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sábado, 8 de setembro de 2018

" NÃO SE AGUENTA !!! "



 
                                                      CONHECEM ???!!!!!  😠😠😠😠


Estou preocupada comigo mesma.
Ou então atravesso uma crise de intolerância, insuportabilidade, atingida que foi a cota de fúria, ainda a "festa" não começou ...

Eu explico :  atravessamos o famigerado mês das não menos famigeradas festividades do município onde resido.  Terça-feira próxima, comemora-se mesmo, o "dia da cidade", com o inerente feriado municipal.
Moro na zona central  e as traseiras do meu prédio, formam, conjuntamente com outros, uma espécie de praceta fechada.
Sendo logradouro privado da Câmara, este simulacro de quintalão,  é recentemente aproveitado para os programas de ar livre das festividades, quer se trate de espectáculos de rua com ou sem qualidade.
Como um espaço praticamente confinado, no meio de paredes pertencentes a prédios de sete andares ou mais, concentra em si toda a sonoridade emitida.
Palco instalado, pseudo-criação de café-concerto, mesas e cadeiras para comes e bebes.
Desde cedo, aliás desde ontem, a instalação desta necessária panóplia de infra-estruturas, mais a aparelhagem sonora, toda a instrumentação que se impõe, as colunas de som, e obviamente a bateria tinindo de afinada ... aqui foi colocada.
É claro que estando numa terra circundada por bairros de residentes muito particulares, a bateria é determinante e imprescindível.
A música  é, fundamental ou exclusivamente, metálica. Grupos "rap", absolutamente desconhecidos acredito que não só para mim, lançam incessante e insanamente para o ar, decibéis insultuosos de temas de uma qualidade que não lembra "ao careca" ...
A praceta, como referi, ajuda à coisa, funcionando como caixa de ressonância.
Pois bem, a previsão de começo oficial da desbunda é agora às 18h.  Mas receando perder um bom lugar, já temos gente instalada a pé firme, nas mesas lá em baixo.
Um bom lugar, ou direi mesmo, que um croquetezito, se os houver, já que se anunciava em complemento, "street food" ... vejam como se é fino, nestas paragens ... 💃 "oh yeah" !!!
Tudo depende da boa vontade camarária.

Vivo num sétimo andar.  Estou portanto no que se pode chamar,  de "tribuna vip".
Já fechei tudo o que podia fechar. Tentei tampões de silicone, esquecidos desde os tempos das natações. Já procurei o outro lado da casa, oposto a este.
Em vão !
Os cães dos terraços aqui à volta, estão solidários comigo, pois não entendem esta espécie de sismo, que nos abana as paredes.  E ladram furiosamente.
Os meus gatos, igualmente incrédulos, procuraram o único sítio disponível que lhes parece protector. Fugiram para debaixo da cama.  Logicamente, em vão !
Ainda não perdi a esperança de que a minha vizinha do quarto andar, com cento e um anos, seja desta vez que se fina...

Estou com uma crise de profundo mau feitio, com uma vontade assassina de fazer um bombardeamento rasante, que exterminasse a "festa" de vez !...
Tenho uma dor de cabeça dos infernos, e só me apetece gritar cá de cima que vão todos para a "puta que os pariu" !
Por que raio é coisa assente, que queiramos ou não, temos que participar do pesadelo???
Só porque há que lavar a cara, neste mês de Setembro, a uma Câmara omissa, negligente e demissionária das devidas obrigações básicas para com os munícipes, no resto do ano ?!

Por que não, acontecimentos culturais reconhecidamente qualificados?
Por que não, um bom concerto ao ar livre aqui debaixo do plátano, neste fim de Verão?
Por que não, um bailado ( já não exijo com o critério dos que ocorrem no "Ao Largo "... ) ?!
Por que não, serem convidadas figuras da área da música, de valer realmente a pena ?!
Por que razão veio, por exemplo, a Teresa Salgueiro a um único espectáculo, ainda assim a portas fechadas ?!  Com entradas pagas, claro, porque para as franquear, a Câmara parece então não possuir verba ...

Estou farta desta bimbalhice bacoca, para calar a boca a suburbanos pouco exigentes. Gente que papa e engole qualquer coisita.
Estou farta de agendas camarárias recheadas à "trouxe-mouxe", subalternizando o grau de interesse, acredito que da maioria das pessoas, e contribuindo para a sua incultura.

Bom, espero resistir.
Entretanto, antes que mate alguém, estou a fazer uma concentração mental  muito particular, apelando à comiseração dos elementos da Natureza, quais índios da Amazónia, com a sua "dança da chuva"...

Como seria abençoada uma boa bátega de água, neste contexto !!!

Anamar

quinta-feira, 12 de julho de 2018

" E TER, DEPOIS, MENINOS ... "



" O amor em Portugal continua a ser diferente.   Começou pelos sinos a tocar e um par que se ajoelhava e acabou por um anúncio no jornal e uma fotografia que se devolve ... "

" Antigamente, quando o amor sorria
e os vates o cantavam com talento,
tudo em volta de nós era poesia,
ternura e sentimento !
Os olhos das mulheres enamoradas
brilhavam como sóis,
os cardos eram rosas delicadas,
as águias rouxinóis,
o riso era cristal, a pele arminho
e a vida cor-de-rosa !
Os poetas em tardes outonais
não estavam lá com tretas
descobriam no cheiro dos currais
o aroma suave das violetas ;
a Lua era de prata,
as tranças d'ouro, os lábios de coral
e quatro pés de couve a verde mata
as áleas dum quintal ...
Como era bom, então, viver, amar
e unirem-se os destinos
quando bastava apenas p'ra casar
ouvir tocar os sinos,
por o joelho em terra aos pés do altar
e ter, depois, meninos ...

Mas hoje não arrulham pombas mansas,
nem se murmuram já palavras ternas ;
são outras as andanças
das práticas modernas
e como o Tempo volta a toda a hora
as costas ao passado,
aquele que hoje em dia se enamora
e quer mudar de estado
para seguir, enfim, p'la vida fora
até se reformar divorciado,
dispensa a frioleira
duma aliança d'ouro ou dum bragal,
não faz questão co'a flor de laranjeira,
põe de parte o que for cerimonial,
convivas mascarados,
passadeira e cortejo nupcial
com fatos alugados
que assentam muito mal
e chapéus com grinaldas de florinhas,
em troca dum anúncio no jornal
de quatro ou cinco linhas :
"  P'ra fins matrimoniais, sem mais rodeios,
um homem que não tem bens de raiz
pretende uma mulher com alguns meios,
que faça um lar feliz ;
uma mulher que entenda os seus anseios,
loura ou morena, de qualquer idade,
viuva ou separada, 
esteja ou não esteja em plena mocidade,
ou já recauchutada ... "

Diga o leitor agora, francamente,
com a sinceridade habitual,
se continua ou não a ser diferente
o Amor em Portugal ... "

                     V. M. S.



Estou a desfazer a casa dos meus pais.  Paulatinamente ... ao sabor da força e da coragem.

Afinal, foi casa de uma vida, carregada de histórias, de sombras e memórias.
Custo a mexer-me.  Quero e pareço não querer fechar definitivamente aquela porta, já que as janelas estão fechadas há largo tempo.
Tudo me tem passado pelas mãos.
Quando se desfaz uma casa, as coisas sabidas e impensadas nascem como cogumelos, das gavetas, das estantes, dos lugares que não frequentávamos.
Se nas nossas casas, isso acontece, imaginem em casas que não foram exactamente nossas ...

A minha mãe, num afã de afecto e saudosismo, tudo parece ter guardado :  o registo das minhas notas do colégio ao liceu ( e de outras colegas também, para ter bem a certeza, por comparação, que eu havia sido a melhor aluna da turma ... rsrsrs ) ... fotografias aos montes ( de caras conhecidas e de muitas outras que não identifico de nenhuma forma.  A maioria, a preto e branco ou a sépia, atestam bem a época a que respeitam.  Cavalheiros com bigodes façanhudos e respeitáveis, chapéus e raposas nos ombros de ignotas senhoras ... criancinhas com folhos e touquinhas ... ou completamente nuas, repousadas no cetim do fotógrafo de ocasião ... ), registos de actos públicos  como certidões, contratos, cartas de condução caducadíssimas, bordadinhos feitos por mim no colégio, mais tarde nos lavores femininos já no liceu ( logo eu que não fui dada a prendas domésticas !... ), rendas iniciadas e jamais acabadas ... quilos de cartões de felicitações por aniversários, Natal, Dia da Mãe ... pequenos riscos e desenhos feitos nos primeiros anos das netas, versinhos e pinturas feitos por mim e esquecidos em papéis velhos e rasgados, textos já então desabafados ... enfim ... um acervo interminável !

Eu própria, que sempre vivi muito sozinha naquela família curta, de pais velhos, sem autorização para grandes saídas e convívios, ocupava também os meus tempos livres, coleccionando religiosamente alguns tesourinhos da época : fotos dos meus ídolos do cinema e da canção, revistas femininas e ingénuas e recortes, muitos recortes de jornais e outras publicações, que reputava certamente como interessantes, por razões que hoje não descortino ! ( rsrsrs ).

É exactamente aqui que se prende o tema deste meu texto.

Entre toda a panóplia inimaginável e ternurenta, caíu-me nas mãos um pequeno recorte de jornal amarelecido, da década de sessenta.
Não tinha data precisa e está assinado por um, ou uma tal V.M.S.
Transcrevi-o e apu-lo a este post.

