quarta-feira, 15 de outubro de 2025

" SINAL DOS TEMPOS ... "

 


Não sei muito bem por onde pegue neste amontoado de ideias, sensações, convicções ... e dúvidas, quilos de dúvidas que me assaltam o espírito.
Prevejo portanto que este meu post venha a ser um molho de brócolos, ao sabor do caos que me atormenta.

Hoje em dia a Psicologia, a Psicanálise, as linhas de ajuda, os livros que mexem e remexem nos nossos interiores, encabeçam a turbulência que nos arrasta num vórtice louco que chega a deixar-nos tontos.
A sociedade em que vivemos está doente, lembra-me aliás um mar tormentoso onde esbracejamos em desespero de encontrar fios condutores, uma bóia, uma âncora, um norte, uma bússola ... um farol !
As gerações sucedem-se, mas entre a minha e a imediatamente a seguir ( não preciso sequer de cavar nenhum fosso temporal mais extenso ), tudo mudou.  Os valores já não são os mesmos, sequer a validação de muitos deles já tem justificação, a correria é insana e o tempo para "viver", viver mesmo, com leveza, qualidade e sem fantasmas, parece inexistente.
Grande número de famílias é totalmente disfuncional, as pessoas ligaram-se vá-se lá saber porquê, no meio há crianças quase em roda livre, em esquemas parentais perfeitamente alucinantes.
Há patologias objectivamente instaladas, mercê das angústias, das preocupações, das dificuldades que se vivem diariamente, há medos objectivamente experienciados face à insegurança do dia a dia de cada um, mas depois há também, ( convicçção minha ) toda uma profusão exacerbada de sintomatologias que parecem criadas para "vender".

Poderei estar a proferir uma enormidade.  Seguramente estarei. Mas sou absolutamente céptica a uma demonização criada em torno de situações que ao longo de toda a minha vida foram aceites como naturais, e que hoje são tomadas como indiciadoras de comportamentos preocupantemente desviantes.
Explico melhor :  na minha infância sempre houve crianças mais mexidas, mais endiabradas, mais inquietas.  Questões personalísticas, formas de ser, às vezes linhas genéticas a manifestarem-se.
Até aqui, nada de novo, sempre as houve, azar dos pais que tinham que aguentar aqueles diabretezinhos!
O tempo resolveria ... e resolvia, quase sempre.
Hoje em dia, essa desconcentração, esse reboliço, esse quadro de "bichos carpinteiros " à solta, já é sintomatologia de uma patologia desviante a nível de desenvolvimento mental e cognitivo que eventualmente poderia ter sido diagnosticada já quando a criança tivesse 2 ou 3 anos ... já é hiperactividade e défice de atenção, uma patologia associada a um neurodesenvolvimento de avaliação subestimada.
E aí temos nós, pais angustiados, pais que voam de imediato para psicólogos, porque estão perdidos na orientação a tomar ...

De igual forma, as diferentes fases que as crianças atravessam, a teimosia, a negação e outras, são encaradas pelos progenitores carregando sobre si uma culpabilização sem precedentes .  
Não agiram bem, gritaram com os "anjinhos" quando ao fim de um dia esgotante de trabalho, não se policiaram devidamente nas atitudes a tomar, disseram o que não deveriam ter dito, agiram como é errado agir naquelas circunstâncias, discutiram entre si na presença dos filhos, devendo mesmo vir a pedir-lhes desculpas por o terem feito, traumatizaram para todo o sempre aqueles a quem têm que "bombeirar" vinte e quatro sobre vinte e quatro horas por dia ... etc, etc.
Se não, ter-se-á que recorrer ao psicólogo pra definir orientações, perdidos que estão os progenitores ...

Tenho pena das actuais gerações.  Acho que lhes estão a pedir uma prestação de "deuses" e não de pais !
Trabalham de manhã à noite para garantir muitas vezes a subsistência, levam e trazem os filhos para as escolas e posteriormente para as actividades extra-curriculares ( porque são absolutamente "imprescindíveis" ), fazem compras, programam as vidas, monitorizam os trabalhos a serem feitos em casa, têm e devem estar absolutamente "bem", em qualquer situação ... 
Terão tempo para respirar ... pergunto???

Considero que as consequências e a disrupção que estes distúrbios podem causar diariamente na vida das pessoas, deverão ser relativizadas para que sejam evitados sobre-diagnósticos e uma medicalização excessiva para questões que de patológico nada têm ...

Anamar 

Sem comentários: