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quinta-feira, 4 de abril de 2024

" E AS SAKURAS AINDA DORMIAM ... "


Hoje, dia 1 de Abril, decidi descer ao terreno e escrever alguma coisa, neste absurdo e ruidoso silêncio que tem povoado os meus últimos tempos. 
Hoje até é o Dia das Mentiras, reza a nossa tradição popular.  Ainda assim, resolvi tornar verdadeiro este meu desígnio.

Em parte, na vida tudo tem uma explicação.  Sempre há uma lógica que preside a qualquer situação, consigamos ou não descobri-la e entendê-la.
Desta feita, a minha ausência neste espaço ( pela primeira vez na vida, desde que em 2008 iniciei as minhas andanças como hipotética escritora por estas paragens, criando este blogue intimista, sem qualquer pretensão assumida que não fosse apenas pôr no papel os meus estados de alma ) ultrapassou o razoável e até o aceitável ... um mês inteiro totalmente em branco !
Nem eu mesma, se mo referissem como possível, acreditaria em tal despautério !

Ora bem, uma série de eventos, de coincidências, de acontecimentos, estão na base deste meu desligamento das lides literárias.
Tinha marcada para o meio do mês de Março, uma saída para o outro lado do mundo, nove fusos horários para oriente, ao país do sol nascente, no cumprimento de um sonho antigo, não só conhecer um país, um povo e uma cultura totalmente distintos de todos os que conhecemos aqui pelo nosso quintal, mas fazer o dois em um com esta viagem :  agregar a este desiderato, o sonho de poder desfrutar de um espectáculo que suspeito único no mundo ... a floração das sakuras, ou seja a floração inebriante e incomparável das cerejeiras, árvore endémica proliferante em todo o Japão.
Este acontecimento anual prevê-se acontecer por todo o país, entre meados de Março e Abril, com início variável de cidade para cidade de acordo com a sua localização geográfica.  Constitui, por assim dizer, um marco histórico que para os japoneses define como  o início da sua Primavera, sendo mesmo o dia 27 de Março, considerada a sua data oficial.
As famílias reúnem-se em parques e jardins, fazendo piqueniques debaixo das árvores, cuja floração não dura mais que uma semana a dez dias, após o que os espaços se atapetam das pétalas brancas e rosa numa imagem idílica e onírica.

Pois bem, adoeci algum tempo antes da partida, tendo sido inclusive colocada em risco a concretização da mesma.  Pela primeira vez, do que me lembro, uma afecção respiratória conseguiu levar-me à cama. 
Muita medicação tomada, com a agressividade terapêutica imposta na urgência do tratamento, desorganizou-me por completo todo o equilíbrio orgânico, fragilizando-me e retirando-me consequentemente as resistências.  Fui portanto para o Japão com as capacidades físicas a cinquenta por cento, o que obviamente, só por si, me prejudicou toda a dinâmica da viagem.
Tive que enfrentar uma rotina exigente e inteiramente diversa, um clima inesperado e excessivamente frio em relação ao previsível, uma alimentação completamente adversa para quem ainda por cima é dificilmente adaptável a novos cardápios, ritmos de sono igualmente complicados não só por curtos mas porque vividos no fuso oposto ao habitual ... em suma, as exigências de uma viagem em grupo, experienciada não nas melhores condições físicas.

E depois, há ainda a considerar, pelo menos assim o senti, a difícil gestão das expectativas, colocadas numa fasquia, confesso que elevada.
Sempre vivo o que me motiva, a duzentos por cento.  Só assim, a perseguição e a concretização dos desejos, se me justifica.
O Japão está como se sabe a muitas milhas de distância, a muitas horas de voo ... a muitos sonhos sonhados em noites de insónias ...

Mais que conhecer um país que me impressionou em organização, disciplina, inovação, capacidade laboral ... um país a sério na planificação e na concretização, descobri uma terra de espiritualidade, interioridade, delicadeza e contemplação. 
"Precisamos de muito pouco para sermos felizes !"  ou, "Temos muito mais do que precisamos !" ... valores difundidos pelo xintoísmo e reiterados pela filosofia budista, norteiam e orientam o povo japonês no trilho da mitologia em que o Céu e a mãe Terra são as principais divindades e em que o Homem está em permanente ligação com o culto e o respeito  pela natureza.

Ironia do destino ... embora globalmente faça um saldo positivo desta minha viagem, não pude concretizar o sonho primordial que ao país do sol nascente me levou : o deleite da visão de uma terra totalmente engalanada e pintada de branco e rosa, em abóbodas fascinantes de sakuras em flor.  Anormalmente fria esta época do ano, em que até mesmo a altitudes invulgarmente baixas apanhámos neve, motivou a que, contra o expectável, na generalidade as sakuras ostentassem apenas  borbotos fechados ao longo das ramagens ainda despidas, e não mais.  
Pontualmente algumas árvores já exibiam flores abertas, mas não é isso que torna icónico e único o espectáculo que está na base da demanda ao Japão, de turistas de todo o mundo, nesta época do ano ...
Portanto, a razão maior pela qual enfrentei não nas melhores condições esta aventura, frustrou-se completamente. 

O Monte Fuji, que também era para mim, um ponto alto da viagem e que vê-lo ou não, é perfeitamente aleatório, dependendo das condições atmosféricas com que sejamos presenteados, também esteve em risco, com a persistência duma cerração quase total.
Felizmente, depois de um dia de tempestade indescritível e chuva copiosa que nos roubara todas as esperanças, amanheceu uma nova madrugada, corroborando a certeza de que também no Japão, depois da tempestade vem a bonança !... 
Um dia claro, imaculado, de céu azul, sem uma nuvem no horizonte e iluminado por um sol radioso, desvendou-nos, manhã cedo, assim do nada, como se de um quase milagre se tratasse, a tão desejada montanha coberta de neve perpétua, grandiosa e altaneira ... o Monte Fuji, aos nossos olhos numa aparição compensatória, como se me pedisse desculpa pela tristeza com que regressei, de um país onde já não voltarei seguramente !...

Anamar

domingo, 5 de novembro de 2023

" MARROCOS - do Atlântico ao deserto ... "



Marrocos já vai sendo uma memória... Mais uma memória singular e inesquecível, como para mim sempre são todas as viagens.
Todas elas são aprendizagens, são enriquecimento, são lazer, novidade, certeza de sair mais plena no regresso.
Conhecer sempre mais mundo, ou melhor, juntar mais mundo ao meu mundo é um privilégio e um fascínio que não canso de repetir.  
Afinal habitamos um planeta comum, a que uma multitude de espécies diversas conferem diferenças, particularidades, peculiaridades irrepetíveis.  E sendo embora "vizinhos", quando daqui saímos, nem uma gota de água deste oceano imenso cruzou os nossos destinos !

Deveria ser possível a qualquer um de nós, poder ver, sentir, perceber, tocar-se com o mundo lá fora, com os seres, as cores, os cheiros, as vozes, as palavras, os costumes ... em suma, a realidade que existe, pois assim seria mais fácil para cada um conviver com a diferença, aceitar a igualdade dos desiguais, cumpliciar com os sonhos dos que têm em comum connosco, o facto de sermos humanos apenas ... e trabalhar a tolerância, a empatia, a generosidade, a aceitação do outro !

