segunda-feira, 19 de abril de 2010

"LEMBRAM-SE ?"....



Nestes Tempos que afinal ainda são pascais, fui ontem, apesar de não ser a aniversariante, surpreendida pelo António, pela Vitória e pelo Quico ( como ele se "arranja"para se auto denominar próximo de Frederico, tanta volta este nome exige na língua), por este "mimo" de que alguns se lembrarão, outros não...não faço ideia se se vendem nas pastelarias a peso, ou não....

Ele eram tremoços, ervilhas, bercinhos (sim porque estes são os bébés), passarinhos...sei lá!
Era o meu pai que me comprava na Suiça ou na Nacional, um cartuchinho com todos os tipos, a peso, e floria dessa forma a minha Páscoa...


O meu pai já cá não está há muito...mas a ternura e o amor vence eternidades!
Por isso me lembrei de compartilhar com vocês, algum do licor que estes bébés têm na barriguinha...porque no meu coração, o doce, o licor, a memória, a saudade e o "quentinho" que estas amêndoas pascais, tão mas tão especiais rechearam em plenitude!!






Anamar











                                                                           

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"UMA ESTRANHA EM MIM"

Como sabem, os mais atentos, não estou bem de saúde. Daí vai um passo para a a ausência de vontade de escrever, mais ainda a inspiração do que quer que seja, para lá de uma imperiosa vontade de estar na cama a dormir, quantas vezes profundamente , nove e meia, dez horas....o que tem acontecido com frequência.

Há duas noites, contudo, deparei-me com o início dum filme que já vira no cinema, e que achei tão empolgante, quanto nessa altura : "Uma estranha em mim", que intencionalmente dá nome a este post, com um desempenho magistral duma versátil Jodie Foster.

Aprontei-me p'ro ver desde o início (detesto quem faz "zapping" de programas, apanha bocados aqui, bocados ali, e fica feliz).Mas cada um é como cada qual e vive como quer.

É um trailer, bem concebido, bem conseguido, bem desempenhado, mas o que já na altura aqui comentei neste espaço, creio...não é nada disso, que me empolgou, mas a mensagem que o mesmo, com sabor amargo, nos deixa no fim, cuja veracidade, alguns de nós, infelizmente experimentamos...

E porque a estou a sentir com clara nitidez na pele, no corpo e na alma, desta vez pareceu fazer-me arder uma alma já chamuscada  : até que ponto um acidente traumático (e um acidente traumático pode sê-lo de muitas formas...), condiciona, determina, traz ao de cima, um outro "ALGUÉM" que, do banco dos suplentes, espreitava a altura de fazer substituições na equipa principal?....

Ao ler isto, até eu mesma me assusto...mas o que é um facto, é como é que as condicicionantes adversas de ventos e marés, conseguem trazer o pior (se calhar também o melhor) de um outro ser, um outro alguém, até talvez nosso desconhecido, estanho....um ser que nos leva a um encolher de ombros e nos diz ao ouvido"que se lixe! que importa!...o que é que isso interessa?!"

É um estranho dentro de nós, que nos leva ao mais impensável, ao mais censurável....como se fosse um ser, e é, em ser incógnito até de nós, anarquizante, castigador, humilhador, destruidor....como se  não importasse muito (e se calhar não, para o próprio), o certo, o correcto, o moralmente aceite, o valorativo....como se a frase "quanto pior, melhor....".......fosse a "cabeça" dessa entidade  abstacta mas mandante....

"Há várias formas de morrer....há que descobrir é uma forma de viver"....
Isso é dito no filme e é inteiramente verdade...
Eu não sei como se fica, se pior, se melhor....mas sim diferentes.
Aquela estranha  fará seguramente de nós, outras personagens, outras pessoas, outros indivíduos.... Jamais seremos os mesmos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"UMA MÃO CHEIA DE NADA..."

Sabem quando se olha para as mãos e se constata que se tem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma??
Sabem quando se sopesa a vida e se constata que não valeu muito a pena?
Sabem como, como a areia da praia que nos escoa "safadamente" pelo intervalo dos dedos, a nossa vida vivida assume o papel duma ampulheta, imparável, sem rolha que se lhe coloque, a piscar-nos os "olhinhos" com ar bem malandro e a dizer"não te afobes" porque isto pára mesmo a curto ou a mais longo prazo??!!
Sabem quando o ipê já está de novo a anunciar o Verão, ainda ontem o pinheiro piscava, piscava e dizia..."Jingle bells, jingle bells", e todos fazíamos de conta que éramos profundamente felizes, porque o António era um menino/homem, responsável e aplicado...a "estabanada" da Vitória não tinha mais dentes ou sobrancelhas para "costurar"e no fim do "pelotão" vinha aquele cara sem vergonha, mais para "Robim dos Bosques" ou "pinguço"?

