Eu já não pertenço bem a este mundo ...
Voltei a reiterar esta ideia quando fui confrontada na comunicação social, com mais uma notícia escabrosa, referente a um crime hediondo levado a cabo por três adolescentes ( entre os 17 e os 19 anos ), sobre uma vítima também ela adolescente e menor ( 16 anos ), aqui num concelho perto de onde vivo.
A adolescente, uma rapariga, frequentadora das redes sociais, terá sido atraída a um encontro pressupostamente com um dos elementos do grupo de três rapazes, que seguia na internet... um "influencer digital" ou em português, um "influenciador" social , um espécime recente, fruto da nomenclatura digital que nos assola diariamente.
Para resumir e encurtar a notícia, o que se passou foi a armação de uma ratoeira em que a jovem caíu, tendo sido vítima de violação pelo grupo, que não satisfeito, filmou toda a performance exibida e posteriormente a publicou, "heroicamente", na referida rede social ...
Bom, até aqui, infelizmente a repetição nojenta de outras situações de que damos conta vezes demais no nosso quotidiano.
Tenho netos por essas idades e que caminham para lá.
Assusta-me tremendamente o caminho que é trilhado por uma juventude que atravessa tempos muito complicados a nível familiar, social, escolar e mesmo profissional.
São tempos confusos, tempos de pais ausentes, famílias desestruturadas e disfuncionais tantas vezes, tempos em que os valores, os princípios, as balizas e os limites não são com frequência muito claros, e sendo a adolescência só por si, um período interiormente conflituoso, muitos jovens buscam reconhecimento, aconchego e aceitação junto de amigos, colegas ou só conhecidos, extra-muros.
Os pais não dominam, muitas vezes nem sonham, que tipologia de companhias os seus filhos frequentam. Não há tempo para tudo, numa sociedade em que a concorrência feroz e a "escravidão" profissional têm contornos esbatidos e a exigência é absolutamente determinante e consequentemente priorizada.
A fuga, quase sempre tornada avassaladoramente buscada, como um vício que se interioriza, são os meios digitais de comunicação ... verdadeiras portas abertas para um mundo que os jovens se enganam, pensando que dominam e controlam ...
Aí aparecem então figuras pardas, caçadores sem escrúpulos que sabem perfeitamente como atingir os seus objectivos e concretizar os seus desígnios ...
"Influencers"... "criadores de conteúdos"... ?? O que é isso? - perguntava eu há dias a alguém, jovem também, que tentou explicar-me esta "habilitação" recentemente chegada ao meu vocabulário.
Quando eu era jovem, de acordo com os valores e parâmetros de normalidade social, um "influenciador" seria alguém que, pela conduta, pelo exemplo, por provas dadas, por correcção de caminho trilhado, era merecedor e tinha a responsabilidade séria de interagir socialmente pelo exemplo, pela afirmação, pela conduta impoluta.
Era alguém merecedor de ser um exemplo positivamente apontado.
Seguramente, nunca seria alguém que arrebata multidões de seguidores, pensando tornar-se "ilustre" pela mediocridade, pela marginalidade de posturas, por pertencer à franja negra do "bas fond" social.
Esses, a sociedade expurgava, varria, aniquilava ...
Agora, a admiração por esses energúmenos arrebatadores de incautos, por esses desviadores à solta, parece crescer exponencialmente com a gravidade dos actos que praticam. Quanto pior, melhor !
A perigosíssima vacuidade instalada numa sociedade de aparências, ostentação e desinformação, que não sabe pensar com a sua cabeça e como tal precisa de modelos, arquétipos, guias e bengalas de "lobos vestidos de cordeiros" para alcançar os seus objectivos, haveria de remeter-nos Historicamente a ensinamentos dos quais deveríamos retirar alguma coisa ...
Seguramente já não pertenço bem a este mundo !...
Tanta coisa que não decifro, não entendo e não consigo assimilar nesta Terra de incoerências, de loucura transversal, de tempos assustadores e altamente preocupantes !...
Anamar
Sem comentários:
Enviar um comentário