segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"THE LAST PARADISE"

GALERIA DE FOTOS





































Optei por oferecer-vos algo que fala por si só...a visualização destas imagens, que dispensaria demais comentários.
Chamei-lhe ou chamam-lhe, "the last paradise", porque efectivamente de um paraíso se trata, um dos últimos a existirem ainda, precariamente, neste nosso planeta.

As Maldivas, pois das Maldivas se trata, é um fim de mundo, como se sabe, lá pelo Oceano Índico, mar de águas quentes, zona tropical, abençoada por uma natureza exuberante de cheiros, cores, sons...a dia e meio de aviões, escalas, transferes, aeroportos... e muito cansaço a fustigar-nos...
Mas de facto, não há cansaço que perdure quando se chega, quando se fecha a porta a este mundo que por cá deixámos e quando se abre "às escâncaras", aquela janela sem horizonte que a limite, e o mar, o céu, o sol, a cor mescla dos verdes com os ouros, com os azuis, com os violetas, com os laranjas de fogo ou a prata espelhada nas águas generosas, nos inundam, nos extasiam, nos tolhem em palavras e gestos, que não sejam de contemplação, de êxtase, de paz...

Lá, Deus, ou o "arquitecto", como lhe chamo, gastou todas as nuances, todos os tons, todas as tintas da palete, e pintou, desenhou e bordou até ao infinito, o alcançável pelos nossos incrédulos olhos.
Lá, eu vi os mais extraordinários quanto indescritíveis, nasceres e pôres de sol...
Lá, eu tive de um lado o sol a espreguiçar-se p'ra dormir...e do outro, uma lua imponente de cheia, a subir no rosa-arroxeado de mais um fim de dia...
Lá, eu vi os céus jorrarem torrentes de água generosamente abençoada, a mitigar as temperaturas da fogueira solar...
E vi depois, em minutos posteriores, tudo regressar ao braseiro inicial...com os cheiros mais apurados, mais adocicados, mais intensos ainda...

E sob as águas de turqueza translúcido, vi o multicolor que não se traduz, de corais, de peixes que nadam connosco, de tubarões bébés ou raias que roçam os nossos pés. Vi o colorido das anémonas, dos roxos aos vermelhos, vi as grutas talhadas pelas marés nos recifes, guarida de espécies pertencentes a um outro mundo de paz e silêncios, de sol coado que penetra, porque as águas são baixas...
Um mundo enigmático, fascinante, misterioso, que nos deixa horas esquecidas por ali mesmo... E nessas horas, o real desaparece milagrosamente e não há mais nada...somos só nós, outros filhos da natureza, procurando miscigenar-nos com aquele milagre...

As Maldivas têm uma "presunção de vida" apenas de cerca de cinquenta anos.
Os ecologistas, os cientistas, todos os homens de ciência sabem, que confluem factores aceleradamente, potenciadores do desaparecimento das ilhas.
O aquecimento global no planeta, a fusão dos gelos das calotes polares, trará uma subida do nível das águas que submergirá este paraíso.

(O crime ecológico não tem de facto, parança. Recordemos a propósito, o último drama ocorrido há escassos dias, com os alpinistas do Mont Blanc (Alpes Franceses) apanhados numa violentíssima inesperada derrocada...)

Aliás, a este propósito, está celebrado já um acordo tácito com o governo do Sri Lanka, para a deslocação e realojamento das populações.
Os maldivianos sabem do seu destino, e como se de um determinismo de vida se tratasse, aceitam a ideia com alguma naturalidade, como uma inevitabilidade já em curso e impossível de estancar...
Um povo, que o foi e muito, massacrado pelo tsunami de que todos guardamos triste memória, tem agora pela frente o agonizar do seu próprio destino, sem revolta, sem desespero, com aquela mornidão de águas calmas e vida mansa, sem exigências, sem raivas, como se não percebesse que é o próprio Mundo de que faz parte, que está dia após dia a ler-lhe a sua terrífica, injusta e desumana sentença...

Anamar

sábado, 23 de agosto de 2008

"FUGIR DE MIM..."







Acho que ainda não é hoje que vos falo dos meus dias de lazer, passados longe daqui. Ou talvez eles, de algum modo, estejam a motivar este meu post de hoje, embora inconscientemente.

Levantei-me tarde, demasiado tarde talvez (acho que este "jet leg" ainda mexe)...
Levantei-me com uma angústia estranha de estranha saturação de tudo, até de mim própria.
Nunca vos aconteceu pensarem: "hoje ninguém me atura, nem eu mesma..."?
Pois bem, estou tal e qual assim.

Fui ao pequeno almoço/almoço desregrado, do que é e não é, ao Escudeiro, claro, e sentia em mim, crescente, uma "fúria" de "fugir", até de mim própria. Constatei que os meus "interiores" estão fartos dos sítios, das pessoas, do "ar"...

