segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

" ESTA, SOU EU !... "






A tarde fechou cor de fogo, iluminando, como se de luz acesa se tratasse, todo o firmamento. Promete-se  continuação deste tempo bem favorável, depois de dias fortemente gravosos para muita gente, com inundações e cheias desgovernadas e ventos ciclónicos destruidores.

Mas hoje, a amenidade do dia e a doçura da claridade envolvente, tornou-o absolutamente fantástico ! Um dia "brutalmente" belo, vocábulo indistintamente aplicado, nos modismos da linguagem actual ...
Invenções que as pessoas usam ... expressões sobre cuja acuidade nos interrogamos ...
Mas nada disto é importante.  O que verdadeiramente me importou, foi poder saborear da minha caminhada em paz, num deleite absoluto, usufruindo-me no silêncio da mata.
É espantoso como lá, tanta coisa eu me falo, eu me interrogo, eu analiso, eu esclareço ... eu decido.  Isto, no silêncio total, apenas bordejado pelo trinado dos pássaros, que de galho em galho se mostram felizes e quase primaveris.
É de facto um tempo e um espaço de privilégio, indevassável  por gente, por ruídos, pelas coisas maçantes do dia a dia, que sempre ficam portões afora, da Quinta Nova de Queluz ...
As ideias aclaram-se-me, as dúvidas parecem dissipar-se, as soluções surgem-me com a logicidade de questões desembrulhadas subitamente de véus, que pareciam demasiado espessos ...
E eu por ali vou, conversando a meia voz e aconchegando-me com toda a maravilha que a Natureza nos disponibiliza.
As azedas atapetam e florescem tão cerradamente as encostas ao sol, que parecem musgos fofos no presépio do Natal.  As árvores de folha caduca, espreguiçam os ramos despidos em direcção ao céu, e têm uma beleza esfíngica sonolenta e mágica ...

Tenho um amigo, com quem aliás farei a passagem de 19 para 20, cuja vida está presa por fios ténues e quase invisíveis.  Padece há alguns anos de uma doença terminal muitíssimo grave.
Alentejano que é, com a força, a tenacidade e o querer que quase sempre nos povoa a alma e o corpo, nunca se entregou à sentença que lhe foi lida, rejubilando, quando a brincar dizia já ter ultrapassado há muito, o "prazo de validade" ...
Nos últimos tempos, a sua já muito acentuada debilidade agravou-se muito significativamente, e hoje, há poucos dias, foi totalmente desenganado, clinicamente falando, sendo que se mantém, apenas à custa de transfusões de sangue, face à comprovada ineficácia de toda a terapêutica desesperadamente tentada.
Dessa forma, procuram garantir-lhe paliativamente  ainda, o mínimo de resistência e sobrevivência.

Pelas veredas da mata, no meio de toda a exuberância de uma Natureza generosa e em visível renovação, não consegui alhear-me da situação do Vicente.
Químico como eu, um pouco mais velho, colega da velhinha Faculdade de Ciências da Politécnica, é uma pessoa pragmática, positiva, lutadora, bem disposta apesar de a vida não lhe ter sido muito favorável ...
Parece aceitar com alguma paz e conciliação, o que o futuro curto ou longo, lhe poderá oferecer ...
Pediu que a passagem do ano fosse em sua casa, rodeando-se de alguns, poucos amigos ... os amigos de toda a vida ... os amigos certos ...
Desconheço se o entende como uma espécie de despedida ...

Não sei o que vai dentro da sua cabeça e do seu coração.  O Vicente chegou à minha vida há muito pouco tempo, não mais que três anos ... através de outros companheiros comuns.
Não o conheço, portanto, em profundidade.  Tento apenas meter-me na sua pele.  E pergunto-me :  se fosse comigo, será que eu aceitaria com a bonomia que ele exibe, tudo aquilo que se perspectiva para o resto dos dias que lhe forem concedidos ?
Será que eu ia ter a placidez da aceitação e do desapego, com a paz e a tranquilidade possíveis ?
Será que eu não sucumbiria ao desespero, à raiva, à injustiça, à dor e à mágoa, por  me tirarem daqui à força, com a insensibilidade imposta da partida, com a indiferença de coisa decidida, sem que eu pudesse opinar nada em meu benefício, face à prepotência da morte ?
Será que eu aceitaria que a Natureza esmagadoramente bela, continuasse  igualmente  pujante e generosa, a enfeitar-se, a sorrir, a acender dias luminosos e doces , convidativos ao sonho, à esperança, à VIDA ... indiferente ao grão de poeira que de facto somos ?
É um acinte, um descaso, uma provocação, um absurdo ... termos que partir com tanto sol, tanto verde, tanta perfeição lá fora, à nossa volta !...

