segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"O MAIS É NADA..."

Vou ausentar-me algum tempo, na fruição de uns dias de férias.

Vou para outros horizontes, na busca de outro sol, outra lua, outro mar...
na busca de outras gentes, sensações, vivências...
na vontade de "pintar" a vida de outras cores...
na ânsia de segurar o sorriso, perseguir o sonho, mergulhar nos desejos, tactear "caminhos"...agarrar a esperança...

Vou deixar que outro vento, ao passar-me no rosto, me leve os beijos dos que ficaram...mesmo por pouco tempo...
Vou tentar enxergar em cada estrela, os meus amigos, os meus amores, o fim das "histórias"...as minhas e as que cruzei...

Vou finalmente rodear-me de rosas, amar, beber e calar....

simplesmente porque... "O mais é nada..."

Na minha despedida...para vocês, com um beijo.....o MESTRE!







































Anamar

"A NOITE"


















Hoje tenho em mim uma indefinição de sensações e uma amálgama de pensamentos em mistura destemperada e desobediente...
Nada ordenado, nenhuma linha lógica de raciocínio, apenas alguma sufocação na alma e no peito, alguma convulsão desordeira, porque em desordem mental e emocional também me pressinto...

Estamos a entrar em mais uma madrugada... afinal, a companheira mais certa e fiel que sempre me acompanha por cada vinte e quatro horas da minha vida...
Deixo-vos com uma divagação ao som de Sting, que por aqui espalha os seus acordes...desta feita ecoando no silêncio do meu quarto...

Deixo-vos com..."a noite"...






"Noite...
Mais uma noite que desce.
A ausência de gentes, de sons, de vida... o negro que tombou, são parceiros da noite.
A noite é arquitecta de sonhos e sentires inconfessados, é a ressurreição de quereres que tacteiam ausentes, sempre presentes nas nossas veias...
A noite é o amor que se faz quando não se faz amor e apenas se faz sonho...A noite é o querer feito desejo e o desejo feito fogo que nos consome...
Noite é a vela que se extingue, é o incenso que se queima no odor do suor espalhado.
É o rasgar de corpos que se profanam numa loucura de resgate desesperado. E é o silêncio que tem o som da vida que nos povoa a mente, quando a fadiga e a morte buscam em vão um contorno perdido na cama desfeita...
A luz da noite tem a magia de imagens-sombras, fantasmas alucinados que nos devassam o espírito e os corpos febris...É o mergulho doce no que não se entende porque não se quer entender...é a recusa do real
na busca do sortilégio.
A noite adormece o esgar da mágoa quando a dor é mais violadora e pungente, quando a solidão e a saudade partilham o nosso travesseiro, quando o cansaço finalmente nos entorpece...
A noite é o amante e o amor que ficou, mas também aqueles que hão-de vir...
É o vazio deixado pelo calor que partiu, buscando outras mãos e outra pele.
A noite embala o mistério que não se diz...
A noite cumplicia connosco os segredos de manhãs esperadas"...























Anamar

sábado, 2 de agosto de 2008

"VIAJANTE DO DESTINO..."









O meu pai teria sido cremado.
Por opção, por vontade expressa...tenho a certeza.

Ao tempo que ele morreu pouco ou nada se ouvia falar de cremações. Teria hoje cento e seis anos, se vivesse. Mas o meu pai sempre foi pragmático, racional, despojado.
Estranhamente nunca vos falei muito dele. Aliás, a figura do meu pai é um pouco uma figura "nublada" e controversa na minha vida.

Quando eu nasci, filha que fui de um segundo casamento seu, o meu pai tinha mais idade para ser meu avô, do que meu pai. E como avô (posso dizer), me tratou toda a vida.
O mesmo desvelo, a mesma ternura, a preocupação exaltada com tudo o que me dizia respeito, a ausência de ralhetes, a contemporização com os pequenos "desvios" infanto-juvenis, a necessidade de me "paparicar" e proteger, com toda aquela carga de "pai com açúcar", típica dos avós.

O meu pai era viajante de uma firma comercial...e viajante, naquela época, significava sair de casa a uma segunda-feira e poder regressar quinze dias depois.
Viajava de comboio, de camioneta, às vezes de táxi e em tempos mais idos, sempre ouvi dizer, que de burro e carruagem. Não esqueçam que o meu pai nasceu em 1902.
Sempre vivi entregue aos cuidados da minha mãe, quase exclusivamente, dada a sua longa e sistemática ausência.