É incompreensível, coisa de extra-terrestre mesmo, para as gerações actuais, o seu teor.
As pessoas da minha geração entendê-lo-ão, certamente, e lembrarão que o mesmo respeita ainda assim,  já a dois períodos cronológicos distintos .
Ri-me ao lê-lo. O "naïf" do seu conteúdo, revelador de valores sociais, familiares, pessoais mesmo, bem característicos de tempos idos, é duma ternura imensa, duma ingenuidade quase infantil, que nos dias de hoje, lembra uma historinha inverosímil ...
Pela curiosidade e por se tratar de um apontamento literário praticamente humorístico, resolvi trazê-lo a té aqui.

Pergunto-me então, o que escreveria hoje ( certamente escandalizado até à medula ), o ou a  V.M.S. se pudesse deitar um olhar sobre a actualidade, e sobre as formas como se vive nas sociedades actuais, à luz dos costumes, das revoluções sociais, tecnológicas e todas as outras nossas conhecidas e com as quais já nem pestanejamos ... o famigerado " amor em Portugal " ?!...



Anamar

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

" QUE GRANDE MOLHO DE BRÓCOLOS !... "





Que diabo ... aquele bolo sabia-me a alfazema !!!

Era um bolo pequenino;  talvez pelo tamanho, eu estivesse a incorrer num equívoco.
Havia que comer o outro que jazia no frigorífico a aguardar, para tirar a limpo esta coisa espantosa : como é que um bolo sabe a um cheiro ?!...

Os cheiros são sensações olfactivas que aspiramos, intensamente inspiramos mais e mais fundo, p'ra termos certezas.  Os cheiros não são fisicamente transportáveis ao reino dos sabores, esses que provêm de alguma coisa que ingerimos, mastigamos, degustamos e engolimos, em princípio ... Mais ou menos deliciados, claro.
Por isso, como é que um bolo, mesmo que confeccionado com a dita lavanda, pode "saber" ao que a lavanda cheira ???

Mas sabia !  Tive todas as certezas depois de ter exterminado o último pedacinho ...

Já algumas vezes o creme abaunilhado que coloco depois do duche, ou o champô que uso no cabelo, me deram ganas de os dizimar ... Tudo porque me cheiravam ao que sabia o pudim flan !

Que belas salsadas nos meus sentidos, tenho que concluir !

Suponham que se aproxima de mim alguém com um pescoço que cheira ao leite-creme de que tanto gosto ??!!!
Estão mesmo a ver que se abre de imediato uma apetência draculiana de ferrar uma dentadinha no pescoço em risco !...

O ser humano baralha-se com facilidade ... eis a conclusão !
Se confunde um cheiro com um sabor, quer trincar esse cheiro, à procura do sabor que o sugestiona ... ou jura saborear um cheiro impossível de palpar, porque o perfume não tem consistência física, passível de ser deglutida ... como não se equivocar em muitas outras circunstâncias da sua vida ??!!...😏😏

Estamos pois mergulhados num mundo de subjectividades.  Nem tudo o que parece, é ... ou se calhar, muito pouco é, daquilo que julgamos acreditar sem margem de erro !...

E assim, com este molho de brócolos  ( que me atravessou esta tarde de uma canícula irrespirável ), me debato sem solução à vista !... ( rsrsrs )
Tudo culpa de quem me ofereceu dois "miminhos de alfazema" trazidos expressamente da Guarda ... Ou então do calor exagerado desta casa, que já me esturricou, seguramente, os poucos neurónios que ainda possam resistir, completamente padecentes de anosmia ou ageusia, sem remissão possível !!!

Anamar

terça-feira, 9 de setembro de 2014

" E SE EU ABRISSE INSOLVÊNCIA ?!... "




Preocupo-me mais, se não me preocupo ...

Eu explico : preocupo-me mais com um estado de letargia e uma postura de indiferença face à vida, do que quando ainda contundo, esbracejo, me indigno, reivindico ... O silêncio, sobretudo o silêncio de alma, é o que mais me aflige.
Porque naquele estado, estou viva, vejo colorido nos dias, tenho esperança, experimento sentimentos, acho que vale a pena, crio metas e objectivos, tenho expectativas que me importam ... encontro razões de vida !  Ainda acredito !
E nada pior que não nos importarmos já, que assimilarmos um amorfismo, uma insensibilidade e um cinzentismo face ao tempo.
Nada pior que condená-lo a um Outono antecipado e perene, fora de época !

E estou nessa !...

Neste momento, e de novo, acho que a minha vida é feita de desperdícios.  Acho que tem sido um caminho perdulário, mal escolhido, mal gerido e mal administrado.
Decididamente eu não dou para gestora, administradora, empresária ...
A vida de cada um é a sua maior empresa e desafio, o seu maior empreendimento.  E obviamente há que saber  levá-lo adiante, com inteligência, determinação, frieza e  clarividência.
Há que administrá-lo com racionalidade, objectividade e sentido prático.  Não pode haver cedências, deslizes, facilitismos.
A vida é real, todos os dias, as emoções só complicam.  Quando entram em cena, quando se sobrepõem e subvalorizam o senso empreendedor do processo, vai tudo "p'ro brejo" !

Portanto, eu não poderia nunca, dar certo ... portanto, eu só poderia obviamente falir o esquema.
Nem sei como me colocam como gerente de um megaprojecto destes !!!...

Cabeça fria na análise das coisas, é tudo menos o que eu tenho, racionalidade nas decisões, também não, clarividência ... com frequência pareço não querer ter, capacidade decisória, menos ainda ...
Aliás, a frequente e sempre presente indefinição e indecisão perante quase tudo, persegue-me com intencionalidade.  Coisa de destino, mesmo !
Tenho  um "peregrino" apelo pelo abismo, omnipotente e omnipresente.  E sempre, entre dois caminhos, sou especialista em escolher o atalho !...

Evidentemente que as minhas "finanças emocionais" têm que estar exauridas, muito mais que os fundos do "Banco mau" ...  Não há Troika por aí que me valha, nem saída que me acuda !
Não há recuperação à vista, nem a curto nem a longo prazo.  As reservas de resistência vão indo, com esta gestão danosa e ineficaz, e a esperança de refundição do processo, afigura-se tarefa titânica e impossível.
Uma auditoria não adianta, porque é linear e adquirido que a responsabilidade é do gestor !
Isso faz, colocarem-se nos cargos, pessoas totalmente desadequadas aos lugares, e sem perfil para o seu desempenho, claro !!!...

E depois há um enorme "handicap" ...  É que não há qualquer possibilidade de renovação ou  rodagem da equipa, porque seria eu, substituída por mim mesma ...
Muito pior que a "Olívia-patroa" e a "Olívia-costureira", da nossa saudosa Ivone Silva,
Por outro lado, eu reconheço ser uma aluna relapsa e desatenta, ou mesmo uma inveterada burra, porque pareço não aprender com os  insensíveis e ríspidos ensinamentos do dia a dia.
Tenho um masoquismo de vida, idiota !  Tenho um olho para entrar com as "jantes" nos buracos, que é obra !   E pareço atrair e cultivar o que me destrói !
Chama-se a isto, uma falta de pragmatismo estúpida demais !!!

O resultado de tudo, é de facto um estado de exaustão, de desencanto e de desistência tal, que me conduz à tal indiferença e letargia insolúveis, de que falava.

E  não  adianta,  porque  quando  o  registo  é  este, "encaracolo",  entro  numa  de "alforreca"  ( como diz a Lena ), fecho para obras, hiberno feito um urso polar, não emigro nas asas das andorinhas porque não posso ... encosto as janelas já que fica um por-de-sol de repente, e penso seriamente : " será que eu não poderia abrir insolvência ???... "

Anamar

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

" A GENTE QUE NÓS SOMOS "



O tempo continua insuportável.
A minha casa parece uma câmara de incineração, antecipada ...  E contra tudo o que gosto, me agrada e sempre defendo, resolvi ir à praia ... da Linha, e ao domingo !!!  :(
Um cúmulo de incoerências minhas, decididamente ... o que me relembra, que nunca se diga "nunca" !

As praias da  Linha, são,  como sabemos,   ponto de convergência de multidões, devido à proximidade e fácil acessibilidade, da Linha de  Cascais, e da Linha de Sintra também.
Fui ao domingo, porque em desespero de causa, recusei passar outro dia enfiada entre quatro paredes, na meia obscuridade das janelas fechadas, por via do calor, a esperar apenas o escoar das horas. 
Pelo menos, com um sol ofuscante  bem por cima da moleirinha, e no meio de milhares de pessoas que seguramente ali demandaram, consegui abstrair do que me rodeava, e com a minha música nos ouvidos, consigo ilhar-me, às vezes admiro-me, o quanto !!!

Bom, mas escolhi uma praia "de verdade", sem sombra de dúvida.  E aos domingos, é obviamente mais "de verdade" ainda ...
Passo a explicar : decidi-me por Carcavelos, grande areal, água mansa, uma brisa a favorecer.
Ao longe, nas costas do mar, com uma bordadura de palmeiras, abaixo da linha da Marginal ( onde os carros aceleram a qualquer hora ), brinca de praia tropical, de palmeiras e coqueiros.
É só fechar os olhos, e imaginar !

À hora a que cheguei, oito da manhã, a ausência de gente, e as areias apenas povoadas por gaivotas e pombos ainda adormentados, até colaboravam .
A minha raiva começou a aumentar, à medida que o pessoal,  invadindo o areal, desatou a ocupar todos os centímetros quadrados de areia, que pôde.  O bando das gaivotas bateu mar adiante, o que é sinónimo de que o seu  sossego terminou ... e o meu também, obviamente .

