaios que por aqui perambulam dia após dia.
De longe, observa as andorinhas no afã dos ninhos, e depois, daqui a uns meses, assiste-lhes aos primeiros projectos de voo.
Do alto, alcança a orla do mar que se adivinha, e adormece no balanço do vento que o sacode sem nunca lhe desalinhar as agulhas dos ramos.
É um desafiador, este pinheiro !
É um resistente também.  Verga, verga mas não claudica.
A vetustez do seu tronco atesta-lhe os Verões e Invernos que já lhe passaram.  É um ancião no sobrado da paisagem !...

Acho que me pareço um pouco com aquele pinheiro.
Também como a ele, a vida me balançou nas intempéries do destino.  Também por mim as Primaveras e os Outonos se sucederam.  Conheci os frios das amarguras gélidas dos Invernos, e a promessa das espigas maduras nos Verões dourados.
Os ventos açoitaram-me a alma.  O nevoeiro abateu-se vezes demais.
E eu ali, firme e hirta, teimosa e casmurra, aprendendo a equilibrar-me na tempestade .
Nunca deixei de olhar lá longe, como ele, o pinheiro.  Divisei céus azuis, nesgas de bonança, chilreado de pássaros, sussurro de asas de borboleta ...
Tudo isso foi sobrevivência e aposta de vida.  Tudo isso foi respirar fundo, erguer a cabeça, secar os olhos, arregaçar as mangas e enfrentar ...
Enfrentar a desesperança penumbrenta, vencer os pedregulhos do caminho, desafiar as borrascas que apostavam em roubar-me o sonho ... teimar com o tempo que prometia injustamente fugir-me ...

E caminhar, caminhar ... adiante ... sempre adiante, mantendo a coerência daquilo que sou, encarando as incompletudes da minha dimensão humana, acreditando nas luzernas de um sol espreitador, amando a "primavera" renovadora,  e aprendendo a não mais me molhar na chuva, mas sim a dançar no meio dela ...
E nunca desistir !...

Porque VIVER, é isso ! ...

Anamar

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