Sabem quando já nos afogamos de episódios feitos memórias, quando acreditamos que se calhar valeu a pena....e nós a ficarmos ainda, mas a ver partir já tantos dos que nos cercaram?

E a vermos portas que rangem e já se vão irreversivelmente fechando?
E mais um domingo, perseguido logo logo, do sábado a seguir?
E sabem quando já perceberam que aquele dia, daquele mês só era um...e o sol, à nossa revelia a tombar para dormir lá ao fundo??!!
E haverá um dia, "esse será o primeiro" em que nada já diz nada a ninguém??!!
E o mar rebentará de mansinho numa areia que foi nossa, mas já não é o mesmo mar...e já não é a mesma areia??

E sabem aquele aniversário em que não houve outro remédio senão convidar o velho, e sentá-lo à cabeceira...sempre com olhos de serviço sobre ele...se se baba, se deixou tombar o guardanapo, se a carne está bem esmigalhada...porque afinal, aquele "estulpício" tinha que lá estar??!!
E na cabeceira da cama, ao lado da imagem de Fátima...mesmo para os ateus, a corte dos mortos, feitos urubus à espera, apenas à espera...e a lixar aquele filme de domingo, porque é dia de visita....e "lá terá que ser"??!!

Sabem....vocês sabem todos! Fazemos de conta que não!

"Olha eu aqui com vinte anos"....olha  quando peguei pela primeira vez no "embrulhinho" e já está na Faculdade...

Sabem...vocês sabem todos! Fazem é de conta que não!,,,

e  nós rodeados de arcas cheias, mas que bem podiam estar vazias, porque "o disco rígido" não é lá que está!!...
Olhem com atenção e muitas vezes para as vossas mãos, elas são apenas o suporte que o velho foi enchendo, enchendo, pôs nas costas e percebeu, como diz a Lena, que aquilo foi a sua VIDA!!...

Anamar

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"A CLAREZA DUMA FRASE"...


Sempre advoguei a eutanásia, nos humanos, nos animais...sempre que isso parecesse ser a última das últimas alternativas...e como sempre achei óbvio e fácil, determinar a fronteira entre o momento X e o momento Y, ou seja, o momento da vida e o momento da morte.!

Ontem, mercê duma frase que o meu médico me disse, percebi, quão difícil será determinar esse cliché em que se diz: "desliga a máquina"!...
A partir daqui, eu determino que este ser, deixou de existir "ad eternum", para mim...

Da conversa tida num consultório de psiquiatria, o médico, a certa altura disse-me: "deixe desligar a máquina! Esse luto tem que fazer-se...e para haver luto, tem que haver defunto...e para que haja defunto , tem que "desligar as máquinas"....
Desligue, ou deixe desligar as máquinas. Saia daquele quarto hospitalar, respire fundo e encare o sol cá fora, porque o seu breu, a sua chuva, o seu tempo pardo, dura há demasiado tempo...
Só há luto, se houver corpo, e só há corpo se a manutenção mais do que artificial duma vida, que se calhar nunca foi vida, foi invenção, foi criação sua, foi fantasia, cessar de durar, porque já existe há tempo demais...

E eu pensei : meu Deus, quantos dias, meses, anos, levará um pai a decidir, um marido a resolver, um simples caso dum animal (e eu tive recentemente essa experiência)...a mandar desligar as máquinas!!!...

Porque afinal, são aquelas máquinas que mantêm com valor ou sem, com interesse ou não, com finalidade ou não, aquele morto-vivo, vivo ou morto, no nosso espírito, no nosso coração, na nossa alma...ainda que no assunto em apreço, este "morto" esteja bem vivo, tenha querer, tenha desejos, tenha vontades, não esteja nun estado letárgico, de amiba feito homem...

Terei o direito de prender nas minhas mãos uma ave que sente os perfumes da Primavera lá fora?
Terei o poder de parar o mar livre a bater no rochedo, para todo o sempre?
Poderei manietar uma criança, num quarto, e deixá-la lá, esquecida?
Poderei prender correntes aos pés de quem já nasceu livre?...

Não devo ter...não posso ter...chega a ser criminoso...
É como queimar a seara que no pino do Verão, no meu Alentejo, aguarda para ser ceifada e dar pão!...
É como secar à míngua de água, aquela flor que já me iluminou os olhos de tanta beleza...
É como cortar as mãos que já me acariciaram e deram tanta paz...

Meu Deus!!...Tenho que desligar aquelas máquinas!!!!....

Anamar