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sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Tantas pessoas em PESSOA !..."



Postei Pessoa nos meus anteriores escritos.
Sempre o refiro, nunca me canso de o parafrasear...Afinal, ele está em muito das nossas vidas do dia a dia.

"Por que é que tu consegues sempre dizer as coisas de uma forma mais perceptível que eu???" - dizia-me um amigo um destes dias.

"Por que é que Pessoa consegue sempre exprimir tudo de uma forma tão mais eloquente que eu, se sentimos os dois igual ???" - digo eu.

"Que empáfia" ! - dizem vocês. "Olha-me esta fulana a comparar-se com......Pessoa, o MESTRE!.... Logo, com Pessoa...não faz o caso por menos!"...

Juro que não! 
Seria imbecil se o fizesse, jamais me atreveria...não sou alucinada!
Apenas, sinto-o em cada frase, em cada pensamento, em cada texto, em cada reflexão, em cada poema, em cada devaneio, sonho, esperança, dor...

Pessoa, 123 anos depois...Junho de 1888...
Actual, cada vez mais actual, ou não exprimisse ele magistralmente, as inquietudes do ser humano, as suas incompletudes, angústias, sofrimentos, dúvidas!
Essas são intemporais, essas não têm época, atravessam gerações, simplesmente porque são.....Humanas!

Em jeito de homenagem ao poeta do AMOR, em mais uma efeméride do seu aniversário, coloco humildemente neste meu varandim, dois excertos seus, absolutamente notáveis, aliás como toda a obra daquele, que para dar alma e voz a todo o ser humano, se desdobrou e assumiu uma panóplia de alter-egos, de muitos rostos num rosto só, de muitas personalidades numa única, de muitos corações, tendo só um dentro do peito...

Não carecem de palavras...seriam redundantes!
Convidam à análise e à reflexão!
Façamos portanto com ele, a "TRAVESSIA"....

" O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis..."   
                  F. Pessoa

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

F. Pessoa                    
Anamar

domingo, 20 de março de 2011

"NÃO VOU POR AÍ !...."


Ontem revi na TV um filme que já vira nos écrans de cinema, e que já na altura me empolgara. Pela mensagem que passa, pelos actores envolvidos, pelo realizador que o concebeu.
Os actores são nada menos que os míticos Morgan Freeman, indiscutivelmente um dos, senão o meu preferido na sétima arte, e Matt Demon, que para lá caminha...
O realizador, Clint Eastwood, que não carece de mais apresentações, como é óbvio.
Um "senhor" durante décadas como actor, agora e não menos importante (eu diria que mais), como realizador.

O filme voltou a empolgar-me tanto quanto, quando o vi num cinema da capital, apesar de ter sido num período mais favorável e feliz da minha vida;
Na altura dividi tudo com o que o filme me "encheu", com outros olhos, com outra opinião, com outro entusiasmo...
Ontem vi-o só, na minha cama, mas vibrei na mesma com ele.

Basicamente o seu enfoque é o período que respeita ao fim do Apartheid na África do Sul, das primeiras eleições livres, da subida de Nelson Mandela à presidência e a mensagem do mesmo, para lá da revelação da sua real personalidade, que foi como sabemos, durante trinta anos submetida às arbitrariedades do regime do poderio branco.

Mandela "manda-nos" espantosamente um "recado" que só os seres superiores conseguem alcançar: a capacidade que o ser humano deveria ter, de mesmo em situações limite e injustas, não guardar ressentimentos, não perder a capacidade do perdão para com os seus semelhantes, o dever da coerência na defesa de ideais, mesmo contra a adversidade, e ainda o poder da esperança, do acreditar, da perseverança mais e mais, que de facto move montanhas...

O filme é obviamente "INVICTUS"...

Afinal, tudo está magistralmente resumido neste poema escrito por Mandela no seu cárcere, o qual, segundo ele próprio, muito o terá ajudado nos momentos em que sossobrava.
Poderia e deveria ser um lema para qualquer um de nós, na generalidade seres mais imperfeitos e menos magnânimos...

"AGRADEÇO AOS DEUSES QUE POSSAM EXISTIR
A CIRCUNSTÂNCIA INDOMÁVEL DO MEU SER...
SOU SENHOR DA MINHA ALMA
CONDUTOR DO MEU DESTINO..."
Nelson Mandela


Revejo-me um pouco neste turbilhão de ser contra a maré, neste indomar de um coração, neste agarrar do destino e da alma pelos "cornos"...como timoneiros de barco em maré revolta...

Também eu nunca aceitei rédeas, reajo mal às cangas, caminho ao arrepio da generalidade desde que acredite nas minhas convicções, questiono posturas e convenções...

Se é bom ou mau, não sei.
Não será nenhum golpe de genealidade, seguramente...é tão simplesmente a minha forma incontornável de ser, o meu bater de pé para com a vida, uma espécie de dizer, como José Régio : "NÃO SEI POR ONDE VOU, NÂO SEI PARA ONDE VOU...SEI QUE NÃO VOU POR AÍ!!!"....

Anamar

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"DA INCREDULIDADE À INDIGNAÇÃO! "




Muito originais estes meus domingos!
Estou junto à estação fluvial de Belém, de onde os cacilheiros partem e chegam, a usufruir de um Tejo que ainda não me defraudou em termos de tempo, nem de beleza.
Está um sol esplendoroso, com um ventinho agradável, o céu mistura-se com o rio, no mesmo azul-safira.
Os veleiros ponteiam este cenário, e eu estou sentada no paredão, duas maçãs, uma barrita de cereais, uma garrafa de água (tenho que acabar com estes pneus...), papel e esferográfica.
Estou completa... eu e a minha solidão!
Aliás, neste momento o meu "poiso" mais provável ao fim de semana é mesmo este.
Alguns pescadores (hoje não muitos - não deve estar favorável), e uma gaivota, que volteia e plana aqui por cima, na aragem da corrente...
Esta, não é a "minha", por certo...

