domingo, 15 de novembro de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - " never ending story ... "



Cheguei a acreditar que não escreveria mais sob este título, porque cheguei a acreditar que ao fim de nove sofridos meses talvez o pesadelo já tivesse passado... 

Erro meu, ou melhor, ingenuidade minha !
Aqui estamos nós num novo estado de emergência, aqui estamos nós confinados das 13 h de sábado às 5 de domingo e das 13 de domingo às 5 de segunda, ( vigorando particularmente neste e no próximo fim de semana ), não falando nas restrições ordinárias de limitação, impostas diariamente entre as 23 h e as 5 da manhã, em todos os dias da semana.
Trata-se duma medida em desespero de causa, imposta pelo executivo deste país, na tentativa de estancar um pouco o avanço galopante e descontrolado da pandemia.
As notícias diárias são assustadoras, com um aumento exponencial de novas infecções, de óbitos e de doentes em cuidados intensivos.
O Serviço Nacional de Saúde a rebentar pelas costuras, periga na capacidade de resposta, com hospitais de referência já totalmente lotados nas valências de que dispunham, com doentes a serem removidos no país de norte para sul, com camas dos privados a terem que ser disponibilizadas e com doentes de outras patologias a ficarem na cauda do pelotão ... 
Tudo isto dramaticamente acrescido de baixas significativas no número de profissionais de saúde, por também eles terem sido apanhados na avalanche dos contágios, e bem assim no redemoinho do stress de horas e horas, turnos e turnos mergulhados nas agruras da incerteza, do cansaço e das angústias ... num trabalho exaustivo que raia os limites da resistência humana !
As camas de intensivos estão à beira da total ocupação, e vêm-me inevitavelmente à memória, imagens do início da pandemia no Hospital de Bérgamo em Itália, imagens do desnorte e da tragédia, do drama da escolha, sobre quem tratar e quem não ...

Lá fora, por todo o mundo, o panorama é idêntico.  Uma Europa amordaçada pelo medo, pela tragédia, pela frustração da incapacidade de tantos cientistas conseguirem pôr um cobro a toda esta devastação em pleno século XXI, com a criação de uma vacina ou de fármacos eficazes, dispondo embora o Homem, em vão,  de tantos conhecimentos, tantos recursos, tantas ferramentas tecnológicas ... ingloriamente ... numa corrida contra o  tempo e contra a morte !

Por aqui o cansaço é total.  Ao esgotamento do ânimo, da esperança, da força anímica, da confiança e da coragem, totalmente exauridos, juntam-se o desespero de uma economia moribunda, os desequilíbrios sociais cada vez mais acentuados, o dramático aumento do desemprego e a inerente dificuldade para todas as famílias fazerem face à situação precária de subsistência diária ...
Os conflitos sociais estão a instalar-se, a agudizar-se, deixando os políticos que têm a difícil tarefa de gerir todo este pandemónio, "entre a cruz e a caldeirinha", num tactear experimental de medidas e legislação, inevitavelmente questionadas por todos os quadrantes ... porque sim e porque sim ... como se alguém tivesse na manga a receita milagrosa para a coisa ...
E como numa casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão ... tudo isto parece um diálogo de surdos !

Olhando ao redor só me ocorre a imagem macabra dum pântano, donde não há escapatória, e cada náufrago se agarra ao que pode para manter o queixo fora da lama sôfrega e mortal !

E cá estamos nós, vivendo pé ante-pé, tacteando devagarinho, reinventando os dias para continuarmos respirando, fingindo a estrada p'ra não cairmos no abismo, redesenhando o amanhã no vazio deste silêncio, que como neblina que sobe da serra, fecha, cerra mais e mais a nossa linha do horizonte ...
Cá estamos nós, recriando-nos no frio das ausências, no buraco dos afectos que não temos, no pavor de noites assombradas por incertezas do desconhecido ... cá estamos nós numa "never ending story" que eu cheguei a acreditar pudesse ter alcançado já o seu fim !!!

Anamar

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