domingo, 25 de outubro de 2020

" AÇORES EM ANO DE PANDEMIA " - ILHA GRACIOSA

 




Conhecida como a Ilha Branca, esta foi a última ilha que visitei no Arquipélago dos Açores, no que foi uma viagem absolutamente fascinante.
E como já o referi, continua a ser impossível eleger uma dentre todas, como a de escolha ou eleição !
Todas diferentes, todas fantásticas nas suas diversidades e especificidades, em belezas naturais, requintes arquitectónicos e culturais, arte sacra, curiosidades das gentes e da terra, História, gastronomia e tantos outros pormenores e curiosidades que fomos escutando ao longo dos dias, tornaram essa tarefa inalcançável !

A Graciosa é a ilha mais a norte das cinco do Grupo Central.  Desde 2007  que pertence à Reserva Mundial da Biosfera, classificada pela UNESCO, à semelhança do Corvo, das Flores e das Fajãs de S.Jorge.
É uma ilha pequena, com uma dimensão de 12,5 Km por 7 Km.  É menos montanhosa que as demais, tem declives suaves e a sua maior elevação, a Caldeira, tem pouco mais de 400 m de altitude.
Em consequência desta orografia, tem um clima moderado oceânico, é menos chuvosa, tem menos nevoeiros, e por isso o seu solo é mais seco.
Possui campos férteis, onde o milho, as hortícolas e a fruta proliferam ( a meloa da Graciosa é divina ! ) Mas são a produção de gado bovino e leite, bem como a viticultura, as suas principais fontes de receita e subsistência.
As videiras crescem entre meio dos muros de lava, quadriculados nos campos verdes ... os "currais" ! 
O milho quando colhido, fica exposto à secagem nas chamadas "burras de milho", uma espécie de escaparate de madeira que se vê nos campos, um pouco por toda a ilha.

                                                                       CURRAIS
                                                              BURRA  DE  MILHO

A Graciosa é chamada de Ilha Branca ... designação esta que se inspirou nas suas características geomorfológicas e nos elementos toponímicos da ilha ... locais como Pedras Brancas ( que nomeia inclusive uma casta de vinho graciosence absolutamente famoso ), Serra Branca ou Barro Branco, são apenas alguns exemplos. 
De facto, a sua baixa pluviosidade  que confere à ilha , no fim do Verão, uma tonalidade esbranquiçada, associada à cor do casario das povoações, levou  Raul Brandão a dar-lhe o epíteto referido. 
Tem um só concelho - Sta.Cruz da Graciosa - e quatro freguesias, Vila de Sta.Cruz, Vila da Praia, Guadalupe e Luz.
Calcorrear a ilha é um desafio que se faz em menos de 1 hora.  É um passeio de constante surpresa, onde a novidade nos extasia a cada volta de estrada.  Tivemos a felicidade de ter como guia local, uma professora que, nascida no Canadá e filha de pais micaelenses, escolheu a Graciosa para aí se radicar.
A Lisete fê-lo por paixão e para toda a vida ... diz.
Profundamente conhecedora, nada deixa de referir, nada deixa passar em branco, para tudo capta a nossa atenção, cativando pela simplicidade, disponibilidade e entusiasmo.
É uma embaixadora graciosence de incomparável gabarito, e uma excelente contadora de histórias da sua ilha, onde diz " ainda se poder dormir com a porta de casa aberta " !...

Com tanto para contar, a anos-luz de vos conseguir traduzir a real beleza das coisas, o encanto dos pormenores, a aproximação sequer da realidade das cores, da luz, dos silêncios ... que sempre só ficarão nas mentes e no coração de quem os experimentou, vou tentar sintetizar o que vi e como vi ...

A capital,  Sta.Cruz,  tem como "sala de visitas" uma praça ampla, clara, extremamente limpa e agradável, contornada por edifícios típicos de traça açoriana  com janelas e portas emolduradas com o negro do basalto vulcânico.  Possui um coreto, pavimento empedrado, dois lagos  ( outrora paúis para retenção da pouca água existente na ilha ) que já serviram para dar de beber aos animais e para a rega, araucárias imponentes e altivas.  Daí, irradiam as ruelas com casas igualmente típicas e antigas.

