sábado, 28 de fevereiro de 2009

"QUANDO A VIDA AINDA É UM ETERNO CARNAVAL"


Um Carnaval mais que se foi...felizmente!

Desde menina, nunca foi época que se me "quadrasse"; eu, que tento resistir a tudo aquilo que socialmente o calendário determina, imaginem agora, ter de me divertir, ter de rir, ter de "macaquear", ter de fazer de conta que estou incontidamente feliz...só porque o famigerado Fevereiro, normalmente indica que é Entrudo!!

Em pequena, era aquela coisa chata de ter que me mascarar como mandava o "figurino" da época, de espanhola, de camponesa, e penso que de nada mais, por serem estes os disfarces que a minha madrinha detinha, e ela era a única fonte providenciadora dos ditos.
Pertencendo a uma família abastada, a mãe fizera-lhe estas indumentárias a preceito, no tempo em que, nestas famílias , vinha semanalmente a casa uma costureira.

Alugarem-se fatos, como depois se vulgarizou, ainda não era costume, e de qualquer modo, o dinheiro que havia, também não era para estes desperdícios.
Assim, apanhei um enjoo de sevilhana e de camponesa, o que me tornava drasticamente mais fastidiosa, a quadra.
Depois, havia também aquela timidez terrível, que sempre me levou a desejar que ninguém desse por mim; e nesses dias, ser eu a forçar a atenção dos demais...era "dose"!!...
Por isso, as "cinzas" da 4ª feira, eram um alívio para o "coração", da menina das tranças que então eu era.

Anos mais tarde, com filhas a "invencionar" fatiotas e cabeleiras, penteados e maquilhagens, quer incentivadas pela escola, quer saídas daquelas "mentes brilhantes"...o "terror" lá voltava de novo...
Maquilhar, desmaquilhar, pentear com palha de aço e tudo (na esperança de que a "peineta" de sevilhana se aguentasse naquele "pelo de rato" dos seis, sete anos...) uma tremenda chatice!...

As mesmas reclamações, por os fatos da madrinha velha, com cheiro a naftalina, darem à luz...sempre os mesmos, claro, se bem lembro, com a nova hipótese de "fada"...
Os corsos também sempre os mesmos, os "gigantones" e "cabeçudos" cada vez mais apalermados (nas rábulas cansadas de repetidas), as pseudo-brincadeiras cada vez mais estúpidas, as portuguesinhas de trazer por casa a acreditarem-se cariocas em Sapucaí (no "descascanço" e no saracotear da "bunda boa", que acreditavam ter, pelo menos nos três milagrosos dias, em lugar do rabiosque de sempre...)
Enfim, a lixarada dos papelinhos e das serpentinas, as "línguas das sogras" nos nossos tímpanos, a água inconveniente das bisnagas, toda aquela "poluição" visual e sonora, numa ausência de graça ou piada confrangedora, simplesmente porque graça e piada, são coisas que nem por "alma da santa" se conseguem, se não saírem espontâneamente de dentro para fora, mesmo dos mais foliões!!...



Depois disto, para mim, o Carnaval implodiu no calendário...

Hoje, pasmo ao ver os pequeninos (vivendo paredes meias com as lojas dos chinocas, sortudos que são), a mascararem-se das figuras mais impensáveis do imaginário infantil, diferentes todos os Carnavais, sem a naftalina do baú da madrinha velha a empestear os narizes, desinibidos e brincalhões ainda, nos seus dois, quatro e sete anos...felizes que só eles...acreditando se calhar, que a Vida lhes será sempre um eterno Carnaval!!...



Anamar

Sem comentários: