quarta-feira, 15 de novembro de 2023

" POR ESTES DIAS ..."

 


Por estes dias fui e vim de viagem como relatei, entretanto contra minha vontade, aniversariei ...😉😉, coisa que me irrita profundamente não poder controlar ...😁😁 
Enfim, retomei as rotinas de sempre, porque a vida faz-se todos os dias .
Este ano o dia caíu em cheio num domingo ( também nasci num domingo de acordo com as informações maternas ), e como tal, estava mesmo a pedi-las que eu juntasse a família toda, não só porque há séculos me não propunha partir para um evento desta envergadura, mas porque sendo domingo não havia desculpas por parte dos participantes de se demarcarem da respectiva presença. 
Dessa forma, a minha filha mais velha calar-se-ia com as acusações habituais de que sou uma egoísta e comodista, que nunca me disponho a tais confraternizações como as matriarcas das famílias "normais" fazem ... e patati e patata ...
Reconheço-lhe de facto alguma / bastante razão, pois fujo abissalmente ao paradigma da família funcional, e como também a afectividade e a proximidade entre os elementos da nossa micro-estrutura familiar não são a marca reconhecida, pautando-nos bem ao contrário, com uma imensa falta de partilha e cumplicidade  ( sobretudo com o referido núcleo ... ), desde que nos saibamos com saúde e sem particulares contratempos, mantemos o distanciamento prudente para que alguns conflitos não possam eclodir mais violentamente.
Devo referir que as maneiras de ser e pensar entre mim e ela são totalmente opostas, os valores que defendemos também, os interesses e preocupações raramente se afinam, a forma de estar na vida, e ver o mundo ao redor, igualmente. 
Como tal, existe potencialmente uma mistura explosiva iminentemente pronta a deflagrar à mínima fricção, que se deve evitar a todo o custo.
A fórmula "familiarmente correcta" de convivência pacífica, passa portanto por nos sabermos bem de saúde, sem problemas significativos de outra ordem, sem grandes ondas, perturbações ou turbulências.
E assim vamos andando !...

Entre as duas irmãs, e porque a mais nova é substancialmente parecida comigo, logicamente o "status quo" é idêntico, e portanto a situação é paralela.
O relacionamento é feito "com pinças", sempre num equilíbrio ameaçado. O que uma entende não entende a outra, o que uma defende nada tem a ver com os objectivos da outra, e assim sucessivamente.
Não foram poucas as vezes em que ao longo do almoço eu espetei beliscões na mais nova, ou lhe dei pisadelas por debaixo da mesa, por iniciar caminhos "suicidas" nos temas abordados.  Já sabíamos onde iriam dar, e sinceramente, não tenho pachorra ou folga emocional pra grandes embates que de nada valem a pena e a lado nenhum, nos levam ...

Como se vê, uma verdadeira e interessante animação, foi o meu almoço de anos !

Chegados ao fim, apresta-se a necessidade das arrumações.  Tudo sai dos lugares e tem que voltar, tudo se suja e há que limpar, etc, etc, etc.
A minha realidade diária é de uma pacatez total. Sou eu e o meu gato, com um esquema de vida e rotinas que preservam os espaços e as coisas, pelo que os dias se passam sem grandes afobações ou tarefas exaustivas.  Cheguei portanto à noite, totalmente feita em fanicos.  
Pude constatar claramente o que o avanço do tempo nos causa, em capacidades, resistência, frescura.  Há alguns ( não necessariamente muitos ) anos atrás, estas tarefas eram realizadas com uma perna às costas, a frequência com que se promoviam por ano estes convívios, era largamente maior, e o grupo que desta vez se sentou à mesa era bem mais alargado, por evento.
Pois, mas o tempo é carrasco e não se compadece !...

O cansaço físico e a falta de disposição que me confina grande parte dos meus dias à casa, sem que me anime a grandes outros programas, é acompanhado igualmente dum exasperante cansaço mental e emocional.
Hoje em dia, o nosso mundo alargado, as realidades doídas que se vivem lá fora, o horror que nos aturde de todos os lados, a dor que dói mais porque não se entende ou justifica, são um "ruído" assustador, deprimente e mortal !
Há uma "poluição" emocional tão desestabilizadora que nos mata aos poucos.  A impotência experimentada, o cansaço da dor das imagens sem alívio, de duas guerras a grassarem em simultâneo, a cegueira e a surdez do Homem que parece ter-se transformado numa espécie amputada de sentimento ou emoção, num estado de alucinação ou loucura, deixam-nos também a nós em desvario, petrificados, gélidos, anestesiados ... em choque !

No nosso universo estrito, que é como quem diz, na nossa realidade diária, num país que estrebucha mergulhado em corrupção, compadrio, desonestidade ... crime ... e em que cada um procura tirar o melhor quinhão para si, apenas para si, mesmo que tenha que pisar, trucidar, levar na avalanche todos os que se meterem à frente ... a vida é feita a pulso, tostão por tostão, degrau a degrau, subindo um e descendo quantas vezes, dois ... num esforço e num desencanto sem tamanho.  
Numa competição feroz e doentia, num oportunismo descarado,  numa insegurança tormentosa, as esperanças fenecem, os sonhos estiolam, o cansaço torna-se patológico ... o reconhecimento e a compensação quase nunca acompanham as competências, o esforço e a dedicação ... 
Bem ao contrário !...
E tudo isto derruba, esgota, instala o cansaço, exponencia a incerteza e adoece a alma.  E atrás de uma alma doente, é fácil um corpo desistir ...
Afinal, fica difícil, muito difícil costurar os pedaços !...

Enfim, já me alonguei neste mix atordoante a preto e branco ...
Só que ... foi assim por estes dias ...

Anamar

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