quinta-feira, 7 de setembro de 2017

" NO DESACERTO DO PASSO ... "






Quando a Vida custa a acertar-se, é um cansaço atroz !
Quando os volteios  com que nos enrola, por cada dia que amanhece, se estendem temporalmente numa espécie de teste de resistência a cada um, numa repetição aparentemente sem fim ... aí, a resiliência pessoal  é mesmo a única coisa que pode ajudar-nos.
E esse grau de adaptação à realidade resiste enquanto resiste, enquanto a saúde deixa e a esperança não esmorece.  Enquanto ainda temos força no nosso íntimo ...
Mas é uma prova de fogo que exige uma "endurance"  de atleta de alta competição, que nem sempre ( ou quase nunca ), temos capacidade de alcançar, menos ainda de manter.
É um equilíbrio laborioso, alcançado a duras penas e com juros demasiado elevados.
Sobretudo quando os dias vão e vão e vão, esticando no tempo e na vida, os túneis se obscurecem, os horizontes se vão afastando cada vez para mais longe de nós ... num simulacro de meta a que nunca se irá chegar ...

E quando as pegadas  deixadas são demasiados e intermináveis rastos que se desenham em simultâneo nos areais da nossa existência, num desafio monstruoso e desproporcionado, abate-se então uma canseira que nos retira a capacidade até mesmo de viver, até mesmo de sobreviver ... até mesmo de nos erguermos sobre as nossas pernas por cada manhã, simplesmente !
São sucessivos e nunca desistentes reacendimentos, em frentes de fogo incontroláveis !

E apetece hibernar.  Apetece esconder a cabeça sob uma qualquer carapaça, na esperança de uma protecção providencial que abençoadamente nos subtraísse ao desafio de viver, à obrigação de resistir, à necessidade elementar de caminhar.
Apetece buscar um lugar anódino ... um refúgio a salvo ...
Manter o equilíbrio no desacerto instituído ... é urgente !

Estou assim, nesse "modo" alforreca, como uma amiga em tempos classificava este estádio letárgico e quase indiferente já.
Uma espécie de opção por silêncio, uma espécie de recolhimento auto-imposto, uma espécie de sono ansiado de uma sonolência abnegada ... misericordioso e comiserador ... uma espécie de escolha da paz do recolhimento de claustro de abadia ...
Queria que se esquecessem de mim.
Queria poder retirar-me para uma qualquer ilha  inóspita, perdida por aí ... como o protagonista do último romance que terminei de ler .
Queria habitar um farol sozinho e abandonado, sobranceiro  aos  rochedos, adormecido pelas ondas alterosas, ameaçado pelos ventos agrestes que empurram as gaivotas e despenteiam os arvoredos ...
Queria deixar-me possuir anónima, pelo encantamento melífluo de um lugar de paz, como se nada existisse à minha volta e eu não existisse também, numa anestesia ou torpor !

Para finalmente, nele poder repousar ...
Estou tão cansada !...

Anamar

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