Era o filho mais velho de cinco irmãos, oriundo de uma família muito pobre do Baixo Alentejo. Terá feito a instrução primária (juro que não sei se a completou) e foi compelido a enveredar no mundo do trabalho porque tinha quase uma família para sustentar. O meu avô "delegou" muito cedo esse encargo no primogénito. Aos sete anos, já trabalhava como moço de recados ou marçano, para um patrão que lhe pagava com uma "bucha" e pouco mais.
Era uma época muito difícil, de conturbações sociais e políticas. O Alentejo, sofria de grande e profunda miséria...
Era o tempo em que nos Invernos rigorosos de frio e chuva, porque as terras não podiam ser trabalhadas, a fome grassava.
Havia "ranchos de homens sem trabalho, em desespero, a pedir esmola pelas ruas"...contava-me.
"As terras estavam encharcadas, porque chovia dia e noite, meses seguidos...não se podia lá entrar" e nem a açorda de pão dormido com coentros, alimentava os filhos em casa, porque era preciso que houvesse azeite na almotolia...e os lavradores, senhores das terras, nem sempre se compadeciam com uns decilitros...

Casou, teve um filho e enviuvou, tudo no espaço de quatro anos.
"Pôs casa" às três irmãs quando casaram. Quer isto dizer que providenciou, em substituição do pai, para que no "enxoval" de cada uma, houvesse o que "pertencia à mulher, levar no casamento"... (tudo tão estranho para nós nos tempos actuais!...)
Teve que entregar o filho a familiares, para que o criassem, visto os pais entretanto terem falecido.
Assistiu, impotente, à progressão de uma doença irreversível nesse filho, ao atingir a puberdade.
Envidou em vão, todos os esforços possíveis e impossíveis que o avanço da medicina lhe facultava, para poder curá-lo.

"Perdeu" muitos anos sem horizontes, senão os do sofrimento, da dificuldade, da amargura, do trabalho...e tornou-se pai-avô e voltou aos desvelos, à ternura esquecida, aos sacrifícios, às preocupações redobradas, quando eu surgi na sua vida... vida já então muito gasta, muito cansada, talvez já um pouco desencantada...

Reaprendeu (ou aprendeu) a mimar, a cobrir-me bem quentinha com os cobertores no Inverno, a dar-me conselhos de agasalho (não fosse eu apanhar gripe), a não dormir sem que me desse um beijo de boas-noites, a "entupir-me" de chocolatinhos nos Natais, de amêndoas de licor nas Páscoas e de "esquimós" da pastelaria Suiça...
Aprendeu a surpreender-me com duas ou três bonecas, uma delas em porcelana, com mola na barriga p'ra chorar (a Lolinha, resistente até hoje e que décadas e décadas mais tarde, "baixou" ao Hospital das Bonecas, na Praça da Figueira, onde ganhou uma cabeleira e roupas novas)

Recordo o meu pai como uma figura de poucas falas, alguém que não exteriorizava fácil os sentimentos, alguém hermético, aparentemente distante, objectivo, racional, pragmático...
Podia vergar...nunca o vi quebrar!
Era tenaz, lutador, resistente...uma fortaleza!...
Esquecia a data do próprio aniversário e não a valorizava. Acontecia com naturalidade, passar esse dia só, se por acaso estava a trabalhar longe de casa.
Natais e Páscoas..."invenções do Homem que sempre pretendia transformar dias iguais em dias diferentes"...
Não pôs luto pelos pais nem pela mulher, uma postura quase provocatória numa época e numa sociedade fechada, moralista e atávica. Para ele, isso era hipocrisia que não fazia qualquer sentido.
"Enterrar os mortos e tratar dos vivos", uma máxima para momentos de dificuldade...
Parafraseava o Marquês de Pombal, homem prático e clarividente, ao tempo do terramoto...

E assim passou pela vida, o meu pai.

Morreu com noventa anos, dizendo-me que se algum dia o ouvisse pedir um padre, não acreditasse.
Dias antes de morrer (da sua cama articulada onde agonizou dois anos, com uma cabeça a funcionar e um corpo que o traíu), dizia-me, pragmaticamente, com uma noção da inevitabilidade absolutamente clara : "Isto está por pouco...Quero morrer nesta cama...a roupa, está nesse armário..."
E às minhas lágrimas incontidas e teimosas disse : "Não chores, meu amor...a vida é assim mesmo!..."
Passou então a mão descarnada e trémula pelo meu rosto molhado e tentou recordar como era dar-me um último afago...

E foi...

E deixou-me na maior "orfandade" do mundo!...
O meu pai levou até hoje, consigo, um pedaço de mim que nunca mais consegui encontrar por aí...