Entretanto as últimas horas de 2019 estão a esgotar-se.  E essa ampulheta que esvazia, angustia-me, ainda que eu queira  fazer de conta que tudo não passa de um ardil criado pelos humanos para balizar, fatiar, segmentar esse monstro a que chamamos tempo ...
Como se não fosse tudo infinitamente mais simples se desconhecêssemos essa  famigerada contagem !...
Não nos preocuparíamos se passou mais uma semana, um mês ... um ano ...  Se estamos nesta ou naquela idade ... se se aproxima expectavelmente o fim da linha ou não ... se teremos ou não, teoricamente, ainda muita estrada por andar ...
Seríamos como os animais, como as plantas, que apenas aceitam e vivem ...
Recebem cada dia que desponta, percebem os Verões, os Invernos, os ciclos biológicos ... o desenrolar puro e simples dos destinos ... assim, simplesmente ...
Sobrevivem apenas, com a felicidade de existirem e de se continuarem ... não mais !...

Estou atontada, como percebem.  Rir-se-ão por certo, de tanta inconsequência e patetice.  Nos últimos tempos, desatei a ver a vida com uma carga que considero mais realista, contudo mais negativa, que me torna ansiosa, que me faz pensar, que me tirou a despreocupação defendida, do "carpe diem", correcto e assertivo, que as pessoas perseguem.
Devem estar certas, seguramente.  Eu percebo claramente que estão certas, e que é estupidamente martirizante, ver as coisas de outra forma ... Para quê ?...  Mas ...

FELIZ 2020  para os meus leitores, com ou sem rosto !
Sempre grata, prometo ir continuando por aqui, com todas as minhas inquietações, dúvidas, realizações, alegrias e tristezas !!!  Afinal, ESTA sou eu !




Anamar

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

" DESABAFOS / INTERROGAÇÕES INCONFESSÁVEIS ... "




Eu sabia que seria exactamente assim.  Sempre o soube.

É o segundo Natal em que a ausência da minha mãe deixou vazio um lugar naquela sala.
Verdade seja que nos últimos anos ela já não queria estar.  Era-lhe penoso ser subtraída ao aconchego da sua cama àquelas horas.  Mas nós sabíamos que ela estava lá.  E o beijinho de noite tranquila, dado antes da Consoada, aquecia-lhe ... aquecia-nos o coração !
Agora tudo é diferente.  Ela paira por ali, quase sempre ela paira por aqui, na presença que eu sinto, nos sinais que me vai deixando, nas conversas em surdina que mantemos ... Mas só ...
Trocar ideias com ela, como eu preciso ... nada !
Acho que nunca pensamos à séria que a nossa mãe nos fará tanta falta.
Enquanto é real nas nossas vidas, nem percebemos como aquela figura discreta, às vezes exigente, às vezes controladora, às vezes chata ... é de facto, determinante.  Não realizamos da importância dos conselhos, dos palpites, das sugestões ... às vezes dos reparos, dos remoques, das "abelhudices" contra as quais nos insurgimos com tanta frequência ...
"Mas que coisa ... a minha mãe acha que o tempo não passou e que a minha vida é a sua ... os meus interesses também !" - tantas vezes o pensei ... tantas vezes o disse ...

Hoje, estou mais "perto" dela, do que das gerações descendentes.

Na forma de pensarem e de se posicionarem na vida, as minhas filhas começam a ficar a anos-luz das minhas convicções, da minha forma de vida, dos meus padrões, daquilo que defendo, que valorizo e aprecio ...
Começo a perceber que as suas "unidades de medida" do tempo e do espaço, são outra onda.
Começo claramente a perceber que os seus ritmos, as suas referências, os seus valores e interesses, as suas capacidades face à vida, são outro departamento.
E sei exactamente que não entendem e não aceitam, a falta de "desembaraço", a lentidão às vezes, o "emperramento" mental, que pensam que nós, os pais, nunca deveríamos ter.
Sei exactamente da sua impaciência e falta de disponibilidade, para ouvir e " dar tempo a quem precisa ".
Começo a perceber a discrepância das nossas linguagens, a ininteligibilidade dos seus mundos, o meu afastamento ao seu universo.

Que dizer então dos que ocupam um degrau adiante ??

Em relação a esses, começo a virar um " ET".  Qualquer dia ( se não já, começam a olhar-me como uma figura meio dinossáurica e fóssil ... ).
Não entendo, e custo muito, mesmo muito a aceitar a tolerância e a permissividade dos pais de hoje, em relação a muitas formas de ser e estar, dos filhos.
Não entendo os modismos aos quais se adere, porque são isso mesmo ... modismos.
Não entendo que haja quatro pessoas numa sala, onde teoricamente se deveria vivenciar o convívio da Consoada, aproveitando os raros momentos em que a vida permite a partilha entre as diversas gerações, e estas estejam fixadas nos monitores dos telemóveis ...
Não entendo que os amigos dos pais sejam tratados por "tios" e "tias" ... Irrita-me solenemente esse tão generalizado preceito ...
Não encaixo ter uma neta, na idade tonta dos quinze anos, que tenha feito um "alisamento" do cabelo ... só porque não apreciava a escassa ondulação do mesmo ...
E do meu ponto de vista, sem que sequer tenha merecido alcançar esse desiderato, uma vez que o seu rendimento escolar deixou muito a desejar neste primeiro período lectivo.
No meu tempo, este tipo de compensações e "miminhos" ( por serem supérfluos e dispensáveis ), tinham-se ou não, como prémios de merecimento ou estímulo ...
Custo a engolir linhas estapafúrdias "vanguarda" ou "alternativas" no vestuário, com a cor preta a dominar as roupas jovens e as botas de tropa, inestéticas, pesadonas e pouco femininas, a completar o "boneco" ... Isto, revendo os conceitos de vestuário que, ao longo dos tempos, desde sempre foram mais ou menos clássicos, nas respectivas educações ...

Não ignoro  que o vestuário que exibimos é uma questão cultural e social, uma forma de integração ou de rejeição dos arquétipos que a sociedade impõe.
Nomeadamente os jovens, particularmente os adolescentes numa fase da vida de contestação e desafio, em que buscam uma qualquer identificação e um lugar no mundo que habitam, procuram afirmar-se com códigos de vestuário que os assimilem e integrem no grupo de referência.
Daí as correntes diversas que se caracterizam e pautam pelos diferentes padrões ideológicos seguidos.
Apenas acho que maioritariamente, se estabelecem posturas de "carneirada", aleatórias e despersonalizadas, sem nenhuma consciencialização da escolha ou opção assumidas, reféns das tendências e das modas, simplesmente.

Enfim ... dou  por  mim,  e  odeio  fazê-lo,  a  proferir  uma  frase  que  me  arrepia : " no  meu  tempo ... "
Oh Deus ... será que estou mesmo com a intolerância, a rabugice, a mumificação das "relíquias" museológicas ???!!!
Será que estou a ficar estratificada nos tempos em que vivo, empedernida, sem adaptabilidade e sem abertura ?!
Será que estou a auto-marginalizar-me das vivências do hoje, porque me sinto distante, incómoda, dispensável, estranha ao que me rodeia ... sem "espaço" ou lugar ??

Preocupante, sem dúvida !

De tudo isto eu falaria com a minha mãe.  Todas estas minhas inquietações ela entenderia ...

Acho que nunca pensamos à séria que a nossa mãe, um dia, nos faria tanta falta !...

Anamar

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

" QUANDO NÃO TEM MAIS JEITO ... "



Ontem, aquela noite determinada.  Aquele 24 de Dezembro de que não dá para fugir.
A tradição, o hábito, o institucionalizado, mas sobretudo o convencionado, ditam que as famílias se sentem em torno de uma mesa entupida de vitualhas, entre os doces e os salgados, e tentem estar unidas e de bem, pelo menos uma vez no ano ...
Umas vezes dá, outras, nem por isso !

A "família", essa instituição algo abstracta, definida como as pessoas do nosso sangue a que se juntam "artificialmente" extensões, fruto da vida e dos destinos, é cada vez mais, de facto, nos dias de hoje, uma entidade abstracta, distante, impessoal e frequentemente, penalizante.
Está "escrito" que valores como o amor, a cumplicidade, a aceitação, a tolerância, a compreensão, a união, o bem querer, entre outros, sejam, ao longo dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, pedras basilares estruturantes, verdadeiros pilares e alicerces duma família, laços que deveriam ser inexpugnáveis.

