Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

sexta-feira, 1 de abril de 2016
" AS NOSSAS ESTAÇÕES "
Os primeiros farrapos verdes já assomam nas árvores e arbustos, com a doçura deste sol fraco da Primavera recém chegada.
Olhando de longe, ainda parecem despidos, com os ramos aparentemente nus, contra o céu, em contraste. Mas olhando melhor, lá estão os brotos verdes, tenros e viçosos, promissores de cabeleira farta que se irá compor .
Mais um ciclo de vida a recomeçar, depois da sonolência do Inverno ...
Este renascimento que sempre acontece ano após ano, quando a Primavera ladeando a Páscoa promete a tal renovação da Natureza e do Homem, patenteia-se no mundo que nos rodeia e no coração do próprio ser humano.
Este, eclode de um período sonolento, entorpecedor e escuro de um Inverno que nos hiberna, que nos introverte e de alguma forma, nos recolhe.
Foi um tempo de portas fechadas, de intimismo, de regresso, de reflexão e de silêncio ...
E depois, a explosão prometida anuncia-se, e há um deslumbramento generoso e excessivo, no mundo à nossa volta.
As cores, os cheiros, os sons, a magnanimidade de tudo denuncia-se, mostra-se ... dá-se ...
Caminho pela mata, silenciosa e contidamente.
Maravilho os olhos, os ouvidos, o nariz, com a gratuidade da oferta em torno de mim.
A vida explode com a pujança de alma nova, com a irreverência de toda a juventude, com a força indomável das seivas revigoradas ... com o despudor de seios entumescidos ...
O "sangue" novo lateja, irrequieto e imparável. A escorrência da perenidade exibe-se, cumprindo desígnios ...
Pensava para comigo : todo o ano o ciclo se repete ! A Natureza se concede uma nova chance. A vida "emenda a mão". A perfeição emerge do nada para a luz ... O caos e a ordem coexistem, na composição da realidade ... E a realidade se faz em milagre !...
Todo o ano, a árvore adormece, dorme e acorda.
Todo o ano se despe, para se engalanar outra vez, mais ricamente, se possível .
Todo o ano floresce, pomposa, frutifica, lança sementes na garantia da continuidade ...
Todo o ano atravessa Primaveras, Verões, Outonos e Invernos ... E recomeça, para voltar a atravessar mais ciclos de vida ... muitas e muitas vezes ainda ...
Não precisa ficar saudosa da Primavera que partiu. Voltará uma outra, no próximo ano ...
O Homem não !
O Homem dispõe de uma única oportunidade.
O Homem usufrui de uma única vida, onde esgota sem retorno, todas as estações da existência.
E sempre sabe que a ordem que as sucede, jamais é subvertida. E sempre sabe que esgotados os seus tempos, a inevitabilidade do mesmo, lhe impõe, sem volta, a que se segue.
E que a que partiu, partiu para sempre ...
O Homem sabe que tem ao seu dispor, um único ciclo ... e não mais.
Finda a sua Primavera, jamais "farrapos verdes" lhe brotarão de novo, no coração e na alma.
Jamais novos pássaros saltitarão nos seus galhos enfeitados. Jamais novos ninhos habitarão as suas ramagens frescas. As flores fenecidas não poderão eclodir outra vez, e os frutos maturados no pé, foram-no uma só vez na vida ...
Um ano ... um só ano nos é dispensado !...
Penso que tomamos consciência disso, frequentemente tarde de mais.
Penso que reflectimos pouco, a propósito. Penso que esgotamos mal a vivência de cada "estação"...
Deveríamos sorvê-la à exaustão ... sabendo-a única ...
Deveríamos extasiar-nos sabendo-nos vivos, a atravessá-la ...
Deveríamos colher todas as braçadas de flores frescas, com que a Primavera nos prestigia ... todas as espigas das searas loiras dos nossos Verões ... todas as frutas maduras dos Outonos doces e pródigos ... e toda a serenidade e paz dos rigores dos Invernos destinados ...
Mas quase nunca o fazemos !... Quase sempre o esquecemos !...
Anamar
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