Há momentos em que a vida pausa.
E se não formos nós a determiná-lo, parece ser ela mesma que se encarrega de o fazer. É como um bolo que para crescer, precisa de levedar. É como uma casa que acumulou pó ao longo do tempo, e em que há que abrir as janelas para que areje, por irrespirável que o ar se tornou.
E às vezes nem há propriamente nada que despolete a mudança. É ela que se impõe.
Não quer dizer que se deitem fora os móveis, que se troquem as cortinas, que se mudem as colchas.
Se calhar, dá-se uma pintadela, troca-se o lugar das coisas, puxa-se o brilho ao soalho, manda-se polir aquela escrivaninha velha, colocam-se flores nas jarras e ... opera-se o milagre : passa a ver-se e a perceber-se tudo com outros olhos, outros sentires, outra linguagem. Recomeça-se a vida naquele espaço ...
Há momentos em que a vida mofa, de parada, de extática, de estagnada, de cinzenta.
E fica incómoda, cansativa, nauseante, sem graça. E aí, tem que se agitar, como uma bebida no "shaker". Faz mais mal que bem, vivê-la !
Tal como a História que tem os momentos marcantes que a escrevem e a determinam, assim a história das nossas vidas se vai fazendo por parágrafos, por mudanças de linha, por hiatos, por pontos de interrogação e exclamação, por reticências ... às vezes, por pontos finais.
E vira-se a página, ainda que nem seja a vontade que impere. É o ciclo da existência, simplesmente ...
Não sabemos o que virá. Sabemos que "aquela" vida, como está, não tem pés para andar.
Muitas vezes não sabemos sequer o que deverá ser ... sabemos é que o que é, mata e destrói.
E é ela, a vida, que nos põe à frente um sinal de stop, tão imperioso ele se afirma !
Então, há que reflectir, repaginar, valorizar desapaixonadamente o essencial do que fica, não alimentar rancores do que parte. Aproveitar sempre o que se aprende, procurar melhorias no que virá. Não desprezar nunca, valores e sentimentos, se essenciais. Retirar a espuma sobrenadante e aproveitar sempre, o lastro residual, por ser sólido, seguro e valorizável !
Há que sacudir a água das penas, como os passaritos, numa poça refrescante ... e levantar voo.
Há momentos em que a vida pausa.
Ela é mestra, sapiente, pedagógica. É preciso é saber escutá-la. Estar atento. Dá sinais, como um corpo a adoecer. Como uma alma que entristece e fenece, ela tem linguagem própria. E não adianta fazer de conta. Não há analgésicos que lhe acudam ! Fede de apodrecimento, como fruta passada do ponto na árvore que a acolheu ...
Não arranjemos motivos, razões, bodes expiatórios, culpados ... alvos. Certamente, por algumas e todas as razões do mundo, o destino desgastou, exauriu, esgotou ... descoloriu ! É assim ... é tão só, a dinâmica da vida !...
O Homem tem que sobreviver a ela. Como um ser racional, inteligente e pragmático, é-lhe exigida a compreensão das pausas da sua vida. E decidi-la. Reorientá-la. Sopesá-la. Redescobri-la na sua essência, e no que lhe é importante.
Esse, será um sinal de inteligência !...
... porque há momentos em que a vida pausa !...
Anamar
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