Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam "
Eça de Queiroz
Dei-me com esta frase do Eça, algures ...
Li, reli, parei para reavaliar ... reflecti ... fiz rewinds na vida e concluí da certitude da mesma.
Eça, objectivo, pragmático, conciso, experiente e sabedor sabe do que fala. Revela-se afinal, um profundo conhecedor da alma humana !
Aparentemente pareceria um contrassenso. Afinal, o Homem, ao longo da vida, debate-se, em vão, pelo alcance inatingível de um amor eterno. Sofre porque o não tem, sonha tê-lo, porque tendo-o estaria completo e eternamente feliz, acredita piamente.
E digladia-se com uma infelicidade atroz, porque na sua vida afectiva parece haver uma impossibilidade em agarrá-lo. Uma incapacidade mesmo, em pressenti-lo.
Na verdade, nada há de mais certo na existência do ser humano, que a impermanência de tudo o que o rodeia. Nada há de mais real que a incerteza das metas atingidas. Tudo é precário, incerto, duvidoso, inseguro ... sempre.
Só que essa realidade se configura num estímulo e desafio para a mente humana, é mesmo essa insegurança, insatisfação e inalcance que acrescentam a pitada de tempero, adrenalina e sabor aos amores ditos "impossíveis" !
E assim, estes, sem solução possível, amores improváveis, se tornam nos amores verdadeiros, amores de valer a pena, amores sem bafio, amores com cores flamejantes, sempre novos e dispostos.
Eles redescobrem-se por cada dia, reinventam-se em novas roupagens, eles não se entediam, são desejados a cada momento como amores acabadinhos de nascer.
São eles que aceleram as batidas do coração, tiram o fôlego, nos conduzem à gaiatice dos tempos da ingenuidade, do sonho e da fantasia.
Os outros ... aqueles que afinal conhecemos, acabamos experienciando e vivendo, aqueles que nos foram desafios aureolados de todas as virtudes, adequações, enquadramentos e soluções dos nossos desequilíbrios afectivos, não passam de amores corriqueiros, amores sem sobressaltos, amores "chapa três" ... trôpegas tentativas de desenhar o mundo, soluções de vida em tosco, irrespirável e desesperado esboço do avistamento da felicidade !...
Em suma ... amores possíveis e moribundos desde o primeiro instante !...
Afinal o Homem sempre quer o que não tem e mata o que tem. Sempre busca o sol, apagando para isso, as estrelas no firmamento !
A utopia e a incoerência fazem parte da nossa alma imperfeita e insatisfeita, alma em turbulência e inquietude.
Ainda assim ... deixem-me com os amores impossíveis, pois seguramente sempre serão " eternos e infinitos enquanto durarem !..."
Anamar
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