Como em tudo na vida, a teoria livresca, normalmente desmorona face à prática no terreno.
E se, de alguma forma  norteámos as nossas realidades familiares nestes arquétipos, e conseguimos com razoável sucesso monitorizar o andamento do nosso "barco" durante determinadas fases da vida, com o avanço dos anos, com as vicissitudes atravessadas ( excepto em honrosas excepções que admito ), normalmente esses "projectos" familiares mais sonhados do que realizáveis, tornam-se verdadeiros e dolorosos falhanços.
Famílias que se desmantelam pelas mais variadas razões, opções de vida novas e diferentes, face às células inicialmente estabelecidas, afastamento físico dos seus elementos, motivado pelos diversos  percursos individuais escolhidos, incompreensões e intolerâncias que não conseguem deixar-se sobrepor pelos valores que na realidade deveriam imperar entre pessoas do mesmo sangue, como o afecto e o amor ... conduzem as realidades familiares a disfuncionalidades  frustrantes e dolorosas.

As pessoas desconhecem-se.  A sua forma de ver a vida, os reais interesses e valores que têm significância para cada um, os seus posicionamentos na sociedade, e mesmo nas respectivas e posteriores realidades familiares constituídas,  são tão díspares, tão abissalmente distintos, tão estranhamente distantes e indiferentes, que não conseguimos descortinar onde é que por ali existiu alguma vez um tronco comum.
As pessoas estão de costas viradas, têm linguagens desconhecidas, comunicações colapsadas, silêncios inultrapassáveis entre si, verdades absolutas e inflexibilidades inaceitáveis.  Há mágoas, ofensas, animosidades, desunião ... indiferenças atrozes e implacáveis ... diferenças ...
Não há relativização de nada, cerrando-se cada um na sua verdade e intolerância, como mulas empacadas, incapazes de um gesto de cordialidade ou aproximação.   E muitas vezes sem que se perceba sequer o porquê !...

E aqueles que são pais e mães, irmãos e irmãs, avós e netos, ficam tão distantes física e emocionalmente, tão "transparentes" e descartáveis ... tão dispensáveis uns para os outros, acredito ... que o sangue ... o tal sangue que corre no tronco comum, queira-se ou não, já não opera milagres !
A desvalorização e deterioração dos laços é notória e total.
E à semelhança do mundo, é  cada um em si e de "per si" ... ainda que na noite de Natal, o tal 24 de cada Dezembro, a mesa das vitualhas entupida de doces e salgados tente, ingloriamente,  fazer a magia da aproximação, da cumplicidade e do amor !!!...

Anamar

domingo, 22 de dezembro de 2019

" NEM SÓ OS PÁSSAROS ... "



Só os pássaros passam as redes das escolas desertas, onde os risos soltos das crianças não ecoam, neste período de silêncios escolares ...
As portas estão cerradas, as relvas desabitadas e os bancos das merendas sozinhos e tristes ...
Os pássaros, nos seus voos de liberdade sempre passam fronteiras, sempre vencem distâncias e vão além dos muros. 
As folhas dos Outonos que já foram, atapetam de ocres queimados o chão molhado das chuvas persistentes.  As azedas, as macelas e outras vivazes, festejam em explosão de alegria os verdes das alcatifas com que a Natureza  forrou as terras sedentas ainda há pouco.  As águas derramadas dos céus encastelados foram bênção prazeirosa e potenciadora da floração das espécies de Inverno.

Na mata também só há silêncios.  Os habitantes não se vêem.   Só se ouvem.  Continuam a saltar por entre os galhos.  Abrigam-se da intempérie nas árvores de folha perene.  Lá terão os ninhos, por certo.
A Natureza despiu-se.  Só os musgos e os líquenes trepam os troncos, enquanto que os cogumelos selvagens ponteiam o chão, e as primeiras bagas começam a despontar ...
A solidão ... uma solidão, um abandono e um desconforto parecem pairar, e ombreiam com o meu sentir.  Os silêncios estão-me por dentro e por fora, como se a alma e o corpo iniciassem uma hibernação providencial ...

E há uma paz.  Só a busca daquela paz me leva para os caminhos enlameados.  Me leva para as veredas desertas, na certeza de que nem vivalma anda por ali.  As pessoas fogem  do cinzento, das sombras, da escuridão mesmo, que fecha os dias antes de tempo.  As pessoas fogem do silêncio ... do que parece ausência de vida ...
Eu, não.  Eu vou por lá ganhar um banho de tranquilidade, de equilíbrio, de contemplação, como se fosse uma purga da civilização que se impõe.  Como se fosse uma fuga ao que deve sentir-se e viver-se agora ... ainda que se não sinta ... Só porque é Dezembro, só porque é Natal ... e outro ano tudinho novo a escrever-se, abre o livro ...
Eu vou por lá beber, respirar, empanturrar-me de Natureza ... porque é a única fiável, certa e segura que me envolve.  A única perfeição que nos coexiste, neste minúsculo ponto do Universo ...
E o conforto que experimento não se descreve.  É uma masturbação infinita na alma, e uma faxina retemperadora no coração !