Até sair de casa estive a acompanhar, via TV, a chegada dos restos mortais de José Saramago ao cemitério do Alto de S. João, onde, por vontade sua, viria a ser cremado, e essa reportagem desencadeou em mim um misto de sentimentos, que vão da vergonha, à indignação, à incompreensão, à revolta...

O nosso destino como portugueses é realmente ser sempre "pequeninos"! Ser sempre mesquinhos! Sempre uns "tristes na imagem que damos, nas atitudes, nos actos!...

Foram registadas as ausências inexplicáveis ou talvez não, do Presidente da República, e do Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, na cerimónia!...

A Saramago, ( se pudesse escolher ), só faria falta o povo mesmo, e esse, esteve; esteve em número, esteve em alma.
Os cravos vermelhos e os punhos no ar, confirmavam a sua conotação política, mas foram as palmas (quando a urna se dirigiu e entrou no forno crematório), indistintas, que confirmaram o valor da sua figura e traduziram o obrigado dos portugueses, a alguém que levou o nome de Portugal ao Mundo.

Como todas as figuras controversas,  pelas posturas assumidas sempre ao longo da vida, contudo sempre coerente, "sem preço", corajoso e determinado, inquieto e frontal, a quem as "estruturas" implantadas nunca amordaçaram, teria as simpatias de uns e a discordância de outros, contudo, ao nível de Camões, Pessoa e Jorge Amado na pátria-irmã, levou e elevou o nome do nosso país, porque Saramago era de facto um cidadão do Mundo...

Será que Cavaco Silva teve "medo" que o confundissem com um militante comunista, estando presente nas eséquias????!!!!....
Triste país este, tristes dirigentes que ocupam os mais altos cargos nesta terra, e a quem os destinos desta nação estão entregues!
Entretanto, "pagamos" horas e horas de cobertura de campeonatos de futebol, assistimos à imposição de medalhas, pelos governantes desta nação, a figuras mais ou menos duvidosas de as merecerem, com pompa e circunstância, verificamos que o Presidente da República honra com a sua presença eventos discutíveis na importância....e Saramago era "SÓ" o nosso Prémio Nobel da Literatura....

Por que será que a única voz que se ouviu claramente e sem medo, e se insurgiu e indignou, foi, até estranhamente, diria, Francisco Louçã?...

Como homenagem à figura, ao cidadão, mas também a tudo o que Saramago representou, representa e representará para Portugal....com o meu humilde reconhecimento, um excerto do seu livro de poemas "Os Poemas Possíveis"   -  1982 :

 «"Este mundo não presta, venha outro. / Já por tempo de mais aqui andamos / A fingir de razões suficientes. / Sejamos cães do cão: sabemos tudo / De morder os mais fracos se mandamos, / E de lamber as mãos, se dependentes. "»

Anamar

sábado, 19 de junho de 2010

"ERA UMA VEZ..."




                 "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra.
                   Era uma vez a gente que construiu esse convento.
                   Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
                   Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
                   Era uma vez."
                               (in "Memorial do Convento )


   Era uma vez, José Saramago, nascido  na Azinhaga, Golegã, falecido a 18 de Junho de 2010 em Lanzarote, Canárias, cujo corpo chegou há pouco ao aeroporto de Figo Maduro em Liboa.
Não vou alongar-me em dissertações sobre a figura de Saramago, Prémio Nobel da Literatura, no ano de 1998.
E não me alongo, porque tudo será escalpelizado pelos mídia neste momento.
Membro convicto e assumido do Partido Comunista Português, por quem sempre deu a cara, numa coerência que lhe custou por vezes dissabores, ateísta confesso, o que também lhe conflituou a relação com a Igreja, Saramago, era escritor, contista, poeta, dramaturgo, argumentista e sobretudo, como referi, um homem de uma coerência, de uma coragem e de uma verticalidade invejáveis, o que deve, por todas as razões, orgulhar-nos, como cidadãos portugueses que somos!...

De facto, "Saramago, ou se ama ou se odeia!!!i ( penso que esta definição é a correcta para a sua personalidade)...

Deixo aqui um pequeno excerto mais circunstanciado, mas obviamente sucinto, da sua biografia, que me foi  enviado por um amigo destas lides da Net, e a quem agradeço.

Saramago nasceu em Azinhaga, no Ribatejo, de uma família de pais e avós pobres. A vida simples, passada em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade – impede-o de entrar na universidade, apesar do gosto que demonstra desde cedo pelos estudos. Para garantir o seu sustento, formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico. Entretanto, fascinado pelos livros, à noite visitava com grande frequência a Biblioteca Municipal Central - Palácio Galveias na capital portuguesa.




José Saramago no Festival Internacional de Filmes de San Sebastián (segurando a tradução em língua persa do seu livro Ensaio sobre a cegueira.
Autodidacta, aos 25 anos publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e permaneceu até 1970 - nessa época, Saramago era funcionário público; em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986, ao lado da qual continua a viver. Em 1955, começa a fazer traduções para aumentar os rendimentos – Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros autores a quem se dedica.

Anamar

quarta-feira, 3 de março de 2010

" A FORÇA DO ACREDITAR...."

Vi há escassos dias, um filme que tem à cabeça nomes insuspeitos e que são cartões de visita, para que eu aqui, humildemente, pouco tenha a acrescentar; Clint Eastood como realizador, Morgan Freeman e Matt Damon, como artistas principais.

O nome da película "Invictus", que eu teria trocado, na boa, pela "Força do acreditar" ....que me pareceria mais consentâneo pelo enredo....

O filme roda em torno do fim do Apartheid na África do Sul, indiciando a política seguida por Nelson Mandela, depois do vergonhoso cativeiro ,até 1990, e da sua consequente libertação depois de 27 anos de um regime racista levado às últimas consequências.

"Eu sou dono do meu destino, capitão da minha alma" frases ditas por Mandela sobre si mesmo, são slogans bem mais latos e abrangentes...
Clint Eastood nos seus quase oitenta anos, não perde a oportunidade para transmitir, que para qualquer causa, é a força do querer sobre um crer genuíno e unificador, que impulsionará o homem para metas quase impossíveis de atingir...

