Estou a ler um livro muito interessante, uma biografia do Professor Doutor Sobrinho Simões, da autoria de Luís Osório, um jornalista, um comunicador radiofónico, mas sobretudo um cronista de referência, um escritor cuja escrita aprecio particularmente.
O livro divide-se em capítulos com abordagens distintas sobre a vida desta figura pública, médico conceituado da cidade do Porto, e foi escrito ao longo de largas e demoradas conversas com o Professor.
Sobrinho Simões, filho, neto e bisneto de médicos, com uma irmã e dois filhos igualmente médicos, figura incontornável na área da oncologia, em particular da tiróide, e que aceitou falar de si, do seu percurso, das suas aspirações, dos seus medos, das suas dúvidas e certezas.
Com setenta e oito anos, está obviamente jubilado, foi anatomopatologista, especializado em diagnóstico e investigação em doenças oncológicas, foi catedrático de Anatomia Patológica na Faculdade de Medicina do Porto, fez um pós-doutoramento no Instituto de Cancro da Noruega, em Oslo, entre outros caminhos que perseguiu ao longo da vida, com brilhantismo, genialidade e maestria.
Este livro intitula-se "A última lição de Manuel Sobrinho Simões".
Do que já li, sinto-o um homem muito "gente", com as angústias, as inseguranças, os medos mas também a determinação e a busca incessante de respostas assertivas, de soluções fundamentadas, de rotas sustentadas numa busca interminável de soluções.
A vida, mas também a morte, povoam-lhe o quotidiano. A certeza de que "nunca houve um animal tão eficiente e simultaneamente tão desgraçado quanto o Homem", convive com a sua realidade. "Tem medo de animais e adora plantas porque "não chateiam", não se relaciona com Deus mas é quase crente, tem mais medo do cancro do que de outras doenças ... receia o sofrimento e a solidão ... tem medo de tudo , admite".
Define como sentido para a vida , " genes, ambiente e sorte, mais nada " !...
Fala no elitismo absurdo incentivado, clivando distanciamentos entre médicos e enfermeiros, e da falta de proximidade de médicos formados com notas teoricamente imbatíveis, mas em que a humanização imprescindível e indispensável do toque para com o paciente, é praticamente inexistente, é um "non sense" intolerável e inaceitável, numa sociedade cada vez mais desumanizada e indiferente.
Fala de tantas coisas que nos passam também pela cabeça...
É uma personagem intrinsecamente humilde, como sempre o são os grandes Homens. É um homem de partilha do saber, da criação de pontes, de trabalho de equipa, sempre incentivando os benefícios do trabalho grupal na esfera do conhecimento. Um afrontador do individualismo, da competição no que ela possa ter de mais negativo e um feroz defensor da dialéctica, da partilha de conhecimento, da profundidade analítica na corrida pela solução de um dos maiores monstros em termos de saúde que o ser humano encara, nos tempos actuais : o cancro !!!
Neste momento, embora não tenha a menor formação científica nessa área, embora seja mera espectadora da realidade social vivida na esfera da saúde, tento, como simples aprendiz, perceber como, nos dias de hoje, além de todo o conhecimento e especialização, além de todo o desenvolvimento tecnológico que é uma ferramenta privilegiada ao serviço dos especialistas, além de todas as armas impensáveis de que dispõem, é ... foram e serão indubitavelmente todo o trabalho e dedicação como foco de vida em prol do ser humano, os únicos capazes de forjar os grandes "arquitectos" e os grandes ícones que ficarão para sempre na história da Humanidade !
Anamar
1 comentário:
Muito bem, voltaste a escrever, bom sinal.
Bonito e rasgado elogio de um cientista.
Boa leitura
Jonas
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