segunda-feira, 23 de julho de 2018

" NÃO ADIANTA ... "



A gente adona-se dos lugares, de acordo com o que neles vive.
Sempre digo "a minha casa", "a minha rua", "a minha janela" ... mas também digo "o meu mar", "a minha serra", "as minhas praias", "a minha gaivota" ... "os meus horizontes" ... só porque eles são "aqueles" que têm história minha.
Minha, do princípio ao fim.  Mesmo que já não tenham.  Estão lá, mais ou menos intocados, vertendo momentos pelos poros.
Afinal, tudo passa por emoções.  Emoções reais que vêm do domínio da pele, dos olhos, do coração ... e se fixam como numa película, na mente, para toda a vida.

E é só isto.  Simplesmente isto ... não mais !

O que verdadeiramente não foi emocionalmente nosso, nunca se tornará nossa propriedade de afecto.
Poderá ser excelente, extraordinário, maravilhoso.  Mas não "nosso" !

As emoções sufocantes, as vivências de tirar fôlego, os "coups de foudre" que nos cegam o discernimento, nos aceleram o coração e nos emudecem a voz, acontecem apenas algumas vezes na vida.  Vivem-se apenas em momentos predestinados.  Mágicos.  Privilegiados.
E esses momentos são aqueles que fixam os "nossos lugares" em nós.  Para sempre !
São códigos emocionais inalienáveis e intransmissíveis.
E são poucos.  Apenas alguns.  Contudo indeléveis, eternos, incomparáveis ... insubstituíveis !

E nada disto se explica.
Como quase tudo o que pertence ao domínio do subconsciente, do sentido, do vivido na alma, não adianta tentar alterar, ou acreditar que será diferente.

Passei por muitos sítios ao longo dos tempos.  Como seguramente toda a gente.
Pisei muito chão, olhei muito mar, escutei muitos pássaros.  Deslumbrei-me com nasceres e pores de sol, sorvi todos os cheiros possíveis, bebi todas as cores de todas as flores que estavam lá e mais aquelas que eu inventei.  Perdi-me na luz mansa do horizonte e embalei-me na aragem cálida perpassante.  Vi a transparência das águas, reflectida em olhos meus e guardei silêncios de palavras não ditas, porque não era preciso ...
Toquei pele, mergulhei em corpos escaldantes, rebolei-me na areia quente do destino ou sombreei-me na mata tão inexpugnável quanto a minha alma ...
E tudo isso foi vida.  Ou melhor ... apenas isso é que foi Vida !!!...

A gente adona-se dos lugares, como se adona dos momentos, das memórias, dos retalhos de tempo que conseguimos guardar.  Apenas quando, e só, o coração o determina !
Tudo o mais são parcelas de história, que tentamos rechear como a vida se nos oferece, que tentamos escrever o mais harmoniosamente que podemos ... quando podemos ...
Contudo, nunca com a singularidade do irrepetível, do único ... do verdadeiramente nosso ... do tactuado para sempre !!!

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Anamar,
Deixe dizer que apreciei.
Affonso