Jorge Mario Bergoglio ( Buenos Aires ) - 1936 - 2025
O homem que quis ser médico de um hospital de campanha, foi o primeiro Papa oriundo da América Latina e consequentemente do Hemisfério Sul, jesuíta, que adoptou o nome Francisco, aquando da sua escolha para figura máxima na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, e cujo pontificado ocorreu entre 2013 e 2025.
Não sou católica... serei cristã já que em menina fui baptizada nos preceitos, já não sou crente ... ( disso se encarregou a Vida ).
Liguei o telemóvel e as notícias eram claras. Apesar de já há razoável tempo Francisco estar profundamente debilitado, depois de um longo internamento motivado por uma pneumonia dupla que colocou em sérios riscos a sua vida, havia tido alta e apesar da sua fragilidade física, regressou a casa.
Fui acompanhando a evolução da sua saúde.
Ontem, Domingo de Páscoa, vi-o pelas televisões, a dar a bênção Urbi et Orbi, saudando e abençoando os peregrinos da Praça de S. Pedro, a cidade e o Mundo, num abraço que agora me surpreende ... quase lembrando um qualquer e talvez inexplicável sinal ...
A sua voz sumida, claudicante, atraiçoava-o, tendo sido o Mestre de Cerimónias quem leu, depois da Santa Missa presidida pelo Cardeal Angelo Comastri, a mensagem escrita pelo próprio Pontífice, e que derradeiramente, uma vez mais apelava à paz, ao desarmamento, à canalização dos recursos disponíveis para ajudar os necessitados, ao combate da fome e ao incentivo do desenvolvimento, na construção do futuro, ao invés da loucura humana "espalhar a morte entre civis indefesos, que não são alvos, mas pessoas com alma e dignidade".
E que sejam libertados os prisioneiros de guerra e os presos políticos !"... suplicava.
Francisco, o Papa que assim se intitulou em homenagem a S.Francisco de Assis, que sempre adoptou a pobreza em detrimento do fausto e do luxo, foi um homem absolutamente ímpar e carismático na Igreja de Roma. Inesquecível, seguramente.
A voz dos calados e dos silenciados, defensor de todos os homens perante a injustiça, a violência e a incompreensão, independentemente dos seus credos ( o que lhe angariou inimizades dentro da hierarquia a que pertencia ), o homem do diálogo e das pontes, talvez o mais político de todos os Chefes de Estado contemporâneos do Vaticano, morreu na madrugada desta segunda feira, 21 de Abril de 2025.
Não sou católica, como afirmei. No entanto, tenho que reiterar aqui a admiração, o fascínio, a gratidão até, que aprendi a nutrir mais e mais, ao longo destes seus anos de pontificado, por toda a prestação, coragem, frontalidade, sabedoria, generosidade, abnegação, tolerância, exemplo, que sem arredar pé, sempre moveram as suas posições, dando a cara, envolvendo-se, nunca se furtando a meter a mão no "vespeiro", que não ignoramos, o rodeava.
Francisco, o homem que amava as crianças e norteava os jovens ...
Tudo o que possa dizer-se sobre ele, já foi exaustivamente dito, é do domínio público ... é recorrente .
Desde a guerra da Ucrânia, a guerra no Médio Oriente, as guerras em África, desde as questões da política europeia para os refugiados, do controle da imigração, o repúdio pela construção do muro entre os Estados Unidos e o México, as questões relacionadas com as alterações climáticas ... a condenação do abuso de menores no seio da Igreja, a aproximação a outros credos fora do quadro apostólico romano, ( como a Igreja Ortodoxa ( "Deus não pertence a nenhum povo " ), bem como a sua bondade e humanidade na abordagem das relações homossexuais ( "Se alguém é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo ?" ). A integração e não a marginalização, é o caminho para estas questões.
A "purga" feita no Opus Dei ( o que o colocou em risco objectivo, face ao ódio desencadeado na instituição ), bem como a defesa de uma Igreja mais austera que servisse os necessitados, uma Igreja pobre e frugal, que sirva os pobres, de acordo com os valores franciscanos, Francisco partiu pedindo apenas para "ser lembrado com ternura" ...
Certamente, mesmo que o não pedisse, este Papa único na História da Igreja Católica Apostólica Romana, ficará para todo o sempre na memória de crentes e não crentes.
Receio que ele, que diz de si próprio ser apenas "um passo ... e que a Igreja seguirá em frente ", não se tenha enganado, e que muito daquilo por que lutou e se empenhou, não seja engolido pelos interesses, conservadorismo e ortodoxia das correntes mais estagnadas e imobilistas da Igreja Católica !
Hoje é um dia triste. Triste, porque todos ficámos mais pobres e desamparados, talvez menos esperançosos e sonhadores ...
Anamar
1 comentário:
Muito bem !
Jonas
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