Constatei que precisava urgentemente, como um elástico gasto que está à beira do "esfiapar" final, revolucionar a minha vida, de qualquer jeito.
Queria conhecer terras, mundos, gentes. Queria voltar costas, partir, rumar sem destino por aí. Queria iniciar qualquer coisa de novo, não mofada, com o crer e o querer dos vinte anos...
Mas, dos vinte anos que não tive; porque esses que eu tive, cortaram-me as asas de passarinho que nem chegou a sair do ninho, castradores e acomodados aos injustos padrões familiares e sociais de então.
Aos vinte anos eu estava casada, não fazendo mais que cumprir uma trilha que alguém tinha delineado para mim: estudar, casar, ser mãe...ficar no casulo protector de uma vida certinha e prevista...logo eu, uma "rebelde", sonhadora, insatisfeita, "outsider" de alma, nata...

Hoje, numa idade em que parece nada já poder ser feito, quase nem sonhar (o sr. Gonçalves dizia-me há pouco: "a partir dos trinta e cinco não se pode mais nada"), sinto-me como numa cela de penitenciária a cumprir pena de um crime que não fiz.
Sinto demasiado limitado o meu horizonte, sinto o sol que me aquece, pouco demais para o sol que eu preciso...sinto curta e insignificante a estrada que vislumbro à minha frente, face ao percurso que a minha alma sonha...sinto a claustrofobia das paredes de um quarto, face ao Mundo que eu queria para quarto...sinto penalizante e angustiante o cordel que me amarraram às pernas, face ao impulso com que esbracejo p'ra frente...tal e qual como quando damos braçadas num mar, cuja corrente adversa não nos deixa sair do sítio...

Conheço alguém, ou se calhar muita gente que diria, ao ler-me: "infantilidade, utopia, imaturidade, falta de crescimento, perda da noção das realidades, "filosofices" baratas...enfim...pura "palermada"...
É possível, é mesmo possível...se calhar, é mesmo certo.
Apenas, eu estou "morta de sede" à "porta" de um deserto de que já vejo o início mas nunca o fim e cujas areias me não apetece percorrer...

E faço o quê?

Sento-me e espero que me passe esta "doença" de luta com o sonho?
Sento-me e espero que a "biologia da vida" se encarregue de me tirar a frescura da clarividência de desejos, que por mais loucos, são legítimos?
Sento-me e procuro reenquadrar-me no "figurino" de senhora consentânea com a vida "politicamente correcta" que a sociedade tradicional me destina?
Espero ficar "caquética", tontinha, adormecida, face a uma parede branca onde desfilem as imagens do arquivo dos sonhos e memórias?
Espero pacificamente aquela "casa aconchegante" de repouso abençoado, "merecido e generoso", que um dia, por aí, já está algures a aguardar-me e onde me "espreita" um Alzheimer (esse sim generoso, se conseguir "sacar-me" da memória tudo o que me faça sofrer, se conseguir "deletar" e transformar em écran branco o que a alma e o coração teimarem ir buscar à tal arca das recordações??...

Bom...não vos maço mais com tanto negativismo (ou realismo?) hoje.
Não quero azedar espíritos com a acidez do meu...agora.
Não quero "apertar" a alma de quem consiga rever-se por estas linhas...apertadinha que está a minha, nesta vontade louca com que acordei, tarde e más horas, de "fugir até de mim"...

Anamar

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"CHEGUEI"





Voltei...

Voltei e era minha intenção falar-vos do local que tive o privilégio de conhecer e desfrutar.
Apenas, antecipou-se algo de que quero falar hoje, e por isso, do que referi, falarei no próximo post.

Fez exactamente ontem um ano que o Frederico abriu "alas" e entrou...
Entrou num local que ainda hoje não conhece, num planeta de uma galáxia perdida no espaço que ele não domina, naquilo que convencionou chamar-se de VIDA ou DESTINO, tão hermético ou mais, que esse espaço...que essa galáxia...

O Frederico, passado um ano, ri, come, dorme, "ameaça" andar breve, "galreia" o que pode, é um bem disposto, é um serzinho que esbanja alegria e boa disposição, como quem queira armazená-la para o que "der e vier"...

Não sabe o trilho que o aguarda, ignora o que terá ou deverá fazer para o percorrer, não sabe de que "armas" dispõe para o enfrentar...