Mas dizia eu, que fui a uma praia "à séria".
De facto, trata-se de  uma praia democrática, multicultural, bem internacionalizada.
A "marabunta" compõe-se de autóctones,  em maioria  ( embora entre eles, se distinga claramente a presença de alentejanos e de tripeiros ... está a ver-se  porquê ... ), africanos ( em chusmas ), chineses, indianos, e significativa presença de cidadãos de leste ( e aí, só por adivinhação se concluiria da real nacionalidade, porque as "curvas" da língua são as mesmas ).

São famílias inteiras e acólitos, são crianças e criancinhas.
Gente "autêntica", que fala aos berros, não se furta ao vernaculismo da linguagem, e distribui tabefes e safanões pelas crianças, que como quaisquer crianças que se prezem, são malcriadas, insubordinadas e reivindicativas.

A praia é um local óptimo, para, na sombra abençoada do chapéu de sol, se falar horas no telemóvel.
Tem-se  todo o tempo do mundo, e essa é a melhor altura para se porem em dia, as novidades acumuladas, se "despachar" em matéria laboral, se contarem - para o nosso receptor, e já agora todos os receptores a meio metro de nós - as mágoas, as desgraças, as aventuras ... enfim, todos os acontecimentos que fariam manchetes interessantes, do Correio da Manhã do dia seguinte !...

Ali não há "mise-en-scènes",  nem  " faz de conta ", ora essa !...
Ali, o "povão" é povão real, mesmo !   Nada dessas figurinhas virtuais, estilizadas, dos "jet-sets" das badaladas praias algarvias, de noites brancas e festas absolutamente "inn", dos clubes onde convém aparecer.
Ali, não há silicones nas mamas, nem corpinhos bulímicos de sereias desfilantes.  Em suma, não há gente de plástico !
Ali, os machos exibem-se como a  Natureza os programou ...  Nada das depilações absurdas, que lhes revelam peitinhos e braços,  de verdadeiras damas ebúrneas !!!
Ali, desfila o músculo e a gordura, a celulite e a flacidez, as barrigas e os estômagos de cerveja, as peles pendentes e o encarquilhamento dos anos ... tudo ao vivo e a cores, sem "maquilhagens" ou disfarces ... a vida ao natural !!!

Por outro lado, o "povão" é expressivo e exuberante.  O povo não se coíbe nas manifestações que exterioriza, não tem as preocupações do socialmente correcto, do adequado, da censura de classe ... as "frescurinhas" do bem parecer ... O "povão" tem direitos ... "que gaita" !  "Quem está mal, que se mude ... era o que faltava !! " ...
E ali, a praia é de todos, e muito mais, "sua" ...
Por instantes, tive um flash do "Pátio das Cantigas", do saudoso Vasco Santana ...
Por  instantes,  revi  Fellini,  na  Sicília ,  anos  vinte ....  Por  que  seria ???!!!...

Uma  constatação assaz interessante, que me surpreendeu pela incidência verdadeiramente perturbadora, foi a  progressiva  rentabilização que as pessoas inteligentes fazem,  dos metros quadrados da pele de que dispõem, na exibição de obras de arte espantosas, assim, gratuita e generosamente ...
Um contributo para a democrática "arte de rua" !!!

Sabe-se que nas ruas e avenidas, existem outdoors que devem custar os olhos da cara, a quem, neles,  pretenda publicitar  imagens, ideias, frases,  propaganda política emocionantemente criativa ... tudo isso ...
Ora se o ser humano dispõe de verdadeiros painéis de exposição, inteiramente à borla, por que não mostrar ao mundo, tatuagens comoventes, pictogramas criativos, mensagens emotivas ???
Há que aproveitar cada recanto, cada pedacinho mesmo recôndito, cada superfície devoluta dos corpos, para expor, expor, expor ... o dragão, a fénix, o peixinho, a ave planante, os amores todos que se foram,  em corações de cupidos trespassados, o escorpião, a borboleta, emaranhados arbóreos de floresta virgem, tudo, tudo ... generosamente, numa mostra gratuita ao mundo ... como aliás, deverá ser a cultura !!!

E como há imensos gordos ( está provado que a obesidade é actualmente, das mais graves pechas da humanidade ), os metros quadrados de pele, disponíveis, aumentam portanto, exponencialmente.
E porque a beleza de uma obra de arte deve ser usufruída indistintamente por todos, e há que veicular a cultura de um povo ... os corpos recobrem-se de "pinturas rupestres", de alto a baixo, ao alcance de qualquer olhar !...
Assim se vê bem, o espírito de mecenato da nossa gente !...

Também na morte, o ser humano é bem diverso !

Ontem fui a um funeral.
Tratava-se de alguém relativamente novo ainda.  Pertencendo a uma classe média-alta, e sendo administrador de uma multinacional,  inseria-se claramente num estrato social  economicamente elevado, com um círculo de relações consequentemente condicente.
Não me era muito próxima, a pessoa em causa.
Estive presente portanto, por cordialidade, por norma de convivência, apenas.  Ocupei por isso, uma posição confortável, de espectadora do circundante, sem que o envolvimento emocional me perturbasse.

Não havia lágrimas, não havia desespero, não havia drama.
Tudo muito civilizado, bem contido, correctamente enquadrado ...
Tudo muito "frio", muito apropriado, muito notícia da "Hola" ...
Tudo demasiadamente "cool" !...
Na verdade, nada  que  se  assemelhasse  a  um  funeral  "a  sério",  portanto ... ( pensava  eu ) !!!...
Mas  o  que  é  facto,  é  que  esta  também  é " a  gente  que  nós  somos " !!!...

Bom, e  já dissertei que chegasse, sobre ela, sobre  as personagens que nos cruzam, e que são a nossa própria  realidade.   
Penso que tudo isto é nacionalmente genético, é herança cultural, é especificidade de se ser português, de sermos este povo aqui, neste retalhinho de terra, entre o mar e a montanha ...

Tudo isto é muito " a nossa cara", o que transportamos nas veias, e o que contemos na alma, nesta Europa de sul, visceral e sanguínea, impulsiva e autêntica ...

Tudo isto é a genuinidade da nossa gente, do tal "povão", que mesmo espartilhado pelas condicionantes com que a sociedade o limita e castra, pelas  regras  que  lhe  impõe  e  dita  ... sempre  é  igual  a  si  próprio, sempre  é  autêntico  e  verdadeiro,  em  qualquer  lugar !!!...

Anamar

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

AS " BRANCAS " ....


Mas será possível ??!!

Obama ... pois ... mas o "quê " Obama ?
Michelle Obama, a mulher do presidente.  E ele ??  Richard ?... Não !   John ?... Não !   Joseph ?... Não !

Meu Deus ... na televisão passam imagens sobre imagens, notícias em rodapé, e o nome do homem não sai da cartola !
Que angústia !...  Estou há seguramente mais de um quarto de hora, para me lembrar do primeiro nome do presidente, que admiro, que tenho como uma referência na história da governação dos Estados Unidos ... e nada de me sair o seu primeiro nome !!!...

As "brancas" ... as famosas "brancas", que as pessoas em solidariedade "institucional", referem, animando-se umas  às  outras ... " Oh ... fazes lá  ideia as vezes que me acontece !... "  ou ... "Agora tenho isto com uma frequência !... "

Caraças !...
Como diz a minha mãe : "Não vem nada de bom ! Tudo piora com o maldito BI !!! "

No dia de Natal, à conta disso, do BI, ri-me que nem uma perdida, com o humor fino da minha filha, que conseguiu desdramatizar o efeito de uma ocorrência que poderia ter sido grave, e me deixou com o sistema nervoso aos pulos.
Passo a explicar : Havíamos combinado que o almoço de Natal seria em sua casa, para onde me dirigi com a minha mãe e uma amiga um pouco mais velha que eu, embora, digamos que da mesma faixa etária.
Como o trânsito pela hora de almoço estava caótico, e o estacionamento também, parei o carro na subida da garagem, apenas para que elas saíssem, tencionando ir depois estacionar, algures.
Tentando sair, a minha mãe, nos seus 92 anos, apoiou-se no travão de mão e destravou-me o carro, que iniciou uma marcha atrás em velocidade crescente.
Eu e a minha amiga estávamos na rua, exactamente ajudando a minha mãe a sair, e esta, meio dentro meio fora, não se apercebia sequer que recuava, e persistia em querer descer.
Bom, foi um "sufoco" desgraçado, tendo o carro, desgovernado, parado, não sei muito bem porquê, a centímetros dos carros estacionados, e o episódio terminou, finalmente.

Ao subir, e narrando, ainda em alvoroço, o que acabara de ocorrer, diz a minha filha, tentando aliviar-me o susto :   Já  imaginaste, mãe, amanhã nos jornais viria : " Velhinha de 92 anos atropelou duas idosas, e provocou vários danos em carros estacionados !..."  E vocês  iam ser manchete dos jornais ... Que mais queres ???...

Obviamente que as gargalhadas se soltaram desbragadamente ...

Mas houve uma palavra que retive :  "idosas" ...
Idosas ?.... Talvez !
Bolas, não me sinto idosa, de facto !  Rejeito, enjeito  e fico louca de pensar nisso !

