O dia está quase a fechar . Fecha cedo agora que o Inverno já nos faz companhia há alguns dias.
Hoje o sol, fraquinho fraquinho, espreitou de vez em quando por detrás de algumas nuvens esparsas, o suficiente para fazer sorrir o céu mesclado.
Ao meio dia, o bando não falhou, como não falha, incompreensivelmente, nunca. São dezenas e dezenas de gaivotas que irrompem do nada e se pavoneiam aqui por cima, rodopiando na aragem. Volteiam como se sem norte ou objectivo, bailando apenas numa dança doce em passes de "prima donna", airosos e leves.
Depois, passados alguns minutos, conforme chegaram, partem e um muro de um terraço de um prédio alto, lá longe, dá-lhes poleiro. Lá ficam por tempo não determinado, cuja explicação não descortino, e somem ... com a garantia que no outro meio dia, voltarão aos meus céus ...
O "bando do meio dia" como o denominei, começa a coabitar comigo, e já o espero diariamente do alto do meu sétimo andar, quase ao nível das aves que esvoaçam mais baixo.
Depois acompanho-as com o olhar alongado até ao limite do horizonte. Bem espio as suas intenções, mas em vão as consigo decifrar. Talvez um dia ...
Eu bem sei que o mar ainda está longe, eu bem sei que já não me trazem novas lá de Sintra, onde as escarpas descem às águas, onde as ondas rendilham as espumas nas areias, agora desertas e frias.
Mas por que diabo se vêm meter comigo aqui à minha janela, coitada que sou sem asas, sonhos ou vontades ??
Elas não sabem por certo que agrilhoada estou ao chão que assoma metros e metros lá em baixo ... e quem tem âncoras nos pés, não adianta ter sonhos no coração !...
Ao meu lado, Enya, canta, naquela sonoridade celestial que me transporta ao intimismo, ao silêncio e à paz que adivinho povoar as vidas dos que escolheram o branco da neve e do gelo, o verde, menos verde e mais branco das latitudes setentrionais, as casas aconchegantes de madeira, onde as chaminés fumegam das lareiras que iluminam e aquecem.
O silêncio que se espalha, o frio cá fora e o calor lá dentro ... os pores de sol laranja, sobre as planícies geladas, os abetos, ciprestes e pinheiros esfíngicos no recorte na alvura da paisagem, o chocolate quente tomado dentro das cabanas protegidas do frio com um fogaréu permanentemente aceso no interior ... ou o negrume do céu onde as estrelas brilham mais e com sorte as auroras boreais nos visitam ... são uma espécie de sonho que vivo com os olhos bem abertos.
Conheço alguns países nórdicos, Noruega, Finlândia, Islândia, bem juntinhos do círculo polar ártico ou mesmo atravessados por ele, e invejo a paz, pelo menos a paz, a simplicidade e o silêncio que tanto me apetecia vivenciar, justo nesta fase da vida !
E mais um Natal já foi, um Natal urbano pautado pelo desvirtuamento do essencial e imbuído das "obrigações" que conseguem retirar-lhe a autenticidade e a verdade que o deveria emoldurar. Um Natal muito vazio, muito "plástico", muito tecnológico, muito digital, muito não vivido e pouco sentido ...
Enfim ... mais um, do punhado mais ou menos generoso que ainda nos possa ser consentido pela vida ... com o tempo a escoar-se como ampulheta em contagem decrescente ou areia pelo meio dos dedos da mão !...
Fiquem bem!
Anamar
1 comentário:
Nada como poder viajar para destinos exóticos.
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