sexta-feira, 2 de abril de 2010

"A CLAREZA DUMA FRASE"...


Sempre advoguei a eutanásia, nos humanos, nos animais...sempre que isso parecesse ser a última das últimas alternativas...e como sempre achei óbvio e fácil, determinar a fronteira entre o momento X e o momento Y, ou seja, o momento da vida e o momento da morte.!

Ontem, mercê duma frase que o meu médico me disse, percebi, quão difícil será determinar esse cliché em que se diz: "desliga a máquina"!...
A partir daqui, eu determino que este ser, deixou de existir "ad eternum", para mim...

Da conversa tida num consultório de psiquiatria, o médico, a certa altura disse-me: "deixe desligar a máquina! Esse luto tem que fazer-se...e para haver luto, tem que haver defunto...e para que haja defunto , tem que "desligar as máquinas"....
Desligue, ou deixe desligar as máquinas. Saia daquele quarto hospitalar, respire fundo e encare o sol cá fora, porque o seu breu, a sua chuva, o seu tempo pardo, dura há demasiado tempo...
Só há luto, se houver corpo, e só há corpo se a manutenção mais do que artificial duma vida, que se calhar nunca foi vida, foi invenção, foi criação sua, foi fantasia, cessar de durar, porque já existe há tempo demais...

E eu pensei : meu Deus, quantos dias, meses, anos, levará um pai a decidir, um marido a resolver, um simples caso dum animal (e eu tive recentemente essa experiência)...a mandar desligar as máquinas!!!...

Porque afinal, são aquelas máquinas que mantêm com valor ou sem, com interesse ou não, com finalidade ou não, aquele morto-vivo, vivo ou morto, no nosso espírito, no nosso coração, na nossa alma...ainda que no assunto em apreço, este "morto" esteja bem vivo, tenha querer, tenha desejos, tenha vontades, não esteja nun estado letárgico, de amiba feito homem...

Terei o direito de prender nas minhas mãos uma ave que sente os perfumes da Primavera lá fora?
Terei o poder de parar o mar livre a bater no rochedo, para todo o sempre?
Poderei manietar uma criança, num quarto, e deixá-la lá, esquecida?
Poderei prender correntes aos pés de quem já nasceu livre?...

Não devo ter...não posso ter...chega a ser criminoso...
É como queimar a seara que no pino do Verão, no meu Alentejo, aguarda para ser ceifada e dar pão!...
É como secar à míngua de água, aquela flor que já me iluminou os olhos de tanta beleza...
É como cortar as mãos que já me acariciaram e deram tanta paz...

Meu Deus!!...Tenho que desligar aquelas máquinas!!!!....

Anamar

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