Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

sexta-feira, 19 de setembro de 2025
" OUTONECENDO "
segunda-feira, 21 de abril de 2025
" EU SOU APENAS UM PASSO ... "
Jorge Mario Bergoglio ( Buenos Aires ) - 1936 - 2025
O homem que quis ser médico de um hospital de campanha, foi o primeiro Papa oriundo da América Latina e consequentemente do Hemisfério Sul, jesuíta, que adoptou o nome Francisco, aquando da sua escolha para figura máxima na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, e cujo pontificado ocorreu entre 2013 e 2025.
Não sou católica... serei cristã já que em menina fui baptizada nos preceitos, já não sou crente ... ( disso se encarregou a Vida ).
quarta-feira, 10 de janeiro de 2024
" SEMPRE SEREMOS AS NOSSAS MEMÓRIAS ... "
O tempo fechou totalmente. O meu horizonte, aqui do alto da minha janela, circunscreveu-se apenas aos prédios próximos. São cinco horas duma tarde gélida e chuvosa. Estamos sob a influência duma frente glacial polar que coloca Portugal sob condições adversas, com temperaturas severas bem abaixo dos valores normais para esta época, embora estejamos como se sabe, em pleno inverno.
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
" NOVOS TEMPOS ... NOVOS FORMATOS !..."
Claro que as condições económicas são também um fator que pesa. Alguns casais vivem juntos para enfrentar em conjunto as despesas do dia a dia e os custos fixos da vida em comum”, afirma.
Recorde-se, por exemplo, o caso do cineasta Tim Burton e da atriz britânica Helena Bonham Carter, que viviam em casas separadas, ligadas por um túnel. Tiveram uma relação de 13 anos e dois filhos. Antes de se separarem, Woddy Allen e Mia Farrow também viviam desta forma. Contudo, assegura Catarina Mexia, esta opção é “cada vez mais transversal” a todas as classes.
Nem se pode considerar que são melhores ou piores do que as consideradas tradicionais. “São diferentes”.
Há muito que perfilho esta convicção, sendo que reconheço a sua maior vulgarização e adesão, nos tempos actuais.
Divorciei-me há largos anos, depois de um casamento longuíssimo. Mais de trinta anos. E recordo que a primeira coisa que me jurei, foi que, pudesse eu ter o futuro sentimental que tivesse, jamais viveria em coabitação com quem quer que fosse, por mais apaixonada que me encontrasse.
E eu era, de algum modo, ainda jovem, nessa altura. E o meu divórcio nem sequer foi traumatizante ou desgastante, pelo menos para mim.
Não teve acontecimentos rocambolescos, não se verificaram agressões de nenhuma ordem e tudo se desenvolveu com cordialidade e civismo.
Contudo, já então, eu conhecia claramente o desgaste que a vida em comum pode causar numa relação, quiçá nos sentimentos dos envolvidos.
A saturação das rotinas é "mortal" em qualquer circunstância, e dificilmente se sobrevive a elas.
Acordar, com ou sem vontade, com o mesmo rosto ao lado, aguentar em permanência as manias, os hábitos, as boas e más disposições com que diariamente a vida nos brinda ... é dose !
Não há paixão que não estiole, não há amor que se aguente.
Tenho para mim, que uma relação com algum individualismo assumido, com a distância necessária e suficiente para cada um usufruir do seu espaço, da sua intimidade, do direito aos seus tempos ... até mesmo os de solidão ( que são absolutamente indispensáveis ao ser humano ), não significa menor afecto, ou interesse, mas sim até uma preocupação, de preservação da mesma, ao contrário do que possa parecer.
E essa questão torna-se muito mais premente, quando os anos avançam e não há mais espaço para relações hollywoodescas ou com o romantismo e a ingenuidade de tempos idos.
Por vezes as pessoas estão juntas simplesmente por um entendimento comum de interesses de ambos os lados, sejam eles financeiros, de mero companheirismo, amizade, partilha de algumas coisas, ou entreajuda...
Muitas vezes, é somente esta, a base do relacionamento e nada mais .
A ligação é portanto do interesse comum.
Ainda assim, considero que este modelo, é o mais vantajoso e respeitador das vontades individuais.
Talvez esteja a ser pragmática e fria demais. Mas se aquilo que aproxima as pessoas tem como móbil o alcance de um certo e doseado equilíbrio, a assumpção de uma vida mais facilitada para ambos ... tudo bem. Porquê, não ?!
Estas pessoas têm uma ligação, não sendo contudo, um casal, no conceito tradicional e convencional do mesmo. Não são propriamente valores sentimentais que mantêm as pessoas na vida uma da outra. São interesses e vontades objectivas que ambos aceitam como de mais valia para cada um de per si.
Digamos que a este formato subjaz alguma "negociação" de parte a parte, duma forma pacífica.
De alguma forma, estas duas visões e abordagens diferentes das coisas, são de certo modo cabíveis no tema em análise, embora se trate, claramente, de vertentes distintas.
São contudo realidades quotidianas com que convivemos no nosso dia a dia. Sinal dos tempos, sinal da evolução das mentalidades, sinal de inteligência do homem / mulher face à premência das vicissitudes da vida e forma de as contornar / ultrapassar !
Anamar
sexta-feira, 24 de maio de 2019
" PÁSSAROS "
Aqueles tocadores de sonhos começaram cedo pela manhã. E não arredaram pé, por todo o dia, da calçada junto à porta do prédio, zona de passagem de quem se faz às compras diárias, aos autocarros e aos comboios.
Por certo, esperançavam-se ser ali, lugar de generosidades dos passantes.
Duas bicicletas, um atrelado por cada uma, mais umas tralhas logísticas, mais um cão ... mais a magreza inerente à escassez adivinhada, mais a sujidade dos trajes e das "rastas" nos cabelos imundos ...
Ah ... e um pífaro. Um deles tocava uma espécie de música, sempre a mesma, extraída daquele instrumento.
Esse, em pé, bamboleava o corpo como quem experimenta uma dança nos acordes musicais. O outro, sentado no chão, num pano estendido sobre as pedras, fazia uma qualquer bricolage que expunha na calçada, sonhando talvez que alguém pudesse comprar aquelas peças, cuja serventia não descortinei.
O sol esteve agressivo por todo o dia. Forte de mais, apesar do céu se mostrar nublado a espaços.
E eles ao sol, alheados do que os rodeava. Silenciosos. No seu mundo, apenas.
O cão dormia, o pífaro tocava aquela lenga-lenga, o rapaz da bricolage terminava acabamentos, o rapaz do pífaro ora num pé ora noutro, parecia não estar por ali .
Não pediam esmola, não pediam comida, não falavam com ninguém.
Dois perfis esfíngicos, alheados do contexto à sua volta, numa postura total e absolutamente zen ... eu diria ...
Conhecemos gente assim. Vagueiam nas cidades, pedalam nas estradas, acampam nas falésias frente ao mar.
"Hippies", marginais, "outsiders" ... gente estranha ... vá-se lá saber ... era o que se adivinhava na postura selectiva e xenófoba de quem os olhava e rapidamente desviava os olhos. Eram incómodos, sem o serem ...