Terá tempo...
Como se diz, terá todo o "tempo do mundo" para saber que nada disto é "bem assim", que as flores que no início lhe parecerão desabrochar ladeando a estrada, têm muitas vezes espinhos aguçados que nos ferem...que as nuvens de algodão como "carneirinhos" no firmamento, se transformam muitas vezes em borrascas e tempestades avassaladoras...que os sonhos que sobem nos balões largados de mãos pequeninas, se esfumam logo adiante mal eles rebentam...
O Frederico não sabe que terá de escalar "montanhas" muito íngremes e que só terá para o ajudar a força dos seus braços e o poder da sua mente; não sabe que há muitos "lobos maus" à espera de outros tantos incautos "capuchinhos vermelhos"; desconhece que as lágrimas que lhe caem hoje, inofensivas pelo seu rostinho "bolachudo", um dia podem ser mesmo a sério e traduzir dor, desgosto, desilusão, impotência, sofrimento...

Mas tudo isso, o Frederico terá tempo demais para descobrir e não vou ser eu, que lhe quero tanto bem, que lho irei contar...
Eu, simplesmente irei ficando por aqui, com aquela "sabedoria" que cada ano de vida me adiciona, por cada cabelo branco com que me presenteia;
irei estando na berma da sua estrada a "espiar", a atapetá-la se puder, a retirar-lhe os escolhos se disso for capaz, a dar-lhe a mão (ou ele a dar-ma a mim...sabe-se lá...), por cada tropeço dele ou meu, a cantar-lhe a canção dos pássaros ou a dar-lhe a "sorver" cada nascer e pôr de sol em cada dia da sua vida, a ensinar-lhe a melopeia do vento ou a batida adormecida das ondas no mar... se conseguir...

Hoje, que se completou o primeiro ano da sua "estadia" por cá, só lhe quero dedicar esta escrita (que ele não lerá), este amor que ele "perceberá" pouco, este "não sei quê" que se não explica e que apenas corre por nós, veia acima, veia abaixo, e nos faz entender que o tal cordão umbilical que o ligou à mãe durante nove meses, passou a ligá-lo a todos nós, para sempre...

EU

Anamar

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"O MAIS É NADA..."

Vou ausentar-me algum tempo, na fruição de uns dias de férias.

Vou para outros horizontes, na busca de outro sol, outra lua, outro mar...
na busca de outras gentes, sensações, vivências...
na vontade de "pintar" a vida de outras cores...
na ânsia de segurar o sorriso, perseguir o sonho, mergulhar nos desejos, tactear "caminhos"...agarrar a esperança...

Vou deixar que outro vento, ao passar-me no rosto, me leve os beijos dos que ficaram...mesmo por pouco tempo...
Vou tentar enxergar em cada estrela, os meus amigos, os meus amores, o fim das "histórias"...as minhas e as que cruzei...

Vou finalmente rodear-me de rosas, amar, beber e calar....

simplesmente porque... "O mais é nada..."

Na minha despedida...para vocês, com um beijo.....o MESTRE!







































Anamar

"A NOITE"


















Hoje tenho em mim uma indefinição de sensações e uma amálgama de pensamentos em mistura destemperada e desobediente...
Nada ordenado, nenhuma linha lógica de raciocínio, apenas alguma sufocação na alma e no peito, alguma convulsão desordeira, porque em desordem mental e emocional também me pressinto...

Estamos a entrar em mais uma madrugada... afinal, a companheira mais certa e fiel que sempre me acompanha por cada vinte e quatro horas da minha vida...
Deixo-vos com uma divagação ao som de Sting, que por aqui espalha os seus acordes...desta feita ecoando no silêncio do meu quarto...

Deixo-vos com..."a noite"...






"Noite...
Mais uma noite que desce.
A ausência de gentes, de sons, de vida... o negro que tombou, são parceiros da noite.
A noite é arquitecta de sonhos e sentires inconfessados, é a ressurreição de quereres que tacteiam ausentes, sempre presentes nas nossas veias...
A noite é o amor que se faz quando não se faz amor e apenas se faz sonho...A noite é o querer feito desejo e o desejo feito fogo que nos consome...
Noite é a vela que se extingue, é o incenso que se queima no odor do suor espalhado.
É o rasgar de corpos que se profanam numa loucura de resgate desesperado. E é o silêncio que tem o som da vida que nos povoa a mente, quando a fadiga e a morte buscam em vão um contorno perdido na cama desfeita...
A luz da noite tem a magia de imagens-sombras, fantasmas alucinados que nos devassam o espírito e os corpos febris...É o mergulho doce no que não se entende porque não se quer entender...é a recusa do real
na busca do sortilégio.
A noite adormece o esgar da mágoa quando a dor é mais violadora e pungente, quando a solidão e a saudade partilham o nosso travesseiro, quando o cansaço finalmente nos entorpece...
A noite é o amante e o amor que ficou, mas também aqueles que hão-de vir...
É o vazio deixado pelo calor que partiu, buscando outras mãos e outra pele.
A noite embala o mistério que não se diz...
A noite cumplicia connosco os segredos de manhãs esperadas"...























Anamar