Alguém que parte, para o que quer que seja, com o estigma da derrota, da incredulidade, com uma auto-estima e valorização em dúvida....não chegará efectivamente lá!!...

Acreditar-se na força do timoneiro, criar uma vontade inabalável em torno de uma causa quase impossível, será seguramente o esteio, o farol, a tocha olímpica, que arregimentará à sua volta a força inquebrável, de um tsunami atingindo a praia!!!
A força do querer, unificadora de uma causa comum, move montanhas, estimula a confiança, é o real motor de arranque, em qualquer domínio da vida....

Isso é o que me falta a mim....e isso é o que torna esta película como uma mensagem invulnerável!!!....."Uma boa cabeça e um bom coração, fazem uma excelente combinação!...." - Nelson Mandela

Não deixem de ver....e depois, digam-me....Simplesmente EMPOLGANTE!....

Anamar
 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"AS CONVERSAS SÃO COMO AS CEREJAS!...."


"Linhas paralelas são aquelas que por mais que se prolonguem, nunca se encontram"  (ensinaram-me p'raí na segunda classe, no tempo das reguadas e das "orelhas de burro"...) exactamente o que pensei ao ver esta foto deslumbrante.

É evidente que hoje, um bocadinho mais crescidinha, sabendo mais qualquer coisita de Matemática, sei o que estou a ver na imagem e a interpretá-la.
E também os nossos putos de hoje em dia, os putos dos game boys, das "consolas", das playstations, dos iPods, dos Nintendos, não se deixariam baralhar das ideias, se os quiséssemos confundir com a foto e a definição de "linhas paralelas"...

Bom, mas eu juro que esta associação de ideias está perfeitamente anárquica...porque, imaginem (eu não sei porquê), e não tem rigorosamente nada a ver, olhei para a quietude que esta foto inspira, de um caminho em paz, num itinerário tranquilo, rumo a um local que certamente será de serenidade...e fui lembrar exactamente, uma viagem que fiz em 2005, aos "Picos da Europa"...
A única similitude, que direi, atravessa as duas situações, só poderá mesmo ser, essa paz, essa natureza pródiga e bela que não regateia soberania pelo agreste impetuoso das suas montanhas, com picos ainda pintalgados de neves perpétuas, com as pradarias verdes dos vales a perder de vista, junto aos lagos Ercina e Enol, planuras de pastoreio de vacas sonolentas, cabras saltitantes, sobrevoadas pela  rainha da montanha, a águia real, ou outras "rapaces", como os asturianos dizem.

O Santuário de Covadonga, talhado no rochedo, a pique, impõe-se grandioso aos nossos olhos, por razões religiosas ou outras...
Cangas de Oniz, com a sua ponte romana erigida em honra a D. Pelayo que viria a ser rei dos asturianos, tendo conquistado Espanha aos muçulmanos, tem dependurada  uma cruz, relíquia do Santo Cruxifixo .

Perto, fica Fuente Dé  e o seu teleférico, que nos transporta a 2000 m de altitude, donde a abrangência da vista é esmagadora.
O rei Pelayo está, aliás, enterrado na chamada "cova", que faz parte do Santuário de Nossa Senhora de Covadonga, padroeira das Astúrias.


Essa minha viagem, pela qual deambulei espiritualmente enquanto escrevia, culminou num local de que já vos falei num outro post anterior - Puebla de Sanábria. Muito perto já de Portugal,é uma vila que pertence ao município espanhol de Zamora.
Já é referenciada desde o Século VII, linda de calcorrear...com os seus balcões e telheiros em madeira,  repletos de flores, muitas flores!...
    Alberga o maior lago de água doce da Europa, visto que, estando no sopé dos Picos, recolhe a água do degelo dos glaciares das montanhas.
Esta viagem começou, se bem me lembro, por causa das "linhas paralelas" ou não....Quanta loucura!!!

Sim, porque ela termina exactamente num ponto de encontro, em que segundo a lenda medieval, convergiam todos os caminhos, as estradas, que de qualquer ponto do Mundo, levavam os "caminheiros de Santiago", até à Basílica para orar.
Munidos exclusivamente de um bordão,  de uma concha para beberem água das nascentes e de uma cabaça,  em sinal de pobreza e despojamento, calcorreiam a pé todos os caminhos que os separam da Basílica.

São por isso chamados os "caminheiros de Santiago"...

É NESTE ESPÍRITO QUE O CAMINHO NÃO É UMA PROVA DE VELOCIDADE,  OU DE DESTREZA FÍSICA...MAS ANTES, A PROPOSTA DE UMA CAMINHADA INTERIOR, COM ESPAÇO PARA O CONVÍVIO, DIVERSÃO E LAZER!...

E AFINAL EM QUE É QUE FICAMOS QUANTO AO PARALELISMO  DAS LINHAS??!!.....RSRSRS

Anamar 
 

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"WHAT ABOUT US?..."




Nunca fui fã de Michael Jackson.
Nunca delirei com o seu estilo de música, menos ainda com a excentricidade das suas exibições e posturas na vida...nunca entendi porque o designavam de "rei da pop".
Não discuto por hábito aquilo que não domino, e não gosto de "meter a colherada" em "fenómenos" sociais massificantes, com os quais não me identifico.

Se oiço e gosto...gosto, vibro, retenho, nunca mais apago...e o inverso é verdadeiro.

Há temas, géneros musicais, intérpretes que mexem comigo por isto ou por aquilo, e sobre isso, acho que nada há de mais subjectivo...

Tenho no entanto para mim, que, para lá do que expus, a maior "colisão" entre mim e o "rei", advém da sua provocadora, inconsequente, louca, intolerante...digamos que quase criminosa xenofobia, que lhe permitiu alucinações deístas...como se o seu poder fosse inalcançável ou insubstituível, quase desafiador de uma entidade suprema, que eu creio, acreditar ser ele próprio...
Jackson "pairava" num "ghetto" entre os impuros, refém e apavorado; profundamente só e infeliz, tendo vivido toda a sua vida, como escravo da sua própria loucura.

