Cheguei há dias de uma viagem que fazia parte do meu roteiro de sonhos, e que como todas as viagens, neste momento em que o fluxo de viajantes pelo mundo é inimaginável, estava marcada há bastante tempo.
Refiro isto, para que se perceba que apesar dela representar uma realização desejada há muito, não foi totalmente usufruída, por razões de ordem pessoal, relacionadas com a saúde.
Mas enfim, dentro do possível, tentei tirar o máximo partido da viagem à Islândia.
A Islândia é aquela ilha perdida no hemisfério norte, no meio do Atlântico, lá bem no "altinho" do globo terrestre, beijando a norte, o círculo polar ártico, o que significa uma latitude de sessenta e tal graus.
É um país relativamente jovem, geologicamente falando ( 20 milhões de anos ), que devido à sua intensa actividade vulcânica, continua a acrescentar "chão" ao seu território.
Por ele passa a dorsal mesoatlântica, com a proximidade das duas placas tectónicas euroasiática e norte americana, o que "conflitua" a "paz" geológica da ilha, com uma imensa e quase permanente actividade vulcânica, com a erupção de alguns vulcões, com regularidade, e bem assim, os associados sismos devidos ao "pote" de magma líquida existente por debaixo dos nossos pés.
É um país com uma população de menos de quatrocentos mil habitantes, para uma área de cerca de cento e três mil quilómetros quadrados. Dois terços dessa população reside em Reiquiavique, a capital.
Apresenta por isso uma paisagem inóspita, caracterizada por um relevo muito acentuado, montanhas, campos arenosos nos sopés, formados por areia negra basáltica, glaciares, lagos e lagoas, cursos de água, esmagadoras cascatas e mar, obviamente mar à sua volta, porque de uma ilha se trata.
É um país com características comuns aos outros países nórdicos que conheço, desenvolvido, calmo, organizado e sobretudo, seguro e pacífico!
A sua população é relativamente jovem, os salários são altos, os impostos baixos, mas a vida, caríssima.
A sua História começa no final de século IX, com a colonização feita pelos exploradores vikings.
Não pretendo ser exaustiva, nem que os meus escritos sejam uma página de agência de viagem, ou tragam algo de novo, ao que qualquer curioso e interessado pelo país, não colha nas páginas da internet.
Não !
O que aqui irei destacar e enfatizar, é apenas a minha visão, e a experiência sensorial sobre o que me levou à Islândia ... a sua beleza natural esmagadora, a sua natureza fascinante, as suas cores, os seus sons e até mesmo os seus silêncios ... as suas lendas, a agressividade do seu mar, a dureza das pedras negras que formam as suas areias, a rudeza do seu basalto amontoado a esmo pelas erupções vulcânicas que mal se anunciam ... os espaços amplos parecendo esquecidos, a falta de horizontes que impeçam que o nosso olhar, o nosso coração e até o nosso sonho vá sempre mais e mais além ...
Foi tudo isso que me preencheu, tudo isso que me fez respirar em pleno, a palavra com que defino a Islândia : LIBERDADE !
Já viajei sozinha durante anos. Hoje, por razões de segurança, e porque os anos foram passando, viajo em grupo, com agência de viagens.
Esta forma actual de viajar tem obviamente vantagens, até culturalmente falando, uma vez que os guias que vou cruzando, verifico serem profissionais cada vez mais competentes, sabedores, cultos e claro ... são uma rede de suporte fundamental, sobretudo em situações imprevisíveis que possam ocorrer.
Mas para mim, as viagens de grupo têm desvantagens incontornáveis. Não se consegue usufruir de uma comunhão plena com o que se deseja. Ninguém respeita por exemplo, o silêncio de quem o anseia. Quantas vezes procuro afastar-me do grupo, da turba de gente que só está feliz tirando fotografias em magotes, fazendo vídeos com comentários absurdos e apalermados que obviamente ficam gravados e que não interessam nada a muitos dos próximos. Ou passam à frente, despudoradamente ... e pronto, lá se vai o vídeo, que dessa forma macula aquele momento mítico que se desejaria reter pra todo o sempre ...
A Islândia propicia muitos lugares de paz e de silêncio, onde só a brisa que perpassava na folhagem se escutava.
A Islândia é um misto de cores, dos verdes aos castanhos e ao negro da lava solidificada, ao azul do céu que tivemos o privilégio de usufruir todo o tempo ... o som gorgolejante da água que corre por todo o lado, as espécies e cores das flores silvestres que nunca murcham, a fauna autóctone como os ostraceiros, os cisnes, as andorinhas do mar e as cores inesquecíveis dos papagaios do mar, ave marinha que nidifica nas falésias e é o icone representativo da Islândia ... às ovelhas, cabras e algumas vacas, bem como os cavalos de raça islandesa que pastoreiam em total liberdade, pontilhando as encostas e as planícies.
Não existem grandes agregados populacionais. Não existem torres de apartamentos nas pequenas cidades. As casas, praticamente todas, quase sempre revestidas de madeira, usufruem de logradouros à volta, sem muros ou barreiras impeditivas do convívio.
Como a população é absolutamente dispersa, as casinhas de cores vivas, espalham-se, uma cá, outra lá, pelas zonas mais planas, no fundo das montanhas, como se fossem miosótis despontados no meio da turfa que pinta a paisagem. Parecem pecinhas de lego lá longe, onde a vista alcança ...
O ar é puro, leve, sente-se claramente despoluído !
E depois, p'ra finalizar, nesta altura do ano, em pleno solstício de Verão, o sol da meia noite foi uma fantástica imagem de marca absolutamente indelével na minha vida !...
Foi assim a Islândia ! Senti-la ... só indo conferir ... 😉
Anamar
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