domingo, 8 de janeiro de 2023

" UM INVERNO FANTASIADO DE PRIMAVERA "

 


Cinco e meia e anoiteceu ...
Menos mal que anoiteceu alaranjado na linha do horizonte, o que prevê tempo mais cordial do que temos tido.  O primeiro dia do ano primou por ter os rigores da estação a que pertence ... uma invernia de chuva e frio, de desconforto e silêncio, espelhados no cinzento agreste com que se vestiu.
Hoje, o sol resolveu iluminar o dia, fazendo jus ao ditado que garante que "depois da tempestade sempre vem a bonança"... Pudéssemos ter isso como certo, e as tormentas da vida parecer-nos-iam menos penosas, por temporárias.

De manhã resolvi fazer a caminhada, numa espécie de determinação contra a calaceirice instalada nos últimos tempos, de que as tropelias atmosféricas são as principais responsáveis.   
E voltei à mata no intuito de avaliar que estragos por lá se sentirão e a viabilidade ou não, de por ali retomar o programa habitual.
Também ali se fez sentir o efeito devastador da violência atmosférica. Também ali a erosão nos caminhos motivada pela força da escorrência impetuosa da água e das pedras arrastadas, traçaram configurações anormais na paisagem.  A ribeira transporta um caudal barulhento de zangado, a velha cisterna seca no Verão, transbordou e vaza, caminho fora toda a água sem contenção, desenhando e cavando no solo, verdadeiras linhas que nunca ali existiram. Uma árvore respeitável no tamanho e na longevidade tombou, sucumbindo à força dos elementos.  Muitos caminhos mntêm-se quase intransitáveis, os pássaros pouco soam, não há patos nos tanques, abelhas não zumbem ... cigarras também não.  Tudo parece ter fechado p'ra balanço.  A natureza assim o determina !
Duas borboletas voavam em "casamento" brincalhão.  Pareciam crianças no recreio da escola.  Vinham, cruzavam-se, abraçavam-se, soltavam-se de novo. Não sei, em termos biológicos, a que timing de vida poderá corresponder, nesta altura do ano, esta dança frenética de duas borboletas na mata ... 

Mas, porque do frio mesmo, pouco se dá conta, e porque a vida das espécies não sucumbe fácil, surgem, descaradamente, as primeiras flores por lá.  As azedas já se espalham ensolarando o verde das veredas, as mimosas começam a encorpar, promissoras, ao longo das ramagens, o folhado já abriu flor nos ramos mais expostos ao sol, e o aloé vera coroou-se do laranja enrubescido das flores erguidas ao céu como verdadeiros troféus ... Um Inverno fantasiado de Primavera !...
A renovação indesmentível e certa aí está, assegurando sempre a continuidade e a vitória da vida sobre a morte !

Anamar