Logo de seguida  veio-me  à mente uma afirmação, verídica efectivamente, para a qual a Manuela me remete, quando me quer ver afinar :  "Já viste que nos jornais noticiam muitas vezes :   Sexagenário  atropelado  ..... e  não  simplesmente  ... Um  homem  foi  atropelado " ??!!!
Tendências persecutórias, é o que é !!... ( rsrsrs )

E  depois,  ainda  ela  ( em  tom  jocoso  e  ironizando  com  a  própria  idade ), refere um ditado, de um sadismo atroz, que  me  deixa  possessa,  e  com  isso  me  mata :  " Por  detrás ... liceu !  Pela  frente ... museu " !...
Esse provérbio prende-se com a silhueta da mulher de hoje, que como sabemos, foge frequentemente aos estereótipos cultivados culturalmente desde sempre, e  que se entendiam consentâneos com o envelhecimento : saias mais compridas, cabelos "demodés", saltos baixos ou rasos, calças, nem pensar, roupa clássica ... enfim, o mais discreta, envelhecida, pouco chamativa, possível ... numa espécie de capitulação, que me deixa no mínimo, nervosa.

Estamos fartos de saber, que a mulher hoje está noutro patamar, vive e vê a vida de outra forma. Sacudiu a poeira, e não abdica de ser apresentável, sedutora e desejável em qualquer idade.
Temos avós a confraternizar e a participar na vida dos netos, com quase igual grau de loucura, reduzindo-se  o desnível etário, de uma forma espantosa.
Mas ainda assim, o raio do ditado confronta-me com a hipotética mas inevitável realidade, de nos transformarmos todos, tristemente, em "peças de museu", "carcaças", "múmias", etc, etc, etc ... os tais "mimos" do BI !...

Noutro dia, a minha mãe, "simpaticamente" dizia-me, na sua melhor vertente crítica e censuratória que lhe está no sangue de alentejana, de  um  Alentejo  profundo, castrador,  fechado  e  pouco  tolerante :   " Agora andas armada em menina de quinze anos !!!  Pudera, dão-te menos idade do que a que tens, porque andas de saias curtas e decotes ....  Agora, se te virem de frente ...... "

Puxa !!!  Arrasador !!!  O BI  novamente, irra !!!...

Eu acho mesmo, que parte da maluqueira que caracteriza a minha personalidade, e que cultivo religiosamente, advém de uma resistência e de uma frente que faço, ao avanço dos anos, porque não consigo conviver com a  ideia  de  que  eles  sempre  progridem,  enquanto eu regrido ... Sem  apelo, regrido, porque  essa é a lei da Vida !
É uma espécie das birras dos adolescentes, face ao que lhes é AINDA vedado.
No meu caso, face ao que  JÁ  me é vedado !!!...
Mas também ... eu sou apenas uma "enxuta  sexalescente " ... essa a verdade !!!

Vedado ??!!  Uma gaita !!!  Faço e farei toda a sorte de loucuras, enquanto puder ... Porque ... "idosa" ... é a mãe !!!...
Desculpem.  Hoje estou de mau feitio !!!

Bom, e passada bem mais de uma hora desde o início desta minha escrita ... ainda não consegui tirar de "debaixo da língua", o nome do Obama !!!
Raios !!!

Lá vou ter que perguntar à minha mãe, agora que vou estar com ela.
Quem sabe ela se lembra ??!!...  Ahahah...

Uma "branca" destas, com o Obama .... é dose !!!...

Anamar

terça-feira, 20 de novembro de 2012

" DON ' T FORGET IT " !...



Amigos ... hoje não acabei o post que tenho entre mãos.

Inspiração escassa, dia "xoxo", com o tempo cinzento, chuvoso e frio, a lembrar que não tarda, é Natal.

Mas como o meu espaço por aqui, é multifacetado, abrangente, ecléctico, informativo, divulgador ...and so on ... e como recebi de um amigo, este "miminho" que achei uma delícia, em que para lá do aspecto pedagógico, me fez rir pela criatividade ...
... resolvi partilhá-lo convosco.

O figurante principal do vídeo, tem ainda o mérito de me lembrar uns bonequinhos que me ofereceram também ( na paródia ) , uns falos, com olhinhos, pézinhos e o mesmo ar comprometido deste, e que já andaram nas "santas" patinhas do meu  JONAS,  que  acha  que  tudo  é  dele,  nesta  casa  ... e  que, claro,  tive  que  pôr  a  salvo,  rapidamente !

Espero que se divirtam...e espero que não esqueçam de o usar, em altura própria...senão ... acabam  marginalizados, como o nosso "herói" da história  !!!...

Anamar

sábado, 27 de outubro de 2012

" ESCREVER OU NÃO ... EIS A QUESTÃO ! "



" Cada um faz o que quer, mas o escritor que eu quero ser tem deveres.  Qualquer idiota escreve bem.  Nós precisamos é de textos lúcidos "
                                     Rui Zink ( Ipsilon - Jornal  " O Público" )

Rui Zink largava esta afirmação que supracito, ontem, numa entrevista para o Jornal "O Público".

"Puxa",  pensei ... "Textos  lúcidos"  são  tudo  menos  os  que  eu  escrevo ;  bem escritos ... dizem que sim .... logo, estão reunidas as condições, nitidamente, para que eu esteja incluída no grupo dos idiotas.
Dos idiotas e nem sequer dos "ideotas", que serão aqueles "gajos" que ainda vão tendo algumas "ideias", de quando em quando !
Eu, nem isso !
A verdade é que me foge sempre o pé para o chinelo, na escrita, que é como quem diz, foge-me a caneta para banalidades e evidências, que todos já viram quinhentas mil vezes antes de mim !!...
Que pobreza, de facto !...

Mas uma coisa há, que é absolutamente genuína em mim, afianço-vos :  a tradução em palavras fiéis e sentidas, de tudo o que me vai aqui dentro do "invólucro", desde os pés à cabeça, e mais ainda, nas duas "gavetas" principais : a mente e o coração ...

Juro que nisso, não estou aqui para enganar ninguém, simplesmente porque aquilo que cada um pensa e sente, é das poucas propriedades privadas, do ser humano ... senão a única !

Deveria ser um bem inalienável ...  Não paga IMI, nem água, nem luz, nem esgotos, nem gás, nem prestação bancária, nem sequer condomínio .
É uma propriedade tão nossa, que somos livres de lhe subir muros, ou de os derrubar, sem precisar de autorização camarária !
Somos livres de franquear os portões a quem queremos que entre, ou de os aferrolhar a sete chaves, por via dos intrusos, dos abusadores  e até dos ladrões.
Porque também há ladrões de almas e de corações !!   Ui ... isso é o que por aí há mais, garanto !

É privada ...  Ou então, de "mãos largas", dividimo-la com estranhos, que, porque entram, deixam de o ser, e ficam "nossos", dentro da nossa propriedade, ganhando direitos ao nosso clã .

Uma vez instalados nela, porque é nossa pertença, nunca mais conseguimos mudar para outra, ou dificilmente o fazemos.
E as mudanças dão uma trabalheira, um desgaste e um cansaço, que nos derrubam frequentemente, e até pode acontecer que a nova propriedade, nem sequer substitua com vantagem, a anterior ...
Pode beneficiar de melhores vistas, localização privilegiada ( talvez nos deixe ver o mar, sonhar, acreditar, ver pássaros em bandos esvoaçantes por sobre as nossas cabeças, e borboletas que, batendo as asinhas, nos refrescam o coração ), mas o interior mesmo, o recheio, o conteúdo, o real valor do novo "imóvel", pode ser simplesmente  ilusório ... e  aí,  fizemos  seguramente  um  mau  negócio !!!

E depois os juros a pagar, são sempre elevadíssimos, e a perder de vista.
É um raio de uma dívida, cada vez mais penosa e sofrida ... Porque, diabos, adquirir um imóvel aos vinte anos, não é o mesmo que adquiri-lo aos sessenta !!

Há um outro problema a considerar, que é a desonestidade dos empreiteiros, que sempre tentam vender-nos "gato por lebre", e quando achamos que somos detentores de uma propriedade porreira, ela está a meter água por todo o lado.
Bons acabamentos, de encher o olho, mais uns quantos atractivos cativantes ... mas depois é que são elas ... aquilo lá, é material de sucata !
Roubaram no betão e no cimento, puseram areia demais na argamassa, e as paredes esboroam antes de tempo !...

Não nos isola das intempéries da Vida ...
Antes, deixa passar tudo para o interior, e à conta disso, arranja-nos doenças vitalícias .

Aquece-nos por dentro, protege-nos, e parece que nos aninha entre as paredes, como braços, cólo e ombros ( não precisaríamos de muito mais ) ...  Mas, porra ... é gelada nos Invernos da Vida, tão gelada que quase nos mata ...
E fomos ludibriados, obviamente !

E ainda assim, é sempre uma dor lancinante, abandonar um "cantinho" que foi nosso, ainda que tivesse sido uma lástima !
Apesar de tudo, escolhêramo-lo com todo o amor, acreditando que ali seríamos felizes, porque nele depositámos a esperança ( toda, a que catámos nas "gavetas" do coração e da alma " ), e o sonho, que é algo que está a rarear nos tempos que correm, e que é um prejuízo danado, quando nos foge !

Depois, também mal nos instalámos, havíamos alindado o espaço.
Foi o tempo de plantar as roseiras, as trepadeiras, os narcisos e os agapantos, que dariam flor lá mais para a Primavera, quando as andorinhas começassem a visitar-nos.
Foi o tempo de ler, nas tardes de paz, sob as treliças das glicínias e das madressilvas.
Foi o tempo de nos deslumbrarmos, com cada botão de hibisco que abria por um dia, mas que sempre abria, sorrindo para nós !...

E cada vez é mais e mais difícil,  recomeçar sequer a pensar, que inevitavelmente teremos que encerrar as portas e as janelas, fechar as portadas, apagar as luzes e bater a porta, porque não há mais remédio !

Cada vez dói  mais, sabermos que não regaremos mais o nosso jardim, não leremos mais à sombra dos jacarandás, não nos extasiaremos mais, com a cascata de cor das buganvílias ...

Cada vez é mais penoso, sequer  acreditar, que até poderíamos começar de novo, na busca de um outro "chão", onde voltássemos a dispor as sardinheiras, as roseiras, os narcisos e os agapantos ... porque  agora,  somos  nós  que  já  perdemos  as  forças  para  replantar ...
Seguramente as silveiras, os carrasquinhos, o galracho e o mato bravio, tomariam conta de tudo à nossa volta ...

E depois, também já escasseia o tempo para esperar que as Primaveras tragam as andorinhas e os cucos, e que os hibiscos,  reabram para nós  outra vez, as suas flores de um só dia !!!...


Anamar

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

" AH POIS É ..."






Para que não seja tudo a preto e branco neste meu canto, porque para cinzento, neste momento, chega o tempo lá fora e a Vida, deixo-vos esta delícia, porque quero, que de quando em vez, fiquem bem dispostos com o que aqui coloco.

Para todos um abraço de fim de semana ... e já agora ...  VEJAM   LÁ  SE  DESCOBREM  O  ZÉ  !!!!...

Anamar

domingo, 23 de setembro de 2012

" TUDO ISTO TAMBÉM É A VIDA !... "




Será  possível  que cheguei  há  um quarto de hora ao café, e já ouvi dez vezes nas mesas ao lado : " É a vida ..." ?!...
Bom, se não foram dez, foram oito ...

A população é sempre a mesma.  As células "especializadas" nos vários temas, fazem-se por mesas.
Como diz a Lena e a Catarina : " Sai desse café ! "
Mas eu sou militante, masoquista, e sempre me afeiçoo ao que não devo ... e insisto e persisto.
Já pus os "phones" nos ouvidos, procurando abafar, com Énya, a distância que me separa do "mundo".
Nas televisões à minha frente, o problema está na escolha.  Numa delas, no circo de feras da Assembleia da República, os maluquinhos degladiam-se, a repetir as insanidades do costume, nesta "rentrée" particularmente quente, e sem horizonte.
Dizem e repetem, abanam as penas de pavão ... redizem, dissertam e masturbam-se mentalmente a ouvirem-se, porque de certeza, muitos deles, mais ninguém ouve.  E realizam-se e deliciam-se ...  São os maiores da sua freguesia !

Este meu humor cáustico, é triste ...  É um esgar de tristeza, se calhar uma caricatura mais triste ainda de humor, que como eles ( os da Assembleia ), também julgo que tenho, enche o meu "ego", e não tenho de todo !!!

O outro televisor vai "parindo" sessões contínuas de desporto e mais desporto, sendo que o privilegiado é o futebol, claro ;  cá, lá ... em todo o Mundo.
Felizmente que sou suficientemente "cegueta", para daqui donde estou, só perceber que se trata de um relvado verde ( depreendo ) , e uns gajos quaisquer, com camisolas de cores contrastantes com esse verde  do tapete, aos pontapés a uma bola ...
Não sei quem são, não me interessa ... tenho raiva a quem sabe !

Na mesa ao lado, três amigos, para lá de ultrapassado o "prazo de validade" ... a "mijar p'ras botas", na "linda" expressão frequentemente usada pelo Carlos ( como se ele não fosse também lá chegar ), falam, ou de comida ou de futebol, óbvio ...
Um deles trabalhou ( cá p'ra mim, na outra encarnação ), em restauração.  Já falou de "massada" não sei de quê, em empadão de atum, em soufflé de gambas ... depois referiu o Bairro Alto como um local onde se come bem ... e o resto já não ouvi, porque já estava saciada ...
Hoje, e nos próximos dias já não vou precisar de almoçar !
Não se pode ir além do "bom dia", porque a história do AVC eu já conheço ( contada a mim e a quem tiver o azar de lhe dar uma "abébia" ), das caminhadas que faz ( percorre a cidade inteira, segundo ele ), com que vai "curando" as maleitas do corpo ( ele acredita ) ... da solidão ( eu não acredito !! )

A D. Maria dos Anjos, uma alentejana com todo o sotaque de Nisa, a sua terra natal, fala das azevias e pastéis  de  massa  tenra, que vende e com que ganha a vida.  Um  único  filho,  que se  suicidou há três anos ( overdose ), deixou-lhe duas netas gémeas, que alguém ficou cá para criar !
É "mundialmente" conhecida, em particular aqui, onde trata toda a gente por "meninos", dos zero aos noventa ...
Fala altíssimo, conta as histórias todas, as relevantes e as não tanto, a quem quer e a quem não quer ouvir.

Depois há um casal super-ternurento, discreto, muito simpático. São pessoas que sabem "estar", como se costuma  dizer.  Estão na sua mesa, lêem o seu jornal, conversam restritamente com uma ou outra pessoa, e entre si.
Ambos de cabelos grisalhos, ou melhor, o senhor, com o pouco cabelo que tem, grisalho. Tem metade da altura da mulher, é "fofinho", muito sorridente, com um rosto de bonomia, que inspira vontade de que se mime.

Aí pelo meio-dia chega o "doutor", de quem já falei num post lá para trás. Compra três jornais por dia. Um, de notícias e dois desportivos.
De um deles, sou herdeira diária, para a minha mãe.
Chega, e antes de se sentar, vai cumprimentar religiosamente os utentes de duas ou três mesas, e recolhe à sua.
O "doutor" impacienta-se sempre que há alguém barulhento, perturbador em excesso, da calma da sua leitura.
Quando está sentado ao alcance dos meus olhos, trocamos olhares de solidariedade reprovativa, porque eu também gosto do meu sossego, nesta espécie de "escritório" diário.
Ele é surdo, e usa aparelho no ouvido. Reduz o som ...  Eu, coloco o MP3 a tocar, e aumento o som !!!

"Choses" !...  ( como diria um amigo meu )

Hoje devo estar particularmente azeda, e sem estofo de resistência para muita coisa.
Tive que ir a Lisboa há pouco.  No carro, sozinha, eu e a minha mente viajante ...  Nem o rádio liguei .  P'ra quê ??
Numa passagem de peões, ao sinal vermelho, parei, obviamente.
Um dos peões que atravessava, era um jovem estudante, imberbe, como todos o são naquela idade ... de capa e batina.
Dei por mim, a meia voz, a dizer :  "Sim, sim ... capa e batina !!...  Mais um candidato ao desemprego " !...

À frente, na rua, um idoso, mais um sem-abrigo dos que povoam as nossas calçadas, a pedir esmola.
Ultimamente deixei de dar esmolas.  Ou empederni, ou defendo aquela demagogia barata de que o Estado ( que me vai ao bolso forte e feio ), é  que  tem  que  resolver o cancro  da  precariedade e da exclusão social, ( quando  estou careca de saber, que se esperarmos isso, morremos todos de fome !...  Portanto ... "balelas" ... Mas todos as dizem, não é ?? )

Na sala de espera do local onde fui, uma televisão, novamente distraía quem esperava, com mais outro programa "construtivo  e aliciante". Um daqueles excelentes programas tipo "Portugal no coração", "Praça da  alegria",  João Baião  e  companhia...Maya  e  companhia, Manuel  Luís Goucha e companhia ... etc, etc ( estão a ver o estilo ?? ) ... para atrasados mentais.  Todos a ganharem, entretanto, uma "pipa de massa" !...
Entrevistada no momento, Luciana Abreu, que conheço de propaganda jornalística, das revistas cor-de-rosa do cabeleireiro, do casa e descasa, destes pseudo-artistas de qualquer coisa ( só é preciso ter corpinho e sabê-lo usar ... ).
Meia dúzia de banalidades arrancaram-me uns quantos sopros, inspirações  profundas  de  tédio,  esgares  no  olhar  ( nada  abonatórios ... ), de impaciência ...
"Bolas" -  diria  a  minha  filha  que  pareço  estar  a  ouvir  - "Tu  realmente !!!  Embirras com tudo !!!..."

Bom, só pode ser o meu mau feitio, a velhice, o desânimo, o cansaço, a saturação da realidade de merda, em que nos movimentamos diariamente, a falta de horizontes ou perspectivas, a inexistência de objectivos ... enfim ... a angústia e a desmotivação que envolve a maioria das pessoas ... ou então ... uma "doença incurável" mesmo, que é este "mau acabamento" que recebi dos meus pais, e que nunca tive capacidade, força  ou  determinação,  para  conseguir  moldar ou alterar ... e  que  parece,  que cada vez "apuro" mais e mais !!!...

Anamar

sexta-feira, 23 de março de 2012

" QUEM DIRIA ! "

 
As coisas que eu descubro sobre mim !!...

Há cerca de oito anos que não cozinhava em casa.
Anteriormente até me elogiavam a confecção dos alimentos, fossem iguarias de primeiro e segundo prato, fosse doçaria.
Não gostava, mas lá me ajeitava ( com sucesso, ao que parece ).  Nunca provei o que fazia.  Sempre pelo cheiro, "tirava" do tempero.

