terça-feira, 2 de novembro de 2010

"DIA DE FINADOS"

O dia de hoje é um dia de recolhimento, obviamente decretado pela hipocrisia social, explorado pela hipocrisia  religiosa : o dia dos fiéis defuntos....
E os que forem defuntos mas não tenham sido fiéis?....pergunto-me....
Claro que não há resposta p'ra isto.
Dia de finados, que como o nome indica se dirige a quem se finou, terminou a sua odisseia por aqui, e por isso, para quem os amou, todos os dias serão os seus dias...não é necessário calendário!

Mas ao contrário de um dia de reflexão, de balanço, de análise, até de nos projectarmos que um dia também nos tocará a nós, os cemitérios viram romaria, confusão, compadrio, "quadrilhice" muitas vezes.

Ontem, numa reportagem a propósito passada num telejornal, uma senhora dizia ser muito bonito todo aquele aparato....o colorido das flores, o vai-vém dos visitantes, a conversação que nem sequer guarda silêncio ou discreção...
Como é possível? Perguntava-me uma vez mais.

Mas o máximo a que já assisti até hoje, e juro que se eu própria o não constatasse o não acreditaria, foi a atitude tomada por um casal da Beira Alta, que, vivos os dois, compraram um lugar no cemitério da terra, gravaram os respectivos nomes com letras douradas, na campa em pedra mármore que mandaram fazer, e no dia de hoje, anos a fio, lá iam no "rebanho," lavar e limpar a dita campa, aproveitando, como por lá fazem, a passar o dia sentados na mesma, conversando com este mundo e o outro.

E isto repetiu-se ano após ano....uma campa devoluta, sem fiéis defuntos, tratada antecipadamente como apartamento de luxo!!!

Já lá vão muitos anos....e hoje, não sei se há familiares que os substituam, visto que ambos já desceram à "sub-cave"....

Também li no jornal, coisa que ignorava, serem as margaridas as flores associadas ao dia, por serem singelas, modestas, brancas....o que faz delas, pelo despojamento na pureza da cor, flores de despedida...
Isso, faz-me algum sentido pelo despretensioso que em si encerram!

Anamar

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