Acho que estou a tornar-me eremita.  O ser humano cansa-me mais e mais.  A capacidade de emaravilhamento, de sonho, de identificação, de plenitude, de êxtase ... neste momento só a encontro no diálogo que estabeleço com os seres irracionais que me cercam. 
Sinto-me feliz e em paz com a ternura dos gatos que vivem comigo.  Sinto-me preenchida e leve, quando persigo o voo das gaivotas frente à minha janela.  Respiro até ao âmago de mim mesma, no cimo de um penhasco, no alto de uma falésia.  Converso com os ouriços dos castanheiros, e silencio ao escutar os avanços e os recuos das marés, nos areais açoitados pelas ondas alterosas ...
Escuto a brisa leve que perpassa, e respeito a força dos vendavais que ordenam ...
Fascino-me com os acordes da música que toca dolente aqui ao meu lado, com a doçura da tarde que se pôs ...
E aí sim ... sinto-me um pouco feliz !...

"Só os pássaros passam as redes das escolas desertas, onde os risos soltos das crianças não ecoam, neste período de silêncios escolares ..."

O meu pensamento livre  voa com eles  além das redes, além dos muros e das paredes, além das convenções, do certo e do errado,  das memórias, da nostalgia que me toma ... numa troca muda de palavras com o silêncio do meu quarto !...



Anamar

sábado, 21 de dezembro de 2019

" NA HORA DO LOBO "




Verdade que depois da tempestade, chegará a bonança.
Temos vivido dias complicados em termos atmosféricos, em que depressões sucessivas com as consequências inerentes, têm violentado o país com ventos fortíssimos e cheias destruidoras que deixam populações, culturas e habitações em situações bem precárias.
Somos um país pequeno, de poucos recursos, e como tal, qualquer situação mais gravosa logo deixa marcas notórias de devastação e dor ...

Mas hoje, pese embora não tenhamos uma melhoria certa e segura, a chuva deu tréguas, o céu de chumbo pesado de borrasca  passou a um cinza menos agressivo, e há pouco, um sol muito mas muito tímido, espreitou e garantiu aos mais cépticos, que por cima das nuvens ele está lá ... sempre está lá !

Aqui da minha janela, frente à mesa onde escrevo, olho o horizonte lá longe, vejo o plátano despido aos meus pés, verifico que a folhagem das árvores que ainda a detêm, pouco mexe ... e escuto e sigo o rumo de algumas gaivotas que se bamboleiam na aragem que sopra lá fora.
O seu grasnido e o voo errante, sempre me deixam nostálgica.  Lembro os tempos da "minha" gaivota, quando ela me trazia novas dos areais distantes, e o cheiro da maresia e da caruma da Serra ...
Hoje, acho que até mesmo a "minha" gaivota foi à vida dela ... porque eu deixei de ter olhos para a contemplar e ouvidos e voz para com ela cumpliciar ...
Acho que essa ingenuidade contemplativa e onírica, ponteou apenas uma época da minha vida ... não mais !

Esta quadra calendarizada ... não canso de referir, porque não canso de sentir ... é muito complicada para a minha cabeça .   Sei que como eu, muitas pessoas se sentem, se possível, com uma solidão instalada e acrescida.  Sei que como eu, muita gente faz balanços de vida, pega no deve e haver que ela lhe estendeu ao longo do ano que se apresta a terminar, e muitas vezes, objectivamente se sente como barquinho de papel em riacho alteroso.
Questionamos mais e mais a razão da existência, reflectimos sobre o insucesso e a ineficácia da  perseguição falhada a objectivos  não alcançados ( apesar do denodo e da aposta tantas vezes investidos ), "crucificamo-nos" pela incapacidade sentida e frustrante no leme do barco, deixamo-nos invadir por saudades ( de pessoas, de lugares, de tempos, da nossa juventude ... de nós mesmos, e daqueles que um dia fomos ... ) ...
E enfim, este tipo de pensamentos perseguidores, despoletadores de vazios e mágoas, em nada contribuem para que nos sintamos felizes !

