quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

NAS HORAS DOS SILÊNCIOS ... "BE"




O caminho de se ser, é ínvio, pedregoso, dissimulado na beleza da "paisagem" ...
O Homem percorre-o tacteando, colocando com prudência um pé depois do outro, de mansinho, devagarzinho, apalpando, perscrutando ... sentindo cada pedra do caminho, receando cada volta de estrada, cada neblina que se abate na floresta, tomando a medida exacta de cada curva e de cada precipício ...

A gente cresce, esfola os joelhos, perde o sono na dúvida do destino, entontece de rodar em rotundas sem saídas satisfatórias ...
Erra de estrada vezes sem conta, sofre complexidades, magoa-se, desajusta-se à roupagem que carrega.
Avança e recua. Engana e corrige ... ou não ...
E se não ... volta tudo ao princípio.

E continua, calcorreando o que se lhe desenrola, ajoujado ao carrego ...
E interroga-se, e castiga-se, quase se flagela às vezes, e quer desistir, para logo depois se levantar e inevitavelmente seguir ... num esforço continuado de sobrevivência ...

O caminho de se ser, vai-se conquistando dia a dia, vai-se descobrindo hora a hora, vai-se percebendo hoje, para se saber amanhã ...
Jornada lenta, cuidadosa, avisada, na busca do lugar, do nosso sítio, do nosso chão ...

E por cada queda, e por cada vez que se vai ao tapete, novo ânimo é necessário reunir para nos reerguermos e continuarmos.
A aprendizagem vai-se fazendo, adquire-se um "know-how" fundamental, uma segurança maior, um esclarecimento sabedor que nos transmite uma paz e uma tranquilidade nas escolhas, e uma assertividade nas nossas decisões.
Passamos a usar a lucidez e a serenidade possíveis, frente às dificuldades.  Procuramos ajustar as posturas, procuramos dimensionar as respostas, procuramos relativizar as ansiedades.
Doseamos, ou tentamos dosear as emoções, discernindo o que queremos, mas definindo claramente o que não queremos, face à vida.
Desdramatizamos, porque o certo e o errado, passam a ter uma medida humana .
Analisamos, mas julgamos menos.
Afobamo-nos com conta peso e medida, deixando que as pulsações acelerem, só por boas e justas causas ...
Importamo-nos menos.
De repente, o estatuto que atingimos confere-nos um ritmo apropriado, e as vivências saboreiam-se, usufruem-se, deleitam-nos ... sem pressas.

E sentimos o gosto de viver.
E deliciamo-nos outra vez, com as cores dos dias.
Ao mesmo tempo, adquirimos uma imunidade muito própria aos dislates de alguns.  Sorrimos com bonomia, às maldades do mundo.  Aceitamos finalmente, as tréguas que o caminho de se ser, nos prodigaliza !...

Retomamos o gosto das pequenas coisas :  sorvemos de novo, o prazer simples de um dia de sol ou de um dia de chuva...  O calor de uma lareira que crepita, nas horas dos silêncios ...  O eco da serra nos caminhos incógnitos ... A melopeia sonolenta do mar,  em dias de calmaria ... ou o seu bramido imperativo, em dias de tempestade ...
Gostamos de uma boa conversa. Mas amamos igualmente o silêncio que nos reencontra, nos nossos corações ...
Reaprendemos o gosto da romã ... o cheiro da roseira brava ...

E simplesmente vivemos ... Vivemos, inspirando até ao âmago, este enamoramento generoso que a vida nos permite, com a maturidade dos anos, com a tolerância sábia, aprendida  na  canseira do que ficou para trás ... com a esperança alvoroçada do que virá adiante ...

Porque o caminho de se ser, faz-se, como qualquer caminho ... Simplesmente ... CAMINHANDO !...


Anamar

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