A viagem de doze dias em que percorri Marrocos de ponta a ponta, entrando por Tânger e saindo por Casablanca, tendo rodado praticamente por todo o país, esteve comprometida, quando no passado 8 de Setembro o país foi assolado por um terramoto de intensidade significativa, que provocou mais de três mil mortos.  Só em segurança a Agência de Viagens a efectuaria, o que veio felizmente a concretizar-se.
E em boa hora, porque se trata dum país efectivamente muito particular, que eu lamentaria agora  profundamente não ter conhecido.

Marrocos é fundamentalmente uma terra de cor e som, um país em constante efervescência, com um povo hospitaleiro, humilde e sacrificado.  Com uma clivagem abissal entre as classes sociais, regido por uma monarquia absoluta e ditatorial, apesar do monarca ser conhecido como aberto a mudanças constitucionais, dividindo o poder com o primeiro ministro e o parlamento, a pobreza e miséria são extremas, face à sumptuosidade da vida de verdadeiros sultões e magnatas que constituem uma faixa social privilegiada, envolvida em luxos e riquezas astronómicas.
O rei Mohamed VI, é descendente duma longa linhagem de governantes que fazem parte da dinastia alauita, originária de povos que chegaram na região no século XIII, vindos da Arábia.  Assumiu o trono em 1999 após a morte do pai Hassan II e é igualmente considerado o chefe religioso no país, que é de maioria islâmica.  As mesquitas proliferam em todo o território, mesmo nas aldeias mais inóspitas do Rift, ou do Alto Atlas, enquanto que as catedrais católicas são praticamente inexistentes.
É divorciado e tem dois filhos, vivendo preferencialmente fora do país, apesar de nele possuir dezasseis sumptuosos palácios.  Assim, a sua residência fixa-se quase sempre, em Paris. É detentor de inúmeros automóveis de luxo e igualmente coleccionador de cavalos de raça provindos dos quatro cantos do mundo.

Falar sobre este país de uma diversidade espantosa, conseguir relatar, ainda que por aproximação a globalidade das suas características de culturalidade tão diferente da nossa, configurar-se-ia uma tarefa hercúlea e impossível.
Assim, vou remeter-me apenas a alguns aspectos talvez mais marcantes, face à minha sensibilidade.

As cidades, com uma arquitectura hispano-mourisca típica do norte de África e da Península Ibérica, têm características e designs absolutamente ímpares.  Influenciado por diversas culturas, tribos, árabes, romanos, berberes e colonizadores europeus que moldaram o seu estilo arquitectónico,  no Marrocos de hoje, prevalece como maior influência,  a islâmica, sobretudo nos ornamentos. 
Pode claramente observar-se esta afirmação na arquitectura das mesquitas, riads, souks, kasbahs, palácios e madraças.
As casas de adobe grassam nas zonas rurais do interior e nas cordilheiras longínquas do Rift ou do Atlas.
As medinas ou "cascos viejos", um emaranhado labiríntico de ruelas, que mais não são que o miolo histórico das cidades, são um mirabolante mundo de comércio onde tudo se vende nos souks, de comida a bens de consumo, numa agitação e numa promiscuidade de raças, cores, tipos e costumes.  Ali, tudo se regateia, as gilabas denunciam a miscigenação das etnias, os turbantes coloridos encimam rostos, na maioria ainda cobertos quase na totalidade com os véus do preceito religioso.
Os animais vivem da caridade dos habitantes.  As centenas de gatos e cães surgem de e em todos os lados, e vivem esfomeados.  Os burricos e as mulas, são quase em exclusividade os meios de transporte que cruzam as medinas, onde o brouhaha  parece nunca silenciar ...
As cidades do norte e da orla costeira, como a antiga Mogador hoje Essaouira, a "noiva do Atlântico", ou El Jadida, a Mazagão do tempo dos descobrimentos, assim como Fez, Arzila e outras, ostentam ainda sinais históricos deixados pela presença portuguesa, como as muralhas, os escudos em pedra ou os canhões por entre as ameias das fortalezas.  
Na orla atlântica, são cidades de fachadas brancas e azuis, a cor da espuma e das ondas, abertas e luminosas, onde os alíseos soprando, esculpem a paisagem ...
Cidades piscatórias, de barcos, gaivotas e gatos, de bom peixe e marinheiros nos portos, sabem à maresia que perpassa.
No interior, nas montanhas do Rift, a noroeste, surge uma pequena cidade isolada, na calma da cordilheira ... a inesquecível cidade azul do Marrocos, Chefchaouen, cuja fundação remonta ao século XV.  Para mim, foi o expoente máximo desta viagem, situa-se entre Tânger e Tétouan.  
A sua medina é absolutamente ímpar, com todas as ruas de paredes tingidas de azul, onde se pode caminhar, tirar fotos e observar calmamente a vida local,  os souks vendendo lamparinas marroquinas, peças de couro ou metal, roupas, panos, tapetes, especiarias e tinturas.
Foi a existência desta beleza única, a responsável máxima pela minha deslocação a Marrocos !

Pra não alongar excessivamente a minha narração, que fica a anos-luz do que lá vi e experienciei, refiro apenas o nascer do sol no deserto, em Erg Chebbi, onde subi lentamente, encaminhada por um berbere na condução de um dromedário, e onde a magia do silêncio da madrugada se acendeu aos poucos com as cores róseas, lilazes e laranja do primeiro esgar do sol por detrás das dunas do Saara !...
Jamais o esquecerei !...

Finalmente a "cidade ocre", Marraquexe, a cidade turística por excelência, onde o tipicismo da Praça Djemaa el-Fna, a maior de todo o continente africano, uma praça com o mundo inteiro dentro, mistura um furacão de experiências culturais e gastronómicas.  Os bazares labirínticos fervilham, os cafés com terraços panorâmicos onde se toma o chá de menta enquanto em fundo, do minarete da mesquita Koutoubia ( 70 metros e 800 anos de História ) se ouve o muezzim chamar para a oração do fim do dia.
Os encantadores de serpentes, as videntes a lerem as mãos, as pintoras artísticas da henna, os saltimbancos mágicos, os aguadeiros, os domadores de simpáticos macaquinhos e suas palhaçadas, convivem com as tendas ou os carrinhos com as ofertas gastronómicas de apelativo cheiro às especiarias, aos grelhados, às tagines ou ao sumo de laranja incomparável ...
Djemaa el-Fna é um espaço único, carismático, vibrante ... quase mágico !

O dia fora quente, a viagem aproximava-se do fim a passos largos, mas o cansaço não cedia à insaciável busca do bizarro, do desconhecido, do novo ...
Agora a brisa da noite já corria, mas a profusão das luzes, o colorido dos toldos, a música imparável, o recorte negro da Kotoubia em contraste com o sol já moribundo, e a magia de um chá de menta tomado no Grand Balcon du Café Glacier, encerraram indelevelmente da melhor forma possível esta incursão ao coração marroquino !...

Bslama Marruecos ... choukran !






Anamar


sexta-feira, 1 de setembro de 2023

" ÁFRICA "

 



Identifico-me com África ... identifico-me profundamente com África !...

Talvez por ter nascido numa geografia de traços comuns com aquele continente, me sinta numa espécie de "regresso a casa" quando ali chego.
Trata-se duma terra sem horizontes, uma terra avassaladoramente sem limites ou contenções, onde a palavra liberdade se encaixa na perfeição.  
É uma terra de silêncios, onde a música que ecoa dimana apenas da brisa perpassante ... quando a há.  
Tudo o mais são os trinados das aves de ramo em ramo, ou a linguagem dos animais na savana.  Tudo o mais é o bafo sufocante que emerge do chão, aquele chão ocre ou sanguíneo, agora que, sendo seca a época, a água inexistente não pôde acordar o verde da mata.

África é a natureza pujante. É um cântico à existência.  É um hino à Vida.
As coisas são simples, porque são genuínas.  Porque África é verdade!
O desprendimento, o desapego, a humildade, a inexistência de exigência face à vida que se detém, a alegria de simples fruição do que os dias nos concedem, são lições de vida a aprender diariamente ...  nós, os que filhos da época do estrago e do desperdício, numa sociedade de consumo feroz, sempre queremos mais e em que a palavra insatisfação ocupa quase sempre o nosso quotidiano.

A paisagem repousa a alma, quando os olhos se perdem na imensidão da terra que alcançamos.  
As acácias erguem-se garbosamente solitárias contra o céu.  Os animais, das aves aos répteis e a todos os outros que povoam o território, convivem no respeito pelas leis da sobrevivência.  Matam p´ra comer, acordam ainda os alvores do dia se não prenunciam, dormem sestas nas sombras abençoadas ou pastoreiam sem descanso nas planuras a perder de vista.
As hierarquias são respeitadas, os clãs definidos, as relações familiares inquestionáveis.  A protecção aos mais fracos e vulneráveis, aos mais jovens e inexperientes, e aos doentes ou incapacitados, são garantidas pelos grupos, liderados pelos machos alfa ou pelos anciãos respeitáveis.
Os cheiros da terra, do capim seco, as árvores esquálidas e esfíngicas em recorte na paisagem, os pôres e nasceres de sol na fogueira laranja do alvorecer ou na mornidão da dormência da tarde, com a sua magia ímpar transportam consigo uma energia primordial de útero materno. 
 
Não é à toa que, cientificamente, a "terra natal" do Homem moderno parece coincidir com a região a sul do Zambeze ( norte do Botsuana ), área de salinas que albergou um imenso lago, o qual pode ter sido o nosso lar ancestral, há duzentos mil anos ...

Tudo é autêntico em África. As etnias respeitam as origens, continuam vivendo nas normas e costumes.  A pobreza é avassaladora, a alegria também.
O calor abrasador não impede os jogos e as brincadeiras das crianças descalças, no chão de terra batida, em convívio pleno com os animais que ciscam em coabitação.  O ranho desce-lhes à boca, as roupas já sem cor definida, às vezes desajustadas no tamanho, quase sempre com rasgões e buracos alegram-lhes os dias.  A escola vive-se na tribo, ensinada pelo mais letrado da aldeia, aprendida nos bancos de madeira, debaixo da acácia que sombreia ...
Os meninos de África são únicos.  Os seus sorrisos tímidos de inocência e deslumbramento iluminam-lhes os rostos e denunciam-lhes a pureza da alma ... 
A nós, inundam-nos os corações e tactuam-nos a mente "ad eternum" ...
Por tudo isto, o Quénia ficará comigo para sempre !...

Anamar

terça-feira, 11 de julho de 2023

" A VERDEIRA VIAGEM ... "

 


Regresso ao tema das viagens, talvez porque esteja confinada em casa com uma inesperada visita de Covid - Parte 2 ( vou chamar-lhe assim, porque sou reincidente na matéria ), o que me deixa angustiada e saturada ao mesmo tempo.  De facto, não estava  nos  meus  planos  ser  surpreendida,  mais  de  um ano  depois,  outra  vez  com  esta  "novidade" ...

Eu adoro estar em casa, aliás privilegio o tempo que aqui passo, como se num ninho estivesse.  Não fico de neura nem me apoquento. Ainda que pouca coisa faça ou desenvolva em termos de trabalho caseiro, ainda assim, o meu refúgio é lugar bem-quisto e repousante sempre.  Mas uma coisa é estar cá por opção, outra por obrigação ... Sempre assim é o ser humano !

Por isso, pensar na próxima ou próximas viagens ( porque destinos não me faltam e a imaginação sofre de ataques comichosos ... 😁😁 ), passíveis de se tornarem realidade futura, ou não passando de sonho sonhado, é uma panaceia que sinceramente aprecio e é muito do meu agrado.  É como se desta forma, como a ave que vai saltar do ninho e avalia do balanço do impulso, eu já fosse por aí fora rumo a novas paragens sem sair ainda do lugar ...
Ele há doidos p'ra tudo neste mundo ... 😁😁

Acontece que as viagens que faço, que tenho feito, que já só posso fazer, ficam por assim dizer, a anos-luz daquelas que adoraria fazer e jamais realizarei.  
Passo a explicar :  Sempre viajei, sozinha ou acompanhada, com uma rede por detrás, ou seja, espaldada numa agência, perante um programa ou projecto previamente proposto, que escolho e aceito.  Essa é a tipologia das viagens que se encaixam no espírito de viajante da minha geração.  Viagens seguras, previsíveis, vocacionadas para os sacramentais destinos turísticos, observando os lugares mais icónicos de cada país ou região, vendo o que toda a gente escolhe ver, visitando os paradeiros mais procurados e frequentados pelos forasteiros em cada país.
São por assim dizer, viagens sem surpresas, dimensionadas, calculadas sem sobressaltos, viagens "de carneirada" se em grupo, como costumo designá-las.  Talhadas por figurino prévio, vamos onde sempre vão, duma forma idêntica por cada grupo que a realiza.
Acredito que se a repetir, irei ver as mesmas coisas, não mais, irei escutar as mesmas histórias, ver os mesmos lugares, percorrer as mesmas avenidas, calcorrear os mesmos parques ...
Chamo-lhes viagens "plásticas", de fabrico em série, direccionadas para massas, talhadas para hordas de visitantes, mais ou menos interessados e disciplinados.  Têm pouca ou nenhuma emoção para quem tem um espírito inquieto e aventureiro como eu.  Curioso, também ...
São sem dúvida, viagens excelentes para acrescentar carimbos nos passaportes, como testemunhos de que já fomos àquele país.  E há pessoas que parecem pouco mais serem que apenas fãs deste coleccionismo ...
E desde que deixei de viajar só, a fasquia ainda desceu mais, porque aquela sensação gostosa de liberdade, de adrenalina, de auto-gestão que o facto de todas as escolhas e decisões se centrarem exclusivamente em mim, desapareceu, deixou de ser vivenciada.
Tenho saudades de, por exemplo, me ver em escala no aeroporto de Singapura ou Dubai, pelas quatro da manhã, sentada no chão a queimar o tempo observando com curiosidade toda aquela "fauna" que por ali circulava igualmente em trânsito, num aeroporto que nunca dorme ...
E como era interessante observar povos diferentes, hábitos diferentes, posturas diferentes ... ainda que fosse madrugada e o sono espreitasse há muito ...
Ou quando em Heathrow, igualmente no meio de uma viagem, também pela madrugada, o cansaço me levou a deitar nos bancos do aeroporto, cabeça na mochila, a passar pelas brasas, e por pouco não fiquei lá, tão profundamente peguei no sono ...
Ou quando em Bali ou em Zanzibar escolhia as opcionais que me interessavam e lá ia eu, só com o condutor do carro contratado, em busca da aventura de lugares exóticos, parques inóspitos, mercados fascinantes ...
Enfim, eram sensações preenchedoras, gratificantes, inesquecíveis ...

Mas tudo isso não representa a "verdadeira" viagem.  Porque essa, leva-nos ao âmago das gentes, leva-nos às vivências das terras, dos lugares, dos hábitos, das histórias, dos costumes ... das realidades outras, por esse mundo fora !...
E essa, nunca fiz na verdade, e também, nesta encarnação jamais farei ...
Nasci atrasada, fora de época, sempre vivi desenquadrada do possível, da correnteza, do que era ...
O meu espírito e mente de "mochileira" do destino, não podiam caber na geração em que nasci, nas épocas que atravessei ... não se compadeciam com as responsabilidades que desde cedo nos espartilhavam, num figurino familiar que se assemelhava a um qualquer determinismo da existência ... 
Invejo ... como invejo os jovens de hoje que desde os "erasmus" da vida, aos "inter-rails", aos intercâmbios temporários de países e famílias, se aventuram e partem, e experienciam e desvendam mundo fora novas realidades, novos rostos, novos gostos, novas vivências, sem peias ou grilhões que os prendam ... E tudo é um enriquecimento que não tem preço ou valor ... tudo é VIVER!
Como invejo estes cidadãos do mundo, neste mundo global em que as fronteiras não são mais baias ou limites, e as portas estão escancaradas ao sonho !!!...

Resta-me sonhar do sofá, resta-me "voar" pelas fotos, resta-me reescrever ou redesenhar o que nunca escrevi ou desenhei verdadeiramente além da imaginação, da vontade e do sonho ... e esse, felizmente é livre, independe de todos os condicionalismos que a realidade nos impõe, com que nos verga e coarta !!!...

Anamar

" SUR LE PONT D'AVIGNON ... "

 



Fui ... e até parece que fiquei... De facto, nunca mais aqui voltei. Uma desmotivação total tem-me afastado das "lides literárias".  Nada para dizer, nada para escrever, na verdade uma dispersão de sentimentos, uma mornidão de emoções, uma amálgama de questões reais e objectivas, dessas que não dá para fazer de conta que não existem, têm-me remetido a um desinteresse insalubre, cinzento e meio mórbido, silente e extenuante.
Quando as preocupações da vida nos sufocam, quando as angústias connosco e com os nossos avassalam o nosso espírito, é natural que não sobre muito "espaço emocional" para nos debruçarmos sobre até aquilo que nos era vital à existência ... neste caso, a escrita, ar que respiro, oxigénio determinante ...
Enfim, como diz assisadamente, para me confortar, alguém que talvez saiba do que fala ... "não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe ... e que depois da tempestade, virá o bom tempo " ...
Limito-me portanto a esperar, dando-lhe o benefício da dúvida !

E fui, como havia dito que iria.  Fui até ao sul de França, espantosamente país onde nunca aportara até então, concretamente Marselha, Avinhão, Aix-en-Provence, Roussillon, Les Beaus de Provence, Arles, Cassis e tudo o que por ali fica, guardando a teórica esperança de ser presenteada com o espectáculo característico e fantástico desta zona, por esta altura do ano : a floração das lavandas e das alfazemas, que dessa forma pintam de roxo os campos a perder de vista.
Em vão.  Havia de facto zonas de maior exposição solar onde elas já haviam aberto os olhos depois do longo sono invernal, mas o que eu teria adorado admirar, precisaria de mais umas três semanas para ocorrer.
Paciência !
De qualquer forma, viajei, saí do marasmo diário que é a vida repetida todos os dias, e pude usufruir de outras valências que realidades desconhecidas sempre nos proporcionam.  
Tratou-se de uma viagem em grupo, bem extenso por sinal, em que o mix de personalidades, em convivência diária por muitas e muitas horas, propiciam um enriquecimento pessoal, uma partilha de formas de estar, de sentir, um confronto de valores que nos livram do tédio, da má disposição, da saturação e até do enjoo ... 😁
Acresce que o grupo é constituído por amigos, todos eles alentejanos, e amigos dos amigos, porque sendo-o, amigos são !
Além da variedade de experiências abrangidas pelo programa, desde as belezas naturais, ao bucolismo das aldeias inseridas na paisagem, a arquitectura das cidades, o fascínio das catedrais e outros monumentos, a abordagem Histórica dos lugares e das pessoas, seus hábitos e tradições, tudo  enriqueceu a viagem.
Tocámos a rota dos pintores impressionistas dos fins do século XIX, início do século XX, em que Cézanne, Renoir,  Monet, ou Van Gogh cuja atribulada e rocambolesca vida, para mim terá sido o expoente máximo. 
Visitámos inclusive o atelier de trabalho de Cézanne em Aix-en-Provence, o qual permanece intocado, com todos os seus objectos de trabalho deixados por ali, quase sugerindo que o pintor saíu por instantes apenas ... 
O romantismo das cores, dos cheiros, dos silêncios, respirados nos ocres, amarelos e vermelhos sanguíneos fulgentes, dos sólos que habitaram, só poderia mesmo inspirá-los para as obras imortais que por cá deixaram.
Do passeio de barco ao recorte fascinante das "calanques de Marselha", zona pertencente ao Parque Nacional protegido desde 2012, à Ilha d' If, ilha prisão de deportados e criminosos, envolta romanticamente na história do seu prisioneiro mais famoso, o Conde de Monte Cristo ( onde se pôde visitar a cela em que cumpriu pena ), passando pelo bairro típico Le Panier em Marselha, onde a multiculturalidade e o tipicismo de vida muito particular de quem lá vive nos remete a outras realidades, ao espectáculo multimédia a ocorrer numa pedreira ancestral, em Baus de Provence, com uma dimensão esmagadora e fascinante, exactamente sobre as obras dos pintores marcantes do Impressionismo, como referi, até à  própria povoação de Baus, recortada e construída com o calcário extraído dessa pedreira e com características em tudo semelhantes à nossa Vila de Óbidos de que tanto gosto ... foram apenas alguns aspectos que retenho com bastante agrado.



 E depois, claro, com Avignon e o seu imponente Palais des Papes, e sobretudo com a sua ponte semi-destruída sobre o Rio Ródano, regressei aos bancos de escola em que na disciplina de francês se aprendia a trautear e a dançar de roda, a modinha infantil "Sur le pont d'Avignon on y danse ... on y danse ... tout en rond " ... 
E assim foi !...

Anamar

quinta-feira, 1 de junho de 2023

" INDO ... "



" Vou-me embora, vou partir ..." diz Vitorino, com o cantar da nossa terra em fundo ...
  Também eu hei-de ir e hei-de voltar ... com o vento...

As minhas viagens, a minha "arte" de navegar por aí fora, a minha ânsia de percorrer pedacinhos deste mundo como meus, não pertencendo embora a lugar nenhum, atormentam-me a cabeça como sezões que fossem e sempre voltassem exactamente a cada curva do tempo, feito um ar que preciso pra não morrer ... como uma necessidade louca de me soltar, ciclicamente, de ir e voltar, exactamente  na liberdade da aragem que corre ...

Não sei o porquê, não explico a razão, não passa por nada mais esta minha precisão, do que a ânsia imperiosa de sentir na alma a liberdade da gaivota que só respeita o balançar da correnteza ... faça-se ela na crista das ondas ou no topo das falésias invencíveis ...
É uma purga, uma libertação, um abrir de janela encerrada, um pedaço de pão para a boca, uma emoção de descoberta, incontida ...
É um reencontro de bocados de mim que se repõem nos lugares certos, para que não me faltem, neste coração errante ...

Já parti muitas vezes ... não posso queixar-me.  Já sonhei muitos sonhos de distância.  Já regressei com a alma plena das cores, dos cheiros, da luz, dos sons de outros chãos.  Já os perpetuei "ad eternum" e os guardo para sempre no recôndito da alma.
Já aconcheguei em mim os rostos dos meninos de S.Tomé, das crianças de Myanmar, os sorrisos tímidos das mulheres de Bali, ou do Vietnam, os silêncios das águas no Pantanal ou os os gritos da mata amazónica longínqua.
Já olhei perdidamente o luar sobre as águas infinitas, quando a lua ficou cheia e misteriosa, por tantos lugares do mundo ... e o silêncio mágico de destinos por aí espalhados se me impregna por debaixo da pele.
Já me empanturrei com os pôres e nasceres de sol inigualáveis duma África inexpugnável, e já me perdi nas terras sem limites ou horizontes, como se o mundo não acabasse nunca ...
E tantas, tantas outras memórias a alimentarem-me e a vitaminarem o meu espírito ...

"Viajar é olhar", alguém disse.  E essa frase é de facto o maior compromisso que podemos ter, quando a viagem começa a desenhar-se dentro de nós.
Primordialmemte, sem dúvida.  
Mas viajar também é "sentir", e estar desperto e disponível para absorver todas as sensações, emocionar-se com todas as vivências, desarmar-se perante todos os desafios, sem preconceitos, juízos pré-concebidos, ou "formatações" impostas .

As minhas viagens têm assumido roupagens diferentes ao longo dos tempos, ao longo da idade e da maturidade adquirida, embora eu considere, talvez desafiadoramente, esta não ser a nossa melhor companhia numa viagem.
Comecei a viajar ( pouco ) ainda com família constituída, no desenho tradicional dessas viagens.  Marido, filhas, recursos bem contabilizados, nada de exigências ou veleidades. Esse período já me encontrou com mais de quarenta anos, e mercê do que era, pouca gratificação tive nessas experiências.  Pouca fruição, pouco encanto ( porque a vida já não era então encantatória ), alguma decepção, algum tédio e pouca alegria ... 
Eram os tempos que eu vivia ...
A vida deu então uma volta de cento e oitenta graus e a realidade virou do avesso.
Depois de quatro viagens marcantes e inolvidáveis na minha vida que por razões estritamente particulares não vêm ao caso, comecei a viajar sozinha.  
Comecei a desafiar destinos pouco comuns, por isso emocionantes, carregados de aventura e adrenalina.  Viajava entregue a mim própria, sem verdadeiramente ter uma agência turística por detrás,  explorando, saboreando até à exaustão cada recanto, experimentando e sorvendo cada emoção disponibilizada, sem medos, sem peias ... atrevidamente entregue a mim mesma.
Nessas viagens eu voei ao infinito, eu derrubei fronteiras, eu deixei-me guiar apenas pelo sonho, pela vontade,  curiosidade  e  pelo  ímpeto incontido de olhar,  de  compreender  e  sentir ...
Tudo foram experiências inebriantes, tudo foram emoções indescritíveis ... livre, totalmente livre ! 
Foi o chamado "período da gaivota" em que as amarras e os compromissos eram inexistentes, em que não havia justificativas ou explicações para dar até a mim própria, em que a liberdade, a leveza, a alegria e uma felicidade desconhecidas me preenchiam e inebriavam.
Foram destinos irrepetíveis que abençoadamente persegui e ficaram na minha memória para todo o sempre !

Mas a vida seguiu adiante ... a vida sempre segue adiante ...
Com ela, os anos e algumas já objectivas e sentidas limitações inevitavelmente se vão instalando, e uma consciencialização de que pode sempre ser necessário algum apoio ou rede de segurança por trás, determinaram que as minhas viagens passassem a acontecer em figurinos de grupo, promovidos por agências turísticas.  Sem dúvida é mais prático, tudo se articula sem sobressaltos, mas ... para mim nada já é, como era.  
A  fase  de  "gaivota"  nunca  mais  retornou  ao  meu  imaginário  de  aventureira  livre  e  sonhadora !!!
Tudo passa, na verdade !

Nas minhas primeiras viagens, eu documentava todos os pormenores, ao ponto de, ainda hoje, visualizando as fotografias e os vídeos, eu consiga claramente "rever" o momento em que os fiz.  Consigo saber da luz, dos sons, dos cheiros e cores ... e até às vezes, claramente, o que emocionalmente eu experimentei na altura.  E é fantástico... acreditem !
Fazia-me acompanhar de duas máquinas fotográficas de topo, objectivas suplentes de diferentes alcances, e uma máquina de filmar Sony, também de muito boa qualidade.
Hoje, toda essa parafernália fica em casa, apesar de eu continuar a adorar fotografar e registar visualmente cada momento. Apenas transporto comigo um telemóvel com três câmaras, obviamente com alcance e capacidades insofismáveis ... e os olhos, os ouvidos e o nariz !
E chegam claramente para que eu faça uma cobertura absolutamente escorreita e de qualidade insuspeita, que registe aquilo que vivi ao longo da jornada ...
 
E ainda sou capaz de chegar ao aprumo de um amigo de há anos atrás ( que na altura me deixava incrédula e escandalizada ), que conhecia o mundo todo, viajando sempre sem colher uma única imagem do que visitava.  
Dizia o Paulo : "o que registamos na mente e no coração sempre é inalcançável pelos mais avançados e perfeitos dispositivos de audio-visuais.  O importante é OLHAR, olhar e VER !  Sempre !!!"

E não é que ele tinha total razão ??!!

Anamar

sábado, 18 de fevereiro de 2023

" A SUIÇA SOBRE TRILHOS "


Branco ...
Branco é o que nos rodeia.  Branco e um cinzento azulado concedido pela vegetação sonolenta que trepa as encostas, totalmente salpicada pela neve que cai com intensidade significativa, a partir de determinada cota.
Aliás, cá em baixo, nos vales, planícies e margens dos cursos de água, a altitudes inferiores, a coloração de todo o contexto já assoma. De resto, tudo o mais é alvura, silêncio e paz e uma quietude que transforma toda a paisagem numa atmosfera onírica e mágica, quase irreal, desenhando esboços de inesquecíveis cartões de Natal.

