quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

" DESABAFO "


Porque quem não se sente ...

Aquela que "foi a minha Escola" aniversariou no passado dia 17, comemorando o seu meio século de História !  Não é coisa pouca ...

Entrei na mesma, como professora, no seu segundo ano de vida, no ano de 1974.
Constituía ela então, a única oferta no âmbito escolar, aqui na Amadora.
Anteriormente o Liceu Nacional de Oeiras era a alternativa.  Eu própria o frequentei enquanto aluna.  Assim, o Liceu Nacional da Amadora concretizou portanto, o sonho e a necessidade de uma população discente, num concelho com uma dimensão demográfica esmagadora.

Deixei-o, para a aposentação, 36 anos passados de actividade docente, no ano de 2010.
Cheguei no verdor da juventude, carregando comigo uma pasta de sonhos, de projectos, de esperança, de vontade e com o ânimo e a coragem que caracterizam uma fase da vida em que tudo parece possível, por nisso acreditarmos.
Naquela que "foi a minha Escola", hoje a Escola Secundária da Amadora ( ESA ), passei portanto, os melhores anos da minha vida.  Mais tarde, nela, as minhas filhas cumpririam igualmente o seu percurso escolar.
Nela ensinei, nela aprendi, nela investi o melhor de mim, do melhor que sabia e do que fui capaz.  Em suma, nela, sobretudo cresci !  
Com a entrega e a dedicação a que a noção interiorizada da docência me impunha, nela desenvolvi um trabalho sério, honesto, continuado e isento.
Como destinatários prioritários, sempre os alunos ocuparam a minha determinação, preocupação e esforço.  Num espaço que além de pedagógico privilegiava o companheirismo, a partilha, a entreajuda ... em suma, o afecto, semeei e colhi até hoje, boas memórias, boas amizades, boas histórias recheando a minha própria História.
Mas porque o trabalho do magistério não se faz, nunca se faz sozinho, tive sempre ao meu lado companheiros, pares, colegas ... irmãos.
Nos 36 anos, na ESA, foram muitos e diversos aqueles com quem dividi trabalho, ansiedades, preocupações ... muitas alegrias, êxitos e também obviamente algumas frustrações.
Por isso, guardo até hoje, no coraçao, um punhado de amigos daqueles que nos enchem a alma, amigos de "valer a pena", que sempre presentes, me ajudaram a percorrer a estrada, que me deram a mão se o momento de queda era iminente, que me insuflaram ânimo se o cansaço começava a dar sinais.
E creio poder garantir que, grosso modo, este meu texto poderia ser escrito por qualquer um deles.

Lembro todos, desde os que ocupavam lugares de topo na hierarquia organizativa da Escola, a todos os que foram dividindo comigo, ano após ano, as diferentes tarefas que além da leccionação, nos cabia desempenhar.
Mas porque mais de metade da minha carreira foi desenvolvida no período nocturno, guardo obviamente um carinho muito especial, um apego de afecto e gratidão sentidos e uma memória bem viva dos que, hoje também na aposentação, mais perto ou mais longe fisicamente, não posso esquecer !

Este meu texto não pretende de nenhuma forma ser, nem uma prova documental da minha actividade profissional, menos ainda a apologia narcísica da minha pessoa.
Não ! Nada disso encaixaria no meu perfil personalístico.

Só que ...
aquela que "foi a minha Escola" fez, como dizia, 50 anos de existência ao serviço de toda uma comunidade educativa, geração após geração.
E para promover a efeméride, uma comissão organizadora decidiu e bem, criar um programa criterioso e diversificado de eventos, para a festejar.
Entre outros, a montagem de uma exposição documental do percurso de vida da Escola, patente nas próprias instalações, o descerrar de uma lápide assinalando a data, pelas mãos da presidente da edilidade Dra. Carla Tavares ( ela que também foi aluna da Escola, quando jovem ), assim como o espectáculo " 50 anos da ESA ao serviço da Educação ", com lugar nos Recreios da Amadora e com entrada limitada a convites.

A divulgação deste exaustivo programa das festividades foi contudo restringido, lamentavelmente, à rede social FB ( que obviamente dispensa demais apresentações em termos de idoneidade, categoria e credibilidade ).
Acresce que a generalidade das pessoas ( professores e empregados ) que, já não estando no activo, não estavam em contacto directo com a Escola, não mereceram portanto nenhum outro tipo de informação privilegiada sobre o mesmo, e sem que tal pareça ter constituído alguma preocupação ou acautelamento por parte dos responsáveis.
Só podemos pois lamentar, que tão irresponsavelmente tenhamos sido tão facilmente dispensados e descartados !
Também questiono o critério que terá presidido por exemplo, à distribuição dos convites para o acesso ao espectáculo nos Recreios da Amadora.  Quais foram os "filhos" e quais os "enteados" ?  A quem couberam os "bilhetes premiados" ?  E porquê ?...

Argumenta-se com a Covid e suas restrições.  Não sejamos ingénuos.  Ela explica muita coisa mas não justifica tudo ... escusamos de escamotear responsabilidades !
Penso que o sentimento que nos envolve neste momento, é genericamente de mágoa, tristeza, desilusão e mesmo de indignação !
Afinal aquela que "foi a minha Escola", já não parece ser a "minha Escola" !!!

Não vou alongar mais este meu desabafo.  
Termino afirmando apenas que não me senti nada confortável por ( espero que com razoável antecipação ) parecer ter integrado já, o obituário da Escola !...

É que ... um Homem apenas morre quando é esquecido !!!

Anamar

Sem comentários: