quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

" SOBRE TUDO E SOBRE NADA ... "

 


Acho que já escrevi sobre quase tudo.  Por "tudo", entenda-se aquilo que me mobiliza, sejam acontecimentos do dia a dia, sejam perfis humanos que me tocaram, sejam experiências que no fundo do meu ser me acompanham, me empolgam, me assustam, me emocionam ... enfim, o mix de sentimentos que ao longo dos tempos vão recheando a minha vida !
Talvez por isso sinta em mim, nos últimos tempos, um vazio de necessidade de escrever.  Sempre acho irrelevante, sempre acho que não acrescento ou retiro nada de importante a qualquer tema, sempre me parece redundante qualquer posicionamento meu, por o considerar insignificante, sem interesse justificativo, ou mesmo desnecessário.
E o que tenho escrito, do que já escrevi, raramente rebusco para lembrar, raramente releio achando que vale a pena, raramente tenho paciência para revisionar, anos decorridos, uma outra vez,  o que quer que seja !
Isso aqui neste espaço, mas também em memórias mais longínquas.  Até porque desinserindo de contextos aquilo que se escreve, correm-se graves riscos de avaliações erróneas ou interpretações falsas.
Ontem, falando com uma pessoa conhecida, dizia-me esta que relê com frequência os diários que ao longo das décadas e décadas da vida, tem escrito.  Referia ter vinte e tal diários escritos, desde a juventude, quando ainda se passeava pelos bancos da faculdade, aos quais acede.
Acho isso fantástico e até interessante.  Eu não tenho paciência para tal !

Precisava dar uma virada na minha vida.  Está demasiado monótona e cinzenta, sem nenhuma ou pouca emoção, está cansativa, sem graça, totalmente rotinada, sem colorido ou loucura.
Contudo, embora tenha esta clara visão sobre o estado das coisas, falta-me totalmente o "combustível" para atear uma labareda interessante ... e o motivo prende-se exclusivamente ao óbvio peso do tempo que, como a minha mãe dizia , tudo dá e tudo leva ...
Não será, é claro, uma questão exclusivamente minha.  Muita gente, ou quase todos, referem exactamente queixas semelhantes, uns com mais, outros com menos capacidade reactiva, coragem e fé para apostarem na reversão possível deste lastimoso estado de coisas.
Eu, sou das mais tristes, das mais desistentes, das mais revoltadas ... acabando também por ser ironicamente, das mais acomodadas ... como se a minha insatisfação fosse na proporção daquilo que a vida me deu, daquilo que vivi, dos sonhos que criei, dos filmes que inventei ... Tudo proporcionalmente grande, tudo inevitavelmente irreversível, tudo em excesso, tudo imenso, como a pessoa extravasante e intensa que sempre fui. 
Fui ... e que não consigo ser mais !... "tudo dá e tudo leva ... "
Tudo  suficientemente  "dramático",  como  já  me  disseram ... tudo  astronomicamente  pesado !...
E como acho que falar destas queixas, destas insatisfações, deste cansaço é verdadeiramente uma "pepineira" que não interessa a ninguém, remeto-me mais e mais ao meu silêncio, ao meu canto, ao meu lugar.  As pessoas, individualmente, nesta vida tão conturbada, já têm chatices que cheguem, problemas que lhes tirem o sono, preocupações que as acabem, e vão-se também isolando, vão também encontrando pouco espaço ou disponibilidade nas agendas diárias, vão procurando formas construtivas de viver e sobreviver, e de não se deixarem sucumbir pelo cansaço, pelas angústias, pelas preocupações e pelo cinzentismo de vidas, quase todas já, crepusculares !  E fazem muito bem !

Entretanto ando cada vez mais irritada, com uma postura noticiosa, dos mídia, no relato de acontecimentos que vão ocorrendo na nossa realidade diária.  Trata-se fundamentalmente não dos conteúdos, mas da forma de abordagem das questões.  
Passo a explicar :  a terminologia adotada passou a ser de "um idoso, uma idosa ... " sofreu isto, aquilo, aconteceu-lhe isto ou aquilo ... etc, etc.
Deixou de ser "um homem, uma mulher ..."
Uma criança, está perfeitamente identificada, um jovem, também.  Até aos cinquenta continuamos como  "homens ou mulheres", designação de imediato extinta dos sessenta para cima !  
Aí, não há safa, adquirimos automaticamente o rótulo do idoso ... do "velhinho", do "empata", do "cota" pejorativamente falando.  
E é um desespero, porque ainda que provavelmente bem escorreitos física e mentalmente, quantas e quantas vezes, caímos em desgraça e passamos a fazer parte da turba cinzenta do pensionista, do desocupado, de quem não tem nada p'ra fazer, do que está cá para onerar o sistema ... do que "empata" ... finalmente, do sujeito passível de uma qualquer desgraça a engrossar a estatística do "idoso" !!!

Bom, isto foi apenas um desabafo, ironicamente aqui abordado para aliviar o peso da malfadada conotação ... da incómoda injustiça social !
Que saudade do tempo em que em última análise, eu era apenas "uma mulher de tantos anos "... etc, etc, etc !!!...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Estimada Margarida 🌼
Idosos é terminologia do socialmente correcto, dos “esquerdilhames” que até aprovaram uma lei para mudança de sexo aos 16 anos., quando a maioridade é aos18.
Vão para a pata que os pôs
Esta nossa terra, está tudo virado do avesso, as pessoas com mais idade tem a sabedoria da vida, são úteis e necessárias, deviam estes idiotas que nós querem minimizar aprender com os Africanos, e os seus conselhos de anciãos, esses sim com idades substancialmente superiores á tua, estimada amiga.
Jonas