quinta-feira, 3 de junho de 2021

" O QUE RESTA ... "


Não escrevo nada ... nem em quantidade nem em qualidade !

Olho a página em branco à minha frente, e nada, não consigo parir uma ideia, um tema, um assunto que me motive, e que, abanando os neurónios me gratificasse com qualquer coisinha que pudesse animar-me.  Nada ... absolutamente nada !
Espremida a mioleira, não desencavo uma só coisa que justifique o esforço ainda sensível nos olhos recém-operados.
A minha crise existencial neste momento, o espírito deprimido que me assola, o cansaço e o desinteresse generalizado que me pressinto em relação a tudo e a todos, levam-me a crer estar em estrada sem retorno, estar estrangulada por nó de marinhagem, estar nas areias sem horizonte, sem bússola ou norte.
Não descortino incentivos para retomar caminho, não descubro razões para ir além, não pressinto forças para virar a página da vida onde estacionei ...
Começar os dias é tão só uma espécie de destino a cumprir-se, não mais,  um caderno de encargos que apesar de tudo tenho que honrar.  Automatizo as rotinas, pois é a única forma de não alienar algumas, e renego todo e qualquer esforço para preencher este imenso e pesado vazio que se agiganta diante de mim.
E no entanto, ele sufoca-me e mata-me gradualmente.
Não consigo tornar o hoje diferente do que foi o ontem, não consigo conceber um amanhã mais aliciante e preenchedor do que está a ser o hoje.  Vivo a mesmice dia após dia, todos os dias !...

Estou a viver a "pós-depressão" traumática de um estado de calamidade emocional arrastado há tempo de mais.  Uma anormal experiência de vida que teve a capacidade de virar o ser humano do direito para o avesso, o mérito de retirar a energia, a alegria, e até a emoção de vivermos a vida colorida, como o deverá ser. 
Estou  a viver  um  estado  letárgico  e amórfico  capaz  de embotar sensações, emoções, interesses, vontades e sonhos.
Estou a sobreviver amputada da expressão dos afectos.  Seca, árida, áspera e vazia.
Estou num ponto de não retorno. Sinto-me sem capacidade de reversão de tudo isto, porque não sinto em mim nem vontade nem fôlego para empreender novos caminhos.  
Vivo uma espécie de desaposta, dormência ou auto-abandono.  
Arrasto os dias e encolho-os, em detrimento das noites, essas, intencionalmente longas e cultuadas ... momentos abençoados de apagão na mente e no coração ...
Não vivo ... resisto apenas !!!

Não sei o que fazer, como fazer, atolada num pântano fétido, entontada no vaivém da montanha russa atordoante que são estes dias enjoados, sem horizonte à vista !

Perdoem o vazamento, perdoem a escorrência das palavras ... mas às vezes, no meio da solidão e do silêncio, são elas que restam ... pouco mais !

Anamar