segunda-feira, 19 de agosto de 2024

" JONAS, O MEU COMPANHEIRÃO !... "

 



Hoje é um dia estranho, um dia tormentoso em que não controlo mais tudo o que me aperta aqui, no peito sufocado ...

O Jonas, o gato que vive comigo há doze anos e que tem estado hospitalizado há quase uma semana, vai ser intervencionado à bexiga para remoção de cálculos que, obstruindo-lhe a uretra, o impediram de urinar.  É uma intervenção dita simples, pouco invasiva, etc, etc.  Mas é sempre um procedimento obviamente de risco, como o são todos aqueles que envolvam logo à partida, uma anestesia geral.
Ele tem, ao que parece, um sopro cardíaco, não muito preocupante, mas existe, e de todos os exames de diagnóstico que foi fazendo ao longo do internamento revelou-se um quadro condicente com os anos que já viveu.  Uma coisa aqui, outra ali, uma deterioração generalizada da "máquina", um envelhecimento natural, um desgaste expectável, enfim ... como nós, os humanos, sinais do caminho já percorrido ...

Habituei-me a ver o Jonas como um gato todo "arrebitado", vivaço, lampeiro, saudável, brincalhão quando mais novo, lembrando, como eu costumava dizer, aqueles putos reguilas nos recreios da escola, que não param um instante, parecendo estar movidos em permanência a pilhas Duracell, e que apesar de ter sido sempre muito medroso, transpirava saúde e alegria.
Foi contemporâneo do Chico que me deixou há um ano e com quem manteve uma convivência sempre pacífica e amiga.  Eu sei que o Chico era um bonacheirão, queria era sopas e descanso e entre os dois gerou-se um excelente companheirismo.
Eram da mesma idade, tendo entrado aqui em casa com uma diferença de meses, o Jonas em Novembro de um ano e o Chico em Maio do ano seguinte.

Quando o Jonas entrou, veio encontrar um outro gato, a Rita, que na verdade era um macho mas que mercê duma partida do destino acreditámos ser fêmea, sem remissão possível.  Aquando descobrimos o equívoco, Rita continuou, e por Rita respondeu até morrer.
O Chico tinha o dobro do tamanho do Jonas, e era quem lavava insistentemente o Jonas até ele perder a paciência, voltar-lhe as costas e pronto, tudo acabava em paz.
O Chico foi embora e o Jonas passou a ter-me em exclusividade, como dona e companheira, e estando só no domínio total do território, dedicou-se a mim duma forma absorvente e total.  Era a minha sombra, onde eu estava estava ele, para onde eu ia, ia ele atrás ...
De dia e de noite, o Jonas não me dispensava nunca.  No Inverno era o cobertor mais espectacular que eu podia ter, aninhado nas covinhas do meu corpo, ajeitando-se se eu me voltava na cama.  Conversava claramente comigo, entendia praticamente tudo o que lhe dizia, só faltando falar ...
Quando a temperatura começava a subir, deixava a minha cama, mas nunca o meu quarto, perto de mim, nos lugares mais frescos e suportáveis.

Hoje existe um outro gato aqui em casa, ou melhor, desta vez é mesmo uma gata, cuja história contarei um dia destes.  E por ser igualzinha à Rita de que vos falei, batizei-a também de Rita, talvez Rita II, em homenagem àquela Rita que foi tão carismática e marcante na minha vida.
Só que, apesar do convívio entre os dois já remontar a seis meses, ambos medrosos, ela, tímida e apavorada com tudo o que a rodeia, não se tem conseguido normalizar a situação.  
A Rita vive o mais escondida possível, não mia ( penso que, dada a vida anterior que detinha, evitava deixar-se sinalizar ), aparece fugidiamente e quando se encaram, quer um quer outro bufam-se o mais que podem.
Pensei que com o actual afastamento do Jonas aqui de casa, ela se relacionasse com maior normalidade comigo e com o ambiente que a rodeia.  Mas não, pouca evolução parece ter ocorrido.
O  stress existente não beneficia nenhum dos animais e pode, ao que parece, potenciar o surgimento destes sintomas que levaram o Jonas à cirurgia.  Pode não determinar, mas pode favorecer.
Enfim, por vezes prejudicamo-nos tentando ajudar ...

De qualquer forma, é um insustentável vazio aqui em casa !  A ausência dele junto de mim, à noite sobre a minha cama, nos serões silenciosos, as suas "respostas" às minhas interpelações, e os "diálogos" até, criados entre nós os dois fazem-me uma falta atroz e inultrapassável.  Parece que uma luz se apagou por aqui, e só espero que possa retomar o seu convívio outra vez, bem depressa !

Afinal eles são parte da família que criámos, às vezes quase só uma pequena fatia que nos resta !

Anamar