Entretanto, há poucos dias  Patxi Andión, o cantautor mais português de Espanha, sociólogo, actor e escritor, um lutador acérrimo contra o fascismo de Franco,  morreu estupidamente num acidente rodoviário, aos setenta e dois anos.
Foi para a minha geração, seguramente, uma referência cultural ecléctica, no panorama artístico internacional, em que se posicionou fundamentalmente como interventor social e político,  homem de esquerda que era.
Descomprometido e coerente, sempre assumiu, quer na sua terra ( um madrilenho com raízes bascas ), quer no exterior, nomeadamente em Portugal  onde actuou regularmente ao longo de cinquenta anos, o rosto da resistência anti fascista, da denúncia e da defesa contra as injustiças e arbitrariedades sociais, e bem assim das grandes causas e desafios, que se colocam ao homem do século XXI.
A sua voz rouca inconfundível, deixava passar mensagens de justiça, solidariedade e esperança.
Em 2013, o tema " Palavras ", intimista, particularmente doce e sensível, falava-me de algo que de alguma forma, eu experienciara anos atrás.

Hoje, Patxi Andión tinha em mãos a continuação de um trabalho em dois álbuns, a finalizar em finais de 2020 com o álbum "Profecias",  tendo o primeiro sido lançado em 2018 com o nome de "La hora Lobicán".
A "hora Lobicán" é uma expressão muito usada pelos "viejos", nas Astúrias e na Galiza, referindo aquela hora do dia, o lusco-fusco, aqueles momentos do amanhecer e do anoitecer, em que há uma indefinição entre a imagem do lobo e do cão. Em que há um confusionismo entre o que se vê e o que realmente é, como se "nieblas" espessas se abatessem e turvassem a nossa vista ...

" La hora lobicán, que decian los viejos.  Confunde al lobo en can y al perro en lobo.  Y todo pude ser sin que se vea nada.  Suspenso cautelar de todas las miradas.  La hora lobicán es hora y humo.  Humo para esconder y hora en punto que se dispone a ser, otra vez más, un nuevo amanecer ou atardecer secreto ... "  -  estas as primeiras estrofes do poema.

É como se se diluísse ou dissipasse a resolução visual das coisas.
Transpondo esta simbologia metafórica para a realidade da vida do Homem nos tempos actuais, pretende chamar-se a atenção para a mistificação das verdades, das realidades, das certezas.  De repente, tudo o que parece não é exactamente assim, havendo uma camuflagem perfeita, intencional, manipuladora do que está frente aos nossos olhos.
É manifestamente  um trabalho de índole social e política, que desmistifica a fluidez, a incerteza, a desvalorização e a insegurança da sociedade onde  hoje se vive.
Desmistifica, em suma, os valores de uma sociedade, que por valores reais já pouco se norteia !...
Uma sociedade "líquida" e escorrente, como actualmente se denomina ...
 





Anamar

sábado, 14 de dezembro de 2019

" O ANTI - NATAL "






Estamos na "tal" época ...
Se pudesse, emigrava.  Se pudesse, fechava a toca e hibernava.  Se pudesse, fazia-me de morta ...

Ontem tivemos a última sessão de 2019 do Clube de Leitura que integro.  Uma reunião mensal em torno de um livro, de uma mesa de vitualhas, de conversa jogada fora, mais ou menos oportuna, com maior ou menor interesse, em torno da obra, com ou sem autor presente.
Ontem o tema não se debruçava sobre nenhum enredo publicado.  Acordara-se que cada participante levaria algo sobre a quadra que atravessamos.  Algo seu, ou algo de outrém, que escolhera a propósito.
Em torno do Bolo Rei, Bolo Rainha, Tronco de Natal e azevias, cada um a seu gosto, compartilhou a escolha feita.
Nenhuma pachorra me acometera.  Para rabiscar qualquer coisa ... poema, texto ... sei lá !
Escolhi Gedeão, químico como eu, homem de ciências ... mente aberta e racional.  "Dia de Natal" ... o poema.

Mais do que amorfa, irritado é o meu estado de espírito.  Cansada de tanta ficção, hipocrisia, desencontro ... Saturada de tanto faz de conta, de tanta performance barata, que de original nada já tem.  Farta de ter que tomar o barco sem nenhum resquício de vontade, sem nenhum sopro de vento adjuvante, só porque a onda alterosa avança e leva tudo adiante, sem que consigamos escapar ao despautério.

Não me venham com a teoria familiar, do encontro, da partilha, da vivência romântica de corações em uníssono.
Não me venham obrigar a achar que só porque nascemos do mesmo tronco comum, herdámos a felicidade suprema de falarmos as mesmas linguagens, herdámos a tolerância do reencontro nas diferenças, a aceitação das divergências em cada um, na vivência da paz...
Não me venham com tretas, porque o meu tempo de ingenuidade já passou há muito, e as dores da vida, há muito também, me retiraram a bonomia do presépio de Belém.
Natais desses, santificados e sob medida, só terei tido na primeira infância.  E ainda assim, porque me concedo o benefício da dúvida, na análise de cada lembrança remota que me deixaram.  Talvez não tenha sido exactamente dessa forma, a versão doce, colorida e aconchegante que a memória já difusa pelos anos, me traz ...

Hoje, rumaria à Lapónia, com ou sem auroras boreais, para pular no calendário os dias necessários a apagarem-me no peito as mágoas, as lembranças doídas, as ofensas, as saudades, o cansaço e esta violentação que me sinto, de ter que fazer de conta que a alegria, a concórdia e a felicidade que advêm de teorias irreais, como se genéticas fossem, nos caem obrigatoriamente no prato, juntamente com as filhós, o arroz doce e as rabanadas.
Porque todos reconheceremos que tudo isso não passa de um tremendo e intencional sofisma ...
só porque Dezembro traz inevitavelmente consigo esta travessia no deserto, de que não conseguimos escapar !
Parece haver uma concertação do tipo: é Natal, ficamos todos bonzinhos e vamos brincar de sermos felizes !...

A minha cota de tolerância decresce inversamente ao avanço dos tempos e das vidas, com a confrontação face às vissicitudes progressivas do dia a dia, com o desencanto expectável perante tudo o que já nem surpresa constitui, dos posicionamentos, atitudes, indiferenças e distanciamentos de quem, nataliciamente falando, não seria suposto ...
À semelhança de todos os artefactos da época, também os meus sentimentos e emoções, jazem mudos, aferrolhados no armário, há já demasiados anos ...
É assim uma espécie de pirraça ou contestação que faço ao determinismo dos tempos ...

Entretanto, tento ser objectiva, fria e pragmática.  Entretanto, tento varrer para debaixo do tapete, as penalizações, as culpabilidades, as inseguranças, as dúvidas e aquela maldita tendência de achar que algures na vida, seguramente errei ... e muito.
Esquecendo que afinal, todos não somos mais que erráticos humanos, tentando acertos, à custa de insucessos !...

Bom ... exorcizar os fantasmas  impõe-se, nesta recta final de trezentos e sessenta e cinco dias que, inevitável e castigadoramente, exige balanços ... sempre exige balanços.
Para que, pelo menos interiormente, alguma paz nos invada e consigamos rumar, mais ou menos incólumes, a mais um ano que aguarda ao virar da esquina, a sua entrada triunfal !...


" Dia de Natal "

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

Anamar

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

" BOM DIA VIETNAME "




O melhor de uma viagem, dizem, é o regresso a casa !
Concordo, concordei totalmente desta feita, em que duas semanas me afastaram aqui do nosso torrão à beira mar plantado.  Foi uma viagem sem dúvida espectacular, até porque fora eu que a havia elegido, mas muito exigente e consequentemente cansativa.
O oriente uma vez mais me acolheu, pois a filosofia e as histórias de vida daquelas gentes, sempre me são fascinantes e apelativas.
Já por lá andei em muitos destinos, e em todos eles, a alegria, o desapego, a inexigência, a bonomia com vidas quase sempre precárias e sofridas, maravilham-me.
Efectivamente, o oriente nada tem a ver com os princípios e os valores que no ocidente norteiam as nossas existências.

O sol desperta muito cedo e adormece igualmente cedo, pelo que, na tentativa de se rentabilizar o tempo, a "alvorada" frequentemente ocorria entre as 5 e as 6 da manhã.  Dia após dia.  Sem pausas além das utilizadas para as refeições, sempre em locais e restaurantes espectaculares, foi um "non stop" permanente.
A Península da Indochina é constituída no sentido estrito, por três países absolutamente particulares, paisagística, social e historicamente falando : Vietname, Laos e Camboja.
Três países sofridos, com marcas recentes e indeléveis de tempos injustamente carrascos.  Mais injustos ainda, se pensarmos não ter sido este conflito na realidade, mais do que um ajuste de contas entre os dois monstros políticos, Estados Unidos e Rússia, que mediam forças como sabemos, na chamada Guerra Fria, entre 55 e 75 do século passado.
As marcas da guerra, conhecida como a Guerra do Vietname, que massacrou de igual forma os países vizinhos que serviram de corredor de acesso aos bombardeamentos americanos, existem física e psicologicamente bem visíveis num país que só teve a sua reunificação entre o norte e o sul, em 1975, graças a um político e mentor venerado acima de tudo, na nação - Ho Chi Minh, cujo nome renomeou a antiga Saigão.

Sob o domínio chinês cerca de mil anos, onde bebeu os ensinamentos de Confúcio, pensador e filósofo cujos valores persistem na sociedade vietnamita até hoje, posteriormente sob o colonialismo francês, cujas marcas se reflectem notoriamente  na traça de muitos e muitos edifícios, é, religiosamente um país com uma predominância budista, embora 80 % da população se diga ateia.
A taxa de analfabetismo é muito elevada, as condições sociais muito precárias, com zonas do país onde a emigração, se permitida pelo estado, é a única saída que se configura como meio de sobrevivência.
Não esqueçamos o triste acontecimento recente, em Londres, com a morte de 39 vietnamitas num camião cisterna, que viajavam clandestinamente, em busca de uma chance.  Norteava-os a possível ajuda à família que ficara para trás.
O vietnamita coloca a família sempre à frente das suas opções pessoais.
Os mais jovens residem na casa paterna, e assumem a responsabilidade de cuidadores dos seus progenitores.
Politicamente o país diz-se socialista, e o partido comunista lidera exclusivamente, a esfera política.  É um partido único, com uma assembleia de "cartas marcadas".  Nas eleições pseudo-livres, rodam as cadeiras, previamente escolhidas pelos órgãos superiores do Partido.
A corrupção, os compadrios e os interesses particulares, estão instalados infelizmente.

A aposta na educação dos jovens, em regime espartano com grau de exigência elevada e dura, é uma medida positiva valorizada pelo estado.
Saigão, como quase todas as cidades vietnamitas tem uma super população.  11 milhões de habitantes, numa cidade que parece não dormir.
7 milhões de motos nas ruas, principal meio de locomoção adoptado, desenham um verdadeiro postal turístico  muito particular da vida daquele povo.  Nas motos tudo se transporta.  Desde famílias com quatro pessoas, a toda a panóplia de materiais, em verdadeira ginástica acrobática.
As máscaras cobrem a cara da maioria dos utentes, já que por um lado a poluição é absurda e por outro, a preocupação estética com a preservação da brancura da pele, determina a sua utilização.
O trânsito é caótico, sem regras ou sinais a respeitarem-se.  É caricato o movimento sem rei nem roque, onde passa quem primeiro chega, seja da direita ou da esquerda.
Buzina-se permanentemente, ninguém discute com ninguém.  Há uma bonomia e um respeito muito próprios na condução.  E, não assisti a um único acidente ou colisão !!!
As crianças não usam capacetes.  Quase sempre se posicionam entre as pernas do condutor, em pé, agarradas ao volante da mota.  É vulgar que uma outra, mais velhinha, circule ainda atrás, ou mesmo "ensandwichada" entre os adultos !
A passagem dos peões, na travessia das ruas, afigura-se um "suicídio" para os ocidentais, e a regra é avançar sem hesitações sempre em frente, na certeza de que seremos contornados pelos milhares de veículos ... ahahah
Fechar os olhos e seguir adiante, deverá ser a "regra" a observar ! ahahah

Enfim ... miríades de coisas eu poderia abordar, contar, e ilustrar mesmo ... com algumas das 2800 fotografias que tirei ... 😃😃😃
Estou a prepará-las, antes de as guardar ou exibir para os amigos.
Oportunamente talvez coloque algumas por aqui.

Efectivamente, uma viagem é sem dúvida um investimento cultural, pessoal e humano inexcedível.  É um ganho e um valor acrescentado que guardamos na alma para toda a vida.  São vivências que não se relatam, não se transmitem ... apenas se sentem e vivem !!!






NOTA :  Retirei este vídeo do Youtube a fim de ilustrar exactamente o que ocorre nas ruas das cidades vietnamitas, seja Hanói, seja Ho Chi Minh, antiga Saigão, visto que o Blogger não me permite postar os meus próprios vídeos.  Penso que os mesmos deveriam ser colocados primeiramente no Youtube, mas isso eu não sei !
Anamar