Felizmente que há excepções que confirmam as regras; sem precisar de acrescentar muito mais, e sem precisar de invocar que o tema que este vídeo aborda está gasto de repetido, sendo um alertar de consciências, sendo um grito no desespero, sendo o aproveitamento pela positiva da figura mediática que Michael Jackson representou, deixo-o aqui para vocês, com o meu humilde reconhecimento a quem quer que ele tivesse sabido ser enquanto vivo...

Anamar

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"QUEREM MAIOR CLARIVIDÊNCIA??..."



"Encontrei" um sósia mental...
Eu explico: um sósia mental meu, é alguém que pensa, sente, interpreta as realidades, os sofrimentos, a vida, igualzinho, igualzinho a mim....
E digo "encontrei", porque me veio parar às mãos, um texto seu, que me fez exactamente...parar!
Até a linha um pouco sarcástica e clarividente, de analisar e de exprimir o que nos povoa a alma e nos lança inquietudes no espírito, é muito "colada" à forma como eu  sinto, exponho, entendo.
O sabor agridoce da sua interpretação da vida, até me deixou um pouco mais tranquila...e agora, a dúvida existencial que se me coloca, é se estou mais para ET, como referia no último post, ou se mais para louca, desinserida, "outsider", como um girassol que tivesse nascido vermelho-papoila, num campo "normal" de girassóis amarelos-sol!!...

Como o "meu sósia mental" tinha um nome que não me dizia nada (seguramente ignorância atroz da minha parte), fui indagar na NET e sei agora, tratar-se de um psicanalista, teólogo, filósofo, escritor (tanto em prosa como em poesia), brasileiro, do Estado de Minas Gerais, com 76 anos.
É ele Rubem Alves...um psicanalista heterodoxo como se auto denomina, um "mergulhador" na alma humana, diria eu...

Girassóis amarelos..."normais"...
"Normal"...mas o que verdadeiramente é o normal?

"Toda a pessoa com saúde mental aparente, é um psicopata latente"...

Esta frase de clarividência e desassombro totais, é um desafio à tomada de consciência de uma convicção absoluta generalizada e acomodada, de que o ser humano para se enquadrar, deve posicionar-se nos figurinos e nos arquétipos pré-determinados.

Rubem Alves é a "pedrada no charco", é a "contra-corrente", é a coragem de assumir o diferente, é a força e a frontalidade de dizer "não"...
Tanto haveria para ser dito...Eu fiquei fascinada com a polivalência de uma mente sã e um espírito genuíno!

Não resisti a passar-vos dois textos seus, que dispensam, creio, demais comentários...

"SAÚDE MENTAL"
Fui convidado a fazer uma prelecção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski.
E logo me assustei.
Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? 
Saúde mental, essa condição em que as ideias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, bastar fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.


Pensar é uma coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. 
Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas. 
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. 

Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interacção de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio".
O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades " espirituais"-símbolos que formam os programas e são gravados nas disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurónios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória.
Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.
Nós também.
Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou.
Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fendas. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele.
Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas. 

Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo,é sensível às coisas que o seu software produz.


Pois não é isso que acontece connosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o gira-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. 
Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!
Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.

Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias: Opte por um software modesto.
Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o rock pode ser tomado à vontade. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento.
Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram...

Autor: Rubem Alves



"A GENTE É VELHO"
A gente é velho quando, para descer uma escada, segura firme no corrimão. E os olhos olham para baixo para medir o tamanho dos degraus e a posição dos pés.

Quando eu era moço, não era assim.
Não segurava no corrimão e não media degraus e pés. Descia os dois lances de escada do sobrado do meu avô com a mesma fúria com que um pianista toca o prelúdio 16, de Chopin. Ele, pianista, não pensa. Se pensasse, não conseguiria tocar, porque o pensamento não consegue seguir a velocidade das notas. Toca porque seus dedos sabem sem que a cabeça saiba. O pianista se abandona ao saber do corpo.

Assim descia eu as escadas do sobradão do meu avô. Mas no dia em que o pé começou a tropeçar, a cabeça compreendeu que eles, os pés, já não sabiam como sabiam antes. Agora é preciso o corrimão. Depois virão as bengalas, corrimãos portáteis que se leva por onde se vai.

A gente é velho quando, no restaurante, é preciso cuidado ao se levantar. Moço, as pernas sabem medir as distâncias que há debaixo da mesa. Mas, agora, é preciso olhar para medir a distância que há entre o pé da mesa e o bico do sapato. Há sempre o perigo de que o bico do sapato esbarre no pé da mesa e o pé da mesa lhe dê uma rasteira, você se estatelando no chão. 
Quando se é velho, até uma pequena queda pode se transformar em catástrofe. Há sempre o perigo de uma fractura.

A gente é velho quando é objecto de humilhações bondosas. Como aquela que aconteceu comigo 25 anos atrás. O metro estava cheio. Jovem, segurei-me num balaustre. Notei então que uma jovem de uns 25 anos me olhava com um olhar amoroso. Olhei para ela. E houve um momento de suspensão romântica. Minha cabeça e meu coração se alegraram. Até o momento em que ela se levantou com um sorriso e me ofereceu o seu lugar. Foi um gesto de bondade. Com o seu gesto ela me dizia: "O senhor me trás memórias ternas do meu avô..."

A gente é velho quando entra no polibain do chuveiro com passos medrosos e cuidadosos. Há sempre o perigo de um escorregão. Por via das dúvidas, mandei instalar no polibain da minha casa, uma daquelas barras metálicas horizontais que funcionam como corrimão.

A gente é velho quando começa a ter medo dos tapetes. Os tapetes são perigosos de duas maneiras. Há os pequenos tapetes de fundo liso, que escorregam. E há os grandes tapetes que ficam com as pontas levantadas e que fazem ondas. O pé dos velhos movimenta-se no arrasto e tropeça na ponta levantada do tapete ou na armadilha da onda.

A gente é velho quando começa a ter medo dos fotógrafos. Fugir das fotos de perfil porque nelas as barbelas de nelore aparecem. Nelore é um boi branco. Os pastos estão cheios deles, vivos, e as mesas também, sob o disfarce de bifes. E eles têm uma papada balançante, as barbelas, que vai da ponta do queixo (boi tem queixo?) até ao peito. 
Velhice é quando as barbelas de nelore começam a aparecer. Aí vem a humilhação conclusiva. Prontas as fotos, eles nos mostram e dizem: "Como você está bem!"

A gente é velho quando, tendo de subir ao palco para dar uma palestra, tem sempre uma jovem simpática que nos oferece a mão, temendo que a gente se desequilibre e caia. A gente aceita o oferecimento com um sorriso. Nunca se sabe...

A gente é velho quando perde a vergonha e se desnuda, fazendo as confissões que acabei de fazer...
Autor: Rubem Alves


Anamar


terça-feira, 13 de outubro de 2009

"ANDANDO"


O dia anoiteceu com um céu pegando fogo.

Desta minha incaracterística janela, sobre o não menos incaracterístico casario duma descaracterizada terra que só me faz sentir em Alcatraz (versão portuguesa), em que até a imaginação - que é do pouco que temos que não paga imposto e de que não temos que dar "pevas" de satisfação a ninguém - foi ficando pálida como quem já padece da gripe A.
E olhando o "fogo" que se abatia para lá do horizonte, entrei na crise existencial de conceptualizar o que serão fins de tarde como este, sem história,assunto ou preocupação.

Fui ontem ver um filme de um realizador japonês, que me fez reflectir sobre algumas realidades, para as quais, por aí andamos adormecidos.
A primeira questão que me fez arrebitar a orelha e me pôs o neurónio de serviço ao serviço mesmo, foi o nome aposto à película.
Chama-se o filme, "Andando"...

Já me tenho questionado muitas e muitas vezes e até comentado com terceiros, que o português, por hábito, determinismo ou incapacidade interiorizada, quando confrontado sobre como está ou se sente, sempre responde: "vai-se andando..."
Aquele "vai-se andando" é uma inevitabilidade assumida, um indiferentismo acomodado...uma desistência de vida, uma espécie de pena ou karma imutável, predestinado, tanto quanto o fado, Fátima ou saudade..."cargas" que só nós conhecemos bem e nos torna esta gente misógina, misantropa, triste e desgraçada...

Pois aquele filme narra exactamente o "ir andando" de uma família, disfuncional segundo a crítica, que em vinte e quatro horas conseguiu expor amores, sentimentos, segredos, que unem e desunem aquelas personagens.
Foi também por aí (que através do tocante, inteligente e nostálgico que Kore-Eda Hirokazu nos vai desvendando, na aparente normalidade e trivialidade do convívio de um único fim de semana), que me questionei como provavelmente todas as famílias são de facto disfuncionais, sem que sequer o percebam, o analisem e o confrontem...

E o que será então uma família "funcional"...se existir??
É aquela que vive e cumpre à regra o "socialmente" previsto que uma família cumpra?
É aquela que parametriza comportamentos, afectos, trilhos, valores?
E se sim, à luz de que valores esses parâmetros são aferidos e por quem são aferidos??

Serão valores éticos, morais, sociais, religiosos?!
As células familiares, ramos da célula-mãe (a "matrix" dessa família), devem sujeitar-se a ela, independentemente de faixas etárias, culturais, personalísticas, com convicções alicerçadas...ou terão direito às suas próprias escolhas, determinações, livre-arbítrio, opções, direito ao erro e ao acerto e não simplesmente serem absorvidas e diluídas no próprio clã??!!...

Bom filme, sem dúvida, pelo qual ainda perpassa a característica mágica e um pouco etérea, de bandas sonoras que são isso mesmo...etéreas, sempre tendo a capacidade para nos transportar a um mundo menos materializado e com valores díspares dos da velha e enferma civilização ocidental...

Anamar

sábado, 10 de outubro de 2009

"OS RAPAZES DE LIVERPOOL - preito a John Lennon"


Já muito se falou sobre os Beatles...já se disse quase tudo...arriscar-me-ia a dizer "tudo mesmo". Já não há lacuna deixada lá atrás, sobre a sua mítica vida e percurso artístico.

Hoje, 9 de Outubro, Lennon, a ser vivo, completaria sessenta e nove anos de idade. Só que teve estupidamente a vida ceifada aos cinquenta .

Os Beatles são indissociáveis da minha geração, são indissociáveis das festas, dos bailes de garagem, das confraternizações universitárias, da ousadia rebelde da afirmação duma juventude cuja "linguagem" ficou indelevelmente "colada" à deles...

Foram a "cara" de multidões que lutavam corajosamente contra as discriminações, as injustiças, a violência, a guerra...
Foram pedrada no charco de uma sociedade estagnada, hipócrita, acomodada.
Foram os cabelos compridos, aberrantes para falsos conservadores;  foram calças à boca de sino e flores nos cabelos, contra um mundo desumanizado, esquecido dos verdadeiros valores sociais de igualdade, justiça, equilíbrio, paz e amor.

Foram apelo à unificação de uma "aldeia global", em que muros, ódios, fronteiras de amor fossem derrubados e o Homem finalmente soubesse falar linguagens comuns, soubesse tratar como igual o seu semelhante, tivesse coragem para denunciar e enfrentar as arbitrariedades e  atrocidades cometidas em nome de interesses e "lobbies" particulares...

Foram indubitavelmente e são-no até hoje, um ícone intocado, um símbolo muito para lá do seu legado artístico. Foram o corolário da década de sessenta, anos de ouro, de conturbações saudáveis, por tudo porem em causa,  por tudo ser questionado, valorizado e repensado...

Foi o tempo de uma pura ingenuidade, de um crer frenético e auspicioso, de uma fé no Homem, apesar de tanto sofrimento que se experimentava...do sonho sonhado num Mundo livre e igualitário...foi o tempo em que John Lennon, de novo ele, nos dizia..."Imagine..."

Anamar

sábado, 11 de abril de 2009

"INEVITAVELMENTE...PÁSCOA"



Não era bem este o tema que conceptualizara abordar esta madrugada.
Logo o farei noutro dia...

Acontece que há pouco, numa localidade aqui bem perto de mim, me deparei inesperadamente com algo que me transportou obrigatoriamente ao tema "Páscoa" uma vez mais, e à minha meninice: a procissão do "Enterro do Senhor".
Foi algo inesperado, porque creio, ser inusitado e quase inexistente já, este tipo de eventos na grande cidade...ou pelo menos, tão incaracterística ela se tornou, que nem damos por eles.

Este ano a Páscoa veio com a Primavera já começada há dias...e embora tenhamos acreditado que ela estava definitivamente instalada, bem nos enganámos, ao sermos confrontados de novo, com temperaturas quase gélidas, com neve em profusão nas terras altas, e com parte do país em alerta amarelo, devido aos fortes nevões, uma vez mais...

Que a Primavera há muito se anunciava, era bem verdade. O tempo fortemente ensolarado, as temperaturas mais do que amenas, a quase ausência de chuvas, os verdes a despontar nos campos e o brotar em pujança dos coloridos das flores que já espreitam por todo o lado desbragadamente, lembram que a renovação está aí a fazer-se, felizmente à revelia das nossas vontades e determinações.
Os brotos ainda fechados, brevemente darão cascatas coloridas, os cheiros dos campos e jardins começam a surpreender-nos e a fazerem-nos sorrir uma vez mais.

Os frios deverão ir embora, a luz de um sol claro e radioso voltará a dar brilho, calor e tonalidades revigorantes a tudo; os corpos "acordam" da letargia imobilista do Inverno, as espécies iniciam os rituais de fecundidade (os trinados, o pipilar, o arrulhar dos pássaros confundem-se com sons de cumplicidade dos humanos), porque... afinal tudo recomeça, a hibernação completou-se, os "degelos" da alma iniciam-se e os fluxos de esperança, de fé, de energia, aquecem-nos o coração...

Sim, porque ainda que a "invernia" tenha sido escura e tenebrosa, sempre acreditamos no ciclo da vida, em qualquer coisa nova, em qualquer milagre que se irá operar, em qualquer renascimento ou ressurreição...só porque a Primavera voltou uma vez mais...
Isso, se somos jovens, menos jovens, ou bem "maduros"...
Sempre nos deixamos contagiar por essa bendita "doença"...

"Páscoa", do hebraico "Pessach" - passagem, é a mais importante festa da cristandade.
A Páscoa entre os cristãos, celebra a ressurreição de Cristo, a Sua vitória sobre a morte depois da cricificação (cerca de 33anos d.C).
Páscoa deriva então do nome hebraico da festa judaica comum às celebrações pagãs (passagem do Inverno para a Primavera) e judaicas (comemoração da libertação e fuga do povo judeu escravizado, do Egipto para a Terra Prometida).
Os termos "Easter" (Ishtar) e "Ostern" (em inglês e alemão respectivamente), parecem não ter qualquer relação etimológica com o "Pessach". Relacionam-se estes termos com Eostremonat (nome de um antigo mês germânico), ou com Eostre, deusa germânica relacionada com a Primavera e homenageada no referido mês (segundo um historiador inglês do sé. VII).

Alguns historiadores sugerem que muitos dos actuais símbolos ligados à Páscoa (especialmente os ovos de chocolate, ovos coloridos ou os coelhinhos da Páscoa), são exactamente resquícios culturais da festividade da Primavera, em honra de Eostre, assimilados depois pelas celebrações cristãs, após a cristianização dos pagãos germânicos.
Contudo, sabe-se que já os persas, romanos, judeus e arménios, tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos, por esta época.
No equinócio da primavera, ocorria o ritual de se pintarem e decorarem ovos (símbolos da fertilidade) e esconderem-se e enterrarem-se nos campos.
Este ritual foi adaptado e assimilado pela Igreja Católica, no princípio do primeiro milénio depois de Cristo...e assim surgiram os "ovos de Páscoa".

O hábito de dar ovos de verdade, vem da tradição pagã e o de trocar ovos de chocolate, surgiu em França. Antes disso e muito remotamente, usavam-se ovos de galinha para celebrar a data.

Na Ucrânia, séculos antes da era cristã, já se trocavam também ovos pintados, com motivos alusivos à natureza, em celebração da chegada da Primavera.
Os chineses e os povos mediterrânicos também os ofereciam, como comemoração da estação do ano. Eram meros presentes, simbolizavam o início da vida e não se destinavam a ser consumidos.
A tradição perpetuou-se durante a Idade Média, entre os povos pagãos da Europa.
Celebravam Ostera, deusa da Primavera, simbolizada por uma mulher que segurava um ovo na mão, enquanto contemplava um coelho (símbolo da fertilidade), que saltitava alegremente à sua volta.

Os cristãos apropriaram-se também da imagem do ovo, para festejar a Páscoa. Pintavam-se os ovos (de galinha, gansa ou codorna), com motivos religiosos, tais como Jesus ou Maria.

Na Páscoa, na Inglaterra (séc. X), os ovos tornaram-se ainda mais sofisticados. O rei Eduardo I presenteava a realeza e os seus súbditos, com ovos banhados a ouro ou decorados com pedras preciosas.

Cerca de oitocentos anos depois, já no séc. XVIII, confeiteiros franceses tiveram a ideia, de pela primeira vez, fazerem ovos em chocolate (iguaria conhecida apenas dois séculos antes na Europa, trazida da recém-descoberta América, onde era considerada sagrada, pelos Maias e Astecas).

Por sua vez, a imagem do coelho surgiu associada à "criação", por ser um animal de fecundidade notória, como se sabe.

