terça-feira, 24 de abril de 2018

" O SALGUEIRO QUE EU AINDA NÃO SOU ... "






Nem tudo é mau com o transcurso dos anos,  nas nossas vidas.

Sou uma pessoa genericamente muito afirmativa, talvez peremptória, com a mania que tenho algumas certezas face a muitas coisas.  Como se tudo não se alterasse em continuidade, e a imutabilidade não fosse a maior inverdade das existências...
Daí que não seja avisado, muitas vezes, espaldarmo-nos em verdades pseudo inalteráveis.

Esse aparente pragmatismo advém-me de alguma contenção que me imponho, antes de tomar posições, evitando impulsividades,  gestos irreflectidos e atitudes precipitadas, de que possa vir a arrepender-me.
O facto de há já alguns anos atrás ter optado por ficar só na vida, obrigou-me a, por defesa, sobrevivência e cautela, ponderar tudo com o máximo cuidado e pelos diversos ângulos possíveis.
Habituei-me também a escutar mais, a tomar em consideração outros pontos de opinião, outras sensibilidades ... em suma, outras formas de ver as coisas.

E de muito irredutível e musculada nos pensamentos e opiniões, passei felizmente, a assumir uma bonomia maior perante a vida, apurando uma maior capacidade de cedência, evitando análises extremadas e preferindo o acordo à contenda, tentando consensos, quando há que decidir.

Em jovem, ou mais jovem, quando nos achamos um pouco "donos do mundo", podendo tudo a qualquer preço, quebrava em vez de vergar.
Sangue na guelra, dona de verdades muito mais absolutas que hoje em dia, reconheço a inabilidade com que algumas vezes resolvi certas situações, ao longo dos tempos.
Perdido por um, perdido por mil ... na forma irredutível de ir adiante, ou, antes quebrar que torcer ... dizia o meu diabinho interior ...
Como se essa atitude aproveitasse, e o orgulho fosse uma forma saudável de me pautar .

Hoje, procuro usar a filosofia sábia da água, que perante um obstáculo, contorna e segue o seu caminho.
Sem dúvida, uma atitude de maior inteligência e temperança, tenho que convir. Uma atitude mais assisada e menos desgastante, mais inteligente e proveitosa.

Mas isso, foi a passagem dos anos, que limando arestas, conferindo-me maturidade, mostrando-me a relativização na importância das coisas, penalizando-me com algumas cicatrizes existenciais, me transmitiu a paz interior e o discernimento para nunca radicalizar, para procurar soluções de convergência, para desenvolver um esforço que reconheço será meritório, no sentido de um maior aperfeiçoamento possível  da minha personalidade.

Em suma, tentar aproximar-me cada vez mais do salgueiro que ainda não sou, e deixar de ser o carvalho que já fui ...
Como diz um amigo meu, a postura diferente destas duas árvores na Natureza, é que derruba quantas e quantas vezes o carvalho, e salva o salgueiro, nos ventos fortes das borrascas da vida !

Anamar

Sem comentários: