Estou convencida de que afinal até gosto, e muito, do Outono !
De que afinal até gosto um bom pedaço da chuva !
De que afinal até amo perdidamente o friozinho com cheiro a castanhas no assador, que até amo o céu nublado que custa a definir-se, a "fumaça" a sair das bocas que falam ... e o silêncio cúmplice que paira quando nada é dito, e quase tudo é sentido !...
Afinal eu tenho umas saudades infernais, de calcorrear veredas e alamedas pisando firme a gravilha, deixando a aragem gelar-me o nariz, embiocando as mãos na malha das luvas e soltando o cachecol no desalinho da brisa ... sem destino ou norte, saboreando apenas porque sim ...
Tenho umas saudades infinitas dos cheiros a terra molhada, a musgos trepadores, a sombras húmidas e recolhidas, de caminhos que só tinham volta se eu quisesse ...
Tenho desejos insustentáveis dos silêncios, da ausência de gente, nestes castanhos, ocres e dourados.
De olhar os plátanos a despirem-se na intempérie. De brincar com os ouriços preguiçosos das castanhas que ainda não tombaram ...
E do tamborilar de gotas atrevidas e abençoadas, na época em que a chuva nos comprazia ...
Recuo no tempo e revejo o tempo, simplesmente... Volto páginas, dobro esquinas, abro dias, meses e anos ... Perambulo pela vida que desfila.
Era eu lá atrás, embora custe a crê-lo.
Era eu, eu e todos os sonhos que sonhei. Eu e todas as esperanças que raiavam de verde pelas madrugadas. Eu e uma cesta de rosas fora de época, contudo cheirosas e doces.
Era eu, aquela que dançava em desafio atrevido no meio das noites que eram minhas. Ou talvez já não dançasse ... Daqui, não consigo já olhar tudo. Uma bruma interpõe-se entre o hoje e o então.
Um nevoeiro corre as cortinas da mente ...
Seria mesmo eu ?!
Por que restou então apenas isto ? Será essa a inevitabilidade da existência ? Onde fiquei ? Onde me parei e esqueci ?
Em que pedra do caminho me adormeci ? Em que encruzilhada me perdi ? Em que labirinto me cansei ? Em que estrada desisti ?...
Outro fim de Novembro a cheirar a bafio, a mofo, a solidão e abandono... Outro fim de Novembro a saber a raiva, a mágoa, a dor ...
Histórias mal terminadas ... Romances mal alinhavados ... Enredos mal escritos ...
As pirraças dos destinos jocosamente brincando de esconde-esconde nas nossas vidas !...
Anamar
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