terça-feira, 19 de julho de 2022

" REGRESSO ÀS ORIGENS ..."


6,50 h de 18 de Julho 2022, aeroporto de Frankfurt, local de escala entre a Namíbia donde cheguei e Portugal, onde chegarei.
Dia de céu limpo, azul e sol ainda tímido pelo despautério da hora.  Por isso ... sono muito,  depois de dez horas a bordo, num simulacro de noite medianamente dormida.
Estou num dos espaços de restauração do aeroporto.  Café precisa-se, e como tal, com tanto tempo de sobra entre os voos, usufruo a paz de mais de três horas de pausa, sem pressas.
À minha volta, neste espaço lotado de passageiros em trânsito, com uma música de fundo insuportável para a minha necessidade absoluta de silêncio, os telemóveis ocupam as mãos, os olhos e as mentes.  Lamentavelmente não há uma só alma que os tenha dispensado !

Namíbia ... pois ... 
Muitos acessos de vontade tive, de escrever sobre ...
Só que, verdadeiros momentos de paragem e lazer por conta própria, são coisa inexistente nestas viagens de grupo, em que as actividades programadas para cada dia, visam rentabilizar exactamente esses mesmos dias.
Por isso, fui absorvendo, arquivando, gravando o tanto de sensações e emoções que tudo o que o vivenciei me deixou no coração e na alma, se é que estes dois lugares realmente existem no ser humano...

A Namíbia foi, sem dúvida, o lugar perdido no planeta Terra onde a noção de infinitude se me tornou absolutamente clara e impressiva.  
Lá, terra sem limites ou horizontes, tudo se mede em milhões de anos e em distâncias incontáveis.
Lá, a beleza é tão excessiva que perturba, a liberdade tão avassaladora que embriaga, o sonho que se obriga a sonhar, sem tamanho ou dimensão ...

África é, sem discussão, um continente absolutamente carismático.
Não há outro lugar no mundo onde as cores sejam tão intensas, os cheiros tão absolutos, a luz tão inebriante e o silêncio, a interioridade e o intimismo tão imperativos.
O calor emanado do vermelho sanguíneo da terra que ora se pinta de ocre, de castanho ou mesmo de negro de acordo com a luz que a inunda, a primitividade e autenticidade da savana imemorial, a doçura da sombra das acácias onde os animais selvagens se acoitam em sono de sesta ... a paisagem que ora é e ora não é, numa impermanência total mas numa consonância e perfeição tão determinadas, mostram ao ser humano a sua real dimensão : um insignificante grão de areia, nesta construção fantástica e incomparável que é a Vida, nesta engrenagem magnificente e mística que é o Mundo em que vivemos, a Natureza de que usufruímos !!
Tudo nos remete para a essencialidade primordial, não deixando espaço p'ra dúvidas ou veleidades ...

Tudo isto a Namíbia me sussurrou ao ouvido, tudo isto a Namíbia me desvendou despudoradamente, desde o deserto à selva, da montanha escarpada às areias imprecisas das dunas imparáveis, do mar tempestuoso às cordilheiras e canyons escavados por águas, que também elas se esquivam e só correm quando o destino assim o quer !
Tudo isto tornou para mim a Namíbia, um convite irrecusável e sempre presente !!!

Anamar 

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