Na Rússia dos Czares, a Páscoa era também uma data muito especial; todos se beijavam e festejavam a ressurreição de Cristo, a nova vida que surgia, o renascer da esperança.
O povo trocava entre si ovos pintados, como saudação.
A família real e os nobres da corte, davam-se ovos de ouro e prata, decorados com esmalte e pedras preciosas.

Em 1884, o Czar Alexandre III encomendou ao joalheiro oficial da Corte Imperial russa, Fabergé, um ovo, como presente para a sua esposa, a Imperatriz Maria Feodorovna, contendo uma surpresa, ao critério do joalheiro. Esse primeiro ovo representava uma galinha pondo uma safira. O sucesso na Corte foi estrondoso e assim se iniciou a tradição dos ovos de Fabergé.
A cada ano, o Czar encomendava um novo ovo na Páscoa, para oferecer à Czarina e Fabergé concebia-o com total e incomparável criatividade e arte.

Com a morte do Imperador, seu filho, Nicolau II, prosseguiu a tradição, encomendando por ano dois ovos, um para sua mãe e outro para a sua esposa, Alexandra.
O ovo anual constituía sempre uma enorme surpresa para a família imperial e para toda a corte.
Alguns celebravam temas íntimos da família, outros honravam eventos importantes do Estado; todos eram pequenos, delicados, graciosos, com minúcia...preciosos!
O ovo da coroação (1897), com diamantes, rubis, platina, ouro e cristal de rocha, tinha dentro a réplica da carruagem que transportara a Czarina Alexandra, pelas ruas de Moscovo, aquando das festividades da coroação de Nicolau II.

Por serem exclusivos e caprichosamente elaborados, estes ovos tornaram-se peças valiosíssimas. Com cerca de 13 cm, cada ovo levava o ano inteiro a ser confeccionado, desde o desenho original, o corte, lapidação das pedras e todos os detalhes. Tudo feito em rigoroso e absoluto sigilo.
Produziram-se ao todo, cinquenta e seis obras-primas, entre 1885 e 1917.
Com a Revolução Russa em 1917, o tesouro foi confiscado pelos bolcheviques e disperso.
Hoje não se conhece o paradeiro de todos os ovos de Fabergé, feitos para a família imperial. Até 1998, haviam sido localizados 44 destes exemplares.
Em 2002, notícias internacionais davam conta que um ovo imperial fora arrematado num leilão da Christie's por 9,6 milhões de dólares...

E pronto, já me alonguei que chegasse.

Esperando que troquem entre vós muitos ovos desta Páscoa, florida por uma Primavera que em perfeita comunhão, resolveu inundar de cheiros, cores e alegria estes nossos dias, resta-me desejar-vos uma vez mais...

BOA PÁSCOA
OSTERN (alemão)
BAZKO (basco)
PASKHA (búlgaro)
PASQUA (catalão)
PASCUA (espanhol)
PÂQUES (francês)
EASTER (inglês)
PASKA (islandês)
CÁISG (irlandês)
PASQUA (italiano)
PASKHA (russo)......................etc, etc...

OVOS DE FABERGÉ:

































Anamar

sábado, 4 de abril de 2009

"CÂNTICO NEGRO"


José Régio 1901 - 1969

Nesta madrugada de silêncios, de solidão, de ausências, em que a vida parece que ficou toda lá fora, para lá desta redoma, refúgio, útero, que são as quatro paredes "protectoras" do meu quarto, a minha única e última ligação ao Mundo, parece ser este computador, objecto virtual que tenta criar para mim, uma realidade ficcionada, falsa, mentirosa, inexistente, obviamente virtual também.

Porque, virtual é tudo o que eu imagino que a vida seria e não é...
Porque virtuais eram as pessoas que inventei na minha cabeça, e não são...
Virtual era a paz que imaginei alcançar, a sabedoria que julguei adquirir, as realizações que me pareceram atingíveis, os sonhos que acreditei poderem não ser virtuais...e esses sim, eram na realidade virtuais mesmo...

Não sei se sou utópica, se não aprendi a viver, se estou doente na alma e no corpo, se estou exausta e me sinto sem forças para chegar à praia ali tão perto...não sei!!
"Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Eu tenho a minha Loucura ! A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou"...

Como diz José Régio neste Cântico Negro que aqui vos deixo..."Não sei por onde vou, não sei para onde vou...
- Sei que não vou por aí!!"

Um amigo (obrigada Filipe), fez o favor de me enviar este maravilhoso poema, grito no escuro, de alguém que tomo como um "outsider" assumido, alguém marginalizado de parâmetros instituídos, alguém que refuta o estereotipado...José Régio.

Como declamadora do poema escolhi Bethânia, para mim, incontestada referência como mulher, como "diseuse", como uma fortaleza, um "animal" de palco.
Bethânia é, da cabeça aos pés, um "amontoado" de nervos e músculos, que à flor da pele transpiram autenticidade, beleza, sensibilidade, garra, força e alma, capazes de pegarem o Mundo pelos cornos.
É neste misto força-fragilidade, suavidade num vozeirão que nos arrepia, que aquela cabeça provocadoramente erguida se impõe, e deixa jorrar o vulcão de sentimentos, com que vive o sentimento de cada frase que declama ou canta...

E por tudo isto, estando a noite lá fora bem negra, estando a vida aqui dentro mais negra ainda...fica o "Cântico Negro" de José Régio...para se beber até à exaustão...

Que ao menos se salve Maria Bethânia!!...



Anamar

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

" PRINCÍPIO OU FIM ?... A "máquina do tempo"

Há dias, até os mais afastados dos conhecimentos e informação científica, foram confrontados com uma notícia que espantaria o Mundo: a tentativa levada a cabo pelo CERN (conforme o artigo que transcrevo a seguir), da decifração da origem do Universo, na recriação dos primeiros segundos após a grande explosão que lhe daria origem - o Big Bang.

Tal, foi realizado através da construção, na fronteira entre a França e a Suiça (em pleno coração europeu), do maior acelerador de partículas jamais criado pelo Homem.

