Caldeirão
Foto do Caldeirão ( CIACC )
Avistamento da ilha
Vila do Corvo
Na subida para a cratera
O que se conseguiu ver
No pastoreio
Vila do Corvo
Piscinas naturais
Moinho
Moinho recuperado
Vila do Corvo
Atravessando o canalE era dia de ir ao Corvo ! Claro, se as condições climatéricas assim o permitissem. E permitiram !
A menor das ilhas do arquipélago açoreano, esquecida no Atlântico a norte das Flores, com pouco mais de quatrocentos habitantes, inóspita e isolada ... perdida no tempo, parece dormir um sono de eternidade !
A ilha do Corvo, do Grupo Ocidental, é a mais distante do Continente e a mais próxima da América, ocupando uma área de apenas 17 quilómetros quadrados.
Saímos das Flores por via marítima, num semi-rígido com lotação de cerca de trinta pessoas, com um céu descoberto, vento a favor e mar manso, para o que costuma viver-se naquelas paragens.
A ondulação não perturbava, apesar do galope que nos conduzia, e apesar do "banho" de mar com que gostosamente éramos brindados e nos deliciava.
Tudo se transformou numa brincadeira, entre risos, gritos, fotos, vídeos e sobretudo uma ânsia de demandarmos aquele pedaço de terra, meio misteriosa, fantasmagórica, selvagem e resistente ...
Um baluarte da tenacidade, da resiliência, da perseverança e da esperança !...
E à medida que o canal ia sendo atravessado, a curiosidade e a impaciência assaltava-nos. Afinal quando é que essa ilha mais adivinhada que sabida, se dignava romper o cinzento uniforme de um céu entretanto fechado, e se desnudaria aos nossos olhos ??
De Inverno, o barco da travessia fá-la duas vezes por semana e no Verão a sua periodicidade é quase diária, existindo, para quem enjoa, também a opção aérea.
E a certa altura, do nada foi-se definindo um contorno, desenhando uma imagem, corporizando uma realidade ... o Corvo surgia iluminado por um sol aberto !
A povoação de Vila do Corvo, situada na principal zona plana da ilha e composta por um entrelaçado de ruas estreitinhas e sinuosas ( assim construídas para a proteger dos ventos fortes que normalmente assolam a ilha ), calcetadas com seixos rolados e lajes polidas ( "canadas" ), constitui um município, o único em Portugal sem possuir qualquer freguesia.
É o centro de tudo o que acontece na ilha e é um povoado pequeno, situado numa fajã, no extremo sul, junto ao mar. Com tendência para o despovoamento, não será fácil habitá-lo.
Os corvinos, população muito envelhecida, fazem-no por opção !!!
Não há transportes públicos, nem falta fariam ... o alojamento é escasso, os géneros dependem do abastecimento vindo do exterior ...
A ilha do Corvo está classificada pela Unesco como Reserva Mundial da Biosfera, sobretudo pela diversidade dos ecossistemas que possui, e pela riqueza da flora endémica que a reveste.
Mas primordialmente pela existência do Caldeirão, no seu topo, ( a cerca de 6 km do sopé ), gigantesca cratera, que ocupando quase metade da ilha, é a resultante de um vulcão extinto.
Tem um perímetro de mais de dois quilómetros e no seu interior existem duas lagoas pouco profundas,
Para quem aprecia este tipo de caminhada, está concebido um trilho pedestre que desce ao fundo da cratera, contorna as lagoas e volta ao ponto de origem. Contudo, essa aventura só é possível em condições de total segurança, com tempo completamente aberto e com guia, pois quase sempre a cerração se abate repentinamente, cobrindo totalmente o que a vista pode alcançar. Acresce que o solo é pouco confiável, com zonas pantanosas camufladas pela verdura rasteira.
Na Vila existe um interessante Centro de Interpretação Ambiental e Cultural do Corvo, sito numa casa antiga recuperada para o efeito, que pretende dar a conhecer as especificidades ambientais e culturais da ilha.
Desta feita o S.Pedro não conseguiu ser simpático. Lá que subimos ao Caldeirão, subimos ... Mas, a menos que nos sentássemos, quiçá a tarde toda, para esperar o dissipar do nevoeiro ... com êxito ou não ... apenas pudemos imaginar as imagens da fascinante panorâmica de que em circunstâncias auspiciosas poderíamos desfrutar, e não mais ...
Mas de qualquer forma foi bem gratificante a subida, e todas as vistas que ao longo do acesso nos são disponibilizadas !
No silêncio apenas povoado pelo vento agreste que passava, pelos chocalhos ou balidos das vacas em pastoreio pelas encostas nas plataformas abrigadas entre muros de pedra ... nem os cagarros soavam ...
Entre o aeródromo, na ponta sul da ilha, e a costa recortada e rochosa, no topo de uma arriba donde se vislumbra todo o canal, existem 3 moinhos de vento, típicos e devidamente recuperados. Datam do século XIX e são os únicos que resistiram aos tempos, como memória de uma actividade já extinta na ilha.
Por detrás dos moinhos, junto ao mar, a orla agreste desenhou pequenas piscinas naturais, na irregularidade basáltica dos rochedos.
Por tudo isto que vos conto, e tudo o mais que apenas se vivencia e é impossível contar ... porque só se sente e regista no coração e na alma ... o Corvo será intemporalmente, um destino de paz, de segurança, de paisagens avassaladoras e trilhos a explorar .
Um tesouro longínquo, sonolento e silencioso , escondido na solidão do oceano !!!
Anamar
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