sexta-feira, 9 de junho de 2017

" ACHO QUE FOI UMA COISA DE PAIXÃO ... "





Portugal está na moda e Lisboa está um deslumbre !!!

Pude constatar isso ontem, quando, fazendo tempo para uma conferência sobre o Testamento Vital, me passeei sem rumo ou hora, pela baixa pombalina.
A luz e a cor daquela cidade, fazem-nos sentir de facto, "em casa".  Numa casa que não se explica, não se define, não se iguala em lugar algum do mundo !

Rebolando colina abaixo, espreguiçando a sua vaidade no azul do Tejo, de águas mansas e doces, Lisboa é um convite permanente, um desafio inquestionável, uma sedução única ... um caso de amor !
Os cheiros, os sons, a claridade de um sol generoso, são pintura em 3D, feita por Pomar, por Cargaleiro, por Almada, Vieira da Silva ... por Maluda...
A brisa que lhe despenteia os cabelos, perde-nos o olhar na embocadura daquele rio, lá longe, na linha do horizonte, e o sussurro das tágides que por ali deambulam, transporta-nos oniricamente ao tempo em que o Cais das Colunas albergava mais que turistas, gaivotas e sonhos de marinhagem ...

E os olhos perseguem o volteio daquele palmípede residente, acompanham o grasnido das gaivotas e o arrulhar dos pombos naquela praça, donde tantos e tão valorosos nos levaram mais e mais, mundo fora !
E recreava-se sem esforço de imaginação histórica, a azáfama desses tempos.  Ouvia-se o ranger do cordame das naus aportadas.  Sentiam-se a ansiedade dos que partiam ... a coragem também dos que ficavam ...

E estava tudo por lá, que eu garanto !

E havia uma serenidade por entre o "brouhaha" dos passantes.  Havia um silêncio que apagava os desmandos civilizacionais dos excessos.  Havia uma gargalhada descarada, de Lisboa-menina a sentir-se desejada, cobiçada, amada ... como mulher, travessa, provocante e ladina !...

No alto, em coroa de glória, o Castelo assomava.  Os jacarandás em flor neste Junho lisboeta, exibiam o lilás dos seus cachos pendentes, nas praças e nas avenidas.
O "mestre" continua a acenar do Martinho, ou refastela-se pelo Chiado, na saudade de um café na Brasileira ...
O "manto diaphano da phantasia" continua cobrindo a nudez forte da verdade, de um Eça que por ali perambula ... e Camões lembra o que é / foi, ser português ...
O Adamastor desafia os mares, desde o cocuruto de Santa Catarina e o Santo António está aí, para nupciar uma outra vez, com a mulher que sempre lhe é fiel : Lisboa !
Tudo se prepara já.
Os festões, as grinaldas, os balões, os arcos e os tronos, abrem os bairros ao olhar enternecido de quem por eles se passeia.  As marchas descerão às ruas, na ilusão de acontecimento único...
E o cheiro das sardinhas assadas, o aroma dos manjericos e a doçura das quadras de "pé quebrado" que os adornam, remetem-nos mais e mais para a "nossa terra", para a nossa genuinidade, para a nossa verdade !

E é um orgulho sentirmo-nos pertencentes a este chão, falarmos esta língua, termos o sorriso aberto e desarmado de corações hospitaleiros, vivermos a simplicidade  de  um povo sem pretensões ou sobranceria, termos a alegria de sermos simplesmente portugueses !

Afinal, aqui neste cantinho de uma Europa desarticulada, neste rectângulo de terra quase a despencar no Atlântico, temos a singularidade apaixonada dos povos latinos, temos o calor que de África nos aquece a alma, temos os sonhos de quem não desiste e a tenacidade de quem acredita !...

Lisboa, ontem, segredou-me tudo isto ao ouvido.
E a paz e uma tranquilidade promissora, tomaram-me e esperançaram-me.

Acho que se tratou mesmo de "uma coisa de paixão " !...

Anamar

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