Este ambicioso quanto controverso projecto, levantou na Comunidade Científica, questões variadíssimas (até pelo não total conhecimento da abrangência das consequências previsíveis e possíveis do seu funcionamento), divergindo as opiniões dos cientistas quanto à perigosidade do mesmo, no equilíbrio interplanetário e na própria segurança Terrestre.

Não podendo ficar indiferente a este extraordinário, ousado e incomensurável passo no domínio da Física Nuclear, Química, Astronomia e da Ciência em geral, até pela minha formação na área...

Não podendo ignorar as questões e aspectos levantados sobre a "VIDA", o "ESPAÇO" e o "TEMPO" do ser humano...

Deixo aqui este artigo colhido na NET, que me pareceu simples, acessível e ilustrativo da "essência" do LHC (devidamente acompanhado de fotos elucidativas), e ainda três pequenos vídeos, em que, sequencialmente, se fala do Acelerador em si, se colocam interrogações sobre a prudência ou não da sua construção e utilização face a todo o Universo, e finalmente a desmistificação e inerente tranquilização, por parte dos cientistas de todo o Mundo, envolvidos no processo.

Espero ter contribuído para, pelo menos, satisfazer alguma curiosidade dos mais distraídos...


Acelerador CERN Fisica LHC Materia Nuclear Particulas



Qual a origem da matéria? Do que é feito o universo? Para muitos cientistas, tentar decifrar inúmeras questões como estas pode ter uma resposta inusitada: "viajar no tempo"!
Mas vamos explicar melhor. Na verdade, com um projeto de tamanho estratosférico, digno das pesquisas envolvidas, o CERN (Organização Européia de Pesquisa Nuclear, do francês Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), construiu o LHC (Large Hadron Collider) ou o mais poderoso acelerador de partículas do mundo.
Ou quem sabe, a máquina do tempo! Claro, não como vemos em filmes de ficção.
A idéia é tentar recriar o que aconteceu no universo, uma fração de segundo após o Big Bang.
Para tanto, chama-se este projeto de "A coisa mais complicada já construída pelo ser humano". Afinal, mesmo tendo iniciado em 1993 algo parecido e escavado mais de 14 quilômetros de túneis no Texas, os americanos desistiram de encarar tamanha tarefa sozinhos.

Mas afinal, o que é esta máquina do tempo?
De forma simplista, trata-se de uma impressionante estrutura embaixo da fronteira franco-suíça, perto de Genebra, e que é hoje o maior e mais complexo instrumento científico do mundo.
São 27 quilômetros de túneis que visam colidir dois feixes de prótons a 99,9% da velocidade da luz. Esperam então os cientistas que se recriem situações que não existem desde o Big Bang, conseguindo assim um melhor entendimento do Universo.
As forças liberadas serão capazes não só de distorcer o espaço (assim como a gravidade distorce o espaço ao redor da terra), mas também o tempo!
Por isso, a comparação com uma máquina do tempo.


Como cita a pesquisa publicada por Irina Arefieva e Igor Volovich:
"...na relatividade geral, uma curva no espaço-tempo irá correr do passado para o futuro. Mas, em alguns espaço-tempos as curvas podem-se encontrar gerando uma curva mais fechada, o que é interpretado como uma máquina do tempo - o que sugere a possibilidade de viagens no tempo".

Dois prótons viajarão em direções opostas e colidirão em quatro pontos ao longo do caminho - replicando as condições do Big Bang "do plasma cósmico", um misterioso estado, quase líquido, que ocorreu antes dos quarks esfriarem suficientemente para permitir que átomos se formassem.
O acelerador de partículas irá forçar os quarks a separarem-se e recriarem o "plasma cósmico" original reconstruindo as condições do Big Bang.
Será possível?!





No gigantesco túnel, estão localizados 4 detectores do tamanho de edifícios, alojados em grandes cavernas em pontos diferentes.
São eles: Atlas, CMS (Compact Muon Solenoid), LHCb e Alice (A Large Ion Collider Experiment). Apenas um supercondutor solenóide, contém mais ferro do que a Torre Eiffel.

Determinação, empenho e dedicação é o que não falta, além, claro, de muito dinheiro. Veja alguns dados que dão a dimensão do projecto:

• 20 anos de trabalho ainda em andamento;
• Equipa formada por mais de 7.000 físicos de mais de 80 países;
• 27 km de circunferência, 175 metros abaixo do solo;
• Cada túnel é grande o suficiente para passar um comboio através dele;
• As temperaturas geradas são mais de 1.000.000 de vezes mais quentes que o núcleo do sol;
• Magnetos supercondutores são resfriados a uma temperatura mais fria que a do espaço profundo.

A dimensão do LHC é fantástica, assim como deverá ser a maneira de lidar com seus resultados.
Quando estiver funcionando, o CERN registrará um por cento de todas as informações geradas no planeta: 15 petabytes ou 15 milhões de gigabytes de dados por ano.
Como processar tudo isso?!

Aqui começará uma nova etapa na Internet: a Grid! A HP foi a primeira empresa comercial a levar esta tecnologia ao LHC Computing Grid (LCG) do CERN - uma Grid (rede) de proporções épicas. Os HP Labs e o programa HP University Relations Programme estão colaborando com o CERN Openlab para o desenvolvimento de softwares e hardwares para a Grid.
Ela então não só partilhará informação, mas também terá capacidade de computação e armazenamento, significando que cientistas de qualquer lugar do mundo poderão ligar-se à Grid através dos seus computadores pessoais e ter os cálculos feitos por máquinas em todo o planeta.

Entre as inúmeras surpresas que os cientistas esperam testemunhar com o acelerador de partículas estão é claro, um Big-Bang de média dimensão ou um pequeno buraco negro.
Eles garantem porém, que mesmo isso ocorrendo, serão pequenos demais e terão pouca duração para gerar uma forte força gravitacional, ou em outras palavras: Genebra não vai ser sugada para outra dimensão.

Dia 06 de Abril o CERN abrirá as portas e receberá visitantes pela última vez antes de entrar em operação.
Se você estiver na região nesta data, está aí uma bela sugestão de visita!








Anamar