Mais um Novembro no calendário.
Nasci nele e no entanto é um mês que me atormenta um pouco. Transmite-me um misto de emoções difíceis de descrever. Vira-me p'ra dentro de mim mesma, recolhe-me às cinco da tarde, como o dia que se encerra ...
E fala-me, fala-me de tempo e de passados. Que coisa chata !
Novembro tem datas e memórias que saltam da profundidade do existir e escarafuncham-me a alma. Ainda que eu não queira.
Plantam-se-me na cabeceira como um vaso de cardos a atormentarem-me o sono.
Como uma mosca impertinente e invasiva, Novembro não respeita o aqui e o agora. Sendo que o aqui e o agora é o que vem depois do existir, em tempos que foram meus ...
Agora tudo parece demasiado impessoal e distante ...
Há escorrências do coração que não se estancam. E quando nos pensamos apaziguados ... não é nada disso.
Novembro tem datas demais !
Novembro tem as saudades que tombam, tantas como as folhas do Outono que o aninham ...
E vou embora. De novo vou buscar lá fora, longe das rotinas das coisas e das pessoas, num anonimato ou clandestinidade cómodos, uma tranquilidade e um distanciamento que os lugares e as memórias me não permitem por aqui.
Esta demarcação temporal dos anos, neste corrupio vertiginoso sem parança, lembra-me a cada momento da efemeridade da condição humana. A celeridade com que os meses nos desfilam no calendário, a precariedade de certezas e seguranças, fazem-nos sentir a cada momento, com uma fragilidade sem tamanho, como se caminhássemos em arame sem rede protectora.
E a passagem dos anos, e as limitações que acarretam em termos de saúde física e mental, consciencializam-nos para a certeza de que os prazos de validade se nos escoam por entre os dedos, e de que estamos mesmo a cumprir simplesmente um ritual de passagem ...
Vou p'ra outro mundo, outras civilizações, outras gentes e outros costumes. Vou lá para os lados onde o sol nasce, onde os cheiros dos trópicos e o calor de dias com outras cores, nos afagam a alma.
Vou para uma terra com palavras que não conheço, com sabores que desconheço e com um desapego e uma espiritualidade que sempre me tocam.
Vou buscar silêncios ... talvez. Vou buscar ecos nesses silêncios. Vou ao encontro da genuinidade dentro da simplicidade.
Vou recarregar a alma, no conforto do reencontro comigo mesma, imergindo em multidões de seres.
Vou olhar as cores, beber a brisa adocicada das terras quentes, afundar a alma no azul transparente de águas mansas e escutar os sons.
Vou ... porque há tanto mundo a conhecer por aí ... e eu só tenho uma vida. Uma vida curta, mas uma ânsia desmedida !...
Vou ... talvez simplesmente, em busca de mim mesma !...
Anamar
Sem comentários:
Enviar um comentário