domingo, 5 de setembro de 2021

" RESTOS DE UM VERÃO ... "



"Restos de um Verão" foi o título aposto ao meu escrito de hoje que volta a pecar pelo atraso, pela desmotivação, pelo desinteresse.  De facto, mediarem duas semanas entre a minha última abordagem a este espaço e hoje mesmo, é facto que cada vez menos encaixa na minha personalidade, que cada vez faz menos sentido, que não tem justificativa ou razão.

Necessidade de escrever sempre foi, por assim dizer, um sinal que eu sabia ler.  Sempre foi a busca de uma terapia para a alma, o esvaziar de um coração atormentado, a abordagem de uma escapatória em estrada conturbada.
E por isso, sem olhar para os lados, sem grandes exercícios censuratórios ou reflexivos, aqui vinha numa busca de remédio eficaz para a insatisfação, para o reencontro comigo mesma, para este deambular perdido em labirinto de sentimentos.
Aqui, quase sempre me encontrava;  aqui, quase sempre me abrigava, como de temporal fugida;  aqui, quase sempre reunia os cacarecos perdidos e espalhados, de mim mesma !
Porque enquanto escrevia, praticava também uma espécie de catarse, depurava os amargores dos dias desenxabidos e defraudantes, arejava angústias teimosas em me afrontarem.  E, operava em mim o milagre do esvaziamento, o varrimento das dúvidas existenciais em solilóquio amigo, o desapego dos "monstros" impositivos e massacrantes que me assombravam as madrugadas silentes.
E já valia, por isso, a pena !

Hoje, não encontro, de facto, resquícios de mim mesma, perdidos por aí.
Hoje, silenciei por dentro, sossobrante a um vazio sem remédio.  Pareço levada pela avalanche de um qualquer tornado trucidante do meu eu, no corpo e na alma.  Pareço subjugada a uma indiferença doída, pareço sucumbida à inexistência de luz no caminho, de horizonte desenhado nas alvoradas, de portas ou janelas franqueantes de auroras frescas e coloridas.
Hoje não encontro objectivo, rumo de valer a pena, força para sacudir as penas encharcadas deste pântano pestilento que arrasto indiferente, há tempo de mais.  
E desisto, e não escrevo, e vou simplesmente desfiando dias ...

À minha volta, nos conhecidos, nos amigos, também as realidades são semelhantes.  Doenças inesperadas e fatídicas mesmo em faixas etárias improváveis, digamos ...  saturação, falta de paciência, demência a acentuar-se em alguns, mesmo naqueles que nos habituámos a ver como muralhas que pareciam inexpugnáveis na vida, desinteresse generalizado por tudo o que nos rodeia ... em suma, uma mesmice e um cinzentismo em existências onde parece estar a apagar-se a claridade.
Tudo isto, sem outras perspectivas, sem outros rumos, sem outros sonhos !!

E assim vai fechando mais um Verão.  Assim os dias vão encurtando.  Daqui a pouco, daqui apenas a poucos dias, mais um Outono se apruma para chegar com a melancolia que lhe é característica, com a doçura também, dum intimismo e duma solidão que aninha mas também dói ...
Daqui a pouco as folhas douradas tombam, o vento arremessa-as em rodopios ... Daqui a pouco, os areais esvaziam e o domínio é já só das gaivotas que os habitam ... Daqui a pouco, o mar perde o azul e o verde e o prateado de dias promissores ... e acinzenta com o borrascoso dos céus nele reflectidos ...

E mais dois anos das nossas vidas se esvaíram, e esvaziaram da ampulheta que persiste em despejar ... inevitavelmente ...
Cansaço !!!

Anamar

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