sexta-feira, 20 de março de 2015

" AMORES "






" Há amores que duram um arrepio, um por-de-sol, um beijo, um abraço, um poema.  Não mais que a intenção ..."

Há amores que chegam e partem como as estações.
Despontam com a força das margaridas silvestres ... promissores, coloridos, irreverentes, cheirosos ... e partem com as primeiras chuvas, nas asas das andorinhas, quando estas partem também ...

Há amores que redimem, que salvam, que sobem connosco, à última cor do arco-íris.  E outros que matam, que destroem, e que nos encerram o coração num quarto escuro ...

Há os que nos semeiam esperança no caminho, nos enchem a vida de auroras azuis e nos despertam com lilazes à cabeceira.
São madrugadas de sonhos, parideiras de paz, alegrias e gargalhadas.
São amores abençoados, amores de valer a pena, que preenchem o ser humano e o fazem acreditar no destino !
São amores - lufada de ar fresco, de cheiro de maresia, de caruma da serra, ou de terra molhada !
São colírio para os olhos.  Desanuviam a mente.  Embalam o coração.
Soltam-nos hinos que nem imaginávamos cantar.
Fazem-nos criança outra vez, com o pensamento a saltar à corda  entre felicidade e felicidade, com o desejo em rodopio incansado, de borboleta nas corolas ...
Trazem-nos cor ao rosto e um afogueamento ao peito, como se tivéssemos calcorreado veredas sem fim ... Trazem-nos um sufoco à garganta ... e aos lábios, o néctar doce dos colibris ...
Não  têm  notas  dissonantes.   Não  desafinam,  não  erram  a  pauta ... não  estragam  o  concerto ...
São amores que nos acrescentam a vida e postergam a morte, para lá dos horizontes ...

E depois há os beijos que se soltam, feitos  passarinhos de ramada em ramada.
Que pululam por entre os trinados.  Que nos tocam de mansinho, subtilmente, como varinha de fada - madrinha ... Que nos aquecem, quais raios de sol ...

E há os beijos que levedam no coração e na alma, e que nunca levantam voo ... Nunca nos abandonam os lábios ... nunca iniciam a viagem ...
Como palavras balbuciadas e não ditas, como vocábulos enxergados e não alcançados ...

São beijos tristes, como folha encalhada no riacho.  Que acabam gelando, que vão mofar e que rastejam  até  ao  fundinho  de  nós,  como  os  musgos  nos  troncos,  na  penumbra  da  mata ...
São aves de asas cortadas.  São vontades sem vento para voarem.  São veleiro, sem aragem que o transporte ...
São beijos cinzentos como os dias indefinidos de outonos escuros, em ocasos sem o vermelho do sol a ir-se ...

"Há amores que duram um arrepio, um por-de-sol, um beijo, um abraço, um poema ... "
... Contudo,  maiores que o universo ... mais eternos que a eternidade dos tempos ... mais seiva que a seiva que sobe os caules ... mais sangue que o sangue que nos percorre as veias ... mais inebriantes que todas as braçadas das flores de Abril ... HÁ  AMORES !!!...





Anamar

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