A minha avó era excelente cozinheira, toda a vida ouvi dizer.  Das duas filhas que teve, a minha tia foi também exímia cozinheira ( lembro bem ), a minha mãe, um desastre.
Não gostava, fazia-o contrariada, não alinhava em sofisticações.  Para ela, os alimentos eram tão simplesmente isso mesmo, alimento do corpo, necessário diariamente.
O meu pai nunca foi pessoa de apreciar nada muito elaborado, e como tal, o que sempre se confeccionava em casa, "dava p'ro gasto" ... coisas simples, muito simples mesmo.
Casei e obviamente fazia parte das "prendas domésticas" à altura, também ser cozinheira.
E fi-lo durante anos e anos, durante uma vida.
Também não gostava.  Costumava dizer que o tempo mais mal aplicado que dispendia diariamente, era o que passava junto ao fogão.  Mas nada a fazer !...
Mesmo durante férias ou fins de semana, quando saíamos da casa-mãe e íamos para os espaços alternativos que detínhamos, esperava-me uma cozinha, e ... emoção das emoções ... "outros" tachos e "outras" panelas ...
Destino ??... O mesmo !... (rsrsrs)

Licenciei-me em Química.
Química é experimentação, química é laboratório, química é "cozinhado" científico também.
E cozinha é laboratório obviamente ;  é tentativa, é sucesso ou insucesso ... de preferência sucesso, senão lá vamos todos ter que comer pizzas ( rsrsrs) !
Um dos anseios que sempre tive, consequentemente, era um dia poder deixar de cozinhar.  Achei que seria conquista máxima a alcançar, ver-me livre da "bateria" malfadada.

E assim aconteceu.

Quando fiquei só, a minha boca a única a degustar os pitéus, e tendo descoberto perto de minha casa um espaço de restauração, caseirinho, módico, agradável, resolvi : " Parou ! Cozinhar, ainda por cima só para mim ... não ! "
Iniciou-se então uma nova vida, culinariamente falando ( e não só ).
O almoço passou a ser também ver gente, conviver ( até porque a esse restaurantezinho,  muitas colegas de trabalho iam almoçar também ) ... desanuviar ... não ter trabalho !
Os meus jantares tornaram-se extremamente simples ;   Qualquer sopa, queijo fresco, tostas e uma compota o compunham, e mesmo a sopa, trazia-a para casa, diariamente diferente, diariamente fresca, da D. Zita.

E assim decorreram como vos disse, sete, oito anos.

A minha cozinha tornou-se "sala de estar", sempre impecavelmente arrumada.  A placa de gás e o exaustor tiveram que ser trocados porque estavam velhos e meio estragados, e adquiri outros mais atraentes, embora assumissem o estatuto de peças decorativas.
O frigorífico também avariou ( cá para mim, porque estava demasiado vazio ... um "deserto" de géneros ... rsrsrs ), e comprei outro novo, mais "maneirinho", mais jeitoso para as minhas necessidades.  Enfim, tudo absolutamente limpo por não servir, tudo organizado sempre, em qualquer dia, a qualquer hora !!!

O requinte de malvadez era de tal ordem, que quando os meus pequeninos vinham passar o dia ou o fim de semana comigo, era necessário repor uma base alimentar para o evento, e as refeições principais eram tomadas por nós ... obviamente na D. Zita !
Tenho uma amiga que brincava comigo, quando eu lhe contava da "pobreza" franciscana que se vivia na minha cozinha :  "Está bem ... vou lanchar contigo ! Tu dás o chá ... eu levo o resto" !!! rsrsrs

Bons tempos !!!....

No Natal passado tomei uma decisão.
Este ano, pela primeira vez depois de bastantes anos, o almoço de Natal, seria familiarmente na casa-mãe, como antigamente.  Seria eu que congregaria à roda da minha mesa, as quatro gerações ainda existentes ...  Da minha mãe com os seus noventa anos ... ao Frederico com os seus quatro anos.

E assim fiz.

Escuso de vos dizer que também comprei uma máquina de lavar loiça ( também se havia avariado ... rsrsrs ), e escuso também de vos dizer que, como imaginarão, da "água ao sal" tive que reabastecer a minha cozinha "fantasma".

Dei então por mim a reaprender a cozinhar.
Dei por mim cheia de dúvidas "metaculinárias", como nos meus primeiros tempos de casada :  "Como fazia eu ...isto ... ou aquilo"??!!   "Eu cozinhava carne assim, esparguete assado ... e era bom !...  Como era ?  O que levava ??"...
E aos poucos, do "baú das memórias", começaram a levantar-se "edifícios comestíveis", tacteando, perguntando à minha mãe também, fazendo ...

E cheguei à conclusão que neste momento estou a reabituar-me à coisa ... experimento, invento, misturo ... ( "há-de dar alguma coisa ... veremos !" )
Não estou propriamente no laboratório, de novo em experimentação científica ...
Estou aliás mais p'ra bruxa frente ao panelão fervente ( sim, porque gato, no décor já existe ... não é preto, mas compõe ... rsrsrs ) e ... espanto dos espantos, em cozinhados "de bonecas", quantidades small ... parece coisa de brincar, estou a explorar, estou a recrear, estou a gostar ... apetece-me, imaginem ...

Enfim, estou pela primeira vez, creio, a conviver "pacificamente" com a minha cozinha !!!...
Realmente ...  As coisas que eu vou descobrindo sobre mim !!!...  

Anamar

sábado, 18 de fevereiro de 2012

OS "TIRANOS"...


Os "tiraninhos"começaram numa famigerada noite, dia, ou momento, em que por obra do Grande Arquitecto ou do Mafarrico ( ainda estou p'ra saber qual dos dois estava de serviço ), um espermatozóide esperto, de vistas largas e tipo "Pepe Rápido", "violou" o reduto mais que defendido de um óvulo!

Nesse preciso e "mágico" momento, teremos entre mãos, um "projecto" de "tiraninho" !...

Reparem ... eu vou inserir este meu post na classificação de "Humor" ... Simplesmente e só, porque nas etiquetas que constam das minhas escolhas, não cabe o item "Humor / Drama" ... Porque, efectivamente o que penso a respeito, neste momento e cada vez mais, é que tudo isto, está mais para drama do que para rábula humorística ...

Pois bem ...dizia eu que a saga destas "personagens" maquiavélicas, começa nesse exacto momento ... e o dramático da coisa, é que não termina nunca mais !

Ainda em "aviário", e já o dito cujo se impõe, pelos enjoos, noites mal dormidas, exames sistemáticos ( uns mais simples que outros ), a que a mãe é sujeita ( a bem da criatura ) ... deformação inerente, daquelas curvas que tanto prezávamos, dentes cariados, ossos descalcificados, alguns sustos ... quantas vezes, angústias de ecografias que nem sempre mostram tudo ... gastos em despautério, na preparação do "enxoval" adequado ao "reizinho" ou à princezinha" a caminho ...
Nos últimos tempos, até abstinência sexual ... por via das dúvidas ...

E chega o dia, em que pela primeira vez, a mãe, obviamente, se consciencializa de quem "começa a mandar" no pedaço !
A hora do parto aproxima-se, e com ela as famigeradas dores que só nós conhecemos, os medos, as incertezas, a vontade louca de inverter aquela estrada sem hipótese  de marcha-atrás ... enfim, qualquer coisa que nos tirasse daquele filme ...
Mas como o que não tem remédio remediado está, e o "tiraninho" já assoma com a cabeça ... pé na tábua e vamos em frente !

Aí, a procissão ainda nem saíu do adro da igreja !...

Os próximos episódios ( quantas vezes tirados de um filme de terror, "suspense" e mistério ), caminham para nós a passos largos.
As noites incompleta e faseadamente dormidas, a "afinação techno" das goelas escancaradas, sempre à procura de uma mama de serviço, ou com a bendita cólica abdominal que não dá tréguas ... A fralda, no "muda que muda"...o creminho para o rabo ( que embora com todos os cuidados, se assou ...) ... enfim ... depois as papas, os berros dos primeiros dentes ( que é outro "petisco" muito jeitoso ... ), as otites, as viroses, os sustos dos primeiros passos, os perigos domésticos a espreitar ... e etc,etc, etc ...

O "tiraninho" está programado p'ra crescer ... e não pede licença.
Começam aí novas etapas.

Escola à vista ( estuda, não estuda, já estudou ?...), as companhias, os amigos escolhidos ( nem sempre os mais adequados, mas que aqueles "serzinhos" teimam em manter como desafio ), as primeiras saídas nos grupos  ( primeiro, festinhas inofensivas, em círculos de amizades próximas ), depois as saídas à noite com os bares e as discotecas ... e sabe-se lá mais o quê ?!.....
E nós impotentemente a ver crescer os nossos cabelos brancos, as nossas rugas, a "taquicardia" nos corações!! E a incapacidade para fazer frente ao "domínio" desenfreado e progressivo das exigências, das comparações, dos desafios, das "provas" em que deveremos ser aprovados !...

Os namorados, as primeiras relações, a explicação o mais prosaica e natural possível do tema ( sem ninguém nos ter ensinado nada sobre como fazê-lo ... ) ... a nossa angústia ( a nossa ... não a deles ! ), sobre possíveis gravidezes, doenças, desvios.
E no campo "minado" que temos à frente, a maior parte das vezes, uma inacessibilidade atroz !
Os "anjinhos" fecham-se em copas, cerram fileiras, guardam redutos até às últimas consequências !...

Depois, se for esse o rumo, casam ... para na primeira oportunidade, "descasarem" com uma limpeza total !
Se o não for, aí estamos nós novamente, com a dúvida e preocupação, sobre os quinhentos mil namorados que entretanto vão desfilando, dos quais, nem a cor, nem o carácter, nem as referências conhecemos ... Até porque os "tiraninhos", entretanto se acham gente bem graúda para darem satisfações, ou terem a vida pessoal devassada pelos "cotas" ... que em boa verdade, só atrapalham !

Os que casaram e tiveram filhos, pretendem obviamente alargar a "tirania" familiar, aos respectivos pais.
Aí temos nós os avós a queixarem-se então, que "agora que estariam libertos p'ra viverem as suas próprias vidas", têm que "aguentar" os pestinhas, em continuidade da espécie !!!
E dizem, com o ar mais desalentado possível : "Fazer o quê"???!!!!.....  ( É assim uma espécie de destino, não pedido !... )

Há ainda outro aspecto a considerar :
se eventualmente os pais dos "tiraninhos", caírem em desgraça e separarem eles próprios as suas vidas ... inicia-se outra cena rocambolesca ...
Armados em "mete nojo", suas excelências, não se coíbem de opinar, dar palpites, devassar, obstaculizar, quase reprimir, possíveis e futuras relações dos próprios pais ( coisa que não admitiram para eles, não esqueçamos ! )
O namorado / namorada, da mãe ou do pai, não cabe no "figurino" nem é "admitido / a", sem que antes passe na malha, na rede apertada, ou nos Raios X das criaturas!

E estamos perante algo perfeitamente surreal e hilariante ...
Os progenitores dos "tiraninhos" submetem-se piamente, culpabilizam-se, deixam-se acabrunhar, justificam, explicam, ouvem impropérios e adjectivos pouco edificantes a propósito, quase têm vergonha ... como se eles próprios não tivessem mais direito a viver, a escolher, a acertar ou mesmo a errar...
como se eles próprios, por terem a ousadia de infringir regras de ouro que povoam a cabeça das "encomendas", devessem ser chamados "à pala", devessem ser submetidos a julgamentos sumários, fossem mesmo ridicularizados, por afinal AINDA serem gente, terem sonhos, terem vontades, não serem assexuados como deveriam ...

E o que é facto, é que se "elas não matam ... moem" !...

E no mínimo, desestabilizam, geram conflitos, maus estares, parece mesmo que medos a lixarem-nos as almas ( com a fúria com que escrevo este post, como imaginam, o vocábulo "lixar", não era exactamente o que me apeteceria aplicar ) ...
E é espantoso, como nós, os da geração que os pariu e pôs neste Mundo, nos sentimos na obrigação de quase pedir licença ... ao invés de nos pormos nos bicos dos pés, erguermos bem a cabeça, e olhando-os nos olhos, darmos três berros, que é o mínimo necessário para quem não sabe remeter-se ao lugar e posição que devia!...

Fico por aqui ... porque até já me agoniei de raiva, fúria e desalento !!!

Quem nos mandou de facto, numa bela noite, dia ou momento, permitir que o Pepe-Rápido, "Bugs Bunny" ou "Perna-Longa", entrassem em "território alheio" ??... Ainda por cima, dentro de nós !!!...

Este post vai ser do desagrado de muita gente, que eu sei.
Porque é "incómodo", diz algumas verdades, obriga a alguma reflexão !
Corro mesmo o risco, de neste momento ter passado de "bestial" a besta ... e encarnar a "megera", aos olhos de alguns.
Não me faz qualquer diferença, e desafio mesmo os mais honestos, a desautorizarem e rebaterem, se o conseguirem, estas minhas "verdades"!!!...
                                             
Anamar

sábado, 11 de fevereiro de 2012

" GOSTO, NÃO GOSTO, PARTILHAR, COMENTAR "




Gosto, não gosto, comentar, partilhar... o Facebook  no seu melhor !

Ultimamente as redes sociais andam a fazer-me "comichões cerebrais".
Entra-se muitas vezes por curiosidade, por brincadeira, com mais ou menos boas intenções ... às vezes mais más, que boas ... mas entra-se.
Neste mundo, há que conhecer, para analisar, para concluir ... parece-me.

Há pouco tempo, depois de conhecer outros espaços, reactivei o FB, onde já "estivera" há uns dois anos atrás, tendo então cancelado a inscrição.
Achava eu, ser esta rede algo diferente das típicas redes de "engate" generalizado, passo a expressão ...

Afinal neste momento, há o mito de que quem não tem FB não é ninguém ... faz parte do estatuto de ser "gente" ... rsrsrs
Receio mesmo que um destes dias, seja condição "sine qua non", se possa aceder a certos cargos ou posições sociais, que faça parte integrante do CV de cada um, e mais ... que ainda, numa qualquer remodelação governamental, se exija que tal situação deva vir averbada no Cartão de Cidadão !!!  :))

Quando por lá passara anteriormente, o mecanismo de funcionamento do espaço era-me confuso.  Não estive também tempo suficiente para o descodificar, embora continue ainda agora ( que estou mais "esperta", informaticamente falando ), a achá-lo não muito intuitivo efectivamente, e não muito claras as explicações que nos são fornecidas, para protecção dos utentes.

Neste momento, tudo se trata, no e pelo FB ...
Cumprimenta-se, distribuem-se abraços e beijinhos a esmo, trocam-se picardias, desenterram-se "amizades", que não fora esta "tecnologia de ponta", e "pufftt "... teriam sumido de cena.
Convocam-se reuniões laborais, parabenizam-se pessoas, combinam-se chás ou cafés que se concretizarão ou não ( isso é o de menos ... ),  faz-se o pingue-pong das ideologias políticas, e fica-se, fica-se, fica-se até às quinhentas, madrugada fora !...

Depois há aquela faceta "MUITO" cultural ( rsrsrs ), assaz ORIGINAL ( rsrsrs ) ... a procura e escolha no youtube de notícias frescas, novidades musicais ... tudo o que seja ou possa vir a ser um "boom" informativo, de preferência à frente de toda a gente ...
Sermos o "primeiro jornal" a apregoar isto ou aquilo, acaricia o ego duma tal forma , que até parece que ganhamos o dia ... ou a noite !!!

Há também os sites de anedotas ( algumas com barbas ) e humor, com imagens, sem imagens, os sites das palavras "trocadas", "sentidas", "ilustradas" ... ( aliás há palavras de tudo ... rsrsrs), de pensamentos, que obviamente já foram pensados e criados por alguém ( porque creio que já está tudo inventado !... rsrsrs ) ... as "cenas maradas" e outras menos ... e que nós ufanamente transportamos para o nosso espaço ...
Há os sites de "letras", "História", espaços de divulgação cultural e política, para os menos básicos, os cartoons ... enfim, de tudo um pouco !
E vá de botar ... à consideração dos demais ... sempre de olho no "feed-back" do pessoal.
E é aí que começa o "gosto", "não gosto", "comentar", "partilhar" ...

Distribuem-se polegares empinados, à borla por tudo quanto é postado ...
Os comentários são sempre menos, porque afinal dão mais algum trabalhinho ...
Depois "rouba-se" ( até porque tudo aquilo não é verdadeiramente de ninguém ), e distribui-se pelos amigos, que se encarregarão de redistribuir pelos próprios amigos, e quando damos por nós, estamos numa estrutura em pirâmide de amigos, de amigos, de amigos ...
E de repente, temos sem querer, uma multidão de "amigos", sendo que a maioria nunca os vimos mais gordos !
Com uns, "vamos com a cara" ( quando lá a colocaram ) ... com outros, não nos agradam nem a fuça nem a postura.

Alguns alargam as penas e abrem o leque de pavão que têm em si ;  alardeiam os grandes princípios e valores muito louváveis que os norteiam ... Vêm então aquelas máximas foleiras de desgastadas : "Gostas de exclusividade ? Aproveita, que eu sou de edição limitada " ... " Habilidosa, Criativa, Aventureira, Boa Amiga, Boa amante... Isso tudo ???? Que fixeeeee !!!..."  "Eu não tenho mau feitio ... tenho personalidade!" 
"Se alguém lhe fechar a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas. Lembre-se da sabedoria da água: a água nunca discute com seus obstáculos, contorna-os "...
E a seguir vêm os "amigos" :  " É assim mesmo, amiga "!.... ou  "Não fosses tu quem és, querida ...por isso ninguém te derruba"!... blablabla...
Uma troca de galhardetes espantosa ... troca de bandeirinhas, afagos na alma em público, portanto muito modestos, como se vê !!!  Hipócritas nalguns casos ( topam-se à légua !... )

Há ainda os "alucinados brincalhões", que soltam a criança que há em si ... e desvairam na compra de porcos, galinhas, ovelhas, frutas, terrenos, flores ... para uma "quinta" que pelo menos detêm por aqui ... Menos mau !...

Exibe-se a família ... apregoam-se os dotes das criancinhas ... que invariavelmente são sempre "fofinhas", "queridas", "amorosas" ... "tão crescidas !"... altamente capacitadas ... prodígios ou portentos !!! rsrsrs

Há também quem aproveite para se "mostrar" ...
Mais os "atributos" físicos, que outros, obviamente ... Com alguma frequência, tristemente ... mas nem dão por isso !
Pode ser que "desencalhem"!!!.... :))
Há as pretensões claramente expressas : "Interessada em ..."  "Interessado em ..."  e aí, a rede social vira igualinha às outras, até porque também, para lá do que é exibido publicamente "ao sol", há depois o correio por "debaixo do pano" ... as mensagens privadas e o próprio "messenger" anexado !!!

Enfim ... tudo como dantes ... tudo a mesma "droga" !!!...

Apenas,  nós todos ( em rebanho ) ... bem mais realizados, bem mais ricos, bem mais FELIZES ...
 
Afinal temos Facebook, carago !!!...
                                                                
Anamar

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

" ELES NÃO SABEM NEM SONHAM ".....


Hoje acordei meio "desconchavada" ...

Sabem quando se acorda com uma sensação incómoda de uma tristeza que vem não se sabe bem de onde, vem lá do fundo dos sonhos, daqueles que nos fizeram companhia de noite??!!...

São meio "safados" esses sonhos !

