A Primavera entretanto chegou. A Teresa já me vinha dizendo, nos seus convictos cinco anos, que ela "estava à porta". Os dias ensolararam, sem dúvida as temperaturas subiram e já começamos a sacudir os casacos invernosos.
Ainda assim, friorenta como sou, o saco de água quente e o édredon continuam a ser meus amigos pela noite dentro.
Agora tenho quase todo o tempo também, a presença do Jonas que se aninha aos pés e até faz boa companhia, pois não é muito chato no desassossego. Uma nova logística teve que ser criada em consequência do grave problema de saúde do Chico que, tal como eu vinha a suspeitar, está diabético.
Assim, alimentação distinta para cada um deles, a necessidade da areia estar em permanência disponível para que resolva as sucessivas urgências pela madrugada fora, implementaram um esquema algo complexo aqui em casa.
Põe comida, tira comida, acrescenta a água no bebedouro, dá insulina de doze em doze horas, a que se segue como importante que ele tenha comido quando o açúcar começa a baixar, para acautelar uma perigosa hipoglicémia ... são apenas pormenores que não podem / devem falhar na pacatez do dia a dia nesta casa.
Afastar-me daqui por excesso de horas, também não é muito possível, uma vez que só comem quando eu desenvolvo os consequentes episódios que referi.
A ideia é controlar a doença, já que sendo uma patologia crónica, a diabetes dificilmente é passível de reversão.
Depois coloca-se outro filme de terror que é exactamente a quase impossibilidade de me afastar aqui de casa, por dias. Desta feita, a garantia da administração da insulina tem que ser completamente assegurada, e se a D.Leonilde que é o meu "anjo da guarda" quando viajo, já que sempre assegurou a manutenção alimentar diária e bem assim a higiene dos bichos, não pode obviamente proceder à inoculação da mesma. Não daria conta do recado, ou melhor, é o tipo de coisa que jamais eu lhe poderia solicitar.
Assim, se não quiser dar em doida e não me deprimir mais do que já estou, terei que inventar, não sei que solução para obviar ao problema.
E terei que o fazer duma forma bem resolvida, já que conviver com problemas de consciência intranquila, é uma questão fora do aceitável. A minha cabeça tem que estar em paz e não arranjar soluções que venham a culpabilizar-me futuramente.
A Primavera chegou, como disse. O sol, às vezes tímido, outras mais atrevido, faz sentir o seu calor e a luminosidade dos dias é um fascínio.
Na mata tudo floresce. São as mimosas já bem engalanadas, são as azedas que alcatifam o chão, as pervincas que mesclam o seu azul com o amarelo daquelas ... são os folhados e outros delicados arbustos com pequenas florzinhas brancas como grinaldas ... são as chagas ... e é a passarada que numa fona, saltita de ramada em ramada, os melros, as rolas, os periquitos de colar, os pombos e os patos bravos que iniciam os processos de acasalamento ... Voam, cantam, trinam e numa afobação imparável parecem ter pressa.
O tempo climatérico, tipicamente primaveril onde nem sequer faltam os borrifos habituais de chuvinha mansa que volta e meia nos surpreende, renova, pinta, enfeita uma paisagem que aviva as cores, intensifica o brilho e renova a promessa de renascimento que assoma em qualquer canto.
A natureza sempre é um bálsamo para o coração, uma bênção para a mente e uma esperança que os dias vindouros generosamente levem para longe o cansaço, as agruras e o desalento. Tudo volta a parecer auspicioso, possível de acontecer ... feliz !
Anamar
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