A Suiça, donde regressei há poucos dias, tem todo um carisma muito particular. 
Paisagisticamente é um presépio a céu aberto, é uma história contada por entre montes e vales  com picos e desfiladeiros que se sucedem, com os cumes das montanhas desafiadoras em recorte, ostentando os seus gelos perpétuos, com os seus planaltos quase sempre acolhendo estâncias turísticas de desportos de Inverno, com os seus lagos serenos e adormecidos, com os seus cursos de água que serpenteiam em busca de caminho livre na direcção ao oceano lá longe ... porque de um país interior se trata.
A sua beleza natural não se descreve.  Não há retratos por mais bem pintados que o sejam, não há textos por mais fiéis e ricos na descrição, não há fotografias ou vídeos disputando os melhores ângulos, que consigam aproximar-se só, daquilo que os nossos olhos têm a felicidade de enxergar.  Porque o que se contempla, cheira, escuta e sente sempre fica a anos-luz para lá de todas as tentativas que fizemos na aproximação.  
Ancorada numa montanha feroz que sobe frequentemente a milhares de metros de altitude, os Alpes, a Suiça como o seu queijo ancestral que todos conhecemos, é perfurada pelos inúmeros túneis que atravessam a rocha.  Essa, a forma possível encontrada para obviar a mobilidade através do país.  Os túneis e os viadutos surpreendem,  levando sempre mais e mais além, qualquer viagem desejada por muito difícil que parecesse ser.
E a cada momento a surpresa de mais um túnel, a perplexidade de mais um viaduto altaneiro abrem passagem a mais um comboio, meio de comunicação privilegiado no país.
São transportes de alta qualidade, muito bem organizados, com o rigor e a eficácia tradicional desta terra, onde se tem a noção clara de se tratar de um país que efectivamente "funciona".  
Viajei em alguns comboios, nomeadamente destinados ao turismo, como o comboio de cremalheira que nos levou montanha acima até Jungfraujoch, 3571 metros, naquilo a que chamam o "topo da Europa", o Golden Pass, ou o mais icónico e inesquecível de todos eles, o comboio turístico de alta velocidade mais lento do mundo, o Glacier Express que nos transportou de Zermatt a St. Moritz durante mais de oito horas, num percurso de 300 quilómetros atravessando noventa e um túneis e duzentos e noventa e um viadutos num sobe e desce fascinante, atravessando de oeste para este o território suiço.
Esta "lagartinha vermelha" que serpenteava entre altitudes variáveis  ( 1804m a 670, a 2033, de novo a 585 para finalizar a uma altitude de 1775 m ), passou por pequenas aldeias e lugarejos encarrapitados nas encostas cobertas de neve, lugares míticos, preguiçosos, onde a presença humana parecia inexistente.  Apenas o fumo que subia das chaminés, a lenha empilhada em lugares protegidos e as torres das igrejinhas meticulosamente cuidadas, atestavam não serem lugares abandonados ...
Braços fora das janelas segurando as câmaras, na ânsia de se reterem os melhores e mais irrepetíveis momentos vividos, pesassem embora as temperaturas fortemente negativas que se sentiam ... tentavam guardar para todo o sempre o fascínio, a surpresa e o maravilhamento que nos tomavam ...
Cá dentro, total conforto numa carruagem climatizada e envidraçada, onde usufruímos de uma refeição como se numa mesa de restaurante tradicional estivéssemos. 
Nas subidas e descidas percebia-se a activação da cremalheira para que os metros de acentuada inclinação fossem vencidos. 
As estâncias de sky desvendavam os praticantes em actividade e os meios mecânicos e os teleféricos de apoio, em movimento.
A Garganta do Reno ( o maior rio da Suiça aqui nascido e com um curso de 375 Km neste país ),  não é mais do que um vale glaciar, um canyon com milhões de anos que se formou pela erosão das águas dos degelos glaciares, que rasgaram e esventraram as montanhas, com paredes rochosas de ambos os lados que podem atingir os quatrocentos metros de altura.  Trata-se de um acidente orográfico imponente, magnífico, esmagador, desfrutado em plenitude a partir do Glacier Express, que acompanha o leito do rio ora numa margem, ora na outra.
O Reno atravessa a Suiça, faz fronteira e atravessa a Alemanha, Países Baixos e desagua no Mar do Norte, a sul de Roterdão, após percorrer 1320 Km.

Durante esta inesquecível viagem poderia pensar-se que a paisagem que se estendia aos nossos olhos fosse monótona, fastidiosa, repetitiva ... Engano !  Foi sim de um êxtase absoluto, foi um prémio para os sentidos, uma gratificação para a alma! Foi um presente generoso de uma natureza que se impõe e se obriga a ser respeitada ! 

E era noite quando a estação de St.Moritz se anunciou.  Lá fora -10ºC nos aguardavam no dia que já havia descido.










Anamar

sexta-feira, 22 de julho de 2022

" LÁ LONGE ONDE O SOL AQUECE MAIS ... ÁFRICA "

 


Falar sobre a Namíbia, descrever a Namíbia é manifestamente uma missão impossível.
Gostaria de o fazer, pensei mesmo ser capaz, mas não sou !  E não sou porque tudo o que eu conseguisse pôr no papel não passaria de uma descrição pobre, desajustada, descolorida e embaciada do que é aquela terra ! 
As sensações foram tantas, as emoções tão estonteantes, o cúmulo de beleza, de surpresa, de sonho e fascínio, tão poderoso, que me sinto entupida e incapaz de verter sequer um pingo de tudo o que me atola o coração e a mente ...

Acordei hoje a pensar que me falta o canto da passarada.
Não me falta a voz humana ... Essa, perturba-me e incomoda-me vezes de mais.
Acordei a pensar que me falta o sussurro do vento varrendo as dunas sem piedade, e moldando-as ao sabor dos milénios.
Acordei a pensar que me falta reouvir o bater das ondas tempestuosas na Costa dos Esqueletos, onde os barcos perdidos, naufragados ao correr do destino, dormem silenciosamente em história de eternidade ... Onde a espuma adorna o areal deserto, em rendilhado que ora se faz ora se desfaz, encenando imagens oníricas entremeio à bruma densa e misteriosa ...
Acordei a pensar que me falta o afago doce de pores de sol vermelhos, ou mesmo roxos, ou azulados, recortando a negro os perfis esfíngicos de árvores perfiladas, parecendo sentinelas na paisagem ...
E olhar o céu, completamente escurecido, enfeitado por uma poalha estelar, tão clara e brilhante como não vi céu nenhum em outro lugar ... 
E o Cruzeiro do Sul e Centauro, vigilantes ... ou mesmo uma lua cheia, a primeira super-lua de 2022, a Lua dos Cervos,  que escolheu viajar comigo até à Namíbia ... 

Hoje acordei a pensar que o vermelho daquela terra de África, um continente incendiado por um sol que quando brilha é quente de verdade, não descolou da minha retina, e que os sons da mata também não silenciaram nos meus ouvidos ...
As dunas impermanentes numa terra de areia que o vento rodopia à passagem, ou as rochas brutas e agressivas que se erguem numa terra de ninguém em grandes escarpas ou cordilheiras a mais de mil metros de altura, impressionam pela traça sinuosa, formando os canyons e os vales profundos. 
E porque tudo se revela numa natureza contrastante nesta terra, a planície deserta até onde a vista pode alcançar, garante que não há horizonte que a detenha.  
Às vezes, a miragem de uma linha de água ou dum charco desenhado, lá longe, far-nos-ia acreditar piamente assim o ser.  Engano!  Não passa disso mesmo ... uma miragem, em que a luz do sol, uma vez mais pinta até o que não existe, numa aguarela em três dimensões ...

E os bichos por ali andam.  
No Parque Nacional Etosha, as aves, os grandes e os pequenos mamíferos, carnívoros e herbívoros que não cansam do capim ou de folhas verdes de árvores tenras, dormem nas sombras de acácias meio despidas, ou buscam os charcos que ainda não tenham secado.
Aí, ao cair da tarde, ou ao romper do dia, se faz o ponto de encontro de gazelas, impalas, órixes, girafas, zebras, springboks, antílopes, gnus, kudus, hienas, chacais entre outros ... mas também os almejados " Big five", os cinco maiores animais da savana, estrelas fotográficas para quem adora a vida selvagem e a fotografia que a documente : leopardo, elefante, búfalo. rinoceronte e leão.
Só este, não conseguimos visualizar ...

Hoje acordei com o deserto do Namibe a dançar-me à frente dos olhos, com as areias infindas, planas ou onduladas, em que o "polvo do deserto" se espreguiça sem contenção.  
A welvichia mirabilis, com a sua longevidade absoluta ( existe desde o tempo dos dinossauros ), atravessa séculos, milénios, desafiando a eternidade.  
Espraiada nas areias, com duas únicas folhas anuais que podem atingir mais de dois metros, parece adormecida e vive do orvalho que consegue absorver pelas folhas.  É uma eremita espreguiçada ao sol inclemente ...
Só a título de curiosidade, o Rugby muito popular na Namíbia sobretudo entre a sua população branca, tem os seus jogadores apelidados de "Welwitschias" .

O deserto, haveria de olhá-lo percorrendo-o areias fora, subindo e descendo dunas, enterrando e desenterrando os todo o terreno, mas haveria de vê-lo também, num sobrevoo inesquecível.
Toda a sua geografia vista do alto, disseca um corpo vetusto percorrido pelas veias secas de linhas de água que podem quase nunca chegar ao mar ...
O por de sol a bordo do pequeno avião seria igualmente indescritível !

E houve a colónia de focas no Naukluft Park, e o Cape Cross  ou Cabo da Cruz onde a presença portuguesa deixada por Diogo Cão ( século XV ) se testemunha pelo padrão aí colocado ... houve a travessia simbólica do Trópico de Capricórnio,  e a visita a um assentamento de uma tribo Hereró ( uma das tribos existentes no país, tal como os Himbas e os Damara ) onde se comercializavam, à beira da estrada,  os produtos artesanais confeccionados pelas mulheres ... 
Houve também o Lago Oanob, zona de lazer,  rodeado pelas mansões dos magnatas dos diamantes, e ainda o Museu a céu aberto de inscrições rupestres, num fenómeno arqueológico com cerca de 2000 anos, em Twyfelfontein, na região do Kunene.  
Contabilizando perto de 2500 representações, é por isso uma das maiores concentrações de desenhos da África.  
Relatam extensivamente práticas rituais e da vida das comunidades caçadoras-recolectoras que na época habitavam essa região.
Gravadas e desenhadas nas rochas, ilustram rinocerontes, elefantes, girafas e avestruzes, além de pegadas humanas e de animais.  O leão também está representado magnificamente!
Vestígios arqueológicos ainda aí encontrados, mostram que na região, a presença humana data à Idade da Pedra, por volta de 6000 anos atrás.

Bom ... como se vê, falar sobre a Namíbia, descrever a Namíbia é manifestamente uma missão impossível!...
Gostaria, contudo, de vos ter dado uma insignificante aproximação.

A mim, falta-me o canto da passarada na savana e o silêncio deixado lá atrás.  Falta-me ainda a música de roda em noite fria em torno duma fogueira, com o céu de negritude absoluta, iluminado apenas pelas chispas das chamas espevitadas pela aragem da noite ... que jamais esquecerei !...




Anamar

terça-feira, 19 de julho de 2022

" REGRESSO ÀS ORIGENS ..."


6,50 h de 18 de Julho 2022, aeroporto de Frankfurt, local de escala entre a Namíbia donde cheguei e Portugal, onde chegarei.
Dia de céu limpo, azul e sol ainda tímido pelo despautério da hora.  Por isso ... sono muito,  depois de dez horas a bordo, num simulacro de noite medianamente dormida.
Estou num dos espaços de restauração do aeroporto.  Café precisa-se, e como tal, com tanto tempo de sobra entre os voos, usufruo a paz de mais de três horas de pausa, sem pressas.
À minha volta, neste espaço lotado de passageiros em trânsito, com uma música de fundo insuportável para a minha necessidade absoluta de silêncio, os telemóveis ocupam as mãos, os olhos e as mentes.  Lamentavelmente não há uma só alma que os tenha dispensado !

Namíbia ... pois ... 
Muitos acessos de vontade tive, de escrever sobre ...
Só que, verdadeiros momentos de paragem e lazer por conta própria, são coisa inexistente nestas viagens de grupo, em que as actividades programadas para cada dia, visam rentabilizar exactamente esses mesmos dias.
Por isso, fui absorvendo, arquivando, gravando o tanto de sensações e emoções que tudo o que o vivenciei me deixou no coração e na alma, se é que estes dois lugares realmente existem no ser humano...

A Namíbia foi, sem dúvida, o lugar perdido no planeta Terra onde a noção de infinitude se me tornou absolutamente clara e impressiva.  
Lá, terra sem limites ou horizontes, tudo se mede em milhões de anos e em distâncias incontáveis.
Lá, a beleza é tão excessiva que perturba, a liberdade tão avassaladora que embriaga, o sonho que se obriga a sonhar, sem tamanho ou dimensão ...

África é, sem discussão, um continente absolutamente carismático.
Não há outro lugar no mundo onde as cores sejam tão intensas, os cheiros tão absolutos, a luz tão inebriante e o silêncio, a interioridade e o intimismo tão imperativos.
O calor emanado do vermelho sanguíneo da terra que ora se pinta de ocre, de castanho ou mesmo de negro de acordo com a luz que a inunda, a primitividade e autenticidade da savana imemorial, a doçura da sombra das acácias onde os animais selvagens se acoitam em sono de sesta ... a paisagem que ora é e ora não é, numa impermanência total mas numa consonância e perfeição tão determinadas, mostram ao ser humano a sua real dimensão : um insignificante grão de areia, nesta construção fantástica e incomparável que é a Vida, nesta engrenagem magnificente e mística que é o Mundo em que vivemos, a Natureza de que usufruímos !!
Tudo nos remete para a essencialidade primordial, não deixando espaço p'ra dúvidas ou veleidades ...

Tudo isto a Namíbia me sussurrou ao ouvido, tudo isto a Namíbia me desvendou despudoradamente, desde o deserto à selva, da montanha escarpada às areias imprecisas das dunas imparáveis, do mar tempestuoso às cordilheiras e canyons escavados por águas, que também elas se esquivam e só correm quando o destino assim o quer !
Tudo isto tornou para mim a Namíbia, um convite irrecusável e sempre presente !!!

Anamar 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

" MORRE LENTAMENTE ..."

 









                                                             SANTIAGO  DO  CHILE

                                                                " LA  CHASCONA "






Encerro hoje a narração da minha odisseia no Chile, no que foi uma viagem seguramente inesquecível na minha vida.

Tentei exaustivamente contar-vos o mais próximo possível da realidade, tudo o que vivi, tudo o que senti, todas as maravilhas duma natureza diversa e fascinante que me acompanhou desde o Atacama, aquele deserto mítico e mágico, no norte do país, em fronteira com o Perú, à Patagónia, lá onde Magalhães abriu rotas ao mundo ... passando pelos Lagos Chilenos, região de águas, bosques, vulcões, rápidos e obviamente de lagos ... de cores turquesa, de águas límpidas, transparentes e sonolentas ...