Acompanhei-o, de acordo com a sua vontade, até ao "jardim das memórias"...onde já não está há muito, tenho a certeza, porque o meu pai era viajante...e não era de parar muito tempo num mesmo lugar...

Teria sido cremado (hoje estou convicta)...

E se o tivesse sido, as suas cinzas viajando no vento, seriam o maior hino de homenagem ao espírito de um homem livre, independente, aventureiro, solto...um viageiro sonhador do destino...


"O meu pai foi de Lisboa...
foi do Tejo e das colinas,
foi do pregão que amanhece,
que ecoa e engrandece pela boca das varinas...
Foi da Praça da Figueira, do Rossio, Restauradores,
da Suiça à Brasileira...
foi daquela vendedeira que ainda hoje vende flores!
Em cada pedra de rua, em cada esquina de praça,
em cada nesga de céu ou neste sol que abraça
a cidade de Lisboa,
eu o vejo, ele perpassa naquele pombo que voa...
por essa cidade fora...
a cidade de Lisboa!...
Já cá não está...mas está!
Eu sinto-o aqui e agora...
E a cidade que ele amou, vestiu de luto e chorou...
quando ele se foi embora!...


Homenagem póstuma (aquando da data de aniversário 95-06-05 )


(O meu pai fez no passado dia 30 de Julho dezasseis anos que faleceu...Este, hoje, o meu beijo para ele...)





Anamar

"AMBIENTE - UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA"

Hoje este post não é propriamente meu.
Ele corresponde a um mail que me chegou às mãos, e ao qual, como "condómina" deste planeta, nem eu, nem ninguém, me parece poder ficar indiferente.
Prende-se a uma realidade tão triste, que por inconsciência, negligência, comodismo...parece querermos ignorar.
Não esqueçamos que este é o legado que estamos a deixar em herança à geração dos nossos netos!....
Não queiramos que seja um planeta sem VIDA!...



Um Oceano de plástico

Durabilidade, estabilidade e resistência a desintegração.
As propriedades que fazem do plástico um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final, também o tornam um dos maiores vilões ambientais. São produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos, sendo que 80% desta fração vem de terra firme.



Foto do vórtex
No Oceano Pacífico há uma enorme camada flutuante de plástico, que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo, com cerca de 1000 km de extensão, vai da costa da Califórnia, atravessa o Havaí e chega a meio caminho do Japão e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros . Acredita-se que haja neste vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos.
Pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas , bonecas, patos de borracha, tênis, isqueiros, sacolas plásticas, caiaques, malas e todo exemplar possível de ser feito com plástico.
Segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o tamanho dos Estados Unidos.



Ocean Plastic


O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, que pesquisa esta mancha há 15 anos compara este vórtex a uma entidade viva, um grande animal se movimentando livremente pelo Pacífico. E quando passa perto do continente, encontram-se praias cobertas de lixo plástico de ponta a ponta




Tartaruga deformada por aro plástico



A bolha plástica actualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma parte estreita. Referem-se a elas, como bolha oriental e bolha ocidental.
Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90, disse que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico à sua frente.
"Como foi possível fazermos isso? Naveguei por mais de uma semana sobre todo esse lixo"...
Pesquisadores alertam para o facto de que toda a peça plástica que foi manufacturada desde que descobrimos este material, e que não foi reciclada, ainda está em algum lugar.
E ainda há o problema das partículas decompostas deste plástico. Segundo dados de Curtis Ebbesmeyer, em algumas áreas do Oceano Pacifico, pode encontrar-se uma concentração de polímeros de até seis vezes mais do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha.



Todas a peças plásticas à direita foram tiradas do estômago desta ave

Segundo PNUMA, o programa das Nações Unidas para o meio ambiente, este plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves marinhas todos os anos, sem contar toda a outra fauna que vive nesta área, como tartarugas marinhas, tubarões e centenas de espécies de peixes.



Ave morta com o estômago cheio de pedaços de plástico


E para piorar, essa sopa plástica pode funcionar como uma esponja, que concentraria todo o tipo de poluentes persistentes, ou seja, qualquer animal que se alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos, que podem ser introduzidos através da pesca, na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo, na mais pura verdade, de que o que fazemos à Terra retorna a nós, seres humanos.


Fontes: The Independent, Greenpeace e Mindfully
Ver estas coisas, sempre servem para que nós repensemos os nossos valores e principalmente o nosso papel frente ao meio ambiente, ou o ambiente em que vivemos.


Antes de Reciclar, reduza!


Anamar

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"CRIADORES DE SONHOS"




















Autor de imagens: Vonck


Anamar