                                                  PRAÇA  CENTRAL  DE  STA.CRUZ

                                                                      CORETO
                                                        ARAUCÁRIAS  ANCESTRAIS

Subindo ao monte que se ergue junto a Sta.Cruz, surge a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, erigida no final do século XV, início do século XVI em pedido de protecção divina pelos terramotos que assolaram a ilha.  Tem uma aparência robusta que lhe confere um certo ar de fortaleza, e como tal é um dos exemplos importantes da arquitectura religiosa fortificada.
No seu interior, destacam-se os painéis de azulejos do século XVIII e uma imagem datada da mesma época...
Anexada à ermida fica a casa dos romeiros, que serve até hoje como local de acolhimento dos peregrinos.
Do alto do Monte da Ajuda, ( 280 m de altitude ) que alberga mais duas ermidas ( São Salvador - séc XVIII e São João - provavelmente séc XVI ), pode descansar-se o olhar sobre o mar, o campo -  particularmente todo o norte da ilha e a extensa planície de Guadalupe -  e a vila, que abrigada pelo monte, dos ventos fortes e costeiros, se desenvolveu no seu sopé.
Na cratera do vulcão extinto que originou o Monte da Ajuda, os graciosences construíram curiosamente, uma praça de touros, ainda aos dias de hoje, palco de muitas touradas, nomeadamente por altura das festas da Graciosa.

                                                             ERMIDA  DA  AJUDA
                                         CAPELA  DE NOSSA  SENHORA DA  AJUDA


                                                             PRAÇA  DE  TOUROS

Descendo e continuando para o norte, a zona balnear do Barro Vermelho desvenda-nos uma praia singular, numa pequena enseada de calhaus rolados, com  a coloração vermelha que lhe deu o nome.  
No rochedo vulcânico, formaram-se piscinas naturais de águas agitadas mas límpidas, ideais para o mergulho.
O Farol da Ponta da Barca, de cujo miradouro situado sobre um precipício se pode observar toda a orla costeira e o mar, divisa em primeiro plano o Ilhéu da Baleia ... uma imensa baleia rochosa emergida do silêncio do oceano ...
Ao fundo avista-se S.Jorge a duas horas de barco, e ao fundo do fundo ficam o Pico e o Faial !!!...

                                          ZONA  BALNEAR  DO  BARRO  VERMELHO
                                       PISCINAS  NATURAIS  DO  BARRO  VERMELHO
                                                     
                                                    FAROL  DA  PONTA  DA  BARCA
                                                                LHÉU  DA  BALEIA


Continuámos pela Serra Branca e foi a vez do ex-libris da Graciosa ... a visita à Caldeira, o ponto mais elevado da ilha, como já referi.  Trata-se de uma cratera gigantesca, com 4 Km de perímetro, resultante duma erupção vulcânica ocorrida há 12 mil anos. 
A cobertura florestal exterior, é um bosque de criptomérias, acácias e incensos que como uma floresta encantada de vegetação exuberante, contorna e acompanha a Caldeira.  No seu interior existe uma imponente cavidade vulcânica, a Furna do Enxofre, um fenómeno geológico de grande interesse e beleza, que possui um lago de água fria no fundo da gruta e uma fumarola com lama, responsável pelo cheiro intenso a enxofre que emana do interior da Terra, e que a designa.

A incursão às entranhas da Terra, 3 km abaixo, a imagem fantasmagórica, misteriosa e mítica que se desfruta na brutalidade da rocha ... a sombra e o silêncio debaixo desta abóboda basáltica, onde os morcegos e os painhos-de-monteiro ( exclusivos da Graciosa ) nidificam ... são um verdadeiro desafio à humildade humana !
A Furna do Enxofre é monumento natural e integrou em 2000, a lista candidata a Património da Humanidade.
As suas visitas são condicionadas às condições no seu interior.  De facto, no início da descida, à superfície da Caldeira, existe um Centro Interpretativo, onde são recolhidos dados científicos sobre a dosagem das emanações sulfúricas, uma vez que a gruta está em permanência, totalmente monitorizada.
Todas as informações recolhidas são estudadas e tratadas na Universidade dos Açores.

                                                 CALDEIRA  E  FURNA  DO  ENXOFRE





Abordando a freguesia da Praia, zona piscatória por excelência, com o Ilhéu da Praia, Reserva da biosfera no horizonte, pudemos admirar os moinhos de vento de cúpula vermelha, únicos e emblemáticos da ilha.
Parecem ter sido trazidos por colonos flamengos ou holandeses.  Existem cerca de duas dezenas e são testemunho vivo da produção dos cereais na ilha, nomeadamente o trigo e a cevada.  De facto não foi impunemente que a mesma foi chamada de "o celeiro dos Açores "...
Hoje, todos estão desactivados, alguns recuperados e convertidos em habitações, ou mesmo em turismo local.
Por detrás fica a fábrica das famosas "queijadas da Graciosa".  Obviamente, à semelhança da Queijaria Teimoso ´- Quitadouro, onde a prova e aquisição de todos os mais inimagináveis queijos se impôs ( queijo com maracujá é a sua mais recente aposta ... ) ... agora, a prova e de novo a compra desta iguaria da doçaria local não poderia relegar-se para segundo plano.  Havia que trazer para o Continente, um miminho para os que ficaram ...

                                                            MOINHO  DE  VENTO
                                                         QUEIJADAS  DA  GRACIOSA
                                      
Na freguesia da Luz, a sudeste da ilha, onde almoçámos, ficam as Termas de Carapacho, junto às piscinas naturais com o mesmo nome.  As águas termais, usufruindo da proximidade da Caldeira, apresentam temperaturas da ordem dos 35º / 40º C, e são benéficas no tratamento das patologias reumatismais.
Entre rochas basálticas negras, as piscinas recortadas caprichosamente, em contraste com o azul profundo do mar, albergam os graciosenses em período de lazer, quando o tempo é favorável.

                                             PISCINAS  NATURAIS  DO  CARAPACHO

Uma curiosidade que também escutámos, entre as muitas histórias com que Lisete nos brindou nesta nossa estada na Graciosa, refere-se a um cidadão romano, que procurando um lugar prazeiroso onde pudesse usufruir uma vida calma, isolado da confusão do mundo lá fora, se apaixonou pela ilha e a elegeu como sua terra de adopção, fixando-se na Aldeia Velha, freguesia de Guadalupe, onde adquiriu alguns terrenos.
Franco Ceraolo figura de referência na  indústria do cinema, onde trabalhou com Scorcese, Fellini e Bertolucci, trocou, em 2000,  a sua vida profissional pela calmaria desta aldeia açoriana, onde cria uma espécie animal autóctone reconhecida há cerca de cinco anos, no sentido de evitar a sua extinção : o burro-anão da Graciosa, que sendo originário do norte de África, supõe-se  ter ficado na ilha como moeda de troca nos assaltos dos piratas e corsários, que vindo para pilhar, deixavam para trás, algo da sua passagem.
São animais baixos, com pouco mais de 1 m de altura, apresentam uma pelagem parda e ruça, e a maioria tem uma risca crucial característica ao longo do dorso, semelhante aos burros da Toscana.
Fundou a Associação de Criadores e Amigos do Burro-Anão da Ilha Graciosa, com o apoio do Centro de Biotecnologia da Universidade da Terceira, tentando proteger a espécie.
Este animal, que neste momento contabiliza menos de uma centena na ilha, existia num número superior a mil, há cerca de um século.
Fazem parte da História da Graciosa, por integrarem a vida da população, auxiliando na agricultura e no transporte dos géneros.  Sendo mansos e caminhando vagarosamente, usavam-se em passeios pela ilha - as "burricadas".
Tentando motivar as gerações mais novas para esta causa, Franco Ceraolo espera poder recuperar todas estas tradições.  Para já, interage com os quinze exemplares que carinhosamente cria nos seus terrenos, a quem deu nomes pelos quais respondem, e a quem, segundo ele, fala em italiano !!!... 😁😁😁

                                                 FRANCO  CERAOLO -  Imagem da Net

Terminámos as nossas deambulações pela ilha, visitando a Igreja Matriz de Sta. Cruz, em estilo barroco, edificada no século XV em devoção à Santa Cruz, reconstruída no século XVI e de novo no século XVII, mercê das destruições sofridas pelos fenómenos sísmicos que assolaram a ilha.
Apresenta detalhes manuelinos e azulejos figurativos do século XVIII.  Os seus altares são ricamente revestidos a talha dourada, e no altar-mor existe um retábulo fascinante, o Políptico da Matriz de Sta. Cruz da Graciosa, constituído por um conjunto de seis pinturas a óleo sobre madeira, pintadas no séc. XVI, presumivelmente por um artista português que se designa por Mestre de Arruda dos Vinhos.
Os seus temas iconográficos pertencem ao ciclo da vida de Cristo e da Santa Cruz.
Essas pinturas apenas foram reveladas em 1941, aquando de uma intervenção de restauro da igreja.
É imponente, austera e lindíssima !


                                                               IGREJA  MATRIZ


Junto à Praça principal da vila, fica o Museu Etnográfico, muito interessante e detalhado, exibindo  peças ligadas à cultura da vinha, com tradição na ilha como referi, à actividade baleeira a que os graciosences se dedicaram até 1982, ano em que nesta ilha cessou a caça a este cetáceo ... e ainda a tudo o que diz respeito ao "modus vivendi" das populações ao longo dos tempos, numa evocação rigorosa e vívida da História das suas gentes !







E pronto, tentando sintetizar tudo o que vimos, ouvimos e aprendemos sobre a segunda menor ilha do arquipélago, termino com este post a história mágica, fabulosa e inesquecível de sete dias mergulhada na tranquilidade, na magia e na beleza ímpar dos Açores por descobrir, ainda esquecidos na imensidão azul do Atlântico ... lá, onde Portugal verdadeiramente termina !!!

Anamar

domingo, 18 de outubro de 2020

" AÇORES EM ANO DE PANDEMIA " - ILHA DAS FLORES

 

                                                                            CUBRES

Para mim, as Flores é a coqueluche das ilhas açoreanas.  Se tivesse que eleger uma de todas as que conheço e são quase todas, como a mais completa, a mais fascinante, a mais próxima de um paraíso na Terra, as Flores ocuparia seguramente o pódium !

É a segunda ilha integrante do Grupo Ocidental do arquipélago, e fica, como já referi, a sul do Corvo.
É também em longitude a mais próxima da América ( geologicamente pertence mesmo à Placa Norte-Americana ).
Dela faz parte o ponto mais ocidental de Portugal e da Europa, o Ilhéu do Monchique, uma pequena formação rochosa perdida no Atlântico frente à Ilha, podendo observar-se do seu extremo ocidental, na zona da Fajã Grande.

Morfologicamente as Flores caracteriza-se por ser uma ilha de uma diversidade fantástica, exibindo uma natureza exuberante em estado puro.
Desde as ravinas abruptas talhadas na rocha basáltica que a constitui, desde as gigantescas falésias esculpidas pelas mãos do tempo, as formações geológicas surpreendentes, as lagoas mansas amodorradas no alto da montanha ... o som mágico das cascatas, que saltando das encostas mergulham em direcção ao mar ... passando pela magnificente beleza de uma vegetação luxuriante que cobre toda a ilha ... ainda, e finalmente presentes por todo o lado, as flores, sempre as flores, elas próprias que acabaram dando o nome à Ilha ... de tudo, este pedaço de paraíso é rico !...

Ocupa uma área de cerca de 142 quilómetros quadrados, na sua maior parte constituída por terreno montanhoso.
O ponto mais elevado é o Morro Alto com mais de novecentos metros de altitude.
Santa Cruz das Flores e Lages das Flores são administrativamente os dois concelhos da Ilha.  O seu achamento remonta ao século XV.   Sendo inicialmente a sua toponímia de São Tomás, acabou por assumir pouco depois a sua actual designação, devido à abundância de flores de cor amarela, os "cubres" que recobriam toda a costa, e não sendo uma espécie endémica, supõe-se terem as suas sementes sido trazidas por aves migratórias, desde a Flórida, na América do Norte.
Os cubres existem profusamente dispersas por toda a Ilha, junto dos caminhos e dos muros de pedra, e juntamente com as hortênsias azuis fazem sebes e paliçadas.

No topo do Morro Alto observa-se uma imponente formação geológica por escorrência particular da lava vucânica - o Pico da Sé.
O clima  a essa altitude, atlântico húmido, é um modelador ecológico, originando zona de nevoeiros com ventos fortes e elevada pluviometria, factores determinantes da vegetação distinta aí existente.  
Do miradouro lá localizado, pode observar-se exactamente toda a vegetação endémica, constituída predominantemente por floresta de Laurissilva ( característica da Macaronésia ), sendo por isso considerada zona de paisagem protegida.
Aliás, a Ilha das Flores faz parte desde 2009, à semelhança do Corvo como referi, e da Graciosa de que falarei, da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.

Se São Miguel é a ilha da Lagoa das Sete Cidades, as Flores é a ilha das sete lagoas ...
É no périplo feito por todas elas, que se percebe claramente como as mudanças bruscas do tempo são rápidas e desafiadoras.
Em segundos pode ver-se, deixar de se ver, voltar a ver-se ... e assim por diante !
As lagoas da Lomba, a Negra ( devido à cor das águas onde em certas zonas chega a ter uma profundidade de mais de 100 metros ), a Branca, a Comprida, a Rasa, a Funda e a Seca ( que parece enganadoramente não ter água ), têm características próprias e distintas, e é um deslumbre olhá-las ainda que de longe, e um fascínio e um privilégio usufruir de tanta beleza !

Continuando o percurso, esperava-nos a Rocha dos Bordões, ex-libris da Ilha, uma curiosa formação geomorfológica resultante da solidificação do basalto da lava vulcânica em altas estrias verticais.
Surpreendente e esmagadora, impõe-se pela imponência quando assoma no meio da paisagem !
Na vertente ocidental da Ilha, de menor altitude que no lado oriental, ficam a Fajãzinha e a Fajã Grande, entre outras, numa ampla orla costeira constituída exactamente por fajãs.  Avistam-se aí inúmeras linhas de água, cascatas que se desprendem do alto das escarpas, formando poços no sopé.
A Cascata do Poço do Bacalhau é particularmente bela !
É também defronte da Fajã Grande que se oberva, como já referi, o Ilhéu do Monchique, um marco histórico  de  localização ... o  ponto  mais  ocidental  das  Flores,  de  Portugal  e  da  Europa !!!
Também o Farol da Ponta do Albernaz ( geometricamente, o vértice superior esquerdo da Ilha, considerando que ela se desenha de norte para sul como um rectângulo com maior comprimento que largura ), mereceu a nossa admiração.  
É um lugar silencioso e de solidão como o são todos os faróis, situado no alto de uma ravina no meio do céu e do mar que marulha aos seus pés, e onde apenas o sopro do vento desgovernado, o balido das vacas nos pastos quadriculados por muros de pedra, ou o grasnido de alguma ave marinha, se escutam ...
No município de Sta.Cruz, o Monte das Cruzes que se prende à permanência dos franciscanos na Ilha, e o Pico dos Sete Pés, que com a luz a favor nos mostra uma figura humana deitada no topo da montanha, encerram histórias de encantar !
E não alongo mais este meu escrito, pois sempre o mesmo ficará totalmente aquém de tudo aquilo que eu gostaria de poder contar.  
Até uma próxima visita, fiquemos com este maravilhoso cheirinho a flores e este desafio que aqui deixo para que venham conhecer este cantinho  fascinante, puro e autêntico que é mais um pedacinho de um paraíso que por vezes julgamos já não existir à superfície da Terra !!!



                                                                 PISCINAS  NATURAIS
                                                                   PICO  DAS  CRUZES
                                                                    LAGOA  COMPRIDA
                                                                      LAGOA  NEGRA
                                                                      FAJà GRANDE
                                                                 ROCHA  DOS  BORDÕES
                                                               ILHÉU  DO  MONCHIQUE
                                                                        CANA  ROCA
                                                                POÇO  DO  BACALHAU
                                                                POÇO  DO  BACALHAU
                                                               MORRO  DOS  SETE  PÉS
                                                    FAROL  DA  PONTA  DO  ALBERNAZ


Anamar

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

" AÇORES EM ANO DE PANDEMIA " - ILHA DO CORVO

 

                                                                          Caldeirão
                                                                    Foto do Caldeirão ( CIACC )
                                                                    Avistamento da ilha
                                                                      Vila do Corvo
                                                                   Na subida para a cratera
                                                                     O que se conseguiu ver
                                                                         No pastoreio
                                                                          Vila do Corvo
                                                                     Piscinas naturais
                                                                              Moinho
                                                                     Moinho recuperado

Vila do Corvo
                                                                  Atravessando o canal


E era dia de ir ao Corvo !  Claro, se as condições climatéricas assim o permitissem.  E permitiram !

A menor das ilhas do arquipélago açoreano, esquecida no Atlântico a norte das Flores, com pouco mais de  quatrocentos  habitantes, inóspita  e  isolada ... perdida  no  tempo,  parece  dormir  um sono  de eternidade !
A ilha do Corvo, do Grupo Ocidental, é a mais distante do Continente e a mais próxima da América, ocupando uma área de apenas 17 quilómetros quadrados.

Saímos das Flores por via marítima, num semi-rígido com lotação de cerca de trinta pessoas, com um céu descoberto, vento a favor e mar manso, para o que costuma viver-se  naquelas paragens.  
A ondulação não perturbava, apesar do galope que nos conduzia, e apesar do "banho" de mar com que gostosamente éramos brindados e nos deliciava.
Tudo se transformou numa brincadeira, entre risos, gritos, fotos, vídeos e sobretudo uma ânsia de demandarmos aquele pedaço de terra, meio misteriosa, fantasmagórica, selvagem e resistente ...
Um baluarte da tenacidade, da resiliência, da perseverança e da esperança !...

E à medida que o canal ia sendo atravessado, a curiosidade e a impaciência assaltava-nos.  Afinal quando é que essa ilha mais adivinhada que sabida, se dignava romper o cinzento uniforme de um céu entretanto fechado, e se desnudaria aos nossos olhos ??
De Inverno, o barco da travessia fá-la duas vezes por semana e no Verão a sua periodicidade é quase diária, existindo, para quem enjoa, também a opção aérea.

E a certa altura, do nada foi-se definindo um contorno, desenhando uma imagem, corporizando uma realidade ... o Corvo surgia iluminado por um sol aberto !  

A povoação de Vila do Corvo, situada na principal zona plana da ilha e composta por um entrelaçado de ruas estreitinhas e sinuosas ( assim construídas para a proteger dos ventos fortes que normalmente assolam a ilha ), calcetadas com seixos rolados e lajes polidas ( "canadas" ), constitui um município, o único em Portugal sem possuir qualquer freguesia.
É o centro de tudo o que acontece na ilha e é um povoado pequeno, situado numa fajã, no extremo sul, junto ao mar.  Com tendência para o despovoamento, não será fácil habitá-lo.
Os corvinos, população muito envelhecida, fazem-no por opção !!!
Não há transportes públicos, nem falta fariam ... o alojamento é escasso, os géneros dependem do abastecimento vindo do exterior ...

A ilha do Corvo está classificada pela Unesco como Reserva Mundial da Biosfera, sobretudo pela diversidade dos ecossistemas que possui, e pela riqueza da flora endémica que a reveste.
Mas primordialmente pela existência do Caldeirão, no seu topo,  ( a cerca de 6 km do sopé ), gigantesca cratera, que ocupando quase metade da ilha, é a resultante de um vulcão extinto.
Tem um perímetro de mais de dois quilómetros e no seu interior existem duas lagoas pouco profundas, 
Para quem aprecia este tipo de caminhada, está concebido um trilho pedestre que desce ao fundo da cratera, contorna as lagoas e volta ao ponto de origem.  Contudo, essa aventura só é possível em condições de total segurança, com tempo completamente aberto e com guia, pois quase sempre a cerração se abate repentinamente, cobrindo totalmente o que a vista pode alcançar.  Acresce que o solo é pouco confiável, com zonas pantanosas camufladas pela verdura rasteira.
Na Vila existe um interessante Centro de Interpretação Ambiental e Cultural do Corvo, sito numa casa antiga recuperada para o efeito, que pretende dar a conhecer as especificidades ambientais e culturais da ilha.

Desta feita o S.Pedro não conseguiu ser simpático.  Lá que subimos ao Caldeirão, subimos ... Mas, a menos que nos sentássemos, quiçá a tarde toda, para esperar o dissipar do nevoeiro ... com êxito ou não ... apenas pudemos imaginar as imagens da fascinante panorâmica de que em circunstâncias auspiciosas poderíamos desfrutar, e não mais ...
Mas de qualquer forma foi bem gratificante a subida, e todas as vistas que ao longo do acesso nos são disponibilizadas !  
No silêncio apenas povoado pelo vento agreste que passava, pelos chocalhos ou balidos das vacas em pastoreio pelas encostas nas plataformas abrigadas entre muros de pedra ... nem os cagarros soavam ... 

Entre o aeródromo, na ponta sul da ilha, e a costa recortada e rochosa, no topo de uma arriba donde se vislumbra todo o canal, existem 3 moinhos de vento, típicos e devidamente recuperados.  Datam do século XIX e são os únicos que resistiram aos tempos, como memória de uma actividade já extinta na ilha.
Por detrás dos moinhos, junto ao mar, a orla agreste desenhou pequenas piscinas naturais, na irregularidade basáltica dos rochedos.  

Por tudo isto que vos conto, e tudo o mais que apenas se vivencia e é impossível contar ... porque só se sente e regista no coração e na alma ... o Corvo será intemporalmente, um destino de paz, de segurança, de paisagens avassaladoras e trilhos a explorar .  
Um tesouro longínquo, sonolento e silencioso , escondido na solidão do oceano !!!

                                                                Vila do Corvo

Anamar