A gente deita-se, "programa-se" para sonhar com isto ou aquilo, que seria "baril", e pimba ... trocam-nos as voltas, azaram-nos a noite, com "filmes" completamente diferentes.
Personagens que não chamámos, cenários que inventámos e se calhar nunca vimos ... deixam-nos uma sensação estranha de insatisfação e  desconforto.
E ainda por cima, deixam a sensação, e põem-se "a milhas" !
Queremos fazer reprises, tentar perceber aquela "gaita", e eles já foram ...

Porquê acordar assim??

Não sei, não faz sentido, é bizarro e não temos com quem refilar !
"Pufft" ... evaporaram-se no espaço, e a gente que se amanhe com a tal sensação de coisa não resolvida, mal resolvida, que a noite não nos conseguiu resolver ...

Os  "sonhos de dia", são mais fiáveis, mais compinchas !!!
A esses, só vamos se nos deixarmos ... ir ... claro !
Esses, às vezes são um pouco controláveis, mesmo para os mais inveterados que nem eu, que estou sempre muito mais no mundo deles, que no nosso, tão insatisfatório !

Mas a esses conseguimos apresentar-lhes o sinal de stop, o cartão vermelho, se não nos agradam, se tentam driblar-nos ou manipular-nos a vida, feitos "filhos da mãe" !
A esses só aderimos se formos "crentes", ingénuos ou teimosos !

Às vezes, com muita sorte, conseguimos convencer um  "sonho de dia" a passar a ser um  "sonho de noite" ... e aí, é um paraíso, porque pelo menos acreditamos estar a vivê-lo, durante as horas do aconchego ...
A "droga" depois, é o acordar !!!

Revemos quem partiu, quem está longe, quem queremos abraçar, quem queremos que nos estreite ao coração ...
revemo-nos a brincar outra vez no pátio da escola, a namorar com todos os amores que afinal ainda não estavam no "banco dos suplentes" ...
podemos nascer outra vez, ser o espanto da nossa "paróquia" ... sermos o máximo, a viver o que nunca julgámos possível ...
tudo à séria ... tudo de carne e osso ... tudo ao vivo e a cores ...
Entramos no país das maravilhas, pela mão de fadas e duendes !
Invertemos a marcha do tempo, a nosso belo prazer, e de repente ... passamos a acreditar, que a noite se fez dia, num passe de mágica !!!...

Mas também podemos fazer o inverso ;  brincar com um  "sonho de noite", arrastá-lo até de madrugada, de mansinho, para não o espantar, e tentar convencê-lo que de dia é que é bestial !! E que de dia é que ele nos daria um jeitão ...

É mais difícil ... mas não impossível ... e se o enganarmos, excelente !! ...

Eu, que não sou totalmente "aparafusada", acontece-me  ter que saltar da cama a meio da noite,  para por no papel, aquela composição que "escrevi", arrumadinha, no sonho com que estava ...
escrever aquele poema ou aquela dedicatória do livro, que estava a sair tão bem rimada ou tão eloquente ...
ir a correr resolver um exercício de matemática (quando era estudante), só porque em sonhos, aquele "estrupício" que me queimara ingloriamente os neurónios, de repente teve um final feliz, bem simples, mesmo ali debaixo do meu nariz ... em sonhos ...
E também , encontrar saída, para tanta estrada, "sem" ...
E encontrar soluções para objectivos apenas esboçados ...
E sufocar-me de energia e entusiasmo, só porque era exactamente aquele o rumo que teria que ter dado já à minha vida, e ainda não o havia divisado !!...

Esses são os  "sonhos de noite", que ainda têm algum préstimo ; porque na verdade, normalmente brincam connosco de gato e rato, e  "defraudam-nos"  noite após noite, porque são apenas isso ... sonhos de  " não valer a pena", "sonhos de enganar" !!!...

E depois ... também há a ausência de sonhos !!!

Esse, é o "buraco negro" da nossa existência, seja de dia, ou seja de noite !... Aí , é uma desgraceira só !!!...
Porque, como sabem, "o sonho comanda a vida", e um Homem sem eles, não sabe nem imagina, a pobreza do seu existir, a aridez dos seus dias, o imobilismo a que condena o Mundo, que deixará de "pular e avançar", segundo o nosso imortal Gedeão !!!

Mas, sejam  "sonhos de dia" ou  "sonhos de noite", não devemos esquecer de facto, o sentido da charada ...
  
     ..."FÁCIL É TER UM SONHO !...  DIFÍCIL É SONHAR" !!!...


Anamar                   

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"LIBERDADE..."


Este post, juntamente com o de ontem, é uma nota de humor na escrita de dois homens de letras que não necessitam de referências : o brasileiro Mário Quintana e o nosso "mestre" Fernando Pessoa.

Sobre ele recuso alongar-me, sabendo nós que quem não tiver sequer uma ideia sobre a sua pessoa e a sua obra, seja iletrado, direi mesmo "analfabeto" formal.
Esta vertente satírica, de um humor fino e requintado é um novo lado de "ver" Pessoa, igualmente interessante.

Juntei os dois posts porque fundamentalmente ambos abordam o mesmo tema que tão bem conhecemos, mas apenas os génios sabem traduzir : as pequenas / grandes prevaricações a que o ser humano é "convidado" diariamente, e o gozo que dá infringi-las, desrespeitar as regras instituídas...

De uma forma geral o ser humano vive "espartilhado" pessoal, social, profissionalmente. Vive entre convenções, vive entre a "cruz e a caldeirinha", vive entre o politicamente correcto que lhe impingiram, e a "rebelião" interna que sente dentro de si.

Ao longo da vida foi vinculado duma forma geral, a regras, figurinos, parâmetros, entre o que pode e o que deve, entre o parece e o não parece bem, entre o social aceite pela "carneirada" e as ganas que sente em não fazê-lo...
"É certo ou errado", "pode-se ou não se pode", "deve-se ou não se deve"... e as barreiras, as baias e os muros levantam-se cada vez mais altos à nossa frente.

E lá seguimos, mais ou menos contrariados, constrangidos, irados às vezes, de "olho gordo" sobre o que desejaríamos ter liberdade de fazer e a coragem ou ausência dela, para o fazer!...

O "pudim" de Quintana, está aí a cada esquina a espreitar-nos, a piscar-nos os olhinhos ... até que um dia mesmo os menos corajosos dão o salto e dizem : "Que se lixe"!!!...

  "LIBERDADE"

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca

                                                       Fernando Pessoa 
Anamar

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"IRRESISTÍVEL ...."



Nome:
Mario Quintana
Nascimento:
30/07/1906
Natural:
Alegrete - RS
Morte:
05/05/1994 em Porto Alegre

Foi um poeta,contista, tradutor e jornalista gaúcho.
Mário Quintana não carece de apresentações. Todo o seu espólio é e sempre será um espanto!
A sua poesia é marcada pela simplicidade, pelo humor subtil e pelas pequenas surpresas, em poemas que muitas vezes não têm mais do que uma frase... "Sonhar é acordar-se por dentro", é tudo o que diz um deles. Precisa mais? 
                                                             Mario Quintana

                 "Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
                  Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
                  nem desconfia que se acha connosco desde o início
                  das eras. Pensa que está somente afogando problemas
                  dele, João da Silva... Ele está é bebendo a milenar
                  inquietação do mundo!" 
 
   Recebi de uma amiga o texto que vos passo e que achei "divino"  (obrigada Emília).
   Se o apreciarem como eu o apreciei, teremos prestado uma humilde homenagem, a mais um "monstro" das letras e a mais um livre pensador do nosso país irmão!...
Convosco, portanto, com o meu carinho.......também o HUMOR de Mário Quintana!


                                      eterno espanto


           "Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?" 


Pesquisei na Net e esta "doçura" de poema, parece não dever-se a Mário Quintana, mas a um poeta uruguaio, nascido em 1920,  Mário Benedetti.
Era um admirador canino de Quintana, ao ponto de lhe deixar bilhetes, livros e quindins na portaria do seu prédio, e é ainda assim, uma adaptação do mesmo.

P U D I M

Não há nada que me deixe mais frustrada
do que pedir Pudim de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar
e aí ver o garçon colocar na minha frente
um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido.
Um só.
 
Quanto mais sofisticado o restaurante,
menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência,
comprar um pudim bem cremoso
e saborear em casa com direito a repetir quantas
vezes a gente quiser,
sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
 
O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
 
A vida anda cheia de meias porções,
de prazeres meia-boca,
de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
 
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
 
Conquista a chamada liberdade sexual,
mas tem que fingir que é difícil
(a imensa maioria das mulheres
continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
 
Adora tomar um banho demorado,
mas se contém p'ra não desperdiçar os recursos do planeta.
 
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo,
mas tem medo de fazer papel ridículo.
 
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD,
esparramada no sofá,
mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
 
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar',
tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
 
Aí a vida vai ficando sem tempero,
politicamente correta
e existencialmente sem-graça,
enquanto a gente vai ficando melancolicamente
sem tesão...
 
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua,
o compasso,
a bússola,
a balança
e os 10 mandamentos.
 
Ser ridícula, inadequada, incoerente
e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.
 
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou
e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
 
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem,
podemos (devemos?) desejar
vários pedaços de pudim,
bombons de muitos sabores,
vários beijos bem dados,
a água batendo sem pressa no corpo,
o coração saciado.
 
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
 
Por isso, garçon, por favor, me traga:
um pudim inteiro
um sofá p'ra eu ver 10 episódios do 'Sexo e a Cidade',
uma caixa de trufas bem macias
e o Richard Gere, nu, embrulhado p'ra presente.
OK?
Não necessariamente nessa ordem.
 
Depois a gente vê como é que faz p'ra consertar o estrago.
“Há noites em que eu não posso dormir, de remorso por tudo o que eu
deixei de cometer.”
 
Mário Quintana
Anamar