O ser humano, sem querer obviamente generalizar, reage mal ao diferente, ao que desafia as estruturas, ao que questiona, ao que mexe com o instituído, ao que quebra regras ...
E a presença daqueles jovens, assumidos na forma comportamental escolhida, confrontava quem passava, se mais não fosse, porque acenava com a coragem de se mostrarem livres. Independentemente de serem ou não aceites numa sociedade toda ela articulada, desenhada em figurinos musculados e "correcta", enjeitam literalmente o estabelecido, ainda que este os hostilize.
Do meu sétimo andar, onde chegavam os acordes daquela melopeia repetida, espreitei-os vezes sem conta.
Certamente serei demagógica ... mas aquelas figuras descomprometidas causavam-me alguma inveja. De certa forma, despertavam-me simpatia e admiração ... a nós, que acomodados ao conforto das seguranças na vida, nas certezas dos trilhos desejados e escolhidos, optamos pelo imobilismo de ir ficando por aqui ... ainda que os sonhos fiquem quase sempre da "porta" para fora !
Transportam mundo nas costas, carregam estrada nas pernas ... e asas ...
Pousam nas grades da nossa "gaiola" e sorriem.
Não sei se são tocadores de sonhos, não sei se são adoradores de sóis e de luas, amigos do vento e da chuva ... filósofos da vida ...
Não sei se serão só isto, se serão exactamente isto ... ou muito mais que isto ...
Ou apenas, pássaros !...
Anamar
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
" OLHA, SABES QUE DIA É HOJE ?... "
Este mês de Dezembro era um mês movimentadíssimo na cabeça da minha mãe.
Chegava o dia um e assim que a visitava, logo pela manhã me dizia sabes que dia é hoje ? E eu, que já sabia o que vinha lá, dizia, sei mãe, é o dia do Ti Tiago Nobre ... e ela, feliz ... Pois era, à meia noite o Ti Tiago Nobre, pela calada do frio do Alentejo, com o seu carapuço de almocreve na cabeça, pequenino que ele era, abria o postigo da porta na casinha baixa em que vivia, empoleirava-se na cadeira de buinho, e com a espingarda caçadeira, disparava as salvas da comemoração histórica a viver-se nesse dia, a Restauração da Independência de Portugal do jugo dos espanhóis, como ele dizia. Não, sem simultaneamente insultar os "nuestros hermanos" com uns quantos impropérios a propósito.
Nunca, ano após ano, o Ti Tiago Nobre, um velho sem idade ou condição, se esquecia do evento.
Quantos seriam os tiros que cortavam o silêncio da noite ? Verifico que não sei. Esqueci de perguntar à minha mãe. Ou então, se mo disse, já o não lembro.
Deixei-a ir, imperdoavelmente sem esclarecer este ponto. Já não há remédio !
No dia oito, dia de Nossa Senhora da Conceição, lá vinha outra ... sabes que dia é hoje ? E eu, que já sabia o que vinha lá, sorria e dizia-lhe, sei mãe, hoje é o dia da Menina Custódia ... e ela, feliz ... coitadinha, tão novinha que morreu. A pneumónica matou famílias inteiras, chegavam a estar dois e três enterros na mesma casa, ao mesmo tempo. Pais, não sabendo de filhos e filhos não sabendo de pais ... Muito triste ! Mas o enterro da Menina Custódia ... nunca se viu nada assim. O Redondo todo se "despovoou" e a acompanhou ao cemitério. Era muito nova e muito boazinha. Toda a gente gostava dela, prestativa com todos, no atendimento ao balcão do montepio.
E eu a perguntar-me por que raio, ano após ano, a minha mãe, caindo de velha e esquecendo quinhentas mil coisas úteis das nossas vidas, não esquecia estas figurinhas ?!...
Igual a este enterro, só mesmo o do Padre Serrão ...
E aí, saltávamos para a semana anterior ao Natal ...
Olha, sabes que dia é hoje ? E eu, que já sabia o que vinha lá, voltava a sorrir e confirmava, sei mãe, foi o dia em que o senhor Padre Serrão entregou o corpo ao Criador. Ah pois, nunca houve um padre como ele, lá na nossa terra. O Padre Serrão rezava a missa de alva todos os dias, e todos os dias, de Verão ou de Inverno, antes dela, tomava um banho de banheira com água fria. Depois, lá ia para os seus afazeres. Até ao dia em que, estando as beatas à missa, o senhor prior não apareceu. Quem lhe aconchegava as coisas, procurou-o em casa e o Padre Serrão por lá ficara ... na banheira !
Era muito boa pessoa. Condoía-se de toda a gente e ajudava os desvalidos. Casou os teus avós, quando o avô chegou da Grande Guerra, onde não morreu por uma unha negra, apesar da condição imposta pelo teu avô, Senhor Padre, eu casar ainda posso casar, mas eu não me confesso antes. Está bem meu bom amigo sr. Barrancos, era assim que ele dizia. Não faz mal, o meu bom amigo leva a minha boa amiga sra. Brites à igreja e eu caso-os e pronto. E assim foi.
Nunca houve um funeral tão grande na vila ...
Funerais por funerais, ainda neste agitado mês de Dezembro, rés-vés ao seu fim, finou-se o dr. Tavares, o João Semana lá do sítio. Era o médico para todas as horas, todas as doenças e todas as eventualidades. Não se cobrava, atendia ricos e pobres. Pagavam-lhe pelas Páscoas em merendeiras, bolos de folha e queijadas. Pelos Carnavais em pinhoadas, filhós e azevias ... pela feira de Outubro, em maçãs, nozes e marmelada ... e o dr. Tavares nunca recusou um atendimento, mesmo no pico das madrugadas, se preciso fosse ...
Quando morreu, baixou à terra apenas embrulhado num lençol. Assim o deixara escrito.
E eu a relembrar uma outra vez, mais um famigerado dia de Dezembro num ano em que ainda não nascera, nem estava para nascer ...
Olha, sabes que dia é hoje ? E eu já esgotada de tantas efemérides registadas naquela cabecinha branca de alva, olhava-a com um ar aparentemente desolado e dizia-lhe, credo, mãe, hoje não estou mesmo a lembrar-me de nada. Mas é Dezembro, certamente mais alguma coisa terá acontecido, sorria, meio envergonhada pela falta imperdoável do esquecimento. Como se fizesse pouco caso de tão importantes acontecimentos. Como se fosse uma aluna relapsa não dando conta da lição. Então, faz anos que morreu o Pêdorra ... já não te lembras ? Era ele que nas esquinas das ruas apregoava e apregoou tudo quanto todos deveriam saber, o que se passara, quem nascera, quem morrera, quem se casava, por quem eram os "sinais" que o sino da Matriz dobrava, o que se perdera e as alvíssaras que se dariam a quem achasse ... e por aí fora ...
Um dia o pregoeiro também calou os seus pregões. Inevitavelmente, num traiçoeiro dia de Dezembro. A minha mãe soube-o. Soube-o e não mais o esqueceu. E desta vez ninguém lho apregoou !...
Era assim... foi assim ...
Olha, sabes que dia é hoje ?...
