quinta-feira, 30 de junho de 2022

" O ESPÍRITO DA COISA ..."

 


Dei-vos conta da iminência de uma viagem, uma outra viagem, nesta incessante busca de qualquer coisa que eu própria não defino.  
Elas, as viagens, são a necessidade de colmatar um qualquer vazio que sempre me atormenta, a ânsia de encontrar alguma coisa ou de repor apenas coisas que já senti, já experimentei ... já vivenciei !  Como se alguma vez, as coisas se pudessem repetir no tempo e no espaço !...

Sei que se ousa dizer que a mesma água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte ... e não estou equivocada. Sei exactamente que o que na verdade busco é o reencontro comigo mesma, naquela que eu era há anos atrás, a minha alma e o meu coração remoçados, a reposição do meu entusiasmo, e da minha alegria de então ... como se isso pudesse ser possível ... 
Sei exactamente que o que na verdade busco é a capacidade de sonhar outra vez, como então, é a adrenalina que me tomava e me projectava oniricamente em cada viagem que fiz ... é a juventude e a garra que se perderam nos tempos e que já não detenho mais ...
Essa sim, a utopia com que me trapaceio !... 
E alegro-me, e engano-me conscientemente, e iludo-me como a criança a quem calamos o choro com uma guloseima ...

Por isso, nos últimos tempos tenho viajado muito mais, com uma urgência sentida ... como se não houvesse amanhã !  E nada é o que foi ...

As viagens somos nós, mas são sobretudo os contextos em que as fazemos.  De acordo com as vivências em que mergulham, assim nos representam e transmitem emoções diversas.
Neste momento refugio-me no que olho, no que admiro, no que cheiro ... As cores e os aromas embriagam-me, os silêncios acariciam-me, e é como se conseguisse desligar-me totalmente do que me envolve, de quem me envolve ... Fico eu, apenas eu, como se sozinha comungasse da envolvente que me embala ... e nada mais me interessasse. Como se não existisse mundo à minha volta, como se a minha linguagem interior fosse intangível, impenetrável, inalcançável ...
E é isto que experimento em cada momento, em cada volta de caminho, em cada horizonte desenhado,  em cada sensação que me sufoca ...
Não divido, não partilho ... guardo p'ra mim, aferrolho no meu peito tudo o que acho ser único e inatingível por outrém ... Ele é o espólio do que experiencio, no pedacinho de mundo cujas portas encerro de seguida ...
Por isso, busco primordialmente a natureza p'ra mergulhar, p'ra me entupir, p'ra me alienar ... p'ra me extasiar ... em silêncio ...

E pronto, é neste contexto que vou, que parto uma vez mais, como se tivesse encontro marcado comigo mesma  na miragem que espreita por detrás daquela duna ... ou pudesse voltar a aspirar o aroma adocicado das flores dos trópicos, ou pudesse virar outra vez a ampulheta brincalhona dos tempos !...


Anamar

terça-feira, 28 de junho de 2022

" RETORNANDO ... "



Ora bem ... já aqui não vinha há um ror de tempo !
Sempre me penitencio pelo facto, sempre me culpo, me acuso por talvez não me esforçar ... bla bla bla ... mas o facto é que eu própria não consigo entender a situação ... entender- ME sobre a situação.
Não tenho assunto sobre o que escrever, não valorizo o que escreveria.  Sempre entendo que se escreve sobre tudo, que se escreve de qualquer forma sobre tudo, o que logicamente me desmotiva a fazê-lo, pois ou valeria realmente a pena, por qualidade, novidade, assertividade de algo que eu debitasse, ou ... já tudo foi explorado, dissecado, abordado por quem tenha na verdade "autoridade" na matéria.

Bom, talvez nada mais seja do que um reflexo de uma certa indiferença e passividade minhas, face à vida nos últimos tempos, em que claramente dobrei uma qualquer esquina na minha estrada.  Sem uma justificação, sem uma razão, sem um motivo objectivo, parece que passei apenas a deambular ou pairar por aqui, e não a viver, ou a ser intérprete e actora do meu próprio destino.
Poucas coisas me movem, poucas coisas me aceleram os batimentos cardíacos, poucas coisas me mexem os interiores, como se a minha capacidade de emoção, de emaravilhamento e de entusiasmo, estivesse embotada. Parece que enfiei por mim abaixo uma qualquer carapaça, um revestimento de distanciamento, indiferença e insensibilidade face ao mundo onde vivo.
Em suma ... anestesia ... parece que efectivamente a minha quota de sensibilidade perante as coisas, as pessoas, os acontecimentos, está objectivamente anestesiada.  
Até os sonhos deitaram p'ra sesta e se esgalgaram por aí ...

Bom, entretanto muitas e muitas coisas foram acontecendo neste meu período de ausência literária.

A guerra, a maldita guerra na Europa, contra todos os vaticínios iniciais, perdura e esboroa diariamente um país totalmente esfrangalhado e em pedaços.  Pouco haverá já para destruir, não se consegue entender a devastação infligida a pessoas e bens. Não se consegue sequer imaginar em boa verdade, o genocídio a que aquela gente foi e é submetida !
E tudo continua em aberto, a desproporção militar de homens e armamento entre o exército russo e as forças ucranianas é absolutamente abissal, o que torna totalmente insuficiente toda a ajuda disponibilizada pelo ocidente.  Enquanto isso, o sofrimento, a dor, o horror em suma, continuam a alastrar em pleno Séc. XXI aqui, no velho mundo!
Mas também tudo isso já não motiva como no início, o cidadão comum dos países espectadores !
É injusto mas natural, creio.  O ser humano é exactamente assim ... infelizmente ...

Entretanto, uma das coisas que ainda e sempre me empolga, é a possibilidade de viajar.  É sempre algo gratificante, preenchedor, emocionante, poder conhecer algumas micro-fatias deste nosso planeta.  Poder partilhar novas realidades, experiências inovadoras, contactar novos lugares e novas gentes.  Fugir daqui, fechar a porta e acordar lá, onde quer que seja, a muitos e muitos quilómetros de distância, lá do outro lado do Mundo, vivendo realidades totalmente distintas das desta vidinha cinzenta e igual que diariamente arrastamos pelo meio das mesmas rotinas ...
Uma viagem um pouco diferente do estilo que costumo privilegiar, desta vez ainda assim uma viagem a que apus reticências no início, e de que viria a gostar muito no lavar dos cestos.  
Itália ( Nápoles, Pompeia, a Ilha de Capri ), com o sul e a sua maravilhosa Costa Amalfitana, desde Sorrento, Positano, Amalfi e Ravello, haveria de encantar-me e surpreender-me, bordada e engalanada que é, encosta acima, e onde o colorido das habitações encarrapitadas a pique sobre as escarpas do Mar Tirreno, lembra um presépio que contrasta com o azul intenso das águas serenas a seus pés !

Agora, nova viagem se aproxima.  Dentro de poucos dias novo sonho começará a concretizar-se.
Uma ingressão num continente onde ainda fui muito pouco, servirá para que eu mergulhe no místico coração de África.  A Namíbia, da savana ao deserto, a Costa dos Esqueletos ou as míticas dunas de areias vermelhas contrastantes de sombras e luz, esperam-me com as cores, os cheiros e os pôres-de-sol inesquecíveis e inigualáveis, que só África sabe proporcionar ...
Quem viu o filme "África minha", saberá do que falo
Será uma imersão numa natureza inóspita, num país com uma fraca densidade populacional, onde a terra é muita e as gentes são poucas ... com uma natureza versátil, indómita e imperativa !
Uma terra de silêncios, de liberdade, de horizontes longínquos, sem limites ou freios ... terra com princípio mas sem fim ...

" Viajar é mudar de roupa à alma "

        Mário Quintana

Falarei e contarei como foi ... assim o espero !

Anamar