Talvez me tenha excedido na exaustão da narrativa, talvez tenha exagerado na pintura dos quadros ... talvez vos tenha maçado com a profusão de pormenores, de apontamentos, de informação ... de histórias ...
Só que, tenho p'ra mim que a beleza não deve ser exclusividade de ninguém, que as maravilhas oferecidas generosamente pela natureza não são pertença de alguns, que as emoções e sensações experimentadas, podem e devem ser partilhadas ...
Por isso, norteada por essa ânsia de vos levar comigo ( podendo apenas fazê-lo pela ponta do meu lápis e pela verdade da minha escrita ), pelo desejo de vos transportar através do sonho, pulando de fotografia em fotografia e de vídeo em vídeo ... talvez não tenha dado pela passagem do tempo e tenha acabado por vos maçar, no ímpeto de vos abrir a janela panorâmica que me deixou assomar por alguns dias !...

Termino hoje, e vou procurar ser mais sucinta e contida, falando-vos da capital, Santiago do Chile e de duas outras cidades relativamente próximas, como já disse : Valparaíso e a cidade costeira e importante porto marítimo de Viña del Mar, situadas lado a lado, sem bem percebermos onde acaba uma e começa a outra.
Santiago do Chile, com cerca de 7 milhões de habitantes numa área urbana de 720 quilómetros quadrados, foi fundada pelo conquistador espanhol Pedro de Valdívia, no Século XVI.  Sendo uma cidade de interior, é atravessada pelo rio Mapocho, um canal sem grande expressão que atravessa a cidade, e que alberga nas suas margens imagens chocantes de miséria social, com um amontoado de barracas e verdadeiros acampamentos de sem-abrigos que ali vivem, numa degradação que impressiona.  O lixo amontoa-se, as condições sub-humanas são, infelizmente, um triste cartão de visita para quem a pode olhar.
Santiago, nesse contexto, nada tem a ver com as restantes cidades que conheci. 
Punta Arenas, Puerto Natales, Puerto Montt, Puerto Varas, Valparaíso ou Viña del Mar, são cidades organizadas, preservadas, limpas ... cidades "arrumadas" e bonitas, que parecem convidar os visitantes para que fiquem e usufruam as suas agradáveis condições de habitabilidade.

Santiago é uma grande metrópole, guardando em si traços claros do colonialismo espanhol.  Atravessou histórica e politicamente períodos conturbados como todos sabem, e mostra claramente acentuadas clivagens, com grandes assimetrias económicas e sociais.  É uma urbe em permanente convulsão política, com evidentes manifestações e contestações, percebendo-se claramente uma latente instabilidade social.
A zona histórica da cidade conserva uma arquitectura bonita e preservada, dentro do possível. Não esqueçamos que o Chile vive a turbulência geofísica da confluência de placas tectónicas, que volta e meia desencadeiam sismos cuja magnitude é responsável pela destruição severa das construções.
O maior terramoto registado no mundo ocorreu a 22 de Maio de  1960 e teve 9,5 pontos na Escala de Richter, tendo arrasado a cidade de Valdívia a mais de 700 km da capital, tendo esta ficado igualmente muito destruída.
Nas zonas limítrofes existem os bairros das elites, onde as construções modernas de qualidade, com  arranha-céus de manifesto bom gosto, atestam que o Chile caminha rumo ao futuro ! 
Aí fica situado o edifício mais alto da América do Sul, a Gran Torre Santiago, com 300 metros de altura e sessenta e quatro andares !

A pouco mais de cem quilómetros de Santiago, para noroeste, caminhando para a costa, encontrei Valparaíso, uma cidade absolutamente carismática, singular ... única !
Cidade de artistas, típica e inigualável, distribui-se em cor e em beleza ao longo das diferentes encostas, os "cerros", onde as casas coloridas se encarrapitam, sobranceiras a miradouros, ladeando ruas estreitas, encimando escadinhas tortuosas ladeira abaixo.
É uma cidade de luz, com uma claridade estonteante, é uma galeria de arte ao ar livre ... 
As suas paredes, muros, até mesmo o chão, são revestidos de pinturas de autores anónimos, absolutamente fantásticas.  A "street art" é um meio de veiculação não só da arte visual "de per si", mas também como meio de propaganda social, política, ecológica.  Desta forma, cada cantinho é um alerta, uma contestação, um recado silencioso, uma sensibilização ... através de imagens, cor, beleza e poesia !

Fazendo jus a todas estas potencialidades de Valparaíso, Pablo Neruda haveria de escolhê-la para aí construir uma casa inspiradora, seguramente.  No "Cerro Bellavista", "La Sebastiana", com uma vista de tirar o fôlego sobre a cidade, seus morros e encostas, seus desníveis e socalcos, seus miradouros debruçados, é, também ela uma casa de escadinhas, de pisos e patamares, mas sobretudo de fachadas envidraçadas que não limitam, não cingem e não amordaçam tanto da beleza que os olhos alcançam !
É hoje uma das suas Casas-Museu onde tudo foi deixado como se o poeta tivesse apenas ido lá fora, espreitar os gatos ronceiros que dormem ao sol.  
Sobre a secretária, os manuscritos dos poemas como que ali esquecidos, recuam-nos no tempo, ao que foi ... ao que terá sido ...

Em Santiago, "La Chascona", construída em 1952 em celebração ao seu amor por Matilde, "A Descabelada" ( la chascona ), sua última esposa, inicialmente sua amante, é outra das Casas-Museu que deixou para a posteridade.  Igualmente fascinante !  
Muito pouco "museu" ... muito "casa de gente"... conserva em cada recanto, em cada peça exposta, na mesa pronta que parece aguardar chegadas ... no banco de ferro debaixo dos arbustos ... no copo que ficou por beber ... o cheiro adivinhado do romance, o cheiro da paixão ... o cheiro mesmo da devoção!...

Finalmente viria Viña del Mar, cidade costeira, onde se localizam as melhores praias para os santiaguinos.  "Cidade Jardim", recebe-nos com o icónico "relógio de flores", ponto de paragem obrigatório para a fotografia da praxe !
Assim conhecida por estar rodeada de áreas verdes, é nesta cidade cosmopolita que se encontra a residência de Verão do Presidente do Chile, o Palácio de Cerro Castillo, em cujos jardins é içada a bandeira do país, quando o Presidente ali se encontra instalado.
Como estávamos em período pascal, sábado de aleluia, a bandeira do Chile lá estava desfraldada ao vento ...

Bom, e fico-me por aqui.
Espero  que  tenham  apreciado  e  aproveitem ... visitem  o  Chile !  É  que  vale  mesmo  a  pena !!!...

Depois de Gabriela Mistral, primeira latino-americana e a primeira mulher americana a receber o Nobel pela sua obra poética em 1945, Pablo Neruda, grande poeta desta terra, viria a receber igualmente o Prémio Nobel da Literatura em 1971, também pela sua poesia.

É portanto, homenageando-o, que aqui deixo um seu poema que tudo tem a ver com o espírito deste meu trabalho ... o CHILE - do Atacama à Patagónia Chilena :


                                                              " Morre lentamente ..."




                                                                     VALPARAÍSO










                                                                   VIÑA  DEL  MAR







Anamar