Memórias ... só memórias, o que resta de tanta gente. Breve se calarão. Breve se esfumarão na bruma dos tempos !
A minha mãe também não mais mo lembrará. E eu ... bom, eu acho que já não o conseguirei mais, passar adiante ... VIDA !...
Anamar
quinta-feira, 16 de junho de 2016
" O PESO DA SOLIDÃO "
Passei ontem e ele estava sentado num dos bancos da praceta. Bancos procurados pelos velhos, pelos sozinhos, pelos que sem outros horizontes, se circunscrevem aos que a praceta lhes determina.
Passei hoje e ele continuava lá. Parecia que simplesmente ali permanecia desde a véspera, desde a antevéspera e desde todos os dias que o avistei, ainda que de longe.
A sua postura era desalentada, a barba crescera, o definhamento físico progredira, o rosto encovara ... os olhos emaciaram. Uma figura esquálida e alheada.
Uma imagem tão angustiante para mim, que me retirara a coragem da aproximação.
O Luís ( vou chamar-lhe assim ), é meu conhecido há já largos anos. Ambos picávamos o ponto em bica de pequeno almoço tardio, no extinto Escudeiro ... café de uma vida.
Também ele sorvido pela voragem do tempo e da sorte.
Aquelas conversas de tertúlia de ocasião... Nada de importante ... tudo de importante, afinal, como são os assuntos de pessoas solitárias.
O Luís já ao tempo era viúvo. Uma história de amor comovente, no seu passado.
Uma história de entrega, de partilha, de afecto incondicional.
A mulher, ainda jovem partira, alguns, poucos anos atrás, vítima de uma doença prolongada, numa agonia que se estendeu aos limites do suportável. O Luís cuidou e foi guardião daquela vida, enquanto ela não se extinguiu.
Ficou então absolutamente só.
E só continuou, sempre acompanhado da recordação inesquecível da companheira.
Há oito anos, na bica do pequeno almoço tardio ... ainda no Escudeiro ... o Luís, disse, assim do nada, que estava a viver uma história que conhecia demasiado bem.
Também ele contraíra a doença sem esperança ...
Desde então, tem-se debatido tenazmente com o algoz que o enfrenta diariamente. Com lampejos de esperança em períodos mais benevolentes, com um desânimo impiedoso em fases de regressão.
E tem sido heróica a luta, que sem desistências trava dia após dia.
O Luís continua absolutamente só, mais só ainda, porque a ausência de forças, de coragem e mesmo de recursos económicos, o limitam aos bancos da praceta.
Por outro lado, o único neto que tem, que o ama e que devotamente ele ama acima de tudo nesta vida, vive afastado, e o estado de saúde do Luís, impossibilita sequer uma aproximação.
Esse miúdo, hoje com quinze anos sempre foi o único esteio na vida do avô. Seu orgulho, pelo denodo nos estudos, pela personalidade forte e sã, pelo amor que lhe dedicou, era companheiro de passeios, de aventuras, de histórias, de ensinamentos, numa felicidade de tempos idos !
Hoje, quebrei a inibição que me tem adormentado, e abeirei-me do Luís.
Partilhámos o banco por algum tempo. O suficiente para ver o seu rosto iluminar-se, para ver um sorriso ténue transfigurá-lo ... o suficiente para ver uma tíbia alegria invadi-lo ... juraria !...
Falou-me de solidão, e falou-me de como ela lhe dói, mesmo fisicamente. De como ela o sufoca mais do que a falta de ar que o assalta, e o deixa mais e mais prostrado ...
Contou-me que lê alto, que fala alto, para se ouvir ... ouvir alguém ...
Contou-me que dialoga com o vazio da sua casa ... quando o desespero não tem tamanho e amarinha ...
Confidenciou-me que gostaria de acabar sem dar trabalho a ninguém ...
Falou-me de coisas que conheço, e de infinitas outras, que felizmente não conheço ...
Por quanto tempo mais, o Luís descerá à praceta ?
Por quanto tempo mais, as forças lhe manterão ainda o último fogacho de esperança ?
Por quanto tempo mais, conseguirá ganhar ainda, a sua luta desigual, por cada dia que passa?
Vida !...
As suas personagens ... as suas histórias ... cenas das existências de cada um, em que até a cidade grande, impessoal e distante, lhes é hostil !...
Anamar
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
" PORQUE HOJE É DIA DE FESTA ... "
O Kiko comunicou-me que está num "parque temático"... Que vai entrar agora, e depois logo me conta.
O Kiko faz hoje oito anos, e é o terceiro da "escadinha".
Talvez por ser o terceiro, é o mais descontraído, o mais desinibido, despachado e independente, dos três.
Não tem papas na língua, tem resposta para tudo e vive permanentemente "ligado à corrente" ...
Está de férias em Madrid com os pais e os irmãos, e pelos vistos, de visita a um "parque temático" ... ( rsrsrs )
Quando lhe perguntei se achava bem esta coisa de fazer anos e não estar ao pé de mim, riu-se com aquele riso complacente de quem dá o desconto a quem não sabe muito bem o que diz !...
É assim !...
Ainda nasceu "ontem", e pronto ... já está aí a fazer-se à estrada !
Tenho a sensação de que o Kiko tem uma estrelinha de " vencedor", a pairar-lhe no destino, face à postura que já lhe adivinho na vida.
É um pequeno-grande homenzinho, responsável, bem disposto, sempre em festa !
É o que se criou, sem que déssemos por isso. É decidido e cumpridor na escola.
É adepto e aplicado nas práticas desportivas, no seu Sporting de coração, onde elegeu o judo, como modalidade no tapete, e eu acho que na vida também ...
Vai interiorizando os seus princípios subjacentes, no caminho do aperfeiçoamento pessoal, reforço do auto conhecimento e auto confiança. Não no espírito competitivo agressivo, da sociedade actual, mas sim numa base de humildade, generosidade e acima de tudo, cooperação, tão fundamentais nestes tempos conturbados de hoje ...
Alguns destes aspectos, o Kiko já evidencia ter assimilado, felizmente !
Parabéns Kiko !
Que a vida te premeie, numa estrada que ainda só adivinhas, mas que terás que trilhar ... e que o seja, na senda da FELICIDADE !...
Anamar
domingo, 12 de abril de 2015
" A SUPER AVOZINHA "
E fê-los, apesar de tudo, num pico de melhor qualidade de saúde, outra vez. Desde Setembro que a sua vida se alterou drasticamente, com altos e baixos muito acentuados.
Os períodos negros têm sido muitos, e houve dias em que tentei mentalizar-me que seriam sem retrocesso.
É certo que perdeu muito da sua autonomia.
É certo que "perdeu" a independência da sua casa, e com isso, muita da alegria de viver.
É certo que se tornou uma pessoa mais amarga e desinteressada de tudo ...
Mas apesar dos pesares, continua a ser a "guerreira" de sempre ... a alentejana de raça, habituada desde criança a uma vida dura, de trabalho e exigência, sem grandes ambições, e aceitação do possível, com satisfação.
Nela se forjou, e é com essas armas que vai chutando as "partidas" com que o dia a dia a presenteia.
Esta mulher, é efectivamente uma força da Natureza !
Quando vou levantá-la para a higiene pela manhã, já ela, sobre a cama, completou a " aula de ginástica" diária ... os exercícios de pernas e braços que se propõe fazer.
Quando não pode ir à rua com as canadianas e pelo braço de alguém, anda no corredor da minha casa, de cá para lá e de lá para cá .
Porque pará-la, algum dia ... só se a vida a apanhar muito distraída ! ...
Que mais poderei dizer ?
Que a invejo, sem dúvida !
E que lamento não ter tido a sorte de ser brindada com as suas qualidades de determinação, força interior, luta, resistência psicológica, garra, paciência e generosidade ...
E gosto por existir, por "caminhar", por amar ... por desafiar o destino, não soçobrar, e sempre o enfrentar e agarrar "pelos cornos" !
Enfim ... a forma deve ter-se quebrado, e ficado por lá !!! ... ( rsrsrs )
Quando um dia se for, será sem dúvida, o melhor exemplo deixado aos descendentes que por cá estão, e ainda conheceram a Bi ... Uma velhinha impertinente, "eléctrica", que lhes dava montes daqueles beijinhos capazes de sufocar qualquer um ... devota do Sporting e da sua Santa ... uma resistente e uma campeã ...
Em suma, uma "super avozinha" !!!
Anamar
segunda-feira, 30 de março de 2015
" UMA DELÍCIA ... "
Eu tinha que escrever sobre o Arnaldinho !
O Arnaldinho é um menino "levado", de calções ao fundo do bumbum, de boné ao lado, fralda da camisa meio dentro meio fora, e algumas sardas sarapintando-lhe as bochechas sempre afogueadas.
Os olhos grandes, luminosos, mais azuis que céu de Primavera, parecem os do querubim pintado no painel, lá da igreja.
A mãe opta por prender uns suspensórios naqueles calções em queda iminente ... Coisa que enfurece o Arnaldinho.
Leva a vida no corre-corre. A sua agenda infantil rebenta pelas costuras.
Ele é a bola, ele é o abafa, o carrinho de rolamentos, a troca de cromos, o rio que corre em desatino no limite da terra ...
Ele é ir aos ninhos ... são as laranjas e as tangerinas que o espreitam dos campos da Ti Raimunda, ou as maçarocas do milho já maduro, prontinhas para a fogueira ... Tudo tentações do capeta !...
Os matraquilhos sempre o desafiam, na tasca do Manel. Mas para isso, é preciso moedas, e só de vez em quando o Arnaldinho encontra algumas, esquecidas no fundo do bolso já furado ...
A fisga pendurada dos calções, o ranho pendurado do nariz, e o suor pendurado do rosto, cola-lhe à testa as farripas da franja mal cortada.
No meio de tudo, arranja de quando em vez, um tempinho para as letras. Só de quando em vez.
Deveres esquecidos, cadernos rabiscados, com dedadas e nódoas de gordura ... e eis que os castigos na escola o "encontram" vezes de mais.
Os recreios em que só tem ordem de olhar a meninada, uma ou outra reguada, a ponteirada que ferve a cada burrice, deixam o Arnaldinho injustiçado e sofrido, perguntando-se o porquê de tanta "maldade" ...
O tormento que o assola, a infelicidade que experimenta, confundem-no !
Afinal, o seu pecado é apenas sentir-se solto, livre, adorar os campos, o rio, caçar os grilos, os gafanhotos e as borboletas para espalmar no meio do livro de leitura ... O seu pecado é ouvir o tlim-tlim dos berlindes no bolso, a atazanarem-no para a brincadeira, ou o pião com a guita ao jeito da mão ... ou o gorgolejar da água bem perto, entre as pedras, correndo pressurosa e fresca, no despontar do Verão ...
O seu pecado é a malfadada traquinagem que não lhe larga o coração !...
Resistir-lhes ... é obra, e um puto não é de ferro !...
O Arnaldinho esquece tudo. Só tem olhos para o céu azul, para a aragem que o despenteia ainda mais, para o calor do sol que o envolve ...
Botas ao ombro, pés na terra quente, mais vermelhusco ainda, no entusiasmo da prevaricação ... ele aí vai !...
Afinal é só um menino, feliz com tanto mundo à sua volta, feliz com os horizontes sem horizonte, que a vida lhe concede !
"Naldoooo !...." grita a mãe em fúria, quando precisa de um "mandado" ...
"Esse menino vai ficar sem orelhas, quando eu o apanhar !..."
E Arnaldinho, fazendo-se de morto, escondido no fundo do galinheiro, só pede que a criação não entre em desvario, e o denuncie.
Com as batidas do coração disparadas, os olhos de menino safado esbugalham-se mais ainda, ameaçando abandonar as órbitas ... Até as sardas parecem desenhar-se em 3D, querendo saltar das bochechas !!!...
Conheci o Arnaldinho há muitos anos.
Numa terra com rio, com sol, com campo, flores e pássaros soltos.
Numa terra em que a esperança era verde como os campos, e a liberdade voava nas asas das toutinegras ...
Numa terra com sonhos grandes, feitos de sonhos pequenos.
Numa terra e num tempo em que os meninos ainda jogavam ao pião, subiam às árvores, usavam fisgas e caçavam bichinhos.
Numa terra em que a felicidade tinha o tamanho do quintal de casa, e o Mundo era limitado só pelo rio e pelas terras da Ti Raimunda !...
Anamar
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
QUICO, O MENINO "LIGHT" ...
O Quico, de seu nome Frederico, foi para mim, um menino "fora de horas".
Com isto quero dizer, que existindo já na vida da minha filha, um rapaz e uma rapariga, e tendo ela uma vida profissionalmente muito exigente, não conceptualizava eu, a vinda de um terceiro elemento, ainda por cima, face à situação sócio-económica que se atravessa.
Isto, como se os avós pudessem ter a ousadia de conjecturar o que quer que seja, sobre a vida dos filhos !
Dito e feito, faz hoje sete anos já, lá fui esperar o Quico pela hora de almoço, ao Hospital S. Francisco Xavier.
Estava um dia radioso de sol quente de Agosto.
Encerra ele, a escadinha de três putos, de que volta e meia aqui falo, o mais velho com treze anos acabados de fazer, sendo que ele é o benjamim da família.
Vindo no fim do "comboio", e como quase sempre acontece aos últimos filhos, o Frederico é o elemento mais desinibido, mais bem disposto e mais auto-suficiente dos três.
Nascido num núcleo bem assoberbado já a todos os níveis, com as responsabilidades, falta de disponibilidade, escassez de tempo e até paciência, com a correria louca e o cansaço do dia a dia, num esquema familiar com todas as exigências crescentes de uma vida difícil que os jovens pais hoje encaram, cada criança que vem vindo, tem de arranjar armas pessoais de adaptação, de autonomia e de independência, já que a pieguice, a super-protecção, a sufocação, a ansiedade e até a inexperiência com que na generalidade os primeiros filhos são criados, deixa de fazer sentido.
E por isso, genericamente, a criança "mais sacrificada" em termos educacionais, é sempre a primeira, já que então os pais, marinheiros de primeira viagem, estão cheios de convicções pedagógicas, de cuidados e de preocupações doentias por exageradas, e com elas criam e educam o primeiro filho num espartilho convicto, projectando nele tudo o que teoricamente aprenderam e querem passar adiante, com veleidades de perfeição, de utopia, e de intransigência, exigindo dele a imagem do filho perfeito que inventaram, e revendo-se nele, como continuador dos seus próprios valores.
Eu fui assim ... acredito que muitos de nós ( não irei obviamente generalizar ), são assim ...
Depois, com a sucessiva chegada de outros elementos ao "ranchinho", abrandam-se as normas, relativizam-se as exigências, abre-se a tolerância, maleabilizam-se as relações inter-pessoais.
E essas novas crianças são mais saudavelmente educadas, estou em crer, e serão seguramente mais felizes.
Sem sentirem sobre si, de forma tão decisiva e determinante, a responsabilidade injusta, penalizante e pesada de terem que assumir um perfil de filho "ideal", são crianças mais soltas, mais livres, mais assertivas, menos angustiadas, eu diria que mais personalizadas e seguras. Enfim, mais capazes e artilhadas para a vida e para os desafios que as esperam.
Assim é o Quico, uma criança que até hoje nunca vi chorar, excepto se acidentalmente magoada numa brincadeira mais desastrada.
É um menino que acorda rindo, que é extrovertido, que cultiva e vive rodeado de amiguinhos, de fácil adaptação às diferentes situações e apostas com que a vida o desafia, um menino argumentativo, com uma linguagem clara e concisa, sem preocupações ou angústias ...
Em suma, um menino profundamente "light" !...
É o neto que primeiro acorre à porta para o abracinho, o que se pendura do pescoço, e que não tem papas na língua, a contar histórias e episódios "muito importantes" no seu quotidiano ...
Ah ... e é alegremente criativo também, com resposta e solução imediata em qualquer eventualidade.
Com pouco mais de seis anos talvez, aconteceu no colégio que, a pedido da professora, teve que dirigir-se à sala onde leccionava um antigo professor do António. Este, que o conhecia bem, face à sua desenvoltura, desinibição e ares despachados, disse-lhe : "Ai Quico ... não te pareces nada com o teu irmão !..."
De imediato, e antes de sair, o Quico voltou-se para trás, e com ar sério e pragmático respondeu escorreita e convictamente ao professor : " É natural ... não somos filhos do mesmo pai !!!..." (rsrsrs)
Este é o Quico, o meu menino "light" que hoje completa os seus sete anos de vida !...
Que a sua feliz filosofia de vivê-la, o acompanhe sempre, e possa tornar o seu futuro tão ensolarado e claro, como aquele 20 de Agosto que o viu chegar a este mundo !!!...
Anamar
terça-feira, 12 de agosto de 2014
FLASH DO DIA - " ESPECTÁCULO !..."
Desci à hora habitual para o local habitual, meio dia, "as usual".
À minha porta também como quase sempre, um grupo de ciganas tenta vender, local que é de circulação intensa entre autocarros, comboios, supermercados e Centro de Saúde.
As abordagens a cada mulher que passa, são padronizadas e repetidas, em esperança de venda : "venha ver, dona !..."
O cidadão, sem dinheiro e com pressa, agradece, abana a cabeça que não, e segue. Ou nem sequer agradece. Ou nem sequer abana a cabeça. Ignora.
Quase ao mesmo tempo em que eu cheguei à rua, passava um casal ainda jovem. Ela, uma mulher de vinte e poucos anos, obesa. Exageradamente obesa.
Daqueles casos que cada vez mais parecem ver-se em Portugal e talvez no mundo. De facto, a obesidade, mesmo entre crianças e jovens, tende a assumir uma incidência tal, que a OMS já refere como preocupante.
Populações economicamente carenciadas, utilizam em última análise, uma dieta desequilibrada, porém mais ao alcance do seu bolso. O "fast food" também é recurso frequente, e dietistas e artifícios estéticos obviamente não são compatíveis.
Tinha esta mulher, como companheiro, um homem africano também jovem, como ela.
Claro que a mulher chamava a atenção dos olhares. Também das ciganas, que a seguiram ao pormenor.
De imediato, a meia voz, escutei um comentário entre elas. Elas que fazem parte de uma etnia sistematicamente marginalizada ( ! ) : "Ele já pode dizer que tem uma branca ... e ela, que tem um homem !!!..."
Espectáculo !!!... Palavras para quê ?!...
Anamar
domingo, 13 de abril de 2014
" AQUELA DANADINHA !!!... "
A minha mãe completou 93 anos.
Ela pede a um e um, costuma dizer. Ultimamente, acho que já só pede sazonalmente.
Se chegar ao Natal, desejaria chegar à Páscoa. Chegando à Páscoa, desejaria chegar ao Verão ... e assim vai vivendo.
A sua principal limitação, prende-se com a mobilidade. É por aqui que começamos quase sempre a claudicar. A cabeça, tendo em conta a idade, funciona ... e funciona muito bem !
A minha mãe continua praticamente autónoma, continua na posse das suas vontades e decisões.
Aliás, continua como nos bons velhos tempos, como sempre digo, a fazer só o que quer.
Tem contudo muitos dias tristes, em que chora. Espantosamente chora, porque, pasme-se, não consegue fazer as coisas de casa, ao ritmo que gostaria. Não se mexe com a destreza de outrora, não tem a força de preensão necessária, e deixa cair muitos objectos. Vê muito mal, ouve pior.
A sua conexão com o Mundo que a rodeia, sai portanto truncada, o que a magoa mortalmente.
Esse, o preço da longevidade !!
Depois, também já viu partir quase todos da família, neste momento reduzida.
Além de nós, a família próxima ( eu, netas e bisnetos ), só existem já, um irmão e uma sobrinha, contudo também já envelhecidos e doentes.
Falam-se telefonicamente com frequência, não mais.
Amigas, a minha mãe nunca teve. Teve conhecidas, de circunstância.
Aquelas pessoas do dia a dia, encontros de compras, vizinhos de rua ... só ! A sua vida desenhou-se ao sabor da sua maneira de ser. Sempre viveu para o núcleo familiar, bem reduzido aliás ( eu e o meu pai, quase sempre ausente por razões profissionais ), e para o espaço familiar ( a casa, que era imperioso sempre estar a brilhar em qualquer momento, naqueles acessos de incontrolável mania de limpeza, provindos das suas raízes alentejanas ).
Vida própria, não me recordo de a minha mãe cultivar. A sua vida girou, em última análise, em torno do bem estar dos seus ...
Convive mal com o avanço dos anos. Aliás, esse assunto é recorrente no seu discurso.
Eu, que considero ter pouco dos seus genes, foi seguramente a ela que fui buscar também, essa insatisfação permanente, essa inevitável questão, com que brigo diariamente ... a insurreição contra o envelhecimento inevitável e progressivo.
Bom, mas a minha mãe tem uma disciplina de vida, verdadeiramente invejável. Uma força de vontade tenaz, e um espírito de sacrifício espantoso. Aquilo que se propõe fazer, faz, custe o que custar !
Não há quem a faça desistir.
É uma velhota danadinha, mais difícil de controlar que o Quico, de seis anos !...
Contudo, noventa e três anos, é quase um século, e num século a Terra roda cem vezes em torno do sol ...
E na Terra, a vida roda milhares de vezes, em cambalhotas imprevisíveis ...
Particularmente, os avanços, as mudanças, as mutações dos estilos e formas de vida nestes cem anos, corresponderam a reviravoltas impensáveis, de cento e oitenta graus.
A todos os níveis, os desenvolvimentos havidos, foram de tal envergadura, que parece terem-se vivido cinco dias, por cada um que passou ...
Por isso, a minha mãe sente-se já com os pés numa terra que não é bem a sua, como se largada tivesse sido, num lugar que já não entende muito bem, e cujos valores, normas, costumes e linguagem, desconhece ... ou estranha ...
Uma espécie de extra-terrestre, no planeta onde nasceu ...
E é penoso, cansativo, defraudante, complexo, desconfortável e ininteligível, viver assim ...
O preço da longevidade !!...
Ainda assim, a velhinha que ela é hoje, é para mim, um enternecedor milagre de vida, um hino à capacidade de resistência ... representa uma heróica sobrevivente numa carapaça encarquilhadinha, tentando manter-se à tona, em águas excessivamente profundas ... avançando titubeantemente, aos trancos e barrancos, numa estrada demasiado sinuosa, escura e pedregosa ... com cautelas, teimosias, e infinitas dificuldades, mas sem nunca pensar em desistir !!!...
Anamar
quarta-feira, 26 de março de 2014
" ELES NÃO SABEM NEM SONHAM ... "
Chego a ter pena deles !...
Nasceram com um telemóvel na mão, cresceram rodeados de toda a panóplia de jogos electrónicos, vivem com as consolas de preços proibitivos, com os Ipads, os Iphones, os tablets, os mini-computadores, depois os computadores ...
Tratam por tu, e respiram os mecanismos da informática, usam as aplicações possíveis e impossíveis, desenham e pintam no monitor, fazem vídeos e colocam-nos no ciber-espaço, arquivam e tratam fotos pessoais, mexem-se nas redes sociais ( vou acreditar que sempre com controle superior ... ) ... nas escolas não funcionam sem calculadoras de elevada sofisticação ... Enfim ...
Os meninos de hoje, vivem na sombra, nos redutos fechados, que são os seus quartos, onde tudo acontece.
A brincadeira nos larguinhos e nos parques, ou à beira de casa, as corridas de bicicletas, as correrias infindáveis do agarra, ou a emoção das escondidas, não povoam os seus dias !
Os meninos cansam precocemente a vista, de a aplicarem horas a fio, nos pequenos écrans, sujeitos às radiações inerentes.
Respiram pouco oxigénio, porque os tempos para caminhadas nas matas, a ida aos ninhos, ou os passeios à beira-mar, não fazem parte dos seus esquemas de vida ...
Vivem encaixotados nas torres das cidades, preservados dos perigos da rua ... entregues aos perigos da Net mal controlada, ao desábito da leitura, que era potenciadora do sonho e da criatividade ... e vivem mergulhados em muita solidão !
Os seus amigos, são quase só os colegas de escola, que têm os mesmos horizontes que eles próprios ...
Não conhecem outras relações, de outros meios, de outras classes sociais.
Não convivem, como na minha infância, com o menino que tinha piolhos, ou com o menino que limpava o ranho à fralda da camisola, com os meninos descalços, com fundilhos nas calças de suspensórios, ou com os joelhos a espreitarem no buraco dos calções !...
Não convivem com os meninos do bairro dos "ciganitos", lá do fim da vila, que vinham ao largo da minha avó, em busca de brincadeira e amizades fixes ...
Não atiram pedradas uns aos outros, quando a brincadeira azeda... raramente dizem palavrões ( pelo menos, quando há adultos por perto )...
Os meninos têm uma pálida ideia, da adrenalina dos pequenos riscos corridos, em disputas acaloradas de bola, em pequenas rixas, que ensinam os primeiros limites das hierarquias nos grupos ...
Esfolam pouco os joelhos, partem pouco os braços, e lenham pouco as cabeças ...
Dentro dos limites, sempre foi saudável !...
Os meninos experimentam desde cedo, a solidão de demasiadas horas sozinhas.
Os pais trabalham, chegam tarde, estão cansados, sem paciência ou vontade ... e os meninos, ou se entupiram, entretanto, de actividades extra-curriculares ( para lotarem horários ), ou inventaram, como souberam e puderam, como ocupar as horas, quase sempre demasiado e longamente vazias !
Aos meninos, não sobraram horas, de serem verdadeiramente meninos, de serem verdadeiramente crianças !...
Os meninos não jogam mais ao pião, à cabra-cega, não saltam mais à corda, não jogam à macaca, e os carrinhos de rolamentos, não sabem nem sonham, o que foram ...
Os meninos não trepam mais às árvores, não caçam borboletas, não fazem as rodas da "linda-falua", ou o jogo do lencinho ...
Sequer têm abafadores, guardados no fundo dos bolsos rasgados das calças ... Porque já não há berlindes, e as calças de hoje, também já não se usam rasgadas nos bolsos !!! Nas pernas, sim ... nos bolsos, seria de mau tom !
Os meninos nunca fizeram uma fisga, com um pauzinho talhado a canivete, e não apanharam grilos.
Com um bocadinho de jeito, nem lhes conhecem o canto ...
Não soltam papagaios, depois de horas a fazê-los, com canas, papel de seda, cola e cordéis.
Por isso, não se deliciam a subir com eles, pelo firmamento, quando o vento da colina, os eleva, como sóis, e com eles transporta a sensação sem limites, da mais absoluta liberdade !!!...
Não saltam ao eixo ... aposto. E as meninas, nunca jogaram ao ringue ...
Eles não sabem nem sonham, como foi viver então !....
Mas também não sabem nem sonham, o que estão a perder, por não viverem, como então !...
Chego a ter pena deles !!!!...
Anamar
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
" OS MUITOS ROSTOS DO AMOR "
Estou no café de sempre., para o meu pequeno almoço do meio-dia, com um tempo atmosférico indescritível, lá fora, o que faz hoje, deste espaço, um particular abrigo, tornando quase bem agradável, estar aqui dentro, numa preguiça que é o prolongamento da que trouxe da cama, há pouco.
Quando estou em espaços públicos, a menos que esteja a ler ou a escrever, dou por mim a fazer algo que muito me agrada : observar à minha volta, olhar os rostos, ver as posturas, analisar comportamentos, ouvir inevitavelmente conversas, ser uma espécie de espectadora única, numa plateia onde a desmistificação do ser humano se desenrola, quase sempre, sem que ele próprio, o consciencialize.
Quando nos "travestimos" desta personagem, alheamo-nos de grandes pensamentos existenciais, de dúvidas metafísicas, despimo-nos de emoções nossas, angústias nossas, ou reflexões pessoais.
Estamos eremitamente isolados de nós mesmos, estamos em silêncio, e com uma concentração inevitável, esquecemos tudo aquilo com que vivemos, e nos atropela a tempo inteiro ... a nossa própria vida !
Este exercício silencioso, chamemos-lhe assim, repousa-me, relaxa-me, desperta-me a curiosidade e ensina-me muito, sobre o Homem.
Fala-me muito sobre a atitude do ser humano em público, sem que se dê conta de que é observado, sem estar sob os "holofotes" da crítica social, sujeito portanto, ao socialmente adequado a cada situação, sem disfarces, controle ou "maquilhagens".
São portanto, seres humanos que não se estão a "policiar" ...
Os adolescentes e mesmo os adultos jovens, mercê da geração a que pertencem, e dos tempos que atravessamos, em que a liberalização dos costumes é imperativa, não têm comedimentos ou contenções especiais, sobre quase tudo.
Permitem-se todo o tipo de atitudes mais ou menos exibicionistas, com o ar convencido, de que o mundo é realmente deles, e o resto é paisagem.
Não se coibem de exteriorizarem o que quer que seja, e como a idade ainda não lhes deu grandes ensinamentos, vivem a vida com uma confiança inconsciente.
Por isso, os casais jovens que dão os primeiros passos no amor, na aventura e na sexualidade, fazem questão de exibirem descontraidamente, toda a gama de sentimentos que experimentam, sem contenções, inibições ou timidez.
São pessoas que estão em fase de descoberta, ainda não marcados pelos "trambolhões" da vida, tendo por isso um entusiasmo sem barreiras, estejam onde estiverem, que nos "esfregam na cara", constantemente.
Não têm limites, controle social ou outros, que os detenham.
Por isso, levantam "voo" com toda a facilidade, da ambiência em que mergulham, ignoram-na, apagam-na e isolam-se do mundo que os cerca, como se nele apenas eles coubessem.
Não se importam com o adequado, e não se importam mesmo de confrontar os mais conservadores.
Depois, há os casais na faixa etária dos trinta e tal, quarenta e tais anos, a maioria com famílias já constituídas, com filhos pela mão, ou até já pré-adolescentes, que transmitem uma mornidão apática , na exteriorização do amor.
Tudo muito asséptico, tudo muito contido, rotineiro, sem encantamento visível, tudo muito cinzento ...
Uma espécie de amor já gasto ou a esgotar-se, um indiferentismo instalado.
Não há já cumplicidades visíveis entre as pessoas ... um lê o jornal, o outro, uma revista, pouco dialogam, como se já não houvesse assunto, controlam os filhos à distância, ou largam-nos por conta própria, permitindo que frequentemente façam disparates ... desde que não os macem ...
Esses, esqueceram há muito, o que é namorar ... E pronto !
O amor é entediado e entediante, sem novidade, já a precisar de reciclagem, eu diria.
Esta faixa etária é a que mais contribui para a estatística do número de divórcios, como sabemos, porque as pessoas parecem já terem-se dito tudo, e não terem nenhuma paciência mais, para acordarem diariamente e esbarrarem no mesmo rosto, nas mesmas manias, nos mesmos hábitos, nos mesmos cheiros que adoravam e já não suportam ...
E se não conseguem recriar outra realidade, normalmente o amor sossobra ... até porque eles acreditam piamente, que ainda têm infinitas oportunidades que a vida lhes oferecerá !
Como tal, sempre haverá mais marés, que marinheiros !...
Existem depois os casais idosos, que como rochedos, não se deixaram abater por ventos e temporais, e que se propõem dividir o crepúsculo da vida.
Vê-los, faz-nos sorrir, pela ternura, companheirismo, cumplicidade, entre-ajuda no caminhar, no atravessar da rua, no passeio higiénico diário, na colocação da canadiana no braço ...enfim ...
Falam alto, porque já não se entendem muito bem no que verbalizam. O ouvido endureceu, os olhos opacizaram.
Partilham um amor que desembocou numa profunda e indiscutível amizade, e fidelidade aos valores de bem e de mal, que tenham que enfrentar ainda.
Esses, estão "condenados" a arrastar os seus dias até ao fim, nesse registo. Esses, não desertarão jamais.
Mas esse registo, é uma forma sapiente de partilhar amor, uma maneira inteligente de partilhar companhia, uma forma feliz de acertarem o passo no caminho a percorrer, com a linguagem comum que os une.
E isso torna-os felizes, e não desejam nada além disso !
Depois, há as pessoas que se encontram na idade madura, serôdia diríamos, desadequada ( se isso tivesse algum figurino próprio ), que em contra-ciclo, dispõem do último terço das suas vidas, tentando reviver o romance, o amor, a redescoberta, com uma maturidade, uma sabedoria e uma disponibilidade particulares, de novo com o encantamento do marinheiro de primeira viagem, de novo com a ilusão de uma adolescência esquecida, e que sabem que esse é o seu derradeiro "canto do cisne" ...
Vivem o amor com outra disponibilidade, outra qualidade, outra exigência, outra entrega, outro compromisso, outra paz, outra plenitude, outra verdade ...
São pessoas que ainda não desistiram, que ainda têm energia e qualidade de vida, que ainda não embotaram sentimentos e emoções, e recusam não vivê-los de novo, se puderem ...
São pessoas que não deixarão que lhes roubem o último terço dos seus anos, exactamente os que deveríamos reservar, para saborear as conquistas de uma vida !
São pessoas que recusam ficar amargas, a remoer passados, ou a fantasiar futuros, e que querem absorver o presente até às últimas consequências.
Recusam parar, isolar-se, e esperar apenas que a velhice as tolha e as apanhe na curva, encontrando-as definitivamente, de mal consigo e com o mundo, revoltadas e insuportáveis !
São pessoas que evitam a todo o custo, morrerem lentamente !...
Mas estranhamente, esses casais, por serem de uma faixa etária já não jovem, assumem uma postura em sociedade, de pouco à vontade, como se estivessem a invadir terrenos que já não lhes seriam devidos, sofrendo por vezes a crueldade, da incompreensão das outras gerações, como se usurpassem direitos de afecto, de amor, liberdade, paixão até, que já não deveriam pertencer-lhes ...
É um amor incompreendido muitas vezes, por quem não entende que o amor virginal, possa voltar a ser reconstruído, reinventado, a ter uma feliz "reprise", muitos anos depois.
Sentem-se por isso, um pouco mal na sua pele ...
Trocam olhares cúmplices por sobre as mesas do café, esboçam gestos de ternura em leves toques das mãos, prometem-se com o olhar, uma felicidade que se reveste de alguma clandestinidade, e que os faz corar e sorrir timidamente, denotam a "atrapalhação" de uma criança, quando fez uma tropelia ...
E é tão lindo, este amor ... eu acho !
Lindo, e digno de um imenso respeito e admiração !
O respeito e a admiração devidos aos que se recusam a desistir, aos que ainda acreditam, aos que ainda sonham, e não prescindem de o fazer, aos que enfrentam e que lutam pelo direito ao último e pleno terço das suas vidas, como disse, que deverá beneficiar da mesma qualidade de antes, e deverá traduzir a solidificação de sentimentos, agora mais libertos, para se exprimirem com total entrega, disponibilidade, seriedade e verdade, de alguém que já palmilhou muito, que já perdeu muito, que já prescindiu de muito, que já sofreu muito ... e continua a apostar !...
Muito digna, esta forma de assumir o amor !!!...
Ironicamente, é a que tenta passar mais despercebida, é a que tenta denunciar-se menos, é a que tenta esconder-se muitas vezes, como inapropriada, é a que receia o ridículo ...
Inclusivé, é a que colide muitas vezes com opiniões e comentários familiares, inaceitáveis.
Porquê ???...
Anamar
domingo, 29 de dezembro de 2013
" A DEPRESSÃO DAS FESTAS "
Normalmente são mais mulheres que homens, que o dizem.
Chama-se a isto, a "Depressão das Festas", e é um fenómeno que se tem acentuado de ano para ano, particularmente nos últimos tempos.
Quando eu era criança, não lembrava "ao careca", que houvesse alguém a "rejeitar" o Natal ou a Passagem de Ano. Ao contrário, o Natal que era sempre uma festa simples e despretensiosa, pelo menos no meu estrato social ( a dita e desaparecida "classe média" ), era uma festa de Amor.
Amor real, verdadeiro, privilegiado. Sentia-se a alegria da reunião, sentia-se a partilha do afecto, no seio da família.
Havia poucos presentes, é verdade, havia uma roupita que se estreava, ou uns sapatos que se ganhavam, alguns chocolates para as crianças. Os adultos não tinham presentes, tanto quanto me lembro.
Mas a noite era feliz, plena de momentos inesquecíveis ...
Era a Missa do Galo, pela mão da avó de xaile e lenço, no gelo da noite alentejana, era a lareira, acesa sempre com o maior madeiro que o meu avô reservava todo o ano, para o efeito, eram as iguarias que nos esperavam ( e que eram feitas pelos que ficavam em casa, a minha mãe e as tias, velhas ou novas ), o lombo, os enchidos e o entrecosto, fritos no lume do chão, as filhós, as fatias douradas, as azevias, os sonhos, os mexericos, a pinhoada, o arroz doce ... tudo acompanhado pelo bom tinto da região, e os cânticos ao Menino Jesus, entoados em uníssono, por todos ...
"Oh meu Menino Jesus, da lapa do coração, dai-me da Vossa merendinha, que a minha mãe não tem pão ..."
"O Menino chora chora, porque anda descalcinho, dá-lhe tu as meiazinhas, que eu Lhe dou os sapatinhos..."
"Nossa Senhora lavava, e S. José estendia, e o Menino chorava com o frio que fazia ..."
Todos, seguramente terão lembrado, e lembram, enquanto viverem, essa festa inesquecível ... e ninguém se deprimia !
As pessoas não ambicionavam mais, não sonhavam mais alto, não tinham frivolidades, não desvirtuavam o espírito de união, partilha, dádiva e amor ...
As pessoas eram felizes !
A Passagem do Ano, também não apoquentava ninguém.
Quando eu era adolescente, a passagem do ano era sinónimo de um bailarico, na Sociedade Filarmónica Harmonia, a mais bem frequentada da terra.
As raparigas da minha família, tinham por companhia e como responsável, uma das tias, que por não ter tido filhos, tinha uma pachorra incrível para nos aturar.
A minha mãe nunca ia, mas não era preciso, obviamente. Estávamos todas bem entregues !
Era uma emoção só, aquele baile, aguardado a semana inteira.
A sala tinha um palco, onde tocava um conjunto musical ao vivo, o conjunto "Planície", lembro bem !
As cadeiras distribuiam-se em cercadura em torno do salão. As meninas "comprometidas", ou seja, as que tinham namorado oficial, nunca se sentavam na fila da frente, já que não seria de bom tom, dançar com mais ninguém, além do namorado.
As "disponíveis", aguardavam os acordes da música, sentadas nas cadeiras da frente, com o coração aos pulinhos.
Ao fundo do salão, existia uma sala mais pequena, onde os homens se juntavam. A chamada "sala de fumo", exactamente porque aí podiam fumar.
As mulheres e as raparigas, não ! Não se fumava na altura, ainda ...
Não esqueçamos que estávamos no Alentejo interior, conservador e castrador ...
Quando a música começava, como numa montra, as meninas eram escolhidas para dançarem, pelos rapazes, que se aprestavam a avançar pela sala, na sua direcção, "catrapiscadas" que o haviam sido já, do fundo da sala de fumo.
Proferia-se a célebre frase : " A menina dança ??? "
E se a rapariga declinava o convite, ou seja, dava uma "tampa", o que não era de bom tom, tal, era vexatório para o "macho" interessado !
Dançava-se em pares, classicamente. Não havia os ritmos actuais das discotecas, em que ninguém dança com ninguém ; é tudo "à molhada" e fé em Deus !
E dançava-se com os corpos algo afastados, e com rostos que por vezes, tentavam "colar-se", só tentavam ... porque se o "entusiasmo" os aproximava ( e acontecia muitas vezes ), lá estava o olhar fiscalizador da tia responsável, a chamar a jovem a entrar na linha ...
Eram bailes, sem dúvida, potenciadores de uma iniciação sexual.
A liberdade dos jovens então, coibia-os de experienciarem qualquer outro tipo de aproximação.
Os namoros eram controlados pela família, sair-se só com o namorado, não acontecia ...
Existia sempre alguém, que era obrigado a fazer o frete de ser o famigerado "pau de cabeleira", ou seja, uma presença incómoda, para os que ansiavam estar sozinhos.
Normalmente uma irmã mais nova, que o namorado convencia, com um qualquer regalo, a ir dar uma voltinha, regressando ao ponto de encontro, passado determinado tempo, e dando assim, alguma liberdade e privacidade ao par romântico ...
Mas nada de mais acontecia, além de um beijo mais caloroso, de um estreitar e de uma fugidia troca de calor dos corpos, ou de uma comprometedora percepção das respostas dos mesmos, à excitação do momento ...
Tempos aqueles !!!...
Não havia portanto, também angústias, insatisfações, traumas, balanços ( os benditos balanços traumatizantes da vida, porque nos projectam sempre a magoadas recordações do passado, e ansiedades do futuro ) , atribulações existenciais, com dúvidas, medos, inseguranças e incertezas, que nos "matam", na actualidade !
A vida, parece-me, corria mansa.
Não se tinha muito. Tinha-se o necessário, que era por isso, o suficiente !!!...
O ser humano era mais feliz, tenho a certeza ! Tal como em quase tudo, é o ser humano que cria as suas próprias condições adversas de vida, e a sua própria infelicidade.
É ele que estraga, que destrói, que mata ... e "morre" às suas mãos !!!
Saudades ... saudades, tenho sim, da simplicidade de então, do tempo em que esta quadra nos fazia rir, afastava a solidão e a tristeza, se teimassem instalar-se, e era desejada ansiosamente ao longo de todo o ano !
Em suma, a doença moderna que mina mais e mais a espécie humana, a depressão, e que é consequência da vida e dos valores que o próprio Homem escolhe para si, não existia, menos ainda a aparente aberração dos tempos que correm : a "Depressão das Festas" !!!...
Anamar