segunda-feira, 11 de julho de 2016

" O SONHO COMANDA A VIDA "




O país deitou de verde e vermelho ... amanheceu de verde e vermelho ... aliás, eu nem sei se houve noite !

Esqueceram-se as dores, esqueceram-se as mágoas, os anseios, as dúvidas e as incertezas ...
O país abriu um parêntesis, e suspendeu-se por um tempo.
Este, o sortilégio do futebol !...
Ou melhor ... este o sortilégio da concretização de um sonho sonhado, que parecia inalcançável, e afinal, o não foi !
E era um sonho tão imenso, tão acarinhado nos nossos corações, que teve a dimensão do seu tamanho ... ou seja ... infinito !

As pessoas mobilizaram-se em redor da nossa esperança.  As pessoas uniram-se em torno do que merecíamos.  As pessoas reacreditaram, como se reacredita em causas nobres ... aquelas que o coração alberga ...
Parecia legítimo que um pequeno rectângulo aqui esquecido nesta Europa de Deus,  uma pequena terra engenhosamente tratada como enteada dos privilegiados ... um pequeno país, ardilosamente segregado pelos donos de tudo ... parecia justo, dizia, que erguesse a cabeça, se mostrasse ao mundo, com a cara e a coragem de quem lhe deu a História!
E Portugal, com a humildade que nos talhou, com a força e a determinação de quem nos forjou e com a coragem e a fé do sangue que indistintamente nos corre nas veias, acreditou, perseverou, alcançou !
Lutou, agigantou-se e valorizou-se, sem baixar a cabeça e sem se acobardar, frente ao favoritismo dos que são favoritos, só porque o são, mesmo que o mérito lhes possa não corresponder.

E mostrando uma vez mais que querer é poder e que um sonho que se sonha junto, vai muito além da força do simples crer, fomos adiante e cumprimos uma vez mais, o destino !
E a História voltou a fazer-se com a mesma tenacidade, arrostando marés adversas, ventos de temporal, e tocaias plantadas no caminho...

E hoje, as ruas, as praças, os viadutos, as pontes, tudo quanto era uma nesguinha de chão, um pedacinho de terra, o topo de uma estátua ... ao sol ou à sombra, sentados, ou em pé, horas perdidas desde a madrugada ... havia um português presente de corpo e alma, agradecido àquela gente que deu o suor, o esforço, e o sangue por uma causa que cresceu, que avassalou, que unificou, que varreu e que se tornou a onda gigante e incontrolável de nos sabermos felizes !

A onda que fez de cada um de nós, amigo do desconhecido ao nosso lado...
Que nos fez rir do nada, que nos tornou crianças irreverentes nos saltos e nos gritos, que nos uniu nos cânticos, nos slogans, no Hino ...
A mesma onda que foi uníssono no Brasil, em Timor, em Cabo Verde, em Angola ... em todos os países onde as nossas raízes nunca deixaram de dar flores e frutos ... nas bocas de todos os emigrantes que ponteiam o mundo de pedacinhos de Portugal ...
A onda que nos envolveu na bandeira da nossa vontade ...
A onda que nos prendeu uns aos outros com os cachecóis do nosso contentamento, que nos pintou e iluminou com as mesmas cores ... o verde, o vermelho e o amarelo dos nossos castelos, uma vez mais inexpugnáveis!...

E este pequeno país periférico, este sul de uma Europa chauvinista e xenófoba, este nosso torrão natal ... "lá bas", para uma França que teve que nos engolir ... mostrou de novo a sua raça, acordou de novo os seus brios, fez da dor uma força sem tamanho ... e encheu-nos  os corações, com uma alegria sem medida !
E Portugal fez-se presente na Europa, fez-se Gente no mundo, fez-se desígnio do destino !

Não vou acrescentar mais nada a tanto quanto tem sido dito, contado, falado, dissecado .  Todos vivemos tudo, bem de perto.  Todos sabemos exactamente de tudo.  Todos sofremos, rimos, chorámos, barafustámos, apoiámos os nossos putos !

Eu, fico com uma dívida de gratidão acrescida, a esta vitória :  a minha mãe que caminha para os 96 anos, viveu um dos dias mais felizes da sua vida.
E ela que com grandes períodos conturbados de demência, atravessa agora um privilegiado tempo de alguma acalmia mental, diz-me que já pode morrer em paz ... e não importa que daqui a quatro anos já não possa assistir ao novo Campeonato, já que este lhe deixou o coração pleno de